Nilton Quadros Campos nasceu no dia 23 de agosto do ano de 1898, na cidade do Rio de Janeiro, Ainda no Rio de Janeiro se formou em medicina, no ano de 1924, se especializando em psiquiatria. Foi o principal responsável pelo aprofundamento e discriminação do estudo da fenomenologia no brasil, bem como o uso de arcabouço teórico, e filosófico, para as práticas em psicologia no Brasil.
“Um dos aspectos mais importantes do legado de Nilton Campos para a Fenomenologia e a Psicologia brasileiras é o fato que este antecipa, já em sua tese, a potencialidade desse método para a pesquisa psicológica, além de assinalar a proximidade com vários aspectos da Psicologia da Gestalt, destacando, contudo, uma percepção crítica da apropriação desta escola do método fenomenológico, quando aponta para a necessidade de modificação do método para melhor adequação à pesquisa em Psicologia.” (HOLANDA, A.F, 2012)
BiografiaEditar
Nilton campos nasceu no dia 23 e agosto de 1898, na cidade do Rio de Janeiro. Nilton era filho de Carmelinda Quadros da Silva Campos e de Luiz Antônio da Silva Campos. Se formou médico pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (antiga URJ e atual RFRJ) no começo dos anos de 1920, em 1924, buscando em seguida se especializar Psiquiatria (Penna, 1987). Logo após se formar, vai trabalhar, no ano de 1925, no laboratório de psicologia da colônia de psicopatas do engenho de dentro, como assistente de laboratório. Neste mesmo momento conheceu o professor W. Radecki (que no ano anterior, 1924, fundara tal laboratório, que foi idealizado pelo psiquiatra Gustavo Riedel (1887-1934) – à época, diretor da Colônia (Centofanti, 1982; Holanda, 2012; Penna, 1992)) tornando-se seu pupilo e posteriormente seu colaborador em pesquisas. Realizou trabalhos de pesquisa experimental ao lado de Radecki, dos anos de 1925 até 1937. Só dse afastou dos trabalhos no laboratório em dois momentos, sendo un deles uma viagem expedicionária à Europa, organizada por seu próprio mentor, WaclawRadecki, e que lhe rendeu um diário de viagem e algumas publicações.
No ano de 1931 Nilton Campos se desvinculou temporariamente do laboratório, indo se fixar em São Paulo, onde fundou e dirigiu, no período em que esteve por lá, o “Instituto Médico-pedagógico Paulista”, podendo contar com a colaboração de Joaquim Penido. Ainda em 1931 casou-se com a professora Hilda Higgins Imenes, em 14 de fevereiro. E no ano de 1933 retornou para o Rio de Janeiro, e para o laboratório da Colônia de Psicopatas do Engenho de Dentro. No período em que esteve em São Paulo, Nilton Campos, ainda teve a oportunidade de ajudar a fundar a Sociedade de Neuro-psiquiatria paulista.
Durante o período que compreende os anos de 1933 e 1938 Nilton Campos foi neuro-psiquiatra no serviço de neuro-psiquiatria da secretaria de saúde e assistência.Em paralelo a este cargo, em 1934, é responsável por dirigir o serviço neuropsicológico da secretaria de saúde e assistência a psicopatas do distrito federal (valendo assinalar que no ano de 1934 o Rio de Janeiro ainda era a capital do Brasil). E de 1935 até 1937 é designado para o cargo de diretor do Instituto de Psicologia da Assistência a Psicopatas do Distrito Federal.
Na Faculdade Nacional de Filosofia (sem hoje parte integrada da UFRJ), também se diplomou adquirindo título de Doutor, De 1945 editando sua tese e defendo-a em 1948, conseguindo assim a cátedra efetiva de psicologia , que integrava o departamento de filosofia da FNFi, “ Essa cátedra de resto, ele já a exercia interinamente desde 1944 quando se deu o afastamento do professor André Ombreda”(Penna, 1987). Nilton Campos vem a falecer no ano de 1963, mesmo que brevemente, podendo ver a regulamentação da profissão de psicólogo no brasil, no ano de 1962.
TeoriasEditar
A fenomenologia e a GestaltEditar
Quando a psicologia ainda era apenas uma disciplina da faculdade de filosofia, parte de seu currículo, Nilton Campos já defendia a criação de um curso apenas de psicologia, como a formação integral e título de psicólogo, mesmo que com critérios rigorosos para a aquisição de tal título (Holanda, 2021).
Campos entendia que a Psicologia caracterizaria um saber fundamental e auxiliar no tratamento de saúde que – por sua vez – teria o médico como supervisor (Lobo, 1953). Assim, defendia que a criação de um curso para profissionais de Psicologia exigiria bom planejamento e forte base teórica.
Uma forte base teórica para Campos correspondia também a um diálogo entre as áreas de conhecimento, como a psicologia e as ciências sociais e a filosofia (Holanda, 2021). Nesse sentido, Campos demonstra grande interesse pela fenomenologia, já que “o permanente diálogo entre o pensamento filosófico e a atividade experimental é, para Campos, fundamental para a delimitação do objeto psicológico”. (Holanda,2021)
Em sua tese, O Método Fenomenológico na Psicologia (1945), para obtenção de sua cátedra na faculdade de filosofia, Nilton Campos destaca a fenomenologia como sendo uma importante ferramenta para a psicologia, “Um método de investigação da psicologia” (Holanda, 2016) e destacando sua proximidade e diálogo com a terapia da Gestalt, pela qual sempre mostrou grande interesse, visto que era uma forma de psicologia mais “palpável” e experimental.
“Em seus trabalhos, Campos retomava, constantemente, a discussão acerca dos fundamentos epistemológicos para a ciência psicológica, tais como a Teoria da Gestal (Campos, 1945). Nas ideias de Köhler, Campos encontra uma notável crítica às teorias nativistas e empiristas, uma vez que ambas não conseguiram produzir explicações satisfatórias acerca de temas psicológicos”.(Holanda,2021)
ObrasEditar
Primeira faseEditar
"A primeira fase de sua produção científica pertencem os seguintes trabalhos, obviamente descartando-se por desnecessária, a inclusão de seu trabalho de pesquisa e de sua monografia sobre a vida afetiva” (Penna, 1987).
- Contribuição ao estudo da etiopatogenia do eczema pela prova endocrinológica de Parisot e Richard, publicado nos "Annaes" da Colônia de psicopatas, vol. 2 de 1929;
- Discurso de recepção ao professor Wolfgang Kohler., ·Diretor do Instituto de psicologia da Universidade de Berlim, no Mackenzie College, de São Paulo, em 1930, publicado nos principais jornais paulistas;
- A psicologia em face da psiquiatria, criminologia e da pedagogia, conferência realizada em são Paulo, em 1930;
- Psicologia da Estrutura, vol. 19 da Revista "Política", editado em S. Paulo, em 1932;
- Cinco conferências sobre a nova orientação no estudo da vida afetiva, curso de extensão universitária dado na Universidade do Brasil, em 1933;
- Caráter e personalidade da criança: relatório do tema da Conferência de proteção a infância, em 1933;
- O problema médico-pedagógico da assistência aos menores abandonados e delinquentes, relatório apresentado ã referida conferência de proteção a infância, em 1933;
- Ensaio de Análise estrutural somato-psíquica na esquizofrenia, Boletim da Secretaria de Saúde e Assistência, nº 2, de l934;
- Projeto do código criminal do Brasil e as ciências médicas, Arquivos do Manicômio Judiciário, nº 1 e 2, de 1936;
- Estado atual dos estudos sobre a etiologia geral da epilepsia, Boletim da Secretaria de Saúde e Assistência, nº 4, 1936;
- Processos científicos e pesquisa da veracidade nos depoimentos :duas conferências realizadas na Sociedade Brasileira de criminologia, em 1937;
- Mentalidade primitiva, publicado em Ata Médica, nº 1, 1938;
- Estados súbitos de excitação psicomotora, conferência radiofônica na "Hora medicado Brasil", em 1938;
- Eletroencefalografia, publicado em Ata Médica, de 1938.
Segunda faseEditar
A segunda fase se caracteriza “por produções científicas no domínio da psicologia, pertencem os seguintes trabalhos” (Penna, 1987).
- Os fundamentos positivos da psicologia moderna. Boletim da Secretaria de Saúde e Assistência, n9 3, de 1935;
- As aquisições da moderna psicologia, Boletim da Secretaria de Saúde e Assistência; nº 6, de 1938;
- Aspectos da psicologia, Boletim da Secretaria de Saúde e Assistência, nº 7 de 1938;
- Exame psicológico da personalidade, Revista do I.R,B., nº 2 de 1940;
- Fundamentos da análise científica da vida· afetiva, Anuário Brasileiro de Medicina de 1940;
- O Método fenomeno1Õgico na psicologia, tese de concurso de cátedra editada em 1945 e defendida em 1948;
- Fundamentais of the Phernomenological Attitude in Moden Psychology, monografia nº 1 do Instituto de Psicologia, publicada em 1948;
- O Modelo mecanicista do Behaviorismo de Watson, anuário do Instituto de Psicologia da Universidade do Brasil , editado em 1951, contendo os doze números do Boletim do Instituto de Psicologia que começou a ser editado nesse mesmo ano;
- La legitimitê de la methode introspective dans la psychologie moderne, monografia do Instituto e Psicologia, nº 8, 1951;
- A Teoria das estruturas isomórficas na psicologia fisiológica gestaltista, Anuário do Instituto de Psicologia, 1951;
- A teoria binária da percepção, Anuário do Instituto de Psicologia, 1951;
- A influência do pensamento de Dilthey na evolução da psicologia como ciência autônoma, Anuário do Instituto de Psicologia, 1951;
- O problema das relações entre a Neurologia e a Psicologia, Anuário do Instituto de Psicologia, 1951;
- O problema da existência da realidade transfenomenal, Boletim.do Instituto de Psicologia da Universidade do Brasil, 1952, nº 7 e 8;
- O problema da autonomia dos conceitos de personalidade e de comportamento, na pesquisa psicológica atual, Boletim do Instituto de Psicologia, l952, nºs 11 e 12;
- Natureza dos constructos hipotéticos neurológicos utilizados na psicologia científica, Boletim do Instituto de Psicologia, i953, nºs 7 e 8;
- Diferença entre descrição e explicação no estudo da psicologia, Boletim do Instituto de Psicologia, 1953, nºs n · e 12;
- (Antecedentes filosóficos do isomorfismo gestaltista, Boletim do Instituto de Psicologia, 1954, nºs 3 e 4;
- Limitações das teorias naturalistas da personalidade humana, Boletim do Instituto de Psicologia, 1955, nºs 1 e 2;
- Algumas considerações sobre a psicologia científica do pensamento, Boletim do Instituto de Psicologia nºs 9 e 10;
- Sigmund Freud, Boletim do Instituto de Psicologia, 1956, ·nº 5 e 6;
- Humanismo e economia, aula inaugural, Boletim do Instituto de Psicologia, 1958, nºs 3 e 4;
- Importância e significado da análise fenomenológica no estudo das ciências, Boletim do Instituto de Psicologia, 1958 , nºs 7 e 8 ;
- Filosófica e Ciências positiva, Boletim do Instituto de. Psicologia, 1959, nºs 1 .e 2;
- Aspectos psicossociais do problema da produtividade, Boletim do Instituto de Psicologia, nºs 7 e 8;
- A ética através dos tempos curso de ética.
- Todas as obras aqui citadas encontram-se referenciadas no texto Nilton Campos e a divulgação do método fenomenológico e do gestaltismo, de Antônio Penna(1987).
ReferênciasEditar
- Holanda, Adriano. F & Mendonça, Diego do N .Nilton Campos e a Psicologia Brasileira: Um Resgate Biográfico e Bibliográfico. Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 21, n. 2, p. 786-804, 2021.
- Holanda, Adriano. F. Fenomenologia e humanismo. Reflexões necessárias. Curitiba: Juruá. 2014.
- Holanda, Adriano. F. Fenomenologia e Psicologia no Brasil: aspectos históricos. Estudos de Psicologia. Campinas, p. 383-394, julho - setembro 2016.
- Holanda, Adriano. F. Fenomenologia e Psicologia. Diálogos e interlocuções. Revista da Abordagem Gestáltica, 87-92. 2009.
- Holanda, Adriano. F. Fenomenologia e Psicologia: Diálogos e Interlocuções. Revista da Abordagem Gestáltica, p. 87-92, julho-dezembro, 2009.
- Holanda, Adriano. F. O método fenomenológico em Psicologia: uma leitura de Nilton Campos. Estudos e Pesquisas em Psicologia (UERJ), 833-851. 2012.
- PENNA, Antonio..G .Nilton Campos e a divulgação do método fenomenológico e do gestaltismo. História da psicologia: apontamentos sobre as fontes e sobre algumas das figuras mais expressivas da psicologia na Cidade do Rio de Janeiro, IV (pp. 16-28). Rio de Janeiro: ISOP, Texto do centro de pós-graduação em psicologia, n° 7, 1987.
AutoriaEditar
Verbete criado inicialmente por: Nathalia Gomes Pirozi Rodrigues, como exigência parcial para disciplina de História da Psicologia da UFF de Rio das Ostras. Criado em 2021.2, publicado em 2021.2.