O caso clínico “Homem dos Ratos”, acompanhado e publicado pelo psicanalista Sigmund Freud, apresenta a análise do paciente Ernst Lanzer, um jovem advogado vienense que manifestava sintomas obsessivos e compulsivos, revelando o papel de conflitos familiares, repressão sexual e experiências traumáticas na constituição do que Freud denominou como “neurose obsessiva”. Ocorrido entre 1907 e 1908, o caso consolidou conceitos fundamentais da psicanálise, como transferência, ambivalência afetiva, culpa e repressão. No entanto, também gerou críticas e polêmicas, tanto por possíveis omissões por parte de Freud, quanto por questões éticas relacionadas à quebra de sigilo. Apesar dessas controvérsias, o estudo mantém sua grande relevância histórica e cultural, servindo de inspiração para adaptações teatrais e cinematográficas que reforçam o seu impacto na psicanálise e no imaginário social.

HistóriaEditar

Contexto geralEditar

No início do século XX, Sigmund Freud já era relativamente conhecido devido ao seu envolvimento central no movimento psicanalítico. Dentre os muitos casos atendidos pelo psicanalista, Ernst Lanzer teve a sua história conhecida sob o título de “Homem dos ratos”. Lanzer, nascido em 1878, em Viena, seguiu carreira militar após a morte de seu pai, período em que suas obsessões começaram a se intensificar. Foi neste cenário que, aos 29 anos, Lanzer chegou até Freud, em busca de ajuda profissional.

No início das sessões, Freud estabeleceu uma única condição essencial: que o paciente dissesse tudo o que lhe viesse à mente, mesmo que considerasse desagradável, irrelevante ou sem sentido, técnica conhecida como associação livre. Freud também explicava ao paciente alguns conceitos e procedimentos da psicanálise, além de levantar questões que, caso Ernst não soubesse responder, deveriam ser refletidas posteriormente ou discutidas com outras pessoas para então serem retomadas na sessão seguinte.

Sintomas do pacienteEditar

O paciente apresentava sintomas típicos de uma neurose obsessiva, como comportamentos repetitivos, criação de regras muito rígidas, dúvidas constantes, indecisão e mudanças frequentes de opinião. Ele tinha dificuldade em lidar até mesmo com situações simples do dia a dia e relatava pensamentos de natureza suicida, como a ideia de cortar a

própria garganta com uma navalha. Lanzer também afirmava que passou anos tentando lutar contra esses pensamentos, o que o deixou confuso e sem esperança. Apesar de ter buscado vários tipos de tratamento, não teve melhora significativa. Além disso, desde o primeiro contato, demonstrava uma forte preocupação com assuntos relacionados à sexualidade.

Família e relações sociaisEditar

Lanzer cresceu em um ambiente no qual as figuras parentais exerciam forte influência sobre seu comportamento e na maneira de lidar com os sentimentos. A relação de Ernst Lanzer com o pai era marcada por uma combinação de admiração, respeito e medo. O ambiente familiar no qual cresceu era rígido e autoritário já que o pai, ex-suboficial do exército, mantinha uma postura conservadora e impunha disciplina severa, especialmente em assuntos relacionados à sexualidade. Essa convivência baseada não só na repressão, como também no controle, contribuiu para o desenvolvimento de um medo obsessivo de castração e de uma ambivalência afetiva intensa, visto que o pai se tornava, ao mesmo tempo, uma figura de referência e de ameaça. Por outro lado, com a mãe, havia uma mistura de afeto e dependência emocional que gerava insegurança e necessidade constante de aprovação.

Desde a adolescência, Ernst Lanzer vivenciou um forte vínculo com Gisela Adler, jovem de origem modesta, por quem sentia um amor idealizado. O pai, no entanto, desaprovava o relacionamento e exigia que o filho se casasse com uma prima rica para manter os interesses patrimoniais da família. A relação com Gisela, no entanto, terminou de forma definitiva após ela revelar não corresponder ao mesmo sentimento e ser submetida a uma cirurgia que a impediu de ter filhos. Outro vínculo importante foi com Camilla, sua irmã seis anos mais velha, que faleceu quando Ernest era criança.

Também enfrentou outros problemas em relação às amizades. Ernst teve vínculo com um estudante mais velho que, inicialmente, alimentou sua autoestima ao fazê-lo acreditar ser um gênio. Posteriormente, esse mesmo colega passou a tratá-lo com desprezo e isso desencadeou uma profunda crise emocional, fazendo com que se sentisse não apenas diminuído como também inseguro perante a outras relações sociais.

A expressão de desejos sexuaisEditar

De acordo com os relatos clínicos, o paciente Ernst justificava a ênfase em sua vida sexual por seu interesse nas ideias freudianas, as quais conhecia de forma indireta, especialmente por meio de textos sobre associações de palavras, que identificava como semelhantes ao seu próprio funcionamento mental. Desde a infância, Ernst apresentava experiências precoces relacionadas à observação do corpo feminino, associadas a intensos sentimentos de angústia e medo de consequências catastróficas, como a morte do pai. Tais vivências contribuíram para o desenvolvimento de um interesse sexual pelo corpo alheio e de ideias compulsivas, manifestadas em atos de masturbação que funcionavam como expressão de conflitos psíquicos e tentativas de lidar com sentimentos de culpa e ansiedade.

Desde cedo, o paciente relatava medos ligados a ereções e pensamentos eróticos, revelando uma estreita relação entre o desejo sexual infantil e preocupações obsessivas com possíveis punições ou consequências externas. Na vida adulta, suas experiências sexuais permaneceram escassas e irregulares. Ernst demonstrava aversão às prostitutas e relatava ter iniciado sua vida sexual apenas aos vinte e seis anos, afirmando ainda que a masturbação teve pouca relevância em sua adolescência.

Pseudônimo “Homem dos Ratos”Editar

O pseudônimo “Homem dos Ratos” tem origem em um episódio ocorrido durante o treinamento militar de Ernst, quando um superior relatou um método de tortura empregado em guerras. Nesse procedimento, a vítima era imobilizada, com os membros presos e as nádegas expostas, enquanto um recipiente contendo ratos era colocado sobre a região. O fundo do recipiente era aquecido, levando os animais, em desespero, a tentar escapar penetrando o corpo da vítima pela via anal. O relato provocou intensa reação emocional em Ernst, despertando lembranças ligadas ao medo, à punição e à vergonha.

Os ratos também se tornaram símbolos de perseguição e impureza, conectando-se a temas de castigo e desejo reprimido. A associação linguística entre Raten (prestações) e Ratten (ratos) ampliou a carga simbólica, vinculando o animal a ideias de dívida e obrigação. A representação dos ratos foi ainda associada às imagens de crianças, em referência à impossibilidade de procriação da mulher amada, intensificando sentimentos de frustração e ambivalência afetiva. O episódio serviu como ponto de convergência para seus temores e obsessões, culminando em um medo persistente de que ratos pudessem atacar pessoas queridas, episódio que se tornou o centro de sua neurose obsessiva.

Desdobramentos do casoEditar

O caso merece destaque por ser considerado o mais bem-sucedido de Freud, devido à melhora expressiva de Lanzer no que diz respeito, pelo menos, sobre os sintomas iniciais relatados na análise. Após o fim das sessões, em julho de 1908, Ernst se casou com Gisela, a mulher por quem era apaixonado. Em 1914, com o estouro da primeira guerra, retornou ao exército e veio a falecer em combate, aos 34 anos. “Homem dos Ratos” foi publicado, primeiramente, como “Notas Sobre Um Caso de Neurose Obsessiva”. Freud o apresentou em congressos da Sociedade Psicanalítica de Viena, em 1907 e 1908, e no primeiro congresso psicanalítico internacional de Salzburgo, em abril de 1908, o que ajudou a psicanálise no início do século XX.

AnáliseEditar

No caso “Homem dos Ratos”, Freud assume um papel ativo no processo clínico, não se limitando a observar, mas conduzindo o paciente Ernst Lanzer por meio da escuta e da interpretação das formações obsessivas. A análise do caso evidencia a participação de Freud na dinâmica da transferência, mostrando que sua presença influencia diretamente o desenvolvimento do tratamento. Ao escrever sobre o caso, Freud inscreve sua própria presença no texto, transformando o relato clínico em um discurso teórico, o qual o analista também atua como narrador e intérprete da experiência do paciente.

Segundo Freud, o caso apresenta características típicas da neurose obsessiva, marcada pelo conflito entre desejos inconscientes e a repressão moral. Os comportamentos compulsivos, regras rígidas e dúvidas constantes funcionam como mecanismos de defesa para conter impulsos reprimidos, especialmente de natureza sexual e agressiva. A presença de impulsos suicidas expressa a energia pulsional voltada contra o próprio eu, resultado da intensa culpa e censura interna.

Família e relações sociaisEditar

Na interpretação de Freud, os relacionamentos familiares e sociais foram fundamentais para compreender o surgimento e o funcionamento dos sintomas obsessivos de Ernst Lanzer. O psicanalista percebeu que a ambivalência em relação ao pai — sentimentos de amor e ódio coexistindo — era uma das principais fontes de conflito psíquico. Freud associou essa tensão à dificuldade de Ernst em lidar com impulsos agressivos e ao sentimento de culpa que acompanhava seus pensamentos.

Com relação à mãe, Freud observou um padrão semelhante: Ernst sentia um forte desejo de protegê-la ao mesmo tempo existiam impulsos inconscientes de feri-la, o que intensificava seu sofrimento emocional. Essa contradição entre amor e hostilidade refletia-se diretamente em seus comportamentos compulsivos usados como uma forma inconsciente de controlar os próprios desejos.

A história de Gisela simbolizava o confronto entre o desejo pessoal e a obediência às imposições familiares. O amor idealizado e impossível reforçava a tendência de Ernst à culpa e à repressão emocional. Essa repetição do destino do pai, visto como sacrifício do amor em nome da autoridade, contribuiu para o desenvolvimento de seus sintomas obsessivos, os quais o afeto e o sofrimento apareciam sempre ligados.

A figura da irmã Camilla também ganhou um papel importante na análise. Para Freud, ela representava o primeiro objeto de amor de Ernst, um amor idealizado, entretanto inatingível. A perda precoce da irmã junto com a experiência de traição na adolescência contribuíram para formar um padrão de desejo frustrado. Assim, o amor de Ernst era constantemente acompanhado por medo, dúvida e autossabotagem.

Quanto às amizades, Freud entendeu que as experiências de admiração e rejeição repetiam o mesmo padrão emocional vivido com a família: a busca por reconhecimento e a dor de ser desvalorizado. Esses episódios mostram como os conflitos afetivos de infância se repetiam nas relações adultas, reforçando o caráter obsessivo de sua personalidade.

SintomasEditar

O conjunto de sintomas foi denominado por Freud como “O grande medo obsessivo”, tendo como principal característica a preocupação persistente de que algo terrível pudesse ocorrer às pessoas de seu convívio afetivo, especialmente ao pai e à mulher amada, caso não realizasse determinados pensamentos ou ações repetitivas. Embora tivesse consciência da irracionalidade dessas ideias, Ernst sentia-se pressionado a executá-las como forma de alívio da culpa e de prevenção do perigo. Esse medo expressava um conflito interno marcado pela existência de sentimentos opostos, tais como amor e hostilidade, obediência e revolta, desejo e repressão, direcionados às mesmas figuras significativas. A execução compulsiva de rituais e pensamentos protetores mantinha ativo o ciclo de culpa e ansiedade, configurando o padrão típico das neuroses obsessivas, as quais o afeto é deslocado e os impulsos contraditórios se transformam em sintomas de controle e sofrimento psíquico.

Experiências sexuaisEditar

Durante a análise, Freud observou que o paciente atribuía grande importância às questões sexuais, justificando esse foco por seu interesse teórico nas concepções freudianas, especialmente nas associações de palavras as quais considerava semelhantes ao funcionamento de sua própria mente.

A investigação clínica revelou, porém, que essa racionalização funcionava como um mecanismo de defesa, seria uma forma de intelectualizar seus conflitos inconscientes e distanciar-se do conteúdo afetivo ligado à sexualidade e à culpa. Freud notou também a escassez de referências à figura materna, descrita como emocionalmente fria, sugeria uma dificuldade em lidar com vínculos afetivos e possivelmente contribuía para a rigidez e o controle excessivo observados em seu comportamento. A fixação na sexualidade indica que o conteúdo reprimido tem origem em experiências infantis, cuja repressão gera angústia e sintomas obsessivos. Para Freud, apenas a interpretação psicanalítica permitiria trazer esses conteúdos à consciência e aliviar o sofrimento psíquico.

Dessa forma, Freud interpretou que os sintomas obsessivos de Ernst derivaram da tentativa de dominar impulsos reprimidos e de transformar seus desejos inconscientes em processos de pensamento ordenados e racionais, expressando assim o conflito entre o desejo e a interdição moral internalizada.

Personagens importantesEditar

Ernst LanzerEditar

Ernst Lanzer nasceu em 22 de janeiro de 1878, em Viena, em uma família judaica de classe média alta. Formou-se em Direito aos 29 anos e trabalhou como advogado. Foi o protagonista do estudo clínico “Homem dos ratos", sendo paciente de Freud. Durante a Primeira Guerra Mundial, Lanzer foi convocado para o exército austríaco, feito prisioneiro na Rússia e morreu poucos dias depois, em 1914.

Sigmund FreudEditar

Sigmund Freud nasceu em 6 de maio de 1856, em Příbor, hoje Chéquia. Foi médico neurologista e fundador da psicanálise. Sua importância para o caso do Homem dos Ratos está em ter sido o psicanalista responsável pelo estudo clínico, o qual acompanhou e utilizou como apoio para desenvolver conceitos fundamentais da psicanálise, como a associação livre e o inconsciente. Freud faleceu em 23 de setembro de 1939, em Londres, vítima de um câncer na mandíbula.

CríticasEditar

A generalização de sintomas na compreensão psicanalítica da neurose obsessivaEditar

O caso do Homem dos Ratos é frequentemente citado como um exemplo clássico de neurose obsessiva, mas ele combina elementos únicos do paciente com interpretações que tentam generalizar o transtorno. De acordo com a antropóloga Iracema Dulley, ele não deve ser visto como representativo de todas as manifestações desse tipo de neurose. Dulley ressalta que a análise depende da perspectiva do psicanalista e das experiências do paciente, o que torna arriscado aplicar essas conclusões a outros indivíduos com comportamentos obsessivos.

Possível influência de fatores externos na interpretação de FreudEditar

A análise das notas originais do processo revela que a apresentação do caso por Freud pode ter passado por distorções significativas. John Barresi, professor do departamento de psicologia e neurociência da Universidade Dalhousie, sugere que Freud alterou o material não apenas para proteger a privacidade, mas também para "apoiar sua teoria preferida na época". Essa seletividade, de acordo com ele, pode ser percebida na ênfase desigual dada aos membros da família: "Freud deu ênfase excessiva ao pai, em detrimento de outros membros da família (como a mãe e as irmãs do paciente), que frequentemente apareciam nas notas do processo". Tais omissões ou reordenamentos de dados levantam questões sobre a validade da construção histórica apresentada por Freud.

Simplificação da complexidade do casoEditar

A análise crítica do caso “Homem dos Ratos” mostra que a história publicada por Freud simplifica a complexidade da experiência do paciente, organizando o material clínico em torno de uma explicação predominante centrada no conflito edipiano. Segundo Frederick J. Wertz, essa simplificação decorre das escolhas que Freud faz ao selecionar, ordenar e interpretar o material, deixando de fora nuances importantes encontradas nas notas clínicas originais. Essa filtragem produz uma narrativa mais coerente teoricamente, mas menos representativa da riqueza da experiência vivida de Ernst Lanzer.

Por essa perspectiva de simplificação da complexidade do caso, Wertz, membro do departamento de psicologia da Universidade Fordham, analisou o caso sob uma abordagem existencial e sócio-histórica. Ele argumenta que, embora a leitura freudiana identifique certos conflitos do paciente, ela deixa em segundo plano aspectos essenciais da forma de vida de Lanzer, como suas ambiguidades afetivas, tensões éticas, experiências de desvalorização do eu e modos próprios de dar sentido ao sofrimento. Wertz propõe que uma abordagem fenomenológica permitiria captar essas dimensões da subjetividade do paciente, oferecendo uma compreensão mais ampla e profunda do caso do que a narrativa publicada por Freud.

A omissão da mãe por Freud no estudo clínicoEditar

Freud deixou de lado, na apresentação do caso clínico, o papel da mãe do paciente, omitindo fatores importantes ligados à figura materna do paciente que apareciam originalmente nas transcrições do caso, o que influencia em grande escala o entendimento do caso. De acordo com as psicólogas Ligia Maria Durski e Priscila Frehse Pereira, o psicanalista baseou e construiu a análise do caso focando na relação paterna, reforçando uma visão do mundo centrada no masculino e na lógica do complexo do édipo. As teorias freudianas sobre a mulher carregam ideias machistas e datadas, como a noção de que as mulheres teriam um “superego mais fraco”. Tudo isso reforça um modelo em que o feminino é visto como algo “menor” ou “derivado” do masculino.

A partir dessa análise, Durski e Pereira reconhecem que Freud, mesmo genial, foi um homem de seu tempo, limitado pelas ideias machistas e conservadoras da época. Questionar o Édipo não é negar Freud, mas expandir o campo da psicanálise para acolher diferentes formas de ser e viver.

PolêmicasEditar

O caso do “Homem dos Ratos” foi alvo de amplas controvérsias no meio acadêmico devido a discrepâncias relevantes entre o relato publicado e as anotações originais do paciente, encontradas entre os papéis de Freud após sua morte. Pesquisas apontam que o autor teria apresentado fatos confusos e inconsistentes, além de omitir informações significativas, como a ênfase excessiva atribuída à figura paterna e a quase total ausência de menções à mãe de Ernst. Críticos também sugerem que Freud pode ter superestimado o êxito terapêutico do caso ou alcançado apenas uma remissão temporária dos sintomas, priorizando o fortalecimento do vínculo com o paciente em detrimento da análise da transferência negativa.

A comparação entre as anotações originais e o texto publicado revela divergências que indicam possíveis distorções na reconstrução do caso. Em diversos trechos, Freud teria atribuído a Ernst afirmações que este negou ou jamais proferiu, como a hipótese de que o pai se casou por interesse financeiro ou que o paciente corria ao sol para “matar Dick”, um primo de quem sentia ciúmes. Há também indícios de que o analista tenha inserido personagens fictícios, como uma suposta empregada dos correios, e situações inventadas para sustentar suas interpretações teóricas.

Essas intervenções indicam que o relato do “Homem dos Ratos” ultrapassa os limites de uma descrição clínica estritamente objetiva, aproximando-se de uma elaboração teórica e narrativa construída a partir da perspectiva do analista. Por essa razão, o caso é frequentemente compreendido como uma construção interpretativa na qual as experiências do paciente são reorganizadas para colaborar com hipóteses psicanalíticas. A controvérsia evidencia a tensão entre o valor científico e o valor interpretativo do estudo, ao mesmo tempo que reconhece as contribuições de Freud para a compreensão da dinâmica e da estrutura das neuroses obsessivas.

Impactos e Relevância do CasoEditar

O caso do “Homem dos Ratos” consolidou importantes conceitos psicanalíticos como a ambivalência afetiva entre amor e ódio, o papel da culpa e da repressão na formação dos sintomas e a importância do método psicanalítico como via de acesso ao inconsciente. Tais contribuições reforçam o valor clínico e teórico da psicanálise, o que sugere que os sintomas psicológicos estão profundamente ligados às vivências emocionais e aos conflitos internos do sujeito.

Assim, o caso do “Homem dos Ratos” permanece como um dos mais relevantes para a compreensão das neuroses obsessivas, quadro que contribuiu para os estudos do que atualmente é reconhecido como transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). A análise conduzida por Sigmund Freud ajudou a revelar as causas emocionais e psíquicas do sofrimento de Ernst Lanzer e demonstrou como a escuta atenta e a interpretação do analista podem transformar o processo terapêutico, promovendo autoconhecimento e alívio do sofrimento psíquico.

Além disso, o estudo clínico merece ressalva por ser considerado como o único caso bem-sucedido de Freud, ou seja, o primeiro paciente atendido por Freud que realmente teve “êxito” na análise, “curando-se” pelo menos no que se refere aos sintomas iniciais que o trouxeram para a análise, ao ponto de receber alta dos atendimentos de Freud.

Retratos na mídiaEditar

O caso “Homem dos Ratos”, nome dado por Sigmund Freud ao estudo clínico do caso do paciente Ernst Lanzer, em 1909, é um dos mais conhecidos e estudados da psicanálise. Apesar de sua importância histórica, ele aparece pouco na mídia popular, sendo mais frequentemente abordado em contextos acadêmicos, literários e teatrais.

● O Filme “The Rat Man”, retrata as sessões de Freud com seu paciente Ernst Lanzer, apresentando as técnicas psicanalíticas utilizadas e revelando as experiências pessoais e emocionais do paciente em sua neurose obsessiva.

● O livro “Freud e o Homem dos Ratos”, de Patrick Mahony (1991) faz uma análise minuciosa do caso do “Homem dos Ratos”, mostrando como Freud desenvolveu sua teoria da neurose obsessiva a partir desse tratamento e revelando aspectos clínicos e teóricos centrais de sua obra.

● O Livro “E se Freud atendesse no Brasil de hoje?”, de Claudio Bastidas (2020) reúne os principais casos clínicos de Freud em narrativas breves e acessíveis, com comentários que ajudam o leitor a compreender o pensamento psicanalítico e a atualidade de suas ideias.

● O Livro “Introdução clínica à Freud: técnicas para a prática cotidiana”, de Bruce Fink (2024) explica as principais técnicas e conceitos de Freud, como recalcamento e transferência, analisando casos como o Homem dos Ratos e refletindo sobre a evolução da psicanálise desde então.

● A Peça de teatro “Freud e o Homem dos Ratos em Cena”, da Cia. Inconsciente em Cena (2025), por meio da linguagem teatral, mostra a relação entre analista e paciente e o desvendamento dos sintomas. Assim, sugerindo como a psicanálise pode conduzir à compreensão dos sentimentos e o alívio do sofrimento. A peça além de ser encenada no Brasil, foi levada também para o Museu do Freud, em Londres.

AutoriaEditar

Este verbete foi escrito por Julia Ramalho de Sousa, Letícia Fabrício Ribeiro, Kauan De Assis Padua, Beatriz Ruegger Cortes Neves e Júlia de Souza Perrud como exigência parcial para a disciplina História da Psicologia do curso de Psicologia da UFF de Rio das Ostras. Revisado por Julia Lombardi Carneiro. Criado em 2025.2, Publicado em 2025.2.