A Teoria do Desamparo Aprendido (ou da Impotência Aprendida) é um fenômeno onde a impossibilidade de controle do ambiente exerce influência sobre o comportamento do indivíduo. Este, ao sofrer com eventos aversivos inescapáveis, apresenta posteriormente uma atitude passiva mediante cenários semelhantes, pois acredita ser incapaz de encontrar uma alternativa à sua situação. Essa teoria foi desenvolvida a partir de um experimento realizado na Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, em 1965 e publicado em 1967 pelos norte-americanos Martin Seligman e Steven F. Maier num estudo intitulado Learned Helplessness: Theory and Evidence (Desamparo Aprendido: Teoria e Evidência). A aplicação mais comum da teoria é no contexto da psicologia clínica para o entendimento de sofrimentos psíquicos como a ansiedade e a depressão. Ademais, a conceituação da teoria e a condução dos experimentos ocorreu num contexto de alta da psicologia experimental e da análise do comportamento, tornando possível, também, sua aplicação na formulação de intervenções no âmbito da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC).

HistóriaEditar

Contexto HistóricoEditar

Na década de 1960, a Guerra Fria e as tensões entre as potências econômicas regentes, União Soviética e Estados Unidos, imperavam sobre a política de todo o mundo. A sensação generalizada diante das guerras conduzidas em outros continentes era de revolta, levando a movimentos antiguerra e de reivindicação por direitos civis por parte de grupos marginalizados dos Estados Unidos. Havia também o sentimento de ansiedade mediante às incertezas com relação ao futuro. A psicologia norte-americana, então, tinha como um de seus focos investigar e solucionar os sofrimentos psicológicos acarretados pela guerra, com grande enfoque nos transtornos depressivos e ansiosos.

Criação da TeoriaEditar

Foi nesse contexto que Martin E. P. Seligman, doutor em psicologia, estudioso e pesquisador do condicionamento clássico, iniciou uma parceria com J. Bruce Overmier, na época, estudioso da Teoria dos Dois Fatores. Overmier, já familiarizado com experimentos acerca da ordem dos condicionamentos, já havia compreendido aquilo que nomeara “efeito de interferência”, que afirma que a exposição prévia a estímulos incontroláveis poderia comprometer a aquisição de novas respostas operantes negativamente reforçadas. Este efeito foi uma das bases para o desenvolvimento da teoria do desamparo aprendido. Apesar de os efeitos da incontrolabilidade já serem objeto de pesquisa de muitos experimentos, foram Seligman e Overmier quem cunharam o termo e ampliaram essa discussão.

ExperimentosEditar

A teoria do desamparo aprendido foi desenvolvida a partir de uma série de experimentos que tinham como objetivo central validar e possibilitar a visualização da teoria empiricamente.  Em “Learned Helplessness: Theory and Evidence" (Desamparo aprendido: teoria e evidência, em tradução livre), artigo publicado por Seligman e Steven F. Maier em 1967, alguns desses estudos são descritos em detalhe. Esses experimentos tinham como base a exposição de indivíduos de diferentes espécies a eventos e estímulos aversivos dos quais, em alguns casos, não era dada a possibilidade de escapar ou de cessá-los. Dessa forma, os pesquisadores puderam demonstrar a maneira como a incontrolabilidade do ambiente era capaz de afetar os processos mentais e o comportamento dos indivíduos, levando-os a admitir uma posição de desamparo e impotência frente à situação.

Modelo Experimental da DepressãoEditar

A teoria do desamparo impactou, no contexto das ciências psicológicas da época, as interpretações a respeito de dilemas existentes, em especial a busca por uma explicação para a depressão. Assim, em 1970, incentivado por seus alunos a se aprofundar na relevância de seus experimentos para problemas clínicos, tais como a ansiedade e a depressão, o pesquisador e professor Martin Seligman passou a trabalhar no Departamento de Psiquiatria da Universidade da Pensilvânia, onde expandiu seus conhecimentos em psicopatologia. Nesse período, em uma tentativa de explicar a depressão a partir da perspectiva de sua própria teoria, Seligman idealizou o “modelo experimental da depressão”, que define que o paciente deprimido teria a crença ou a compreensão de que não possui controle sobre os elementos da sua vida que poderiam aliviar seu sofrimento. Em outras palavras, ele acreditaria estar desamparado. Boa parte das situações que podem levar o sujeito a exibir a sintomatologia associada à depressão diz respeito às tentativas frustradas de resolver um problema ou de alcançar seus objetivos e, por consequência, o sujeito se vê incapaz de reagir diante do que a vida lhe apresenta, passando a apresentar diversas das dificuldades relacionadas ao desamparo aprendido.

Escala de Desamparo AprendidoEditar

Em 1988, os pesquisadores da área de enfermagem Frances W. Quinless e Mary Anne McDermott Nelson desenvolveram um instrumento que tinha como finalidade quantificar o nível de desamparo aprendido sofrido por um indivíduo. A chamada Learned Helplessness Scale (Escala de Desamparo Aprendido, título da adaptação de Couto e Pilati, 2023) foi originalmente aplicada em pacientes hospitalizados em estado grave de saúde, como vítimas de câncer ou em processo de hemodiálise, por exemplo, e consistia numa lista de 20 itens respondidos pelo paciente acerca do próprio quadro, caracterizando um autorrelato. Em 2023, essa escala foi adaptada para o Brasil por Couto e Pilati (2023).

Teoria do desamparo aprendido na atualidadeEditar

Atualmente, a teoria do desamparo ainda é utilizada no campo da análise comportamental, especialmente na produção de literatura de autoajuda e na exploração da sua possível relação com quadros sintomáticos depressivos, o chamado “modelo experimental da depressão”. No entanto, a produção científica mais recente enxerga a necessidade de estabelecer uma maior clareza acerca dos efeitos da incontrolabilidade sobre os humanos em contextos reais e envolvendo processos verbais, visto que o conceito do desamparo aprendido se ateve excessivamente à esfera empírica, produzindo um desfalque no campo analítico. Dessa forma, o conceito do desamparo aprendido acabou por perder espaço.

Teoria no BrasilEditar

A Teoria do Desamparo Aprendido é utilizada e discutida no Brasil principalmente dentro do campo da psicologia clínica, onde é aplicada na compreensão de sintomas de depressão, ansiedade e falta de motivação. Sua aplicação também pode ser encontrada na estruturação de intervenções dentro da Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) e para explicar padrões de passividade diante de situações negativas.

Em 2023, foi publicado um estudo pelos autores Cleno Couto e Ronaldo Pilati com a proposta de adaptação da Escala do Desamparo Aprendido para o contexto brasileiro. As análises exploratórias no Brasil revelaram diferenças significativas na percepção do desamparo aprendido por fatores sociodemográficos, como idade e escolaridade, onde pessoas mais velhas apresentaram escores mais altos na escala do desamparo aprendido, o que pode estar ligado a questões sociais específicas, como a dependência imposta aos idosos e inseguranças financeiras.

Descrição dos ExperimentosEditar

A Teoria do Desamparo aprendido foi conceituada e nomeada em concomitância com a condução de outros estudos, como Teoria dos Fatores, que visavam compreender a influência do ambiente sobre as funções psíquicas e os comportamentos dos indivíduos. Similarmente, para verificação e validação da teoria, foram conduzidos experimentos a respeito do fenômeno do desamparo aprendido em  um variado número de espécies de animais.

CãesEditar

Um cão experimentalmente ingênuo é colocado dentro de uma shuttle-box ou caixa de alternação, que consiste em uma caixa com dois compartimentos individuais separados por uma pequena barreira, pela qual ele corre freneticamente ao receber o primeiro eletrochoque. Isso ocorre até que ele acidentalmente salte sobre a barreira e escapa do estímulo. Na próxima tentativa, esse mesmo cão corre freneticamente de novo e escapa do eletrochoque mais rapidamente do que na tentativa anterior. Após algumas tentativas, o animal se torna muito eficiente em escapar e logo aprende a evitar completamente o choque. Após cerca de 50 tentativas, o cão demonstra indiferença e fica em frente à barreira. No início do sinal de eletrochoque, o cão salta facilmente e raramente leva outro choque. No entanto, os cães que levam choques inescapáveis de primeira demonstram uma diferença muito significativa de padrão de comportamento. Nesse cenário, o cão reage similarmente ao cão anterior ao início dos eletrochoques. Ele corre de maneira frenética dentro da caixa de transporte por trinta segundos, mas então para, deita-se e choraminga. Após um minuto, o eletrochoque cessa automaticamente e o cão ainda não consegue ultrapassar a barreira. Na próxima tentativa, o cão não consegue escapar novamente. De primeira, ele se debate e então, após alguns segundos, parece desistir e aceitar os choques passivamente. Em todas as tentativas sucedentes, o cão falha em escapar.

RatosEditar

Um rato ingênuo é colocado dentro de uma caixa de alternância e treinado para escapar dos choques. O choque para imediatamente quando ele corre para o lado oposto da caixa. Ele aprende com facilidade e escapa prontamente. Um segundo rato que já havia recebido choques incontroláveis anteriormente em outro instrumento, aprende a escapar tão facilmente quanto o primeiro. No entanto, a contingência entre a travessia da caixa e o término do choque é ofuscada, pois o choque não para imediatamente, mas sim três segundos depois que o animal corre para o outro lado da caixa. O primeiro rato continua escapando prontamente, aprendendo a superar o atraso de três segundos. O segundo rato, porém, é incapaz de responder à mudança. Ele atravessa de um compartimento para o outro correndo, mas não demonstra nenhuma curva de aprendizado.

HumanosEditar

É apresentado a um universitário vinte e cinco anagramas, cada um com o mesmo padrão, 34251. Ele resolve o primeiro com facilidade, levando em torno de 45 segundos para completá-lo. Ele resolve os próximos três em 30 segundos cada, aproximadamente, observando o padrão. Cada um dos próximos 16 anagramas é resolvido de imediato. Paralelamente, ao estudante é apresentado uma série de problemas de discriminação insolúveis ou uma variedade de sons altos inescapáveis. Ele se esforça para solucionar o primeiro anagrama, tentando diversos arranjos, mas é incapaz de solucioná-lo dentro dos 100 segundos permitidos. Ele também não consegue solucionar o segundo, mas soluciona o terceiro, relativamente mais fácil, em 60 segundos. Ele falha em solucionar os próximos oito anagramas, parecendo desistir cerca de 60 segundos depois de cada tentativa. Então, ele soluciona seis anagramas em sucessão, mas bem lentamente, e enfim percebe o padrão. Por fim, o estudante soluciona os últimos três anagramas imediatamente.

Experimento de Donald S. HirotoEditar

Num estudo de 1974, a fim de elucidar com mais clareza a relação da teoria do desamparo com a falta de controle e comprovar que não se tratava somente de um déficit físico relacionado aos estímulos negativos aplicados, o pesquisador Donald S. Hiroto conduziu experimentos utilizando de um modelo intitulado “triádico”. Nesse modelo, há três grupos de indivíduos. Um grupo recebe um pré-tratamento, no qual pode controlar os estímulos subsequentes através de alguma ação. O segundo grupo, no entanto, recebe os mesmos estímulos do grupo anterior, mas sem a possibilidade de evitá-los. O terceiro grupo não recebe qualquer pré-tratamento. O experimento de Donald S. Hiroto é apontado como um exemplo importante de demonstração do desamparo aprendido em humanos.

Nesse experimento, o pesquisador separou estudantes universitários em três grupos: o grupo capaz de fugir recebeu um ruído alto, que aprenderam a desligar apertando um botão. O grupo pré-condicionado a não ter saída recebeu o mesmo ruído independente de qualquer resposta. Um terceiro grupo não recebeu nenhum ruído. Cada sujeito foi então levado para uma caixa de alternação manual. Para escapar do ruído, o indivíduo tinha apenas que mover a mão de um lado para o outro da caixa. Tanto o grupo sem ruído quanto o grupo de fuga aprenderam prontamente a desligar o ruído. Como com outras espécies, no entanto, o grupo humano pré-condicionado não conseguiu escapar e evitar os estímulos. A maioria sentou-se passivamente e aceitou o ruído aversivo.  

O modelo triádico de Hiroto tinha ainda mais dois fatores: metade dos participantes de cada grupo foram informados de que o experimento era um teste de habilidade, enquanto a outra metade foi informada de que sua pontuação era uma questão de sorte e, portanto, incontrolável. Aqueles que pensavam depender apenas da sorte apresentaram mais desamparo em todos os grupos. O segundo fator observado dizia respeito à dimensão da personalidade dos participantes, ou o chamado “locus externo vs. interno do controle de reforço”, divididos meio a meio. Uma pessoa de locus externo acredita, de acordo com um teste de personalidade previamente aplicado, que os reforços ou estímulos que ocorrem na sua vida são questão de sorte e estão, consequentemente, fora de seu controle. Em comparação ao grupo de locus interno, o grupo de locus externo também performou mais desamparo ao longo do experimento.

Descrição da TeoriaEditar

A Teoria do Desamparo Aprendido é o fenômeno no qual um indivíduo, ao ser confrontado com cenários adversos dos quais não pode escapar e sobre os quais não exerce controle, tende a globalizar sua concepção acerca da experiência negativa a fim de não despender mais energia tentando evitá-la sem sucesso. Sob essa ótica, enxerga-se o desamparo aprendido como uma demonstração de que todos os animais possuem a capacidade e a necessidade evolutiva de generalizar as próprias experiências. No entanto, esses indivíduos sofrem consequências negativas nos campos da cognição, emoção e motivação.

Efeitos da IncontrolabilidadeEditar

MotivaçãoEditar

No campo da motivação, a iniciação de resposta é prejudicada, isto é, a probabilidade de o sujeito iniciar respostas para escapar é reduzida porque parte do incentivo para dar tais respostas é a expectativa de que elas trarão alívio. Se o sujeito aprendeu previamente que suas respostas não têm efeito sobre o trauma, isso contraria tal expectativa.

CogniçãoEditar

Atinge principalmente a capacidade de aprendizagem do indivíduo. Dessa maneira, o sujeito tem dificuldade de aprender que sua resposta ao estímulo obteve sucesso, mesmo quando isso realmente acontece. Aprender que a resposta e o choque são independentes torna mais difícil aprender que a resposta produz alívio. Em geral, se alguém adquiriu um "conjunto cognitivo" no qual um elemento A é irrelevante para um elemento B, será mais difícil aprender que o elemento A produz o elemento B quando ele realmente o faz. Pela hipótese do desamparo, esse mecanismo é responsável pela dificuldade que cães desamparados têm em aprender que a resposta produz alívio, mesmo depois de responderem e desligarem o choque com sucesso. A incontrolabilidade, portanto, distorce a percepção do controle.

EmoçãoEditar

Por fim, através dos experimentos é possível observar o estresse emocional dos sujeitos. Aprender que o trauma é incontrolável pode produzir mais estresse do que aprender que ele é controlável. Disso, tomamos a hipótese de que não é o choque em si, ou qualquer estímulo negativo administrado nos experimentos, mas a incontrolabilidade dos eventos que produz a incapacidade de escapar. Animais como macacos e ratos, por exemplo, desenvolveram úlceras ao longo dos estudos devido ao estresse constante de estar numa posição de desamparo diante dos estressores aos quais eram expostos.

Informação acerca da contingência → Representação cognitiva da contingência (aprendizagem, expectativa, percepção, crença) → Comportamento

Personagens RelevantesEditar

Martin E. P. SeligmanEditar

Martin Elias Peter Seligman nasceu em 12 de agosto de 1942, em Albany, Nova

Iorque. Doutor em psicologia e professor de psicopatologia na Universidade da Pensilvânia, Seligman passou a refletir sobre a ênfase da ciência psicológica em estudar apenas doenças e disfunções, deixando de lado os aspectos saudáveis e construtivos do desenvolvimento humano. Assim, na década de 60, em parceria com J. Bruce Overmier, desenvolveu a teoria do desamparo aprendido a partir de um conjunto de experimentos.

J. Bruce OvermierEditar

J. Bruce Overmier, nascido em 1938 na cidade de Nova Iorque, é um renomado psicólogo experimental norte-americano, reconhecido internacionalmente por suas pesquisas pioneiras sobre aprendizagem, condicionamento e os efeitos do estresse sobre o comportamento. Diante de sua atuação no campo da psicologia experimental, Overmier passou a cultivar uma relação profissional com o pesquisador Martin E. P. Seligman, e juntos desenvolveram a teoria do desamparo aprendido a partir de um conjunto de experimentos.

Richard Lester SolomonEditar

Richard Lester Solomon nasceu em 2 de outubro de 1918 e faleceu em 12 de outubro de 1995). Foi um psicólogo americano reconhecido por seu trabalho em psicologia comparativa. Solomon iniciou sua carreira acadêmica na Harvard University, no Departamento de Relações Sociais (Social Relations), onde trabalhou em pesquisa de psicologia experimental, e em particular no aprendizado de esquiva (avoidance learning), onde foi um dos defensores da “Teoria de dois Fatores” para a esquiva e nos mecanismos de condicionamento do medo. Solomon exerceu um papel fundamental na elaboração da teoria do desamparo aprendido, atuando como orientador de Overmier durante esse período.

Relação com outras teoriasEditar

Diligência aprendidaEditar

Em 1976, Robert Eisenberger (1943-2022), professor da Universidade de Delaware, cunhou o termo “learned industriousness”, diligência ou laboriosidade aprendida, tomando como base a teoria do desamparo aprendido para buscar entender o motivo pelo qual indivíduos com níveis de habilidades e motivações equivalentes demonstram diferentes níveis de diligência (ou esforço) ao conduzirem as mesmas tarefas.

Psicologia positivaEditar

Foi no contexto posterior ao desamparo aprendido que a psicologia positiva foi cunhada por Seligman. Essa nova vertente da psicologia reinterpretou o fenômeno do desamparo aprendido, sob uma perspectiva voltada ao potencial humano, ao bem-estar e à capacidade de superação, transformando um modelo centrado na impotência em uma base para o estudo da resiliência e do otimismo aprendido (learned optimism).

Otimismo aprendidoEditar

Em estudo sobre o modelo do desamparo aprendido e depressão, Abramson, Seligman e Teasdale (1978) reformularam a ideia de desamparo, buscando entender por que alguns indivíduos não se sentem desamparados mesmo quando condicionados a se sentirem assim. Então eles começaram a investigar como condicionar os indivíduos a serem mais otimistas, associando essa teoria ao modo como normalmente as pessoas explicam eventos ruins, isto é, aos padrões de “estilos explicativos”.  

Instituições, associações e organizaçõesEditar

Universidade da Pensilvânia - Fundação Nacional de CiênciaEditar

Instituição onde Seligman se formou em psicologia e deu início aos experimentos da teoria do desamparo aprendido, financiados pela National Science Foundation (NSF), da Universidade da Pensilvânia.

Colorado University em BoulderEditar

Instituição na qual Steven F. Maier desenvolveu pesquisas importantes sobre o fenômeno do desamparo aprendido, identificando circuitos neurais ligados à percepção de controle, demonstrando a “imunização” pelo controle prévio, diferenciando estresse controlável e incontrolável em modelos animais e mostrando o papel do córtex pré-frontal na inibição da passividade.

Cornell UniversityEditar

Contribuiu com variações e aplicações do conceito ao desenvolver o modelo de atribuição do desamparo aprendido, explorando como interpretações de falhas influenciam motivação e persistência, incluindo estudos em educação e análises das crenças de controle.

CríticasEditar

Experimentos com animaisEditar

Nos experimentos descritos nos estudos do desamparo, cães sofrem choques elétricos, filhotes de macaco são afastados de suas mães, pombos são privados de alimento e ratos são submersos em água gelada, além de todos esses animais serem mantidos em cativeiro sob constante observação. Tais descrições mostram o uso de ferramentas entendidas como cruéis, tanto na época em que ocorreram quanto atualmente. Também são evidências da natureza exploratória da ciência dos séculos XIX e XX, que priorizava a obtenção de novos conhecimentos em detrimento da integridade de outros animais.

Teoria do desamparo e a CIAEditar

Nas investigações conduzidas posteriormente ao ato terrorista em 11 de setembro de 2001, Martin Seligman foi convocado pela CIA para discutir a aplicação da teoria do desamparo aprendido sobre métodos de tortura e interrogatório que tinham como objetivo obter as pistas necessárias para identificar e punir os responsáveis pelo ataque. No entanto, mediante as críticas tecidas a respeito dos métodos investigativos abusivos e desumanos conduzidos, Martin Seligman, embora admita ter administrado uma palestra para treinar militares estadunidenses a resistir a torturas através da teoria do desamparo, reporta não ter feito parte de discussões acerca dessas práticas violentas.

O problema da replicabilidadeEditar

Outra crítica tecida quanto à teoria do desamparo diz respeito a sua replicabilidade. Existe quantidade expressiva de resultados divergentes de pesquisas similares conduzidas em diferentes laboratórios. Embora Maier e Seligman tenham relatado que apenas um terço dos ratos demonstrou desamparo, outros estudos obtiveram unanimidade de desamparo entre os ratos analisados, demonstrando uma possível falha ou brecha na execução do experimento.

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AutoriaEditar

Este verbete foi escrito por Dominic Abreu da Conceição, Daniel de Souza Calais Figueiredo, Ana Clara Sertorio Marques, Pedro Guilherme Alves e Lucas da Silva Duarte, como exigência parcial para a disciplina História da Psicologia do curso de Psicologia da UFF de Rio das Ostras. Revisado por Julia Lombardi Carneiro. Criado em 2025.2, Publicado em 2025.2.