Lourenço Filho
Primogênito da sueca Ida Christina Bergström e do português Manoel Lourenço Filho, Manoel Bergström Lourenço Filho é conhecido por sua grande importância enquanto pioneiro da relação entre psicologia e educação no Brasil. Nascido em Porto Ferreira - São Paulo, no dia 10 de março de 1897, foi um educador e pedagogista renomado, sobretudo, por sua participação no movimento dos pioneiros da Escola Nova. Viveu seus últimos dias no Rio de Janeiro e faleceu em 3 de agosto de 1970 com 73 anos, deixando uma vasta produção de obras.
Biografia
Vida e Formação profissional Da pequena cidade de Porto Ferreira, interior de São Paulo, Lourenço Filho sendo o primogênito dos seus sete irmãos, era, junto deles, cuidado por sua mãe enquanto seu pai trabalhava como comerciante. O comércio da família tinha como característica a diversificação e o trabalho com bens culturais, basicamente venda de livros e materiais para fotografia. A família possuía também uma tipografia, um jornal semanal intitulado A Folha e um cinema.
Diferente de outros intelectuais de sua época que assumiram posições de destaque no campo educacional em decorrer de heranças familiares, Lourenço, através de seu esforço pessoal, obteve suas conquistas devido tanto a sua formação escolar no ensino público quanto ao seu autodidatismo, além do apoio de sua família que valorizava a cultura em suas diversas formas.
Em 1903, deu início a sua vida escolar aos seis anos de idade, em sua cidade natal, dando sequência aos estudos na cidade vizinha, Santa Rita do Passa Quatro. Cedendo às insistências de seu professor Ernesto Moreira, matriculou-se no Ginásio de Campinas, porém devido à família numerosa, seu pai teve dificuldade para mantê-lo. Assim, no final do ano, ele teve que deixar o Ginásio. Retomou seus estudos em 1911, após conseguir o primeiro lugar nos exames de admissão para a recém-inaugurada Escola Normal Primária de Pirassununga, onde teve como grande mestre de francês e pedagogia Antonio de Almeida Júnior. Formado no ano de 1916, mudou-se para São Paulo para cursar os dois últimos anos na Escola Normal da Praça da República, recebendo novo diploma de professor. Sendo esta a primeira escola-modelo de São Paulo cujo objetivo era a formação de professores, tornando-se uma referência em educação no estado e no país. E em seguida, se matriculou na Faculdade de Medicina para estudar psiquiatria, abandonando-a dois anos depois. Já em 1919, ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo, bacharelando-se dez anos depois, em 1929, trajetória esta que fora longa em virtude de suas interrupções pelas várias atividades paralelas que desenvolveu, com destaque no campo educacional.
Pode-se dizer que sua carreira profissional foi precoce, levando em consideração que, aos 8 anos, elaborou seu próprio jornal, O Pião, em que ele mesmo exercia todas as funções de chefe, redator e tipográfico. Mais tarde, trabalhou no Jornal do Comércio, no Estado de S. Paulo e na Revista do Brasil.
Lourenço se destacava como docente mesmo sendo aluno, quando exercia habilidades docentes desenvolvendo aulas particulares de preparação para os testes admissionais desde o exame de admissão para a Escola Normal Primária de Pirassununga. Em 1920 teve um novo contato com a atividade de lecionar, na Escola Normal Primária de São Paulo, em que administrava diversas disciplinas pedagógicas. No ano seguinte, funda a Revista de Educação depois de ser nomeado para a cátedra de Psicologia e Pedagogia da Escola Normal de Piracicaba.
Em 1922 assumiu o cargo de Diretor da Instrução Pública no Ceará, onde suas reformas repercutiram no país e podem ser consideradas fonte dos movimentos nacionais de renovação pedagógica das primeiras décadas do século. Em 1924 assume a vaga de Psicologia e Pedagogia da Escola Normal de São Paulo, permanecendo por 6 anos de muita produção, nas quais é possível notar grande influência da Psicologia Experimental nesse momento.
Em São Paulo, ao dirigir a educação, além de reorganizar o ensino criou cursos de aperfeiçoamento para professores e exigiu as disciplinas Psicologia e Sociologia. Convidou Noemi Rudolpher da Silveira e J. B. Damasceno Penna para trabalhar ao seu lado e com Noemi, criou o Laboratório de Psicologia Educacional na Escola Normal de São Paulo. Na década de 30, transferiu-se para o Rio de Janeiro exercendo funções de chefe de gabinete do ministro da Educação Francisco Campos e em 1937, foi nomeado diretor geral do Departamento Nacional de Educação por Gustavo Capanema. De 1938 a 1946 foi diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, sendo assim, o primeiro diretor Geral do INEP (que apenas em 1972, passou a ser Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais).
Também dirigiu o Instituto de Educação do Rio de Janeiro, durante a gestão de Anísio Teixeira na Secretaria de Educação do Distrito Federal (então RJ). Em 3 de agosto de 1970, no Rio, faleceu vítima de colapso cardíaco, aos 73 anos. Em sua homenagem, foram criadas algumas escolas, como as escolas estaduais Professor Lourenço Filho em São João de Meriti e em São Paulo, em 1972, o Colégio Lourenço Filho em Fortaleza, em 1938, e também o grupo escolar Professor Lourenço Filho, existente desde 1950, em Cornélio Procópio.
Contribuições
Psicologia e Educação
Lourenço Filho foi considerado pioneiro na relação entre psicologia e educação no Brasil, participou de forma efetiva do movimento de instituição da Psicologia como campo científico no país além de atuar em várias instâncias do campo educacional, principalmente das que relacionavam a ciência psicológica com a educação. Alguns desses setores foram nas reformas que realizou na educação nos estados do Ceará (1922) e São Paulo (1930); na docência em cursos de formação de professores que foram referência no Brasil, como os da Escola Normal de São Paulo e de Piracicaba; na publicação de diversos livros, inclusive infantis, além de ser prefaciador e tradutor de obras amplamente utilizadas na formação de professores, entre outras posições administrativas.
Ser diplomado pela Escola Normal da Praça significava a possibilidade de desfrutar prestígio intelectual e institucional, sendo o diploma um título decisivo na carreira profissional e na ocupação de postos importantes no aparelho escolar. Na época em que Lourenço Filho ingressou nessa escola, estavam em plena efervescência as ideias de Oscar Thompson, Clemente Quaglio e Ugo Pizzoli. Frisando que, embora tenha sido formado sob estas influências, questionou as práticas psicofísicas voltadas à classificação de escolares que tinham como fonte predominante os pressupostos da escola de antropologia italiana de Cesare Lombroso, caso dos dois últimos desses professores. Questionando o método analítico que fragmentava a vida psíquica e não conseguia medir a capacidade geral do sujeito, Lourenço e outros educadores da época demonstram com tais críticas as disputas existentes entre diferentes escolas psicológicas (Monarcha, 2001).
A partir de 1927, Lourenço Filho organizou e implementou, a coleção pedagógica Bibliotheca de Educação, que publicou títulos estrangeiros traduzidos e originais de autores nacionais que explicitam as idéias ascendentes da Escola Nova, sendo considerada a primeira série de textos de divulgação pedagógica no Brasil. Segundo Monarcha, essa série traduz o esforço da educação em tornar-se uma atividade social especializada sob o amparo da ciência e em apresentar os conhecimentos mais inovadores da época em matéria de educação acessível ao público leitor interessado e, ao mesmo tempo, recrutar um público leitor mais amplo.
As viagens que fazia pelo Brasil e para o exterior e sua vasta cultura lhe possibilitaram contribuir também em áreas como Geografia, História do Brasil, Estatística, Sociologia e Psicologia (testes e medidas na educação, maturação humana). Na educação, contribuiu nas áreas de educação pré-primária, alfabetização infantil e de adultos, ensino secundário, ensino técnico rural, universidade, didática, metodologia de ensino, administração escolar, avaliação educacional, orientação educacional, formação de professores, educação física e literatura infanto-juvenil.
Sua contribuição para a política também merece destaque, apresentou suas ideias quanto ao ensino primário e à liberdade dos programas de ensino nas Conferências Nacionais de Educação de 1927 e 1928, em Curitiba e Belo Horizonte, respectivamente, e foi um dos atores mais importantes do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932.
Teorias
A Escola Nova foi um movimento de renovação do ensino que surgiu no fim do século XIX e ganhou força no início do século XX na Europa e América do Norte. Chegando ao Brasil em 1882 por Rui Barbosa, teve Lourenço Filho como um de seus principais educadores, juntamente com Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo. Na década de 30, quando Getúlio Vargas assumiu o governo provisório, houve repressão e perseguição no campo educacional em relação ao movimento da Escola Nova. Tal repressão inviabilizava a manutenção das reformas sustentadas pelos envolvidos pelas ideias de John Dewey que se aliaram e elaboraram o Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova em 1932, sendo lançadas as bases e diretrizes de uma nova política de educação, no qual Lourenço Filho foi um dos principais autores. Este documento defendia a universalização da escola pública, laica e gratuita.
Ativo e preocupado com a escola no contexto social e nas atividades de sala de aula, Lourenço foi o educador brasileiro que mais pesquisou sobre o movimento educativo da Escola Nova. Lourenço acreditava que a Era Vargas fosse realmente de modernização, ou seja, lhe pareceu um momento oportuno para reformar a educação devido ao governo. Um dos objetivos fundamentais expressos no Manifesto dos Educadores da Escola Nova era a superação do caráter discriminatório e antidemocrático do ensino brasileiro. Neste período, a escola profissionalizante era direcionada para os pobres e o ensino acadêmico para a elite. Além disso, temiam a força da militância católica, que insistia em instituir o ensino religioso nas escolas, pois para ela a “verdadeira educação” seria aquela baseada em princípios cristãos. Os pensadores católicos criticavam a tendência laica instalada pela República, para eles essas “só instruem, não educam”.
Críticas
Além de ser criticado pelo caráter tecnicista de suas propostas educacionais, foi criticado também por ter colaborado com o Estado Novo de Getúlio Vargas, pois acreditava na proposta de modernização do governo e por isso achava ser um bom momento para reformar a educação.
Seguidores
Os pioneiros da educação e o movimento da Escola Nova influenciaram fortemente a nossa nova geração de educadores, com grandes nomes como Darcy Ribeiro, Florestan Fernandes e Paulo Freire.
A “escola nova” representou um esforço na superação da pedagogia da essência, por uma pedagogia da existência. Surge assim um modelo que visava combater a educação dogmática e repressora, buscando se diferenciar por ser uma pedagogia que valoriza o indivíduo. Dando, assim, o caráter psicológico exercido pela pedagogia da existência.
Obras
● Estatística e educação. Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do IBGE, 1940, 23 p.
● Tendências da educação brasileira. São Paulo: Melhoramentos, 1940, 164 p.
● A criança na Literatura Brasileira. São Paulo: Melhoramentos, 1948.
● Educação comparada. São Paulo: Melhoramentos, 1961, 294 p.
● Organização e administração escolar: Um curso básico. São Paulo: Melhoramentos, 1963, 288 p.
● Introdução ao estudo da Escola Nova. São Paulo: Melhoramentos, 1978, 271 p.
● Psicologia educacional. São Paulo: Melhoramentos.
● Psicologia de ontem e de hoje. São Paulo: Melhoramentos.
Prêmios
- Ciência da Educação, Fundação Moinho Santista - 1963
Ver também
Referências
- Lourenço Filho - Biografia. Psicol. cienc. prof., Brasília, v. 17, n. 1, p. 53, 1997.
- LOURENÇO FILHO, Ruy; MONARCHA, Carlos. Por Lourenço Filho: uma bioblibliografia. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. Brasília, 2001.
- PEDROSA, José Geraldo; OLIVEIRA DUENHAS, Flávia. A PRESENÇA DE LOURENÇO FILHO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL BRASILEIRA DOS ANOS 1950: TRABALHOS MANUAIS E PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM. Multiverso: Revista Eletrônica do Campus Juiz de Fora - IF Sudeste MG, [S.l.], v. 4, p. e348, set. 2019.
- MONARCHA, Carlos; LOURENÇO, Ruy (org.). Por Lourenço Filho: uma biobibliografia. Brasília - DF: [s. n.], 2001. 315 p. v. 1.
- SGANDERLA, Ana Paola; CARVALHO, Diana Carvalho de. Lourenço Filho: um pioneiro da relação entre psicologia e educação no Brasil. Psicol. educ., São Paulo, n. 26, p.173-190, jun. 2008.
Links externos
Autoria
Verbete criado inicialmente por: Gabriella Lobo e Nathália Meirelles, como exigência parcial para a disciplina de Psicologia e Desenvolvimento Cognitivo da UFF de Rio das Ostras. Criado em 2021.1. publicado em 2021.1.