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==== Estímulo Incondicionado (EI) / Estímulo Aversivo ==== | |||
O som forte e repentino (ruído alto), produzido por um martelo batendo em uma barra de aço suspensa atrás da cabeça do bebê. Este estímulo eliciava medo incondicionalmente. | |||
==== Estímulo Condicionado (EC) / Estímulo Neutro (EN) ==== | |||
O rato branco. Inicialmente, Albert não demonstrava medo desse animal. | |||
==== Procedimento de Condicionamento ==== | |||
O pareamento (sequência e número de vezes) entre o rato branco (EC) e o som alto (EI). A contingência programada era apresentar o rato e, assim que Albert o tocava, o som era produzido. Críticas posteriores apontam que esse procedimento também envolveu punição positiva, já que o estímulo aversivo era contingente à resposta de Albert de tocar nos animais, além do pareamento de estímulos. | |||
==== Variável Temporal (Persistência) ==== | |||
Os efeitos do experimento foram testados após cinco dias e novamente após um mês (31 dias) do fim do experimento. | |||
==== Estímulos para Teste de Transferência (Generalização) ==== | |||
Uma série de outros animais e objetos foram apresentados sem o som para verificar a transferência da resposta: | |||
* Animais: Coelho, cachorro e macaco. | |||
* Objetos de pelo/superfícies macias: Casaco de pele de foca, lã de algodão e máscara de Papai Noel. | |||
* Controles: Blocos de madeira, apresentados para verificar a reação habitual da criança. | |||
==== Variável de Ambiente ==== | |||
A mudança de ambiente (de uma sala pequena e iluminada para uma sala grande e bem iluminada) para verificar se as reações se mantinham. | |||
=== B. Variáveis Dependentes (Respostas Observadas) === | === B. Variáveis Dependentes (Respostas Observadas) === | ||
A principal variável dependente era a reação emocional de medo (a Resposta Condicionada), que foi observada e registrada através de notas descritivas. | A principal variável dependente era a reação emocional de medo (a Resposta Condicionada), que foi observada e registrada através de notas descritivas. As manifestações incluíam: | ||
* Reações de Sobressalto e Fuga: Saltar violentamente, tombar para frente, desviar a cabeça, choramingar, afastar as mãos, tentar engatinhar rapidamente. | |||
* Comportamento de Aproximação (Manipulação): Albert tendia a pegar e manipular os objetos. A competição entre a tendência de se afastar (medo) e a tendência de manipular, um indicador de curiosidade), foi uma observação importante. | |||
* Mecanismo de Bloqueio: O chupar o polegar, que parecia atenuar ou bloquear o medo e exigia que os experimentadores o removessem para que a resposta condicionada fosse observada. | |||
=== C. Variáveis do Sujeito (Críticas Metodológicas) === | === C. Variáveis do Sujeito (Críticas Metodológicas) === | ||
O estudo analisou um bebê chamado Albert, que, segundo Watson e Rayner (1920), foi escolhido por sua estabilidade emocional, sendo descrito como "saudável", "normal", "sólido e inemocional". | O estudo analisou um bebê chamado Albert, que, segundo Watson e Rayner (1920), foi escolhido por sua estabilidade emocional, sendo descrito como "saudável", "normal", "sólido e inemocional". Entretanto, análises críticas posteriores identificaram variáveis cruciais sobre a condição de Albert, que provavelmente era Douglas Merritte, uma criança com hidrocefalia congênita, ou William Albert Barger, faleceu após uma vida normal aos 87 anos. | ||
Entretanto, análises críticas posteriores identificaram variáveis cruciais sobre a condição de Albert, que provavelmente era Douglas Merritte | |||
* Déficits Neurológicos/Saúde: Albert era, possivelmente, uma criança neurologicamente comprometida, sofrendo de hidrocefalia obstrutiva congênita e déficits neurológicos. | |||
* Comportamento Anômalo: Sua passividade e falta de responsividade podem ser atribuídas aos seus déficits, o que coloca em dúvida a adequação dele como participante e a força das conclusões do estudo. | |||
== Linha teórica == | == Linha teórica == | ||
Edição atual tal como às 21h28min de 17 de dezembro de 2025
O experimento do "Pequeno Albert", conduzido por Watson e Rayner na Johns Hopkins University em 1920, buscava provar que medos e fobias podem ser condicionados. O bebê Albert, de onze meses, foi condicionado a temer um rato branco (estímulo condicionado) após a associação repetida com um som alto (estímulo incondicionado). Os pesquisadores observaram que Albert demonstrou medo (resposta condicionada) ao ver o rato e generalizou essa resposta para outros objetos felpudos. A persistência da resposta foi verificada por 31 dias e o experimento concluiu que o medo foi condicionado com sucesso, além de transferido para outros objetos, o que na época comprovou para a sociedade a possibilidade de condicionamento. Hoje além de ser visto como antiético e não replicável para confirmação, há críticas metodológicas ao experimento que questionam a interpretação de seus resultados
HistóriaEditar
Autores e seus objetivosEditar
O denominado “Experimento do Pequeno Albert” foi um experimento controverso publicado em 1920 por John B. Watson, psicólogo estadunidense fundador do behaviorismo, e Rosalie Rayner, sua colaboradora e assistente de pesquisa. O experimento foi realizado na Johns Hopkins University, nos Estados Unidos, tinha como objetivo comprovar que medos e fobias poderiam ser condicionados pela experiência. Watson rejeitava o método de introspecção, afirmando que a consciência humana é inobservável. Por isso, propôs que a psicologia deveria ter como objeto de estudo o comportamento, pois ele é observável, fundando, assim, as bases do behaviorismo.
Concepção do experimentoEditar
Em 1917, Watson identificou como emoções primárias humanas o medo, a raiva e o amor, entendendo que adultos possuem também emoções mais complexas desenvolvidas através da experiência. A escolha de um bebê se deve à presença das três emoções primárias, e a escolha de Albert se deu devido a sua falta de reação inicial perante objetos e animais apresentados. Os pesquisadores tiveram a permissão de sua mãe – possivelmente de forma antiética - para fazer testes e observações, com a finalidade de descobrir se conseguiriam condicionar uma resposta de medo a um objeto anteriormente neutro.
O experimentoEditar
O experimento foi realizado em uma sala da universidade Johns Hopkins e a gravação está disponível para acesso por diversos meios, incluindo on-line. Além dos autores Watson e Rayner, do bebê e dos animais, também estava presente a pessoa responsável pela gravação. O experimento consistia em apresentar um animal seguido de um som alto, buscando identificar se haveria resposta emocional de medo ao apresentar o animal sozinho, após a associação deste com o barulho inúmeras vezes. O animal apresentado era um rato branco, e o som alto era realizado atrás de Albert ao bater com um martelo em uma barra. Após sete associações entre animal e som alto, Watson e Rayner afirmaram que Albert demonstrava medo ao ver o rato. O experimento foi repetido, sendo realizado com intervalo de dias e nem sempre o bebê manifestava medo inicial quando apresentado ao rato. Outros animais foram colocados no experimento, como um macaco, um coelho e um cachorro, buscando entender se o medo inicial do rato era transferido para outros animais, o que por vezes não acontecia. Objetos também foram apresentados, e as reações aversivas foram mais comuns quando eram apresentados objetos felpudos, incluindo uma máscara de Papai Noel, um casaco de pelos e um saco com lã.
Pós experimentoEditar
Não se sabe o que aconteceu com o bebê após o experimento e quais foram as reais consequências a longo prazo em sua saúde. A identidade do Pequeno Albert é alvo de discussão, assim como o experimento em si, que ainda sofre duras críticas por sua ética e metodologia.
Uma investigação liderada pelo psicólogo Hall Beck indicou que Albert era Douglas Merrite, uma criança com hidrocefalia falecida aos 6 anos de idade. Outra equipe identificou o Pequeno Albert como William Albert Barger, que faleceu em 2007 aos 87 anos.
Variáveis analisadasEditar
O experimento envolveu variáveis manipuladas (estímulos e procedimentos), variáveis de resposta observadas e variáveis críticas relacionadas ao próprio sujeito.
A. Variáveis Independentes (Estímulos e Procedimentos)Editar
Estas foram as variáveis manipuladas para induzir e testar o medo:
Estímulo Incondicionado (EI) / Estímulo AversivoEditar
O som forte e repentino (ruído alto), produzido por um martelo batendo em uma barra de aço suspensa atrás da cabeça do bebê. Este estímulo eliciava medo incondicionalmente.
Estímulo Condicionado (EC) / Estímulo Neutro (EN)Editar
O rato branco. Inicialmente, Albert não demonstrava medo desse animal.
Procedimento de CondicionamentoEditar
O pareamento (sequência e número de vezes) entre o rato branco (EC) e o som alto (EI). A contingência programada era apresentar o rato e, assim que Albert o tocava, o som era produzido. Críticas posteriores apontam que esse procedimento também envolveu punição positiva, já que o estímulo aversivo era contingente à resposta de Albert de tocar nos animais, além do pareamento de estímulos.
Variável Temporal (Persistência)Editar
Os efeitos do experimento foram testados após cinco dias e novamente após um mês (31 dias) do fim do experimento.
Estímulos para Teste de Transferência (Generalização)Editar
Uma série de outros animais e objetos foram apresentados sem o som para verificar a transferência da resposta:
- Animais: Coelho, cachorro e macaco.
- Objetos de pelo/superfícies macias: Casaco de pele de foca, lã de algodão e máscara de Papai Noel.
- Controles: Blocos de madeira, apresentados para verificar a reação habitual da criança.
Variável de AmbienteEditar
A mudança de ambiente (de uma sala pequena e iluminada para uma sala grande e bem iluminada) para verificar se as reações se mantinham.
B. Variáveis Dependentes (Respostas Observadas)Editar
A principal variável dependente era a reação emocional de medo (a Resposta Condicionada), que foi observada e registrada através de notas descritivas. As manifestações incluíam:
- Reações de Sobressalto e Fuga: Saltar violentamente, tombar para frente, desviar a cabeça, choramingar, afastar as mãos, tentar engatinhar rapidamente.
- Comportamento de Aproximação (Manipulação): Albert tendia a pegar e manipular os objetos. A competição entre a tendência de se afastar (medo) e a tendência de manipular, um indicador de curiosidade), foi uma observação importante.
- Mecanismo de Bloqueio: O chupar o polegar, que parecia atenuar ou bloquear o medo e exigia que os experimentadores o removessem para que a resposta condicionada fosse observada.
C. Variáveis do Sujeito (Críticas Metodológicas)Editar
O estudo analisou um bebê chamado Albert, que, segundo Watson e Rayner (1920), foi escolhido por sua estabilidade emocional, sendo descrito como "saudável", "normal", "sólido e inemocional". Entretanto, análises críticas posteriores identificaram variáveis cruciais sobre a condição de Albert, que provavelmente era Douglas Merritte, uma criança com hidrocefalia congênita, ou William Albert Barger, faleceu após uma vida normal aos 87 anos.
- Déficits Neurológicos/Saúde: Albert era, possivelmente, uma criança neurologicamente comprometida, sofrendo de hidrocefalia obstrutiva congênita e déficits neurológicos.
- Comportamento Anômalo: Sua passividade e falta de responsividade podem ser atribuídas aos seus déficits, o que coloca em dúvida a adequação dele como participante e a força das conclusões do estudo.
Linha teóricaEditar
O Experimento do Pequeno Albert tem como base teórica o behaviorismo metodológico – conforme nomenclatura atribuída por Skinner -, uma corrente que busca entender o comportamento humano por meio de associações aprendidas entre estímulos ambientais e respostas observáveis. Elaborada por John B. Watson, essa abordagem propôs, no manifesto de 1913, o modelo pavloviano de condicionamento. As leis gerais desse aprendizado foram, então, exemplificadas no experimento conduzido por Watson e Rosalie Rayner.
Essa formulação teórica surgiu historicamente no âmbito da psicologia experimental do final do século XIX, um período em que predominavam correntes positivistas que favoreciam métodos laboratoriais em vez de abordagens introspectivas. Desse modo, o behaviorismo surgiu como uma alternativa à psicanálise freudiana e outras abordagens consideradas como internalistas. Watson ajustou o modelo para o comportamento humano, afirmando que emoções e fobias derivam de experiências anteriores, o que teve um impacto significativo na psicologia dos Estados Unidos.
Hipóteses e ResultadosEditar
O experimento de Watson e Rayner (1920) foi concebido para testar a aplicabilidade do condicionamento respondente (pavloviano) em humanos. As quatro questões/hipóteses principais eram:
Hipótese de CondicionamentoEditar
Verificar se a resposta de medo poderia ser condicionada em um bebê, pareando um estímulo neutro (animal) com um estímulo aversivo (som forte).
Resultado Original: Os experimentadores concluíram que a resposta de medo foi condicionada. Após sete pareamentos entre o rato e o som, Albert demonstrou uma reação emocional completa, chorando e se afastando do rato quando apresentado sozinho. Esse resultado, em tese, demonstrou vigorosamente como o medo poderia ser aprendido em humanos por condicionamento pavloviano.
Hipótese de GeneralizaçãoEditar
Testar se essa resposta emocional condicionada se transferiria para outros animais e objetos que nunca foram pareados com o estímulo aversivo.
Resultado Original: Os autores concluíram que a transferência da resposta emocional condicionada parece ter ocorrido. A reação de medo foi transferida para outros objetos, como o coelho (que provocou reações negativas pronunciadas e foi considerado o teste mais convincente de transferência), o casaco de pele de foca, o cachorro, e a máscara de Papai Noel.
Hipótese de PersistênciaEditar
Verificar o efeito do tempo sobre a intensidade da resposta condicionada.
Resultado Original: Os experimentos mostraram que as respostas emocionais condicionadas (direta e por transferência) persistiram por um período de mais de um mês (31 dias), embora com uma certa perda na intensidade da reação. Watson e Rayner afirmaram que, em sua visão, tais reações persistiram e modificaram a personalidade ao longo da vida.
Hipótese de Remoção (Planejada)Editar
Desenvolver procedimentos para remover a resposta que foi condicionada.
Resultado Original: O objetivo de desenvolver procedimentos para remover a resposta emocional condicionada (medo) não pôde ser testado devido à saída de Albert do hospital, o que levou à interrupção de qualquer procedimento. Os autores lamentaram a situação, afirmando que as reações persistiriam no ambiente natural de Albert, a menos que ele fosse exposto acidentalmente a um procedimento de remoção.
Instituições, grupos e personagens importantesEditar
John B. WatsonEditar
Nascido em 9 de janeiro de 1878, John Broadus Watson é apontado por muitos pesquisadores como fundador do behaviorismo, por publicar, em 1913, o “Manifesto Behaviorista”. Ao lado de sua assistente Rayner, Watson foi quem conduziu o experimento do pequeno Albert. O psicólogo faleceu em 1958, deixando inúmeras contribuições para a psicologia, ao defender uma abordagem mais objetiva e científica, o que ajudou a moldar o estudo do comportamento humano e animal.
Rosalie RaynerEditar
Rosalie Rayner é conhecida como a assistente de pesquisa de John B. Watson no experimento “Pequeno Albert”. Como sua colaboradora, foi coautora dos artigos que descreveram o estudo. Nascida em 1899 no estado de Maryland, Estados Unidos, tornou-se um importante figura do movimento feminista. Sua colaboração com o fundador do behaviorismo a estabeleceu como figura relevante na área, com contribuições que, apesar de terem sido ofuscadas, foram fundamentais para o desenvolvimento da psicologia aplicada.
Albert Barger (Pequeno Albert)Editar
Aos 11 meses de idade, Albert foi escolhido como objeto de estudo do pesquisador John B. Watson no que ficou conhecido como experimento do “Pequeno Albert”. O bebê foi escolhido devido a sua estabilidade emocional, pois, antes da experiência, não demonstrava nenhuma reação de medo diante dos animais e objetos que seriam utilizados. As pessoas que conviviam com ele afirmaram que o pequeno raramente chorava e quase nunca demonstrava raiva ou medo, demonstrando ser uma criança curiosa e estável.
Existem duas teses principais sobre a identidade do Pequeno Albert: a investigação de Hall Beck aponta para Douglas Merritte, que sofria de hidrocefalia e morreu aos 6 anos; já outra vertente identifica a criança como William Albert Barger, que viveu até os 87 anos, falecendo em 2007.
Johns Hopkins UniversityEditar
O experimento do Pequeno Albert foi conduzido na Johns Hopkins University no ano de 1920. A universidade, localizada em Baltimore, Maryland, Estados Unidos, foi a primeira instituição de pesquisa do país, fundada em 1876. Seu corpo docente, pesquisadores e estudantes são conhecidos por terem sido pioneiros em descobertas históricas, sendo uma das principais universidades dos EUA.
Reproduções do experimentoEditar
O experimento do Pequeno Albert é considerado cruel e antiético por criar uma fobia intencional em um bebê indefeso, causando um trauma duradouro, sem tentativas de reversão por parte dos pesquisadores. Por essa violação de princípios éticos, o experimento não conta com reproduções diretas em seres humanos.
Recepção do experimentoEditar
A recepção do experimento do “Pequeno Albert” (1920) passou por inúmeros momentos de tensão ao longo dos anos. Inicialmente ele foi considerado um dos experimentos impulsionadores das pesquisas acerca das emoções humanas, um marco importante entre os behavioristas. Com esse estudo, Watson reforçou a ideia de que a psicologia deveria ser baseada em comportamentos observáveis. Entretanto, apesar da aclamada recepção no meio científico, o experimento não foi amplamente divulgado no meio popular. Para os estudiosos da psicologia, esse experimento é um clássico exemplo do condicionamento emocional humano.
Apesar de todos os impasses acerca do experimento, a ideia central de Watson de moldar o comportamento humano, acabou ganhando espaço no meio científico com a noção de poder conseguir moldar qualquer criança em qualquer tipo de pessoa devido ao controle do ambiente, o que influenciou diversas formas de abordagem de criação de filhos e práxis educacionais. Entretanto, com o tempo, o experimento passou a ser duramente criticado devido a erros metodológicos e éticos. Na atualidade esse experimento é visto como um marco importante para a psicologia, e usado como um exemplo negativo de má conduta científica.
CríticasEditar
O Experimento do Pequeno Albert é alvo de duras críticas por falhas metodológicas significativas, inconsistências nos resultados e problemas éticos importantes.
Ben Harris (1979)Editar
Harris é o autor da crítica conhecida como “Controvérsia da Fobia”. O autor questiona se o estudo realmente produziu uma fobia consistente, argumentando que a alternância entre tentativas de aquisição e extinção não sustenta a ideia de medo estável. Para Harris, há “pouca evidência de que Albert tenha desenvolvido uma fobia a ratos ou que os animais evoquem seu medo de forma consistente”. Com base nessas falhas metodológicas, ele classifica os resultados como “interessantes, mas não interpretáveis”. Harris também apontou distorções em relatos posteriores, observando que parte delas veio das próprias reformulações de Watson, que teriam alterado ou omitido informações importantes.
Franz Samelson (1980)Editar
Samelson critica o método aplicado no caso Albert. O autor destaca que Albert frequentemente colocava o polegar na boca quando chorava, o que reduzia o impacto do estímulo aversivo. A necessidade de remover o polegar introduziu um evento aversivo não controlado, afetando diretamente a interpretação dos resultados. Samelson relembra que o próprio Watson, em 1921, descreveu o estudo como “incompleto” e uma “exposição preliminar de possibilidade”. Com isso, Samelson conclui que o experimento não ultrapassa o status de “interessante piloto”.
Cornwell Hobbs e Prytula (1980)Editar
Esses autores investigaram esse fenômeno e observaram que parte das reações emocionais analisadas era produzida pela retirada do polegar da boca do participante, e não pelo estímulo condicionado.
Os autores também indicaram que, com o passar dos anos, ocorreram variações nos dados reportados, o que gerou diferenças entre versões publicadas e interpretações posteriores do experimento.
Fridlund, Goldie, Irons e Beck (2012)Editar
Análises críticas posteriores (como a publicada em 2012) identificaram variáveis cruciais sobre a condição de Albert, que provavelmente era Douglas Merritte. Os pesquisadores concluíram que Albert era, provavelmente, uma criança neurologicamente debilitada, sofrendo de hidrocefalia obstrutiva congênita e déficits neurológicos. Sua passividade e falta de responsividade inicial podem ser atribuídas aos seus déficits, o que coloca em dúvida a adequação dele como participante e a força das conclusões do estudo.
Críticas MetodológicasEditar
● O medo que provocou a resposta não está completamente claro, pois o procedimento envolve elementos de punição positiva (o som era contingente ao toque).
● Alguns críticos sugerem que há pouca evidência de que Albert tenha desenvolvido uma fobia ou que os animais evocaram seu medo de forma consistente. As respostas eram inconsistentes.
● A inconsistência foi exacerbada porque Albert frequentemente usava o chupar o polegar como resposta de esquiva/bloqueio, o que exigia que os experimentadores o removessem para obter a resposta condicionada.
PolêmicasEditar
O experimento do "Pequeno Albert" teve uma recepção inicial de grande tensão e debate. Para os behavioristas, representou um marco importante, reforçando a ideia de que a psicologia deveria se basear em comportamentos observáveis e que as emoções poderiam ser condicionadas. Por outro lado, pesquisas históricas indicam que o impacto do behaviorismo de Watson nos EUA não foi imediato e nem amplo como a historiografia sugeria.
Críticas metodológicas de pesquisadores como Harris, Samelson, Hobbs e Prytula, somadas às possíveis revelações sobre a saúde de Albert por Fridlund, Beck e seus colegas, alteraram a percepção atual do experimento.
Impacto das Críticas ÉticasEditar
Atualmente, o experimento é considerado cruel e antiético, uma vez que induziu intencionalmente uma fobia em um bebê indefeso, resultando em trauma duradouro e sem tentativas de reversão. A impossibilidade de desenvolver procedimentos de remoção da resposta (conforme lamentaram Watson e Rayner) e a subsequente possibilidade de identificação de Albert como uma criança neurologicamente debilitada (Fridlund et al.) intensificaram essa crítica ética. Em virtude dessa violação de princípios, o experimento não foi replicado diretamente em seres humanos.
Impacto das Críticas MetodológicasEditar
As críticas de Harris (1979), Samelson (1980), e Cornwell Hobbs e Prytula (1980) acerca da inconsistência das respostas, da contaminação do procedimento pela retirada do polegar e da superestimação da fobia, conduziram a uma reavaliação dos resultados. Isso transformou a percepção do estudo de um "exemplo clássico" para um "exemplo negativo de má conduta científica" e limitou seu status a um "interessante piloto" (Samelson).
Retratos na mídiaEditar
O Experimento do Pequeno Albert, um marco no campo do behaviorismo, ultrapassou o seu contexto científico original para se tornar um significante cultural. A sua premissa central, de que respostas emocionais como o medo podem ser induzidas através do condicionamento, foi amplamente apropriada por diversas formas de mídia, de obras literárias distópicas a jogos. Nestes contextos, o experimento funciona como uma estrutura para explorar questões sobre a plasticidade do comportamento humano, as implicações éticas da experimentação psicológica e a natureza do trauma induzido. Adicionalmente, o interesse público evoluiu para além dos seus resultados científicos, focando-se na investigação histórica sobre a identidade do sujeito e o impacto biográfico do procedimento, refletindo um discurso mais amplo sobre a responsabilidade na prática científica.
Filmagens do Experimento do Pequeno Albert (1920)Editar
As filmagens mostram a indução e generalização do medo por condicionamento clássico. Associando um rato a um som alto, o estudo fornece subsídios para a tese de que o comportamento e as reações emocionais são essencialmente produtos da aprendizagem e da manipulação ambiental.
Admirável Mundo Novo (1932)Editar
No romance de Aldous Huxley, há referências diretas ao experimento. No mundo criado por Huxley, bebês da casta Delta são condicionados a odiar livros e flores através da associação desses itens a barulhos altos e choques elétricos, uma alusão aos métodos usados com o Pequeno Albert.
Laranja Mecânica (1971)Editar
No filme de Stanley Kubrick, baseado no romance de Anthony Burgess de 1962, o protagonista, Alex, passa por um tratamento chamado "Técnica Ludovico". Ele é forçado a assistir a filmes violentos enquanto recebe uma droga que o faz sentir-se mal, o que o condiciona a sentir náuseas e dor só de pensar em violência. Essa técnica é uma versão ficcional e extrema dos princípios de condicionamento clássico vistos no experimento do Pequeno Albert.
The Brain: A Secret History (2010)Editar
A série de documentários da BBC dedicou uma parte do episódio "Finding Little Albert" à busca pela verdadeira identidade da criança do experimento. A produção deu destaque não só aos detalhes do estudo, mas também ao mistério e às questões éticas sobre o destino do menino, o que aumentou o interesse do público pela história por trás da ciência.
Control (2019)Editar
No jogo, o Federal Bureau of Control (FBC) funciona como uma alegoria exacerbada do Experimento do Pequeno Albert. A agência estuda como a ressonância paranormal "Hiss", o equivalente ao som assustador do experimento, condiciona pessoas e objetos, transformando o que era neutro em um gatilho para o terror. Dessa forma, o jogo explora as consequências da ciência sem moral e do terror do condicionamento, aplicando esses conceitos não a um bebê, mas à estrutura da realidade.
ReferênciasEditar
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GREEN, Christopher D. Conditioned emotional reactions (First published in Journal of Experimental Psychology, 1920). In: Classics in the History of Psychology, Canadá, 1920.
AutoriaEditar
Este verbete foi escrito por Bruna Airosa Aguiar, Kauany Marques Bento, Jéssika Christina de Oliveira Mello, Heitor Marques de Oliveira, Lídia Siqueira Coelho e Evellim do Nascimento Luz como exigência parcial para a disciplina História da Psicologia do curso de Psicologia da UFF de Rio das Ostras. Revisado por Julia Lombardi Carneiro. Criado em 2025.2, Publicado em 2025.2.