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Este verbete foi criado por Júlia Lombardi Carneiro em 2024.1, por encomenda da coordenação da WikiHP. |
Edição das 12h11min de 10 de julho de 2024
John Edward Douglas nasceu em 18 de junho de 1945, no condado de Brooklyn, em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Ele é psicólogo e durante 25 anos atuou como agente do FBI. Nesse período, estudou o comportamento de criminosos condenados e desenvolveu um método de análise de perfis que se tornou parte dos processos investigativos do FBI, inserindo a psicologia em um contexto em que ela não era considerada válida. Ele se tornou um personagem muito importante para a área da psicologia criminal, sendo reconhecido mundialmente como o arquiteto do “perfil criminal”. Atualmente, Douglas está aposentado, mas ainda realiza consultas esporádicas e apresenta palestras sobre o tema.
Biografia
Primeiros anos e educação
John Edward Douglas nasceu em 18 de junho de 1945, no condado de Brooklyn, em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Ele vivia com seu pai, Jack Douglas, sua mãe e sua irmã, Arlene, que é quatro anos mais velha.
Quando completou 8 anos de idade, Douglas e a família se mudaram para Hempstead, uma vila localizada na ilha de Long Island, em Nova York.
Durante a infância, seu desempenho escolar era pouco satisfatório. Ele não se interessava pelas disciplinas que eram oferecidas e mantinha suas notas apenas próximas da média necessária. A única tarefa escolar que o interessava verdadeiramente era a contação de histórias, e esse foi um campo bastante estudado e desenvolvido por ele nesse período.
Ele também se destacava na área do esporte. Na adolescência, foi arremessador na equipe de beisebol e atuou como defensor de futebol americano na Hempstead High School. No futuro, Douglas viria a relatar que seu desempenho nos jogos o fez cultivar certo interesse pela psicologia. Isso porque, durante as partidas, ele estudava formas de desestabilizar o time adversário. Para isso, incentivava seus colegas de equipe a performar quedas falsas, fingirem ataques entre si e a grunhir e expressar gemidos de dor, acreditando que isso levaria seus adversários a pensar que o time era instável e inconsequente, e que apresentavam risco.
Outro evento que relaciona à psicologia foi o período em que trabalhou como segurança em algumas boates, aos 18 anos. Suas funções eram a de identificar menores de idade na fila de entrada, bem como impedir e solucionar brigas entre os clientes. Para a primeira tarefa, ele adotou a estratégia de analisar, discretamente, pessoas em posições atrás das que estava conversando, a fim de observar quem parecia nervoso ou hesitante e identificar possíveis intrusos. Quanto às brigas, ele recorria à sua experiência como atleta e se apresentava como uma pessoa imprevisível, perigosa, com o objetivo de amedrontar os clientes, para que acreditassem que não sairiam impunes caso iniciassem um conflito. Quando isso não era o suficiente, ao menor indício de que um sujeito armaria uma briga, ele imediatamente o retirava do local, antes mesmo de acontecer um problema real.
John Douglas passou a maior parte de sua infância e adolescência cultivando o sonho de se tornar veterinário. Ele tinha uma variedade de animais de estimação, como gatos, cachorros, coelhos e até cobras. Seu objetivo era estudar na Universidade Cornell, mas ele não foi aceito no processo seletivo. Assim, optou por se matricular na Universidade Estadual de Montana, se mudando para a região em 1963.
Seu tempo na universidade foi conturbado. Além de manter um desempenho acadêmico ruim, Douglas se envolveu em problemas com a lei.
Ele passou a ser membro da fraternidade estudantil Sigma Phi Epsilon, que era formada exclusivamente por homens e promovia atividades recreativas com muita frequência. Certa vez, durante uma dessas atividades, Douglas foi pego pela polícia utilizando uma identidade falsa para comprar bebidas. Seu segundo delito, em 1965, foi ainda mais grave. Nesse caso, ele estava como passageiro em um carro que se envolveu em uma perseguição policial, após o motorista não parar com o chamado da polícia, com medo de descobrirem que portavam bebidas alcoólicas no porta-malas. Ele conseguiu fugir, mas foi denunciado por um colega que não escapou. Depois desse episódio, decidiu sair da faculdade, voltar a viver com seus pais e traçar um rumo diferente para a sua vida.
Atuação militar
Em 1966, quando a Guerra do Vietnã estava se intensificando, Douglas foi convocado para se alistar no serviço militar obrigatório. Ele foi selecionado, mas, ao invés de se juntar ao exército, se alistou à força aérea, acreditando que a probabilidade dele ser convocado para estar na guerra seria mais baixa e que lá ele teria melhores oportunidades de estudo.
Ele começou atuando como datilógrafo e, diante de seu histórico de atletismo e da disponibilidade de uma vaga na unidade, em pouco tempo, se tornou coordenador de programas esportivos, cargo que o tornou elegível para uma iniciativa governamental que promovia a educação. Ele foi aceito no programa e passou a receber uma bolsa de 75% para frequentar a Universidade do Leste do Novo México, onde iniciou o curso de Psicologia.
Enquanto ainda estava servindo na força aérea, Douglas finalizou a graduação e começou um mestrado em psicologia industrial. No entanto, em 1969, ele se envolveu em uma briga com alguns colegas da base em que trabalhava. Seus superiores, a fim de evitar um processo na corte marcial, o dispensaram antes do tempo.
Início da carreira no FBI
No outono de 1970, John Douglas conheceu um homem chamado Frank Haines, que era agente do Departamento Federal de Investigação, o FBI. Haines tinha contato com oficiais da Força Aérea e já conhecia a reputação de Douglas. Ele o convidou para se alistar no FBI, mas não recebeu uma resposta afirmativa. Ainda assim, os dois mantiveram contato e acabaram desenvolvendo uma relação amigável.
Douglas passou a frequentar a casa de Haines e rapidamente se deparou com um estilo de vida muito diferente. Enquanto ele vivia apenas com um auxílio financeiro do governo, por conta de sua dispensa do exército, Haines parecia ter uma rotina extremamente confortável. Foi assim que, interessado em melhorar sua qualidade de vida, Douglas decidiu tentar ingressar nessa carreira e se alistou no FBI.
Em novembro de 1970, aos 25 anos, John Douglas foi bem-sucedido na prova de admissão e aceitou uma proposta de trabalho no FBI por um período de teste.
Ele viajou até a cidade de Quantico, na Virgínia, onde fica a base do FBI, e lá foi submetido a um treinamento rigoroso em direito penal, análise de impressões digitais, crimes violentos e de colarinho branco, técnicas de detenção, armas, combate corpo a corpo e história da função do FBI, para a aplicação das leis no país.
Ao fim do programa, Douglas recebeu credenciais permanentes, um revólver, seis balas e foi enviado para trabalhar em Detroit, tendo se mudado para o Sul da cidade para morar com outros dois agentes, Bob McGonigel e Jack Knust. Lá, Douglas foi designado para trabalhar na Unidade de Crimes Reativos, o que significava que ele trabalharia com crimes que já haviam ocorrido, como assaltos a bancos e extorsões.
No ano de 1971, Douglas conheceu Pamela Elizabeth Modica, na época com 21 anos e aluna da Eastern Michigan University. A relação entre os dois logo ficou séria. No natal daquele mesmo ano, ficaram noivos e, em junho do ano seguinte, se casaram.
Em seu segundo ano de serviço, John Douglas foi transferido para Milwaukee, onde viveria pelos próximos cinco anos, e ficou encarregado pelo recrutamento, uma função que envolvia viagens por todo o estado. Ele se tornou o recrutador mais produtivo do país, chegando a ter uma taxa de sucesso quatro vezes maior que a sua cota. Ele não queria continuar trabalhando nessa área, mas, por conta de sua alta produtividade, seus superiores se negavam a trocá-lo de função. Assim, ele propôs um acordo, afirmando que continuaria trabalhando nessa área se fosse nomeado como primeiro substituto de seu chefe, Herb Hoxie, se pudesse usar um carro do FBI e se fosse indicado para receber fundos da Administração de Assistência a Autoridades Policiais para uma pós-graduação. Esse acordo foi aprovado e, assim, ele iniciou um mestrado em psicologia da educação, na Universidade de Wisconsin.
Algum tempo depois, Douglas passou a se interessar pelo trabalho da SWAT, a equipe de armas e táticas especiais. Ele conseguiu fazer parte do time e passou a atuar como franco-atirador, uma posição que fica mais na retaguarda e dá tiros à distância.
O líder dessa equipe, David Kohl, acabou se tornando diretor-assistente adjunto em Quantico e pediu para que Douglas liderasse a Unidade de Apoio Administrativo. Ele aceitou a proposta e passou a trabalhar, principalmente, em casos de assaltos a bancos.
Ainda nesse período, Douglas foi transferido para trabalhar em uma reserva indígena, onde passou cerca de um mês e investigou pelo menos seis assassinatos. Apesar das dificuldades, foi uma experiência importante, na qual ele se aproximou ainda mais da investigação das cenas de crime.
Em dezembro de 1975, John Douglas e sua esposa tiveram a primeira filha, Erika, enquanto ele terminava sua pós-graduação. Eles ainda viriam a ter mais dois filhos, que se chamariam Lauren e Jed.
Academia Nacional do FBI
O processo de prisão e interrogatório dos suspeitos eram fonte de muito interesse a Douglas. Ele se interessava no psiquismo do criminoso e no porquê de ele ter cometido os atos que cometeu, e, sempre que tinha oportunidade, perguntava para eles sobre suas motivações e planejamento.
Com o passar do tempo, seu encanto pela SWAT se esvaiu e o conhecimento que havia adquirido durante o mestrado o fez ter interesse em outro tipo de desafio. Segundo ele, a parte mais difícil do trabalho era tentar resolver a situação antes que tiros fossem trocados. Assim, Douglas foi enviado para um curso de duas semanas de negociação de reféns na Academia do FBI, em Quantico.
Na época, as técnicas eram ensinadas pela Unidade de Ciência Comportamental, mas boa parte do FBI e do mundo legal em geral acreditava que a psicologia era uma ciência fraca e que não tinha utilidade nesse meio. A turma que Douglas participou contava com cerca de 50 alunos. Nela, estudavam os tipos de tomadores de reféns e os fenômenos que surgiram a partir dessas situações, como a síndrome de Estocolmo e os princípios da negociação. O curso também permitia que escutassem a gravações de negociações reais e contava com treinamento de armas de fogo.
O desempenho de John Douglas durante esse curso chamou a atenção de seus superiores, que o indicaram à Jack Pfaff, chefe da Unidade de Ciência Comportamental. Pfaff convidou Douglas para voltar à Quântico em um futuro próximo e a trabalhar como conselheiro do programa da Academia Nacional do FBI, cargo que ele aceitou prontamente.
Douglas permanecia trabalhando no esquadrão reativo e na equipe da SWAT em Milwaukee, mas passava a maior parte do tempo viajando pelo estado para treinar executivos para lidar com sequestros e ameaças de extorsão. Durante esse tempo, ele conseguiu implantar um sistema que reduziu o número de assaltos a bancos. Esse sistema consistia em um conjunto básico de códigos que permitia identificar se o local estava em algum perigo. Assim, a primeira pessoa a chegar ao banco deveria fazer alguma coisa em específico, como mudar uma planta de lugar ou ajustar a cortina, para demonstrar que estava segura. Se o sinal não fosse dado, a próxima pessoa a chegar não entraria no banco, mas chamaria a polícia imediatamente.
Em 1976, Douglas voltou a Quantico para cumprir seu trabalho temporário como conselheiro da 107a sessão da academia nacional, que teria a duração de 11 semanas. O programa atendia a agentes da lei de alto escalão de todo o mundo, que haviam sido recomendados por seus respectivos comandantes e aceitos pela equipe de Quantico. Durante esse tempo, Douglas também assistiu a aulas da Academia Nacional e aprendeu sobre o método de ensino.
Ao final do programa, em dezembro, tanto a Unidade de Ciência Comportamental quanto a Unidade de Educação ofereceram-lhe um trabalho. Douglas aceitou a proposta da Unidade de Ciência Comportamental. Assim, em junho de 1977, Douglas foi transferido para Quantico.
Unidade de Ciência Comportamental do FBI
Aos 32 anos, John Douglas passou a fazer parte da Unidade de Ciência Comportamental do FBI. Era junho de 1977 e dos nove agentes que chegaram na mesma época que ele, quase todos estavam envolvidos na função de ensinar, incluindo o próprio Douglas. Nesse período, o principal curso oferecido na Academia Nacional era o de psicologia criminal aplicada, que focava em descobrir a motivação por trás dos crimes. Os outros cursos eram problemas policiais contemporâneos, sindicatos policiais, relações com a comunidade, sociologia, psicologia e crimes sexuais.
John Douglas, agora na função de professor, passou a se sentir desconfortável com o fato de que estava tratando de assuntos em suas aulas, os quais ele mesmo não tinha experiência — assim como a maioria dos outros professores. O conteúdo das aulas não era fundamentado por uma linha teórica. Ele se tratava, na verdade, de histórias de guerra, apresentadas e difundidas na unidade por policiais que participaram de casos emblemáticos. Douglas não achava coerente que ele estivesse lecionando sobre experiências de campo, que ele nunca teve, para policiais que tinham muito mais conhecimento do que ele.
Como forma de mudar essa narrativa, passou a colocar os alunos como protagonistas das aulas. Antes de começar, ele os perguntava se alguém ali tinha estado presente durante a investigação dos casos que seriam abordados. Em pouco tempo, ele foi conseguindo o respeito dos policiais e passou a ser consultado para dar opiniões sobre os casos em que estavam trabalhando. No entanto, John Douglas ainda não se sentia confiante com seu trabalho. Achava que precisava saber mais e ir em busca de um conhecimento que pudesse fazer alguma diferença.
Análise de Perfis
Quando ainda trabalhava na SWAT, Douglas começou a frequentar o grupo de detetives de homicídios da cidade e a sala do médico legista. Embora adorasse esse trabalho, o que realmente o interessava era o lado psicológico. Ele teve acesso a muitos casos e ficou especialmente impressionado com o de Edward Gein que, em 1950, utilizava a pele dos corpos de pessoas que assassinava como adereços para sua casa. Douglas queria entender o que se passava na cabeça de um assassino como esse e o que o levava a cometer um homicídio de determinada maneira. Sua experiência com os detetives e o período em que lecionou em Quantico fizeram com que ele passasse a se interessar profundamente pelas análises de perfil, e ele decidiu que seguiria por esse caminho.
Naquela época, nenhuma autoridade considerava a análise de perfil como uma ferramenta válida. Por isso, qualquer pessoa que estivesse disposta a estudar ou reproduzir o assunto, precisava fazer isso de maneira informal, sem manter registros, para que não houvesse nenhum risco de envergonhar o FBI. Dessa forma, o trabalho desses analistas era focado em consultorias esporádicas a policiais interessados, mas não existia um programa organizado que a definisse como uma função da Unidade de Ciência Comportamental.
Assim, junto de seu colega de profissão, Bob Ressler, Douglas resolveu iniciar uma série de entrevistas com criminosos, sem comunicar seus superiores, com o objetivo de entender suas personalidades e motivações.
Por intermédio de pessoas de confiança que mantinham dentro do sistema penal, conseguiram organizar a primeira entrevista, com o serial killer Edmund Kemper, na época, cumprindo prisão perpétua no Centro Médico Estadual da Califórnia, que ficava na cidade de Vacaville.
Douglas e Ressler passaram a fazer essas visitas de forma frequente e conseguiram entrevistar mais de meia dúzia de criminosos durante os primeiros meses de pesquisa. Seus estudos eram focados em como a mente dos criminosos funcionava e, através de várias revisões, foram entendendo como deveriam interpretar as respostas dadas por eles de maneira que não fossem influenciados e manipulados. Eles consideravam que entender a escolha das vítimas, o modo como o crime foi conduzido, a vida do prisioneiro antes dos crimes e uma série de outros fatores tornaria possível estabelecer padrões de comportamento que ajudariam a identificar outros criminosos no futuro.
Os criminosos, por sua vez, não demonstraram resistência ao falar com eles. Acreditava-se que existia um motivo para isso, a depender do criminoso. Em geral, ele aproveitava a presença da polícia porque era fanático por agentes da lei; acreditava que poderia tirar algum benefício delas, caso agisse corretamente; queria reviver suas experiências e fantasias, falando sobre elas; se sentia ignorado e usava dessa oportunidade para ser o centro das atenções; ou aproveitava esse momento para cooperar com a polícia, acreditando estar compensando pelo que fez.
Em pouco tempo, o trabalho de Douglas e Ressler foi se tornando conhecido entre os policiais. Em 1979, eles já haviam recebido cerca de 50 pedidos de análise de perfil, e os instrutores da Academia do FBI tentavam trabalhar neles entre uma aula e outra. No ano seguinte, esse número duplicou. Assim, Douglas passou a ser o único agente da Unidade trabalhando integralmente com o tema. Ele dava palestras sobre o assunto e cuidava de praticamente todos os casos de homicídio que chegavam até eles. Foi dessa forma que garantiu o recém-criado cargo de gerente do programa de análise de perfis de personalidades criminosas.
Até esse momento, a dupla ainda não havia encontrado uma forma de transformar a pesquisa em algo estruturado e sistematizado. Eles apresentaram a proposta para a Dra Ann Burgess, uma professora da área da saúde mental, que demonstrou interesse imediato no projeto. Trabalhando juntos, conseguiram um auxílio de 400 mil dólares do Instituto Nacional de Justiça, financiado pelo Governo, organizaram o funcionamento do experimento e estipularam que o projeto fosse durar entre 3 e 4 anos.
O grupo conseguiu completar um estudo detalhado de 36 indivíduos até 1983 e, dentre os entrevistados, estavam nomes muitos populares, como Ted Bundy, David Berkowitz e Charles Manson. Além disso, também coletaram dados de 118 vítimas, a maioria mulheres. Em 1988, essas conclusões foram organizadas em um livro chamado Sexual Homicide: Patterns and Motives. No entanto, como os autores relatam, o livro trouxe mais perguntas do que respostas e os levou à conclusão de que a mente de criminosos precisa ser um objeto de estudo contínuo.
A análise de perfis passou a ser uma ferramenta utilizada em muitas investigações. Entendendo o modus operandi do criminoso e como isso refletia em seu comportamento, vida pessoal e relações, conseguiam estipular um perfil de como seria aquela pessoa e esse perfil era capaz de os aproximar de potenciais suspeitos.
Douglas permaneceu estudando o tema, assim como seus colegas de pesquisa, mas tentou trazer o assunto para o campo prático. Ele esteve envolvido na investigação de casos mundialmente conhecidos, como o dos serial killers Robert Hansen e Nathaniel Code, e se tornou um nome muito popular entre os profissionais da área por ter conseguido formular perfis corretos, que ajudaram a identificar muitos criminosos.
Douglas publicou diversas obras que se tornaram peças essenciais para a construção da análise de perfis. No início dos anos 1980, já estava trabalhando em mais de 150 casos por ano e recebia chamados por todo o mundo. Ele criou e dirigiu o Programa de Perfil Criminal do FBI, que hoje é chamado de Unidade de Análise Comportamental, e também foi diretor da Unidade de Apoio Investigativo. Treinou pessoalmente muitos agentes e fez com que o método se tornasse mundialmente conhecido. Seu trabalho o fez ser reconhecido como o arquiteto do “perfil criminal”.
Em 1995, após 25 anos de serviço, Douglas se aposentou como agente especial no FBI. Atualmente, ele continua dando palestras sobre o assunto e eventualmente participa da investigação de alguns casos como consultor.
Contribuições
Análise de perfis
John Douglas é um personagem muito importante para a psicologia criminal. Seu trabalho de pesquisa, popularização e implantação da técnica de análise de perfis foi um fator fundamental para que a psicologia deixasse de ser vista como um fator dispensável quando se trata de personalidades criminosas.
Ele propôs uma série de pontos que deveriam ser analisados entre as cenas de crime, o tipo de crime e a escolha das vítimas, que permitiriam entender mais sobre os suspeitos e poderiam levar até a sua identificação. Seus esforços resultaram na criação do Programa de Perfil Criminal do FBI, que hoje funciona sob o nome de Unidade de Análise Comportamental e é responsável pela prisão de criminosos violentos por todo o mundo.
Críticas
Análise de perfis
As críticas que se relacionam ao nome de John Douglas estão diretamente ligadas à sua técnica de análise de perfis. Muitos psicólogos, psiquiatras e, principalmente, policiais, criticam o uso dessa ferramenta dentro de investigações. Isso porque, embora exista uma pesquisa científica que fundamente essa prática, sua aplicação é dedutiva e nem sempre condiz com a realidade. Além disso, no momento em que se desenvolve um perfil, os suspeitos que não se assemelham ao mesmo costumam ser descartados, o que pode induzir as investigações ao erro.
Dentre os casos em que o perfil foi apresentado de maneira incorreta, o mais emblemático é o do serial killer Dennis Rader, conhecido como BTK, que atuou entre 1974 e 1991.
De acordo com os estudos de Douglas, Rader seria um homem pouco importante, solitário e sem relacionamentos duradouros, que encontrava nos crimes uma posição dominante que nunca pôde exercer. No entanto, ele seria uma pessoa egocêntrica, e esse fato o faria ser descoberto.
Douglas acertou no último ponto. Rader foi preso em 2005, após ter sido rastreado pela polícia através de um disquete que ele mesmo enviou, na tentativa de trazer visibilidade aos seus crimes passados. Mas, diferente do que havia sido proposto, ele era casado, tinha dois filhos, um trabalho estável e até ocupava uma posição de supervisor.
Esse caso não foi o único em que a análise de perfil estava errada. Embora Douglas apresente a técnica a partir da perspectiva de que ela deve ser utilizada como um apoio e não um direcionamento, muitas vezes, ela se torna o motivo para que casos não sejam solucionados por muito tempo, o que faz com que ela seja rejeitada por muitos profissionais.
Cronologia Biográfica
- 1945 - John Douglas nasce, no condado de Brooklyn;
- 1963 - Inicia seus estudos na Universidade Estadual de Montana;
- 1966 - Se junta à Força Aérea Americana;
- 1966 - Começa a cursar psicologia na Universidade do Leste do Novo México;
- 1969 - É dispensado da Força Aérea Americana;
- 1970 - Passa a trabalhar no FBI;
- 1971 - Se muda para MIlwaukee para atuar como recrutador;
- 1972 - Inicia um mestrado em Psicologia da Educação na Universidade de Wisconsin;
- ~1973-1975 - Entra para a equipe da SWAT e se torna líder da Unidade de Apoio Administrativo;
- 1976 - Atua como conselheiro da Academia Nacional por um período temporário;
- 1977 - É contratado para trabalhar na Unidade de Ciência Comportamental como professor;
- 1979 - Inicia sua pesquisa sobre análise de perfis;
- 1988 - Publica um livro baseado no resultado dessas pesquisas, o Sexual Homicide: Patterns and Motives;
- 1980 - Cria e passa a dirigir o Programa de Perfil Criminal do FBI;
- 1990 - Se torna diretor da Unidade de Apoio Investigativo;
- 1995 - Se aposenta, mas continua trabalhando na área de forma eventual.
Obras
Não ficcionais
- Sexual Homicide: Patterns And Motives (1988);
- Manual De Classificação De Crimes: Um Sistema Padrão Para Investigação E Classificação De Crimes Violentos (1992);
- Mindhunter: O Primeiro Caçador De Serial Killers Americano (1995);
- Mindhunter: Inside The Fbi's Elite Serial Crime Unit (1995);
- Journey Into Darkness (1997);
- Obsession (1998);
- Guia Para Carreiras No Fbi (1998);
- A Anatomia Do Motivo: O Lendário Mindhunter Do Fbi Explora A Chave Para Compreender E Capturar Criminosos Violentos (1999);
- Mentes Criminosas E Crimes Assustadores (2000);
- Guia De John Douglas Para Os Exames Policiais (2000);
- Qualquer Pessoa Que Você Queira Que Eu Seja: Uma Verdadeira História De Sexo E Morte Na Internet (2003);
- Guia De John Douglas Para Conseguir Uma Carreira Na Aplicação Da Lei (2004);
- Manual De Classificação De Crimes: Um Sistema Padrão Para Investigação E Classificação De Crimes Violentos, 2ª Edição (2006);
- Por Dentro Da Mente De Btk: A Verdadeira História Por Trás Da Caça De Trinta Anos Ao Notório Assassino Em Série De Wichita (2007);
- Lei E Desordem (2013);
- The Killer Across The Table: Unlocking The Secrets Of Serial Killers And Predators With The Fbi's Original Mindhunter (2019);
- De Frente Com O Serial Killer: Novos Casos De Mindhunter (2019);
- The Killer Across The Table: Inside The Minds Of Psychopaths And Predators (2020);
- The Killer's Shadow: The Fbi's Hunt For A White Supremacist Serial Killer (2020);
- À Sombra Do Serial Killer: Outros Casos De Mindhunter (2021);
- Quando Um Assassino Liga: Uma História Assustadora De Assassinato, Perfil Criminal E Justiça Em Uma Cidade Pequena (2022);
- O Chamado Do Serial Killer: Mais Casos De Mindhunter (2023)
Ficcionais
- Broken Wings (1999);
- Man Down: A Broken Wings Thriller (2004).
Prêmios e Reconhecimentos
Douglas recebeu dois prêmios Thomas Jefferson de excelência acadêmica da Universidade de Virginia, por seu trabalho no estudo de mentes criminosas.
Retratos na Mídia
As técnicas desenvolvidas por Douglas e seus colaboradores na confecção de perfis de criminosos é amplamente presente em produções cinematográficas. Já nos anos 1990, séries de TV mostram o uso desses perfis. Do mesmo modo, o próprio John Douglas foi utilizado como inspiração para a criação de alguns personagens.
- O personagem Jack Crawford, do filme "O Silêncio dos Inocentes", foi inspirado em John Douglas, e o livro no qual o filme foi baseado teve como referência a história do criminoso Edward Gein, que o autor do livro conheceu enquanto assistia aulas da Unidade de Análise Comportamental. Além disso, o diretor e o elenco do filme visitaram Quantico como parte da preparação para as filmagens;
- No seriado "Criminal Minds", são retratadas histórias ficcionais que são investigadas por agentes da Unidade de Análise Comportamental, que foi criada por John Douglas, e os personagens Jason Gideon e David Rossi foram inspirados nele;
- A série "Mindhunter", da Netflix, foi inspirada no livro de mesmo nome, publicado por John Douglas e Mark Olshaker, e o personagem principal, Holden Ford, foi inspirado em John Douglas;
- O programa “Killer Next Door” foi apresentado por John Douglas e apresentou alguns de seus casos mais famosos;
- Diversas produções empregam elementos que refletem o trabalho de Douglas, como os seriados The Profiler, CSI, Arquivo X e Elementar;
- Muitos produtores solicitam consultas com John Douglas para aprimorar os aspectos criminais que pretendem relatar em suas obras, como foi o caso do filme "Um Olhar no Paraíso".
Referências Bibliográficas
- DOUGLAS, J; DODD, J. Inside the Mind of BTK: the true story behind the thirty-year hunt for the notorious Wichita serial killer. 1a edição. São Francisco: John Wiley & Sons, Inc., 2007.
- DOUGLAS, J; OLSHAKER, M. Mindhunter: o primeiro caçador de serial killers americano. 1a edição. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2017.
- FEDERAL BUREAU OF INVESTIGATION. FBI Law Enforcement Bulletin - December 1986.
- MASTERCLASS. LEGENDARY PROFILER & FBI INVESTIGATIVE SUPPORT UNIT FOUNDER.
Autoria
Este verbete foi criado por Júlia Lombardi Carneiro em 2024.1, por encomenda da coordenação da WikiHP.