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Verbete criado inicialmente por: Evellyn Ferreira de Lima, Julia Hatsue Ribeiro Osawa de Sousa, Letícia Freitas de Carvalho e Samara Rodrigues Pereira, como exigência parcial para as disciplinas de História da Psicologia e Estudos Avançados Em História da Psicologia da UFF de Rio das Ostras. Criado em 2020.2, publicado em 2021.1 | Verbete criado inicialmente por: Evellyn Ferreira de Lima, Julia Hatsue Ribeiro Osawa de Sousa, Letícia Freitas de Carvalho e Samara Rodrigues Pereira, como exigência parcial para as disciplinas de História da Psicologia e Estudos Avançados Em História da Psicologia da UFF de Rio das Ostras. Criado em 2020.2, publicado em 2021.1 | ||
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Edição atual tal como às 20h16min de 23 de dezembro de 2022
Parapsicologia é uma pseudociência dedicada à investigação de supostos fenômenos paranormais e psíquicos. Seu propósito é a pesquisa científica de telepatia, precognição, retrocognição, clarividência, telecinesia, projeção da consciência, experiências de quase morte, reencarnação, mediunidade e outras reivindicações paranormais e sobrenaturais. O termo parapsicologia foi criado em 1889 por Max Dessoir e adotado na década de 1930 por Joseph Banks Rhine para substituir os termos “Metapsíquica” e "Pesquisa Psíquica".
A posição da parapsicologia como ciência é contestada e usada como exemplo de paradigma pseudocientífico. Após mais de um século de investigações, não foram obtidos resultados suportados pelo método científico, mas pesquisas com meta-análise sugerem ainda campo a ser explorado. A Parapsychological Association, criada em 1959, apesar das críticas, participa da Associação Americana para o Avanço da Ciência.
HistóriaEditar
A Parapsicologia (inicialmente designada como "Pesquisa Psíquica") surgiu sistematicamente no último quarto do século XIX, altamente relacionada com o então grande crescimento recente dos movimentos Moderno Espiritualismo e Mesmerismo, quando em 1882 foi fundada em Londres a Society for Psychical Research (Sociedade de Pesquisa Psíquica) com a proposta de apresentar "uma tentativa organizada e sistemática de investigar o grande grupo de fenômenos controversos designados por termos como mesmérico, psíquico e espiritualista" e com a associação de diversos membros acadêmicos proeminentes. Isto incluía acadêmicos da Universidade de Cambridge, tais como o filósofo Henry Sidgwick e o ensaísta Frederic W. H. Myers. Além desses, a SPR também contava com os físicos Sir William Fletcher Barrett e Balfour Stewart e o político KG Arthur Balfour, que mais tarde se tornou primeiro-ministro. Nas primeiras décadas seguintes, diversos intelectuais de renome mundial se tornaram presidentes da SPR, incluindo como exemplos o psicólogo e filósofo americano William James, o químico e físico inglês Sir William Crookes, o físico inglês Sir Oliver Lodge, o astrônomo francês Camille Flammarion, o Nobel em Medicina francês Charles Richet e o Nobel em Literatura francês Henri Bergson.
A SPR logo se tornou o modelo para as sociedades similares em outros países europeus e nos Estados Unidos, tanto que William James, junto ao astrônomo Simon Newcomb e outros cientistas, fundaram em 1885 a American Society for Psychical Research (Sociedade Americana de Pesquisa Psíquica), organização a qual também se associaram muitos intelectuais renomados.
Na década de 40, J.B. Rhine, da Universidade Duke, realizou experimentos sobre percepção extra sensorial em 50 crianças que estudavam numa escola para nativos norte-americanos. O estudo, recentemente descoberto, foi considerado uma afronta à dignidade das crianças.
Parapsicologia no BrasilEditar
A parapsicologia foi introduzida no Brasil principalmente por grupos católicos e espíritas e caracterizada pelo embate entre esses dois pólos. A disputa entre espíritas e católicos – que teve seu pico entre 1960 e 1980 – deixou sérias consequências na visão que as pessoas têm da parapsicologia: a parapsicologia acabou sendo equiparada à religião pela população em geral, tal relação torna os parapsicólogos vistos como defensores de um ponto de vista religioso específicos; as visões mais científicas tendem sempre a ser rejeitadas pelo público em geral (acostumado a tratamentos mais místicos dos temas relacionados à parapsicologia), e os cientistas aprofundaram o preconceito contra a área.
Logo, criou-se o hábito de considerar essa ciência como uma pseudo-ciência, uma vez que o que mais se divulgou a respeito da pesquisa parapsicológica ao longo de três décadas (anos 1960 a 1980) foram conhecimentos derivados dos estudos científicos realizados especialmente fora do Brasil, utilizados de modo a atestar ou contestar fenômenos aparentemente anômalos que serviriam para validar esta ou aquela religião.
Essa negativa se deve principalmente em razão do cenário criado pelos modos como a Parapsicologia foi divulgada no país, sempre envolvida com grupos de tendências religiosas, principalmente católicos e espíritas kardecistas, que procuram explicar as experiências psi pela ótica de sua respectiva fé.
As características tradicionais brasileiras (como o personalismo e uma baixa motivação para pesquisa original), contribuíram também para que a parapsicologia do país se diferenciasse ainda mais daquela dos Estados Unidos e da Europa. Em tais países, a Parapsicologia se esforçava para defender estudos em que o pesquisador tivesse o maior controle possível, para publicar resultados em periódicos especializados, promover congressos profissionais e a prática de revisão por pares. A parapsicologia brasileira, por sua vez, vivia basicamente de livros populares de divulgação (sem qualquer revisão por pares) e traduções de textos da pesquisa psíquica. Entretanto, como a parapsicologia ocupa um espaço marginal e heterodoxo no mundo científico, o objetivo de ganhar sanção estatal para a educação parapsicológica tornou-se vital.
Chegada dos Interesses e Primeiras Pesquisas em Parapsicologia no BrasilEditar
O Espiritismo começou a se expandir pelo Brasil na década de 1870, mais como doutrina do que como ciência. Apenas na década de 1890 os espíritas começaram a se interessar pela Pesquisa Psíquica, por conta da perseguição que sofreram com o advento da Velha República. Na época, o Espiritismo era considerado ilegal – incluindo-se tanto o kardecismo como qualquer outra religião mediúnica – e a lei previa penalidades àqueles que o praticassem. Não tendo conseguido modificar a lei, os espíritas procuraram dar um caráter científico ao seu movimento, voltando-se à Pesquisa Psíquica. Quando a perseguição ao Espiritismo diminuiu por volta de 1895, os espíritas se voltaram novamente a uma orientação mais doutrinal. Os principais representantes dos grupos espírita e católico foram Padre Quevedo e Hernani Guimarães Andrade.
Na década de 1960, o então seminarista espanhol Óscar González Quevedo, foi enviado ao Brasil com a tarefa de “livrar” o país da superstição espírita. Um de seus principais antagonistas foi o engenheiro e intelectual espírita Hernani Guimarães Andrade, fundador do Instituto Brasileiro de Psicobiofísica (IBPP).
Nos anos 1990, espaços para o estudo e pesquisa em parapsicologia, independentes das abordagens católica ou espírita, estavam surgindo. Por exemplo, foi criado o primeiro curso de pós-graduação em parapsicologia no país, na Universidade Veiga de Almeida, no Rio de Janeiro e o Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas buscou se aproximar mais da Parapsicologia. Há ainda que se lembrar das Faculdades Biopsíquicas do Paraná (hoje Faculdades Integradas Espíritas), que, apesar de relacionadas ao movimento espírita, ofereciam (e hoje ainda oferecem) curso de parapsicologia em ambiente acadêmico.
A disputa entre espiritas e católicosEditar
A disputa entre católicos e espíritas teve como principal arma de ataque e defesa conhecimentos científicos interpretados à luz de cada uma das doutrinas conflitantes. Essa “competição” começou na primeira metade do século XX. Nesse período, a Igreja Católica viu ameaçada sua hegemonia em terras brasileiras pelo crescente aumento de adeptos ao Espiritismo e de pessoas que, mesmo continuando oficialmente católicas, participavam de sessões mediúnicas, desde fins do século XIX. Alguns grupos se reuniam para discutir sobre as novidades de pesquisas trazidas do exterior no início do século XX. Especialmente no meio espírita, as informações chegaram mais rapidamente, devido à conexão entre o início da pesquisa psíquica e os fenômenos do Espiritismo.
Durante a ditadura de Getúlio Vargas (1930-1945), novo interesse se reacendeu sobre a Pesquisa Psíquica (denominação inglesa), Metapsíquica (denominação francesa), ou como então a já chamada Parapsicologia. Esse novo interesse deveu-se ao fato de a Igreja Católica fazer, naquele momento, uma pesada campanha contra o Espiritismo por meio de publicações e de discursos nos quais utilizava conhecimentos oriundos da pesquisa parapsicológica para desmascarar o que chamava de “mentiras espíritas”. Nessa época, a palavra “Espiritismo” ainda era entendida pelo Estado como termo que designava todas as religiões mediúnicas, sendo enquadrado como crime de contravenção, com possível pena de prisão para quem o praticasse em qualquer uma de suas formas. Isto resultou no fechamento de vários centros kardecistas e terreiros de Umbanda e Candomblé.
Modificação da nomenclaturaEditar
A consequência mais imediata dessa guerra de palavras foi a condenação do substantivo “Parapsicologia” ao desvio semântico, estando para sempre comprometido o seu significado, especialmente nos meios acadêmicos. Por isso, a comunidade internacional de pesquisadores(as) têm discutido há tempos a utilização de um outro nome para essa disciplina ou ramo de pesquisa, que não esteja comprometido com esta ou aquela postura religiosa. Daí surgiram os nomes “Pesquisa Psi” e “Psicologia Anomalística” adotados pelo Inter Psi: Laboratório de Estudos Psicossociais – Crença, Subjetividade, Cultura e Saúde, do Instituto de Psicologia da USP (www.interpsi.org)
ReferênciasEditar
- MACHADO, Fátima Regina. "Parapsicologia no Brasil: Entre a Cruz e a Mesa Branca". Boletim Virtual de Pesquisa Psi, v. 02, n. 02, p. 02.
- GOULART, Fernanda Loureiro. Entre a Ciência e a Não-Ciência: Um Estudo de Caso Sobre a Parapsicologia e a Psicologia Anomalística na Academia Brasileira. Tese de Doutorado (Política Científica e Tecnológica) - Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas. Campinas, p. 185. 2014
- BLACKSMITH, L. As Três Faces da Parapsicologia (III): A Face Espírita Brasileira. Folha Espírita, 6, nº 63, p. 4-5, 1979.
- BROWN, D. Umbanda: Religion and Politics in Urban Brazil . Ann Arbor, MI: UMI Research Press, 1986.
- BRUNEAU, T. The Political Transformations of the Brazilian Catholic Church . Cambridge: Cambridge University Press, 1974.
- CHAUI, M. Cultura e Democracia: O Discurso Competente e Outras Falas . São Paulo: Cortez, 1990.
- RUSH, J.H. What is parapsychology? In Edge, H.L., Morris, R.L. Palmer, J. & Rush, J.H. Foundations of Parapsychology. New York: KP, p. 3-8, 1987.
- FANTONI, B. Magia e Parapsicologia . São Paulo: Loyola, 1981.
- IMBASSAHY, C. O Espiritismo à Luz dos Fatos . Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1935.
- KLOPPENBURG, B. O Espiritismo no Brasil: Orientação para os Católicos . Petrópolis: Vozes, 1960.
- _____. O Reencarnacionismo no Brasil . Petrópolis: Vozes, 1961.
- _____. A Umbanda no Brasil: Orientação para os Católicos . Petrópolis: Vozes, 1961.
- _____. Ensaio de uma Nova Posição Pastoral perante a Umbanda. In Cultos Afro-Brasileiros . Rio de Janeiro: Sóno-Víso do Brasil, 1972.
- MACHADO, F.R. A causa dos espíritos. Um estudo da utilização da Parapsicologia para a defesa da fé católica e espírita no Brasil. Dissertação de mestrado defendida no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da PUC/SP, 1996.
- TABOAS, A.M. Uma Revisão Crítica dos Livros do Padre Quevedo. Revista Brasileira de Parapsicologia, 2, p. 20-25, 1993.
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- HESS, David. Spirits and scientists: ideology, spiritism and Brazilian culture. University Park: The Pennsylvania State University, 1991.
- HESS, David. Parapsychology in Brazil: Relations with non-Brazilian Researchers and the Context of Brazilian Culture. European Journal of Parapsychology, vol. 8, 1990-1991, pp.51-6.
AutoriaEditar
Verbete criado inicialmente por: Evellyn Ferreira de Lima, Julia Hatsue Ribeiro Osawa de Sousa, Letícia Freitas de Carvalho e Samara Rodrigues Pereira, como exigência parcial para as disciplinas de História da Psicologia e Estudos Avançados Em História da Psicologia da UFF de Rio das Ostras. Criado em 2020.2, publicado em 2021.1