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GRINE, Naouel. '''Contribution à la classification supervisée des images satellitaires à l'aide des réseaux de neurones profonds'''. 2023. Dissertação (Mémoire de Master) – Université Mohamed Khider Biskra, Biskra, 2023. | GRINE, Naouel. '''Contribution à la classification supervisée des images satellitaires à l'aide des réseaux de neurones profonds'''. 2023. Dissertação (Mémoire de Master) – Université Mohamed Khider Biskra, Biskra, 2023. | ||
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Edição das 23h57min de 8 de agosto de 2025
A Síndrome de Estocolmo é uma teoria utilizada para justificar o comportamento de vítimas que demonstram afeição por seus agressores, tendo origem no Caso de Norrmalmstorg, ocorrido em 1973 em Estocolmo, Suécia, no qual reféns de um assalto à banco partiram em defesa de seus sequestradores. A teoria foi criada por Nils Bejerot e desenvolvida por Frank Ochberg, que explicou o conceito freudiano de "identificação com o agressor" como causador da síndrome. Embora não seja reconhecida na esfera acadêmica, a síndrome de Estocolmo tem sido utilizada como diagnóstico em diferentes casos, sendo muito presente na mídia e em casos judiciais. Mas, apesar de seu reconhecimento popular, na comunidade científica, a teoria é alvo de muitas críticas, como a falta de evidências científicas e a culpabilização da vítima.
História
Contexto Histórico
Ao longo dos anos 1960 e 1970, o pensamento popular em relação às figuras de autoridade, como a polícia e o governo, foi fortemente impactado por uma série de mudanças políticas e sociais. Sob a influência da cobertura midiática da Guerra do Vietnã, que expôs as muitas tragédias ocorridas no conflito, bem como o aumento de lutas pelos direitos civis, além da promoção do movimento hippie, o sentimento de desconfiança para com as autoridades foi se fortalecendo, dando início a uma nova interpretação social acerca desse fenômeno.
É nesse contexto que a repercussão do caso de Estocolmo e, consequentemente, a criação da chamada “Síndrome de Estocolmo”, ganha significado. Os acontecimentos culturais, políticos e sociais daquela época não só influenciaram a forma como o caso foi interpretado internacionalmente, mas também moldaram a investigação sobre o assunto, ampliaram seu alcance e contribuíram para sua consolidação na cultura popular, sendo destaque em muito filmes, livros e séries.
O Caso de Norrmalmstorg
No dia 23 de agosto de 1973, iniciou-se uma tentativa de assalto ao banco Kreditbanken, um dos maiores bancos da praça central de Norrmalmstorg, localizada em Estocolmo, Suécia.
Jan-Erik Olsson entrou no banco com uma submetralhadora em uma de suas mãos, além de uma lona contendo munição reserva, explosivos, detonadores, um rádio transmissor, espoletas de segurança, pedaços de corda, uma faca e dois walkie-talkies. Olsson disparou um tiro para o alto e gritou a frase: “A festa acaba de começar”. Um dos funcionários do banco imediatamente apertou o botão de emergência e, pouco tempo depois, a polícia já estava no local.
Um policial entrou no banco para negociar com o criminoso, que exigiu que seu antigo companheiro de cela, Clark Olofsson, fosse levado ao local. Exigiu também que recebesse duas pistolas, três milhões de coroas suecas e um carro de fuga, no qual escaparia com os reféns, todos usando capacetes e coletes à prova de bala também fornecidos pela polícia. Posteriormente, em uma entrevista, Olsson afirmou que, naquele momento, não tinha dúvidas de que seus pedidos seriam atendidos, porque a Suécia tinha aversão à violência e estava em período de campanha eleitoral.
Clark Olofsson, seu colega de cela, havia sido preso diversas vezes por roubo, sendo considerado um criminoso perigoso. Ainda assim, os policiais atenderam ao pedido de Olsson e consentiram que Olofsson entrasse no banco, visando sua ajuda na mediação entre o assaltante e a polícia, bem como a proteção dos reféns, garantindo-o uma redução de pena caso cooperasse. Assim sendo, no meio da tarde daquele mesmo dia, Clark Olofsson foi levado ao banco pelas autoridades, ainda algemado. Segundo relatos posteriores por parte dos reféns, com a chegada de Olofsson, o assaltante se acalmou, parou de gritar e ficou menos agressivo.
Primeiro dia
Após a chegada de Olofsson, ainda no primeiro dia de cerco, os reféns foram conduzidos para o interior de um dos cofres. Elizabeth Oldgrenn, uma das funcionárias do banco, afirmou que estava se sentindo claustrofóbica. Olsson, então, amarrou uma corda com cerca de 9 metros de comprimento em seu pescoço, permitindo que Oldgrenn se locomovesse ao redor de uma pequena área. Em entrevista posterior, ela afirmou:
“Eu não conseguia ir longe e estava presa na coleira que ele segurava, mas me sentia livre. Lembro-me de achar que ele foi muito gentil em me deixar sair do cofre” (Lang, 1974, n.p., tradução nossa).
Mais tarde, Olsson permitiu que um grupo de reféns fosse ao banheiro sem supervisão. Ao retornarem, esses reféns avistaram policiais escondidos no mesmo andar em que estavam, mas decidiram não acompanhá-los. Posteriormente ao assalto, o grupo relatou que esse momento gerou um conflito: ao mesmo tempo em que gostariam de encerrar aquela situação, acreditavam que isso colocaria seus outros colegas em risco e, por isso, decidiram continuar sob o domínio dos assaltantes.
Olsson também permitiu que as mulheres ligassem para suas famílias a fim de acalmá-las e dar notícias. Contudo, algumas horas depois, amarrou dinamite ao redor dos pés de Oldgrenn, afirmando que ela serviria como um escudo humano caso a polícia tentasse invadir o cofre em que passariam a noite.
Segundo dia
No segundo dia de cerco, as autoridades pediram para verificar a saúde dos reféns, enviando um comissário para observar cada um deles. Esse comissionário relatou aos repórteres ter observado uma interação descontraída dos reféns para com o assaltante, o que parecia incomum, considerando que Olsson representava uma ameaça às suas vidas.
Em uma ligação com Olof Palme, o primeiro-ministro da Suécia, a refém Kristin Enmark afirmou que confiava plenamente em Olsson e Olofsson, mas que temia que a polícia tomasse alguma atitude que colocasse ela e seus colegas em risco. Ela também pediu que o ministro deixasse que os reféns fossem embora com os criminosos pois, segundo ela, dessa forma, tudo ficaria bem. Nessa mesma ligação, Enmark confrontou Palme, afirmando que a polícia já havia mentido diversas vezes. Como exemplo, mencionou que foram informados de que não enviariam policiais ao térreo do banco, onde os assaltantes estavam instalados, mas que alguns guardas havim sido avistados por Olofsson nesse local.
Posteriormente, Birgitta Lundblad, uma das reféns do assalto, revelou em entrevista que Olsson a revelou que tinha dois filhos, mas não os via há dois anos, por conta de sua vida criminosa, e que entendia como ela estava se sentindo naquela situação. Durante a entrevista, Lundblad afirmou que pensou e ainda pensa que, se ele soubesse que ela também era mãe, talvez não a tivesse feito refém.
Sven Säfström, funcionário do banco que foi achado escondido ao longo do assalto, contou que, em certo momento, Olsson o chamou e disse que atiraria em sua perna, não para matá-lo, mas para desesperar a polícia, aumentando as chances de fuga. Eles combinaram que, ao sinal do sequestrador, Säfström se posicionaria de forma que pudesse ser visto pelas autoridades externas e levaria o tiro, mas o sinal nunca chegou. Após o assalto, conversando com um jornalista, Sven afirmou achar “gentil” da parte do assaltante atirar apenas na perna dele, quando poderia matá-lo, e que precisava se lembrar constantemente de que sua vida havia sido ameaçada.
Terceiro dia
No terceiro dia, os reféns e os assaltantes dormiam dentro do cofre à prova de som, quando a polícia tentou invadir o banco. Ao chegar ao cofre, os policiais encontraram Elizabeth Oldgrenn ainda com explosivos amarrados aos pés, o que os impediu de avançar.
Após essa tentativa, os sequestradores se trancaram no cofre junto aos reféns. Kristin Enmark relatou que tinha pesadelos durante a noite e acordava com Olsson, tentando acalmá-la. Disse também que, às vezes, dava as mãos ao criminoso, porque isso a fazia se sentir menos sozinha, mas afirmou que nunca houve um relacionamento entre eles.
Nesse mesmo dia, houve uma tentativa de negociação por meio de uma ligação. Olsson e Olofsson pediram algumas coisas, dentre elas, que as mulheres pudessem fazer uma ligação para seus parentes, já que as linhas telefônicas para o exterior do banco estavam bloqueadas. Esse pedido foi negado.
Passado o assalto, os reféns relataram que, nesse momento, sentiram medo de que a polícia matasse a todos e colocasse a culpa nos assaltantes. Enmark relatou a um jornalista:
"Desde o momento em que Jan me fez refém, tive medo de que ele me matasse de repente, mas agora era da polícia que eu tinha medo — ainda mais do que quando falei com o Primeiro-Ministro. Eu me sentia sem esperança. Que diferença fazia, eu me perguntava, qual deles me mataria?"(Lang, 1974, n.p. tradução nossa)
Quarto dia
Durante o quarto dia de sequestro, houve um aumento na tensão entre os reféns e as autoridades. Neste dia, a polícia iniciou uma nova estratégia: começou a perfuração de buracos no teto do cofre. O objetivo era acompanhar exatamente o que estava acontecendo dentro do cofre, sem precisar abrir a porta. Cada buraco demorava algumas horas para ser feito, e o ruído da perfuração gerava desconforto e medo entre os reféns. Enmark chegou a admitir que não sabia o que aconteceria a partir daquele acontecimento, e que esse sentimento de não saber o que esperar a deixava em pânico.
Enquanto isso, a convivência dentro do cofre oscilava entre medo e cumplicidade. Kristin Enmark e Elisabeth Oldgrenn revelaram, posteriormente, que Olsson e Olofsson conversavam com elas sobre suas famílias. Além disso, houveram momentos em que Olofsson, por exemplo, consolou uma das mulheres, que vivenciava uma crise emocional.
Quinto dia
No quinto dia, com os avanços da polícia, a tensão entre os reféns se intensificou. Segundo relatos dos próprios reféns, a cada buraco novo feito no teto do cofre, o medo e a insegurança só aumentavam, mas não em relação aos assaltantes — agora, era da polícia que tinham mais medo.
No decorrer do dia, as autoridades seguiam com as perfurações e se preparavam para intervir diretamente, com o objetivo de jogar gás lacrimogêneo no cofre e liberar os reféns.
Sexto dia
No sexto dia, ocorreu o desfecho do sequestro. A polícia, sem aviso prévio, liberou gás lacrimogêneo por todos os sete buracos feitos no teto do cofre. O gás se espalhou rapidamente e reféns e sequestradores começaram a tossir e a sufocar. Posteriormente, Kristin Enmark afirmou que, naquele momento, não sabia quem representava maior perigo.
Minutos depois, com o cofre tomado pelo gás, Olsson gritou que estava se rendendo. A porta do cofre foi aberta e os policiais ordenaram que os reféns saíssem primeiro. No entanto, para surpresa das autoridades, os reféns se recusaram a sair antes, alegando que temiam que a polícia atirasse nos sequestradores. Assim, diante da resistência dos reféns, os policiais permitiram que os sequestradores saíssem na frente. Após a libertação, reféns e sequestradores trocaram abraços. Juntos, deixaram o cofre, com Olsson e Olofsson na frente, cena que impactou as autoridades e a mídia, transformando o assalto em um caso reconhecido mundialmente.
Criação da "Síndrome de Estocolmo"
Durante o assalto de Norrmalmstorg, Nils Bejerot, criminologista e psiquiatra sueco, foi convidado pelo FBI para acompanhar o cerco, auxiliando nas negociações e atuando na observação do comportamento dos reféns durante os dias de sequestro.
Durante uma entrevista televisionada, Bejerot cunhou o termo “Síndrome de Norrmalmstorg”, que posteriormente passaria a ser conhecido como “Síndrome de Estocolmo”, para descrever o comportamento atípico em que os reféns demonstravam sentimentos de empatia e solidariedade pelo seu captor. O psiquiatra definiu o conceito como um vínculo afetivo desenvolvido entre o sequestrador e a vítima em situações de sequestro, a partir de uma suposta “lavagem cerebral” sofrida pelas vítimas.
Embora tenha trabalhado como consultor da polícia no momento da negociação com os reféns no assalto ao banco de Norrmalmstorg, Bejerot não entrevistou nenhum dos reféns, nem estabeleceu nenhuma metodologia científica para a identificação de uma síndrome, restringindo o diagnóstico apenas àquela entrevista.
Frank Ochberg, psiquiatra americano e especialista em trauma, foi quem de fato desenvolveu e consolidou o conceito de Nils Bejerot, pois ajudou o FBI a formular um perfil psicológico e a desenvolver critérios clínicos para descrever o fenômeno. Ainda na década de 70, o FBI foi um dos primeiros órgãos internacionais a aderir o conceito em seus manuais de negociação com os sequestradores, o que contribuiu para a legitimação do termo, mesmo sem base científica.
Em 1999, deFabrique, Romano, Vecchi e Van Hasselt publicaram, no Boletim de aplicação de lei do FBI, um artigo em que tentam explicar a natureza complexa da síndrome de estocolmo, definindo-a como uma condição psicológica. O artigo analisa mais de 1.200 casos que envolviam reféns e chegaram à conclusão de apenas uma pequena parcela — de 5% a 8% — apresentava os padrões definidos por Frank Ochberg para o diagnóstico da síndrome. Os autores mencionam a síndrome como algo raro, retratado pela mídia de forma sensacionalista.
Após a cobertura do assalto, diversos jornais suecos utilizaram o termo criado por Nils Bejerot, como o Dagens Nyheter, um dos mais importantes jornais suecos. Em sua matéria, o jornal afirmou que, no caso de Norrmalmstorg, as vítimas estavam protegendo os sequestradores, o que levou a uma ampla popularização do termo. O novo conceito também contou com uma repercussão internacional, sendo explorado em jornais como o The New York Times e o Time Magazine, que fez matérias explorando a ideia de que as vítimas podem se apaixonar e se aliar aos seus captores.
Ao longo dos anos, o conceito passou a ser utilizado para além dos casos com reféns, como em outras situações em que não é possível reconhecer imediatamente as características descritas por Bejerot. Os grupos que são relacionados à síndrome incluem mulheres que sofrem violência física ou sexual, crianças abusadas, prisioneiros de guerra ou território político, membros de cultos, prisioneiros de campos de concentração e escravos.
Apesar da popularização do termo, é importante evidenciar que a “síndrome de estocolmo” nunca foi oficialmente reconhecida como um diagnóstico clínico válido pelo DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) ou pela CID (Classificação Internacional de Doenças) e que sua popularidade se dá, principalmente, pelo interesse midiático, e não pela validação da comunidade acadêmica.
Descrição
A "Síndrome de Estocolmo" é um conceito criado por Nils Bejerot, criminologista e psiquiatra sueco, e desenvolvido por Frank Ochberg, psiquiatra americano, sob a ótica do comportamento dos reféns no caso do assalto ao banco de Norrmalmstorg, em 1973, conhecido como "O caso de Norrmalmstorg".
Nils Bejerot criou o termo para explicar o comportamento apresentado pelos reféns do caso de Norrmalmstorg, visto a incomum solidariedade e empatia que demonstravam em relação ao seu captor, afirmando que essa seria uma reação inconsciente, visando a sobrevivência. Segundo ele, em situações como essa, os reféns seriam induzidos a um medo e terror extremos, levando-os a um estado em que se sentem indefesos, impotentes e totalmente submissos. Assim sendo, o temor pela vida e a impossibilidade de fuga levariam o refém a interpretar qualquer atitude bondosa, ou até mesmo a ausência de abuso e espancamento por parte do captor, como algo positivo.
Frank Ochberg, por sua vez, afirma a síndrome como uma reação de sobrevivência, de modo que há a criação de um vínculo por parte da vítima como forma de preservação. O psiquiatra explica a origem da síndrome a partir do conceito freudiano de "identificação com o agressor", de modo que há uma internalização de características punitivas do agressor por parte das vítimas - embora não ocorra a reprodução dessas ações, fato que não é comentado pelo autor. Ochberg, enfim, definiu o diagnóstico da síndrome como dependente de dois critérios: o sentimento positivo em relação aos sequestradores e a hostilidade direcionada às autoridades.
Apesar da popularização midiática do termo, a “Síndrome de Estocolmo" e sua validade científica têm sido contestadas por diversos estudiosos e pesquisadores ao longo dos anos. Essas críticas apontam a falta de critérios diagnósticos, a ausência de estudos suficientes que comprovem a existência da síndrome e o risco de diagnosticar e patologizar pessoas sem embasamento científico. Além disso, a Síndrome de Estocolmo nunca foi oficialmente reconhecida como um diagnóstico clínico válido pelo DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) ou pela CID (Classificação Internacional de Doenças).
Repercussões do caso
Patty Hearst
Em 1974, Patty Campbell Hearst, neta do magnata da imprensa William Randolph Hearst, foi sequestrada pelo Exército de Libertação Simbionês (SLA). Logo após o sequestro, um vídeo de Patty condenando sua família, noivo e as autoridades veio a público. No mesmo ano, Patty foi fotografada segurando um rifle enquanto assaltava um banco, junto aos membros da SLA, em São Francisco.
Em 1975, Hearst foi presa. Durante o julgamento, seu advogado afirmou que ela sofria com a chamada “Síndrome de Estocolmo”. A defesa não teve sucesso, e em 1976 Patty foi condenada a sete anos de prisão. Porém, cumpriu apenas 22 meses, pois teve sua sentença comutada pelo presidente Jimmy Carter, que foi convencido de que Patty teria agido por coação.
O caso de Patty Hearst colaborou para a popularização internacional da Síndrome de Estocolmo, o que demonstra a forma vaga e simplista que o termo foi e continua sendo difundido pela mídia e pela cultura popular.
Daniel Lang
O jornalista estadunidense Daniel Lang, em seu artigo “The Bank Drama” [O Drama do Banco], publicado na revista The New Yorker, foi o primeiro a registrar de forma detalhada os acontecimentos do assalto de Norrmalmstorg. Lang entrevistou os participantes do evento em 1974, um ano após o ocorrido. Segundo ele, os reféns buscavam preservar sua sobrevivência obedecendo aos comandos dos assaltantes e, ao mesmo tempo, sentiam medo da violência e do descaso por parte da polícia. O jornalista relata que o medo que as vítimas sentiam pela polícia era maior do que o medo que elas sentiam pelos captores, o que ocasionou, de acordo com ele, o desenvolvimento de sentimentos positivos direcionados aos assaltantes.
Thomas Strentz
O psicólogo estadunidense do FBI Thomas Strentz publicou, em 1980, o artigo “The Stockholm Syndrome: Law Enforcement Policy and Ego Defenses of the Hostage” [A Síndrome de Estocolmo: Política Policial e Mecanismos de Defesa do Ego do Refém]. O psicólogo se posiciona de acordo com Nils Bejerot ao reafirmar a existência de uma patologia e a favor da explicação de sua causa a partir da psicanálise, defendida por Frank Ochberg. Em seu artigo, Strentz busca demonstrar que a Síndrome de Estocolmo constitui uma forma de proteção inconsciente do ego, com base nos conceitos de “identificação com o agressor” e de “regressão”, elaborados por Sigmund Freud e Anna Freud.
Segundo o autor, a identificação com o agressor caracteriza-se pela internalização das características do sequestrador, enquanto a regressão consiste no retorno a um estágio anterior do desenvolvimento psíquico, o que protegeria o ego do colapso diante do trauma causado pela situação de sequestro. Seu artigo recebeu amplo reconhecimento na comunidade acadêmica e influenciou a maioria das teorias posteriores sobre o que viria a ser chamado de “Síndrome de Estocolmo”.
Apesar de a tentativa de associar o conceito da “síndrome” a mecanismos inconscientes de defesa ter sido iniciada anteriormente, foi Strentz quem popularizou essa abordagem.
Celia Jameson
A relação estabelecida por Strentz é questionada pela autora Celia Jameson em seu artigo “The ‘Short Step’ from Love to Hypnosis: A Reconsideration of the Stockholm Syndrome” [O Pequeno Passo do Amor à Hipnose: Uma Reconsideração da Síndrome de Estocolmo], publicado em 2010. Jameson reafirma a teoria da identificação com o agressor, mas ressalta que essa identificação exige a imitação de comportamentos agressivos como forma de proteger o ego contra futuras agressões. No entanto, segundo Jameson, esse processo não assegura a sobrevivência física da vítima e, portanto, não faz sentido em um contexto de sequestro, no qual a preservação da vida é o foco central da vítima.
Martin Symonds
Em 1982, o psicólogo clínico estadunidense Martin Symonds publicou o artigo “Victim Responses to Terror” [Respostas das Vítimas ao Terror]. Ele relacionou o comportamento típico da Síndrome de Estocolmo ao conceito freudiano de regressão, entendido como o retorno inconsciente a um estágio anterior do desenvolvimento psíquico. De acordo com Symonds, esse estágio se assemelha ao comportamento de uma criança que depende de um adulto para a realização de funções básicas de sobrevivência, como se alimentar ou ir ao banheiro — funções que, no contexto do cativeiro, passam a ser mediadas pelo captor.
Diferentemente dos autores que viam esse comportamento como patológico, Symonds o interpreta como uma resposta estratégica de sobrevivência frente a uma situação de terror extremo.
Dee Graham, Edna Rawlings e Roberta Rigsby
As psicólogas Dee Graham, Edna Rawlings e Roberta Rigsby são autoras do livro “Loving to Survive: Sexual Terror, Men’s Violence and Women’s Lives” [Amar para Sobreviver: Terror Sexual, a Violência dos Homens e a Vida das Mulheres], publicado em 1994. A obra busca desconstruir a noção da síndrome de Estocolmo como um desvio psicológico, originada de forma equivocada e ausente de metodologia por Nils Bejerot.
As autoras defendem que o comportamento associado à síndrome é, na verdade, uma reação adaptativa e uma forma de proteção presente em mulheres que se relacionam com homens abusivos. Para elas, o fenômeno deve ser analisado sob uma perspectiva social e estrutural, e não individual ou patológica.
G. Dwayne Fuselier
O agente do FBI G. Dwayne Fuselier, especialista em negociação de reféns, publicou o artigo “Placing the Stockholm Syndrome in Perspective” [Colocando a Síndrome de Estocolmo em Perspectiva], em 1999. Fuselier argumenta que é necessário compreender a situação de sequestro com uma visão realista. Ele destaca que a mídia frequentemente exagera e patologiza o comportamento das vítimas, o que alimenta um sensacionalismo baseado na ideia de uma “síndrome”.
O agente se posiciona a favor da existência de uma síndrome, mas contra seu diagnóstico em excesso. Para ele, nem todas as vítimas acusadas de desenvolverem a síndrome realmente possuem-na. De acordo com seus estudos, apenas uma minoria dos casos de sequestro apresenta comportamentos compatíveis com a chamada síndrome de Estocolmo. Assim, ela deve ser compreendida como uma exceção, e não uma regra.
M. Namnyak e grupo de pesquisadores
Os autores M. Namnyak, Elizabeth Sampson, Nicola Tufton, R. Szekely, Michael Toal e Stephen Worboys são responsáveis pela revisão sistemática “Stockholm Syndrome: Psychiatric Diagnosis or Urban Myth?” [Síndrome de Estocolmo: Diagnóstico Psiquiátrico ou Mito Urbano?], publicado em 2008. O artigo apresenta críticas à noção de “Síndrome de Estocolmo” como uma patologia psiquiátrica. Os autores argumentam que o conjunto de comportamentos associados à síndrome é, na verdade, uma construção da mídia, e não um conceito clínico validado com critérios diagnósticos objetivos. Segundo eles, as vítimas não devem ser vistas como “doentes”, mas sim como pessoas emocionalmente afetadas por traumas.
Por se tratar de uma revisão sistemática, que contempla diferentes perspectivas e estudos, o artigo teve grande influência na defesa de uma visão não patologizante das vítimas.
Críticas
Culpabilização do gênero
Autoras como Kersti Yllo e Michelle Bograd discutem como a síndrome de Estocolmo tem sido usada para patologizar as respostas das mulheres ao abuso, sugerindo que suas reações são resultado de uma condição psicológica, em vez de uma resposta compreensível a situações de abuso por elas vivenciadas.
O psicoterapeuta Allan Wade, também tece críticas à criação da Síndrome de Estocolmo como uma invenção para desacreditar nas vítimas de violência, especialmente mulheres, em vez de reconhecer suas experiências reais de abuso e coerção.
Kristin Enmark, a primeira pessoa a ser diagnosticada com Síndrome de Estocolmo, em sua entrevista ao podcast Memory Motel (2016), disse ter se sentido culpada e invalidada e relatou que viu seu diagnóstico como uma censura e culpabilização da vítima, e que acredita que o seu gênero facilitou uma saída conveniente para a situação, sendo mais simples descredibilizar uma mulher, ao reconhecer a falha qualitativa do serviço de segurança local.
Dee Graham, Edna Rawlings e Roberta Rigsby
No livro Loving to Survive: Sexual Terror, Men's Violence and Women's Lives (1994), as autoras propõem uma leitura voltada à crítica feminista da “Síndrome de Estocolmo”. Elas argumentam que o comportamento descrito pelo criador da síndrome pode ser compreendido como uma estratégia de adaptação das mulheres em situações de abuso e dominação masculina, e não como um distúrbio mental. Para elas, o conceito da síndrome foi criado sem base e sem um método científico, a fim de deslegitimar experiências traumáticas femininas ao classificar sua estratégia de sobrevivência como um distúrbio.
Jess Hill
A jornalista australiana Jess Hill apresenta a síndrome de Estocolmo em seu livro “See What You Made Me Do: Power, Control and Domestic Abuse” como uma "patologia duvidosa sem critérios diagnósticos" e a descreve como "repleta de misoginia e fundamentada em uma mentira". Ela observa que, em muitos casos, os diagnósticos de síndrome de Estocolmo são feitos pela mídia e não por psicólogos ou psiquiatras, o que demonstra mais uma vez a natureza problemática da Síndrome de Estocolmo.
Generalização
Segundo os autores M. C. Astin, K. J. Lawrence, David W. Foy, a síndrome pode ser uma forma de "pensamento ilusório" como estratégia de enfrentamento. A Síndrome de Estocolmo generaliza e simplifica relações mais complexas, não dando atenção a situações de abusos sistemáticos, coerção, manipulação e relações de dependência complexas entre vítimas e abusadores. Muitos profissionais acreditam que a síndrome se encaixaria melhor como uma variação do Transtorno de Estresse Pós-Traumático e não como uma síndrome própria.
A Síndrome de Estocolmo ignora cenários mais complexos de vínculos traumáticos ou estresses pós-traumáticos, que melhor explicam a inclinação fraternal criada pelas vítimas sob condições de abuso, ignorando uma motivação estratégica de sobrevivência ou mecanismos de defesa naturais da mente e do corpo. O reconhecimento da síndrome implica que há uma maneira certa de responder a situações de cativeiro, traumas e/ou abuso, ideia que não é apoiada pela comunidade científica.
Cecilia Åse
No livro Crisis Narratives and Masculinist Protection (2016), Cecília Åse critica a inconsistência da “Síndrome de Estocolmo” ao analisá-la como uma resposta esperada diante da opressão. Pontua que um pensamento hierarquizado e submisso conduz a um raciocínio ilógico em relação aos sintomas apontados da suposta síndrome, ou seja, para a autora, a síndrome interpreta equivocadamente comportamentos estratégicos de sobrevivência como se fossem sinais de um distúrbio mental, reforçando uma visão hierarquizada sobre vítimas e agressores.
Michael Adorjan
Adorjan M., professor de sociologia da Universidade de Calgary, doutor em filosofia, sociologia e mestre em criminologia, posiciona-se sobre a forma como a síndrome de Estocolmo é contestada como doença, devido à dúvida quanto a legitimidade da condição. Ele destaca que os comportamentos descritos pela síndrome também podem descrever as reações de algumas vítimas de abuso sexual, trafico de pessoas, terrorismo e opressão política, ou seja, tais comportamentos podem aparecer em contexto diversos, para além de sequestros ou tomada de reféns.
Falta de bases científicas
A Síndrome de Estocolmo é um fenômeno baseado em observações isoladas, tendo sido cunhada sem que houvessem estudos por parte de pesquisadores da psicologia ou psiquiatria para sustentá-la. Essa narrativa, assim como a dificuldade na identificação de padrões entre os casos, faz com que ainda não haja um consenso em relação à validade da síndrome por parte da comunidade acadêmica.
O primeiro caso noticiado foi baseado em relatos policiais e midiáticos e não em dados científicos e Kristin Enmark, que se tornaria a primeira pessoa diagnosticada, nunca sequer foi entrevistada por Nils Bejerot, criminologista e psiquiatra sueco, responsável pelo diagnóstico e criação da síndrome.
Vale ressaltar que, embora seja amplamente conhecida e mencionada em diferentes contextos, a Síndrome de Estocolmo não é oficialmente reconhecida tanto no DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) quanto no CID-10 (Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde) por falta de consenso científico, da natureza multifatorial dos sintomas e da dificuldade em definir critérios diagnósticos claros.
Valentina Bressan
Valentina Bressan, jornalista formada pela UFRGS, esclarece que a síndrome não possui critérios válidos — o que é essencial para garantir a veracidade e credibilidade de qualquer condição clínica. Do ponto de vista da saúde, ela escreve que a síndrome não é considerada um verdadeiro problema, pois não apresenta um quadro clínico definido nem sintomas específicos, mas sim manifestações generalizadas. Ela reitera o que já foi apresentado; trata-se de um termo midiático, usado para popularizar e rotular casos criminais de diferentes naturezas, sendo amplamente utilizado pela mídia sem respaldo científico.
Referências
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Autoria
Este verbete foi escrito por Ana Carolina Carvalho dos Santos, Laís de Melo, Lara Guimarães Santana, Maria Eduarda de Souza Sampaio e Mariana Dumard Carracena Candido em 2025.1, publicado em 2025.1 e revisado por Julia Lombardi Carneiro em 2025.1. Este verbete está fechado indefinidamente/temporariamente para edição da comunidade por decisão dos editores da WikiHP.