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==História== | ==História== | ||
===Apresentação do autor=== | ===Apresentação do autor=== | ||
Manoel Bergström Lourenço Filho nasceu no ano de 1897 em Porto Ferreira | [[Lourenço Filho|Manoel Bergström Lourenço Filho]] nasceu no ano de 1897 em Porto Ferreira, cidade do interior do estado de São Paulo. Sua família não era detentora de muitos bens, e preocupava-se com a instrução dos mais jovens. Em 1916, mudou-se para a capital e concluiu sua formação na Escola Normal da Praça da República, recebendo o diploma de professor à época, algo que o permitiu ocupar cargos dentro de estruturas educacionais. | ||
Ele prosseguiu atuando na área da educação, participando do processo de formação de professores em algumas instituições públicas e privadas, onde discorria sobre temas psicológicos em suas aulas. No início da década de 1920 | Ele prosseguiu atuando na área da educação, participando do processo de formação de professores em algumas instituições públicas e privadas, onde discorria sobre temas psicológicos em suas aulas. No início da década de 1920, começou a se envolver com cargos públicos relacionados à área da educação, vindo a se tornar Diretor Geral da Instrução Pública do Ceará e do estado de São Paulo. | ||
Lourenço Filho também | Ao longo do tempo, Lourenço Filho também se interessou mais pelo campo psicológico – especificamente pelos estudos da área que eram pertinentes à pedagogia –, entrando assim em contato com diversos trabalhos franceses e suíços, tornando-se um dos responsáveis por sua vasta circulação no território brasileiro. | ||
Algumas de suas obras mais importantes datam do início da década de 1930, como a ''Introdução ao Estudo da Escola Nova'' (1930) e ''Os Testes ABC'' (1933), ambas amplamente lidas e utilizadas por educadores de todo o Brasil. Além disso, suas contribuições enquanto criador do [[Serviço de Psicologia Aplicada de São Paulo]] (1931) e um dos organizadores do [[Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP)|Instituto de Seleção e Orientação Profissional]] (1947) foram importantes para o processo de institucionalização e profissionalização do campo psicológico no Brasil. | |||
Lourenço Filho morreu na cidade do Rio de Janeiro em 1970, contando 73 anos. | Lourenço Filho morreu na cidade do Rio de Janeiro em 1970, contando 73 anos. | ||
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A empreitada de Medeiros e Albuquerque foi continuada com a publicação de outras obras de autores brasileiros que tratavam de testes psicológicos, como ''O movimento dos testes: estudo dos testes em geral e guia para realização do teste Binet-Simon-Terman'' (1925) de Baker, ''Teste individual de inteligência: fórmula de Binet-Simon-Burt adaptada para o Brasil'' (1928) e ''Os testes e a reorganização escolar'' (1930) de Isaías Alves. | A empreitada de Medeiros e Albuquerque foi continuada com a publicação de outras obras de autores brasileiros que tratavam de testes psicológicos, como ''O movimento dos testes: estudo dos testes em geral e guia para realização do teste Binet-Simon-Terman'' (1925) de Baker, ''Teste individual de inteligência: fórmula de Binet-Simon-Burt adaptada para o Brasil'' (1928) e ''Os testes e a reorganização escolar'' (1930) de Isaías Alves. | ||
Ulisses Pernambuco e Manoel Bomfim também foram nomes importantes para a construção de um campo de testagem | [[Ulisses Pernambuco]] e [[Manoel Bomfim]] também foram nomes importantes para a construção de um campo de testagem psicológica e psicologia aplicada no país, tendo escrito, respectivamente, obras como ''Estudo psicotécnico de alguns testes de aptidão'' (1927) e ''O'' | ||
''método dos testes: com aplicações à linguagem no ensino primário'' (1928). | |||
===Contexto histórico=== | ===Contexto histórico=== | ||
De maneira geral, no | De maneira geral, no início do século XX, o Brasil depara-se com um novo fenômeno: a escola de massas. De acordo com Monarcha: <blockquote>Presenciava-se a evolução crescente da matrícula escolar, ainda que insatisfatória, acompanhada de aumento de gastos públicos, o que exigia aumento da eficiência e do rendimento do sistema educacional (Monarcha, 2008, p. 7). </blockquote>Nesse cenário, apostava-se que a eficiência do ensino estava relacionada com a organização de classes homogêneas, assim como o preparo da maior quantidade de alunos no menor prazo possível. Concomitantemente, as práticas psicológicas começaram a ganhar certa relevância social, o que contribuiu para legitimar uma Psicologia Objetiva enquanto área vinculada às demandas políticas e institucionais do país na época, principalmente pela sua inserção no meio escolar. Ocorreu, então, a institucionalização do “movimento dos testes”, no qual encontravam-se figuras como Ulisses Pernambucano, Manoel Bomfim, [[Waclaw Radecki]], [[Clemente Quaglio]], [[Helena Antipoff]], [[Isaias Alves]] e Lourenço Filho. | ||
Além da questão pedagógica, a atividade experimental na época expressava o empenho | Além da questão pedagógica, a atividade experimental na época expressava o empenho de legitimar a Psicologia por meio de uma objetividade científica, consolidando-a enquanto campo de saber autônomo. Dois livros publicados por Lourenço Filho estavam diretamente relacionados com tal proposta: ''Introdução ao estudo da Escola Nova'' (1930) e ''Testes ABC para verificação da maturidade necessária à aprendizagem da leitura e da escrita'' (1933). Essas obras eram representativas de um movimento denominado “ [[Escola Nova]]” – inspirada pelas ideias de funcionalistas genebrinos como [[Édouard Claparède]] entre outros –, que estava disposto a reformular as bases da educação brasileira, mediante integração da pedagogia com outros campos do saber, como a Psicologia, Sociologia, Biologia e Higiene. | ||
===A criação do teste=== | ===A criação do teste=== | ||
As pesquisas das quais derivam os Testes ABC iniciam-se na década de 20, na escola-modelo anexa à Escola Normal de Piracicaba, no interior paulista. Elas surgiram a partir de um problema de ordem prática: | As pesquisas das quais derivam os Testes ABC iniciam-se na década de 20, na escola-modelo anexa à Escola Normal de Piracicaba, no interior paulista. Elas surgiram a partir de um problema de ordem prática: <blockquote>Impressionara-nos o fato de haverem algumas crianças fracassado na aprendizagem da leitura, no ano letivo anterior, muito embora apresentassem nível mental igual ou superior ao de outras, para as quais o aprendizado se havia dado normalmente, na mesma classe, com o mesmo mestre, e, pois, com os mesmos processos didáticos (Lourenço Filho, 2008, p. 35). </blockquote>Visando lidar com essa questão, iniciou-se a verificação do nível de acuidade visual e auditiva das crianças, e também da fatigabilidade e interesse na atenção escolar. Porém, ao retomarem as pesquisas na Escola Normal da Capital, em São Paulo, perceberam que: <blockquote>... deviam [as pesquisas] procurar atingir a estrutura íntima de todo o processo do desenvolvimento, sem deter-se apenas na verificação da acuidade sensorial ou de processos isolados. Seria forçoso, pois, planejar uma série de provas sintéticas, ou puramente funcionais (Lourenço Filho, 2008, p. 35).</blockquote>Dessa forma, decidiram compor um instrumento de manejo prático e simples, que pudesse ser empregado por qualquer mestre primário ou mesmo pelos pais, de tal forma que serviria tanto como diagnóstico como prognóstico para a aprendizagem da leitura e da escrita. Tendo isso em vista: <blockquote>Lourenço Filho orientava-se pelas idéias e obras de autores ligados à escola franco-genebrina de Psicologia: ''Comment diagnostiquer les aptitudes chez les écoliers'', de Edouard Claparède (1929), ''La mesure du développment de l’intelligence chez les jeunes enfants'', de Alfred Binet e Theodore Simon (1931), ''Psicologia experimental'', de Henri Piéron (1926), ''Tecnopsicologia'' do trabalho industrial, de Léon Walther (1929), ''Psychologie et pedagogie de la lecture'', de Ovide Decroly (1926) e ''La pratique des tests mentaux'', de Decroly e Buyse (1928) (Monarcha, 2008, p. 12).</blockquote>A criação do teste e sua sistematização ocorreu vagarosamente, uma vez que, realizada as provas com um grupos de analfabetos no início do ano escolar, era necessário esperar pela conclusão do ano letivo para averiguar a correlação entre os resultados da provas e o da aprendizagem. Foi verificada a alta intercorrelação entre elas, e as provas de aplicação mais difíceis foram retiradas, passando de 22 a 8 o número total de provas que compõem os Testes ABC. Nessa fase, foram realizados 84 exames com crianças do Jardim da Infância e da Escola-Modelo, que contou com a colaboração da professora Noemi Silveira, assistente – e cocriadora, junto do próprio Lourenço Filho – do Laboratório de Psicologia Experimental dessa Escola Normal entre 1928 e 1929. | ||
Dessa forma, decidiram compor um instrumento | |||
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A partir de 1928, os resultados dessas pesquisas começaram a ser divulgados, e os testes ABC passaram a ser aplicados, institucionalmente, em centros urbanos brasileiros mais desenvolvidos. Logo, a primeira aplicação dos testes se deu para o efeito de tratamento especial de alunos repetentes, em 1928, na Escola Manuel Cícero, do Rio de Janeiro. | A partir de 1928, os resultados dessas pesquisas começaram a ser divulgados, e os testes ABC passaram a ser aplicados, institucionalmente, em centros urbanos brasileiros mais desenvolvidos. Logo, a primeira aplicação dos testes se deu para o efeito de tratamento especial de alunos repetentes, em 1928, na Escola Manuel Cícero, do Rio de Janeiro. | ||
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Os Testes ABC pretendem avaliar o nível de maturidade infantil necessária para a aprendizagem da leitura e da escrita. Essa maturidade, que não tem relação direta com a idade cronológica e mental, seria constituída por uma série de aptidões físicas e psicológicas que envolvem os processos de alfabetização. | Os Testes ABC pretendem avaliar o nível de maturidade infantil necessária para a aprendizagem da leitura e da escrita. Essa maturidade, que não tem relação direta com a idade cronológica e mental, seria constituída por uma série de aptidões físicas e psicológicas que envolvem os processos de alfabetização. | ||
Em relação aos principais elementos abarcados na aprendizagem da leitura, o autor cita os | Em relação aos principais elementos abarcados na aprendizagem da leitura, o autor cita os: <blockquote>movimentos finos, delicados, já dos olhos, já dos órgãos de fonação, por um lado; de outro, a capacidade de estruturá-los em condutas de linguagem externa e interna. Essas capacidades não se apresentam, na criança, senão como resultado de maturação, sujeitas, como vimos, a condições neurológicas definidas (LOURENÇO FILHO, 2008, p.47).</blockquote>Já em relação à escrita, ele diz que a sua base é constituída pela: <blockquote>capacidade da coordenação dos movimentos da mão aos da visão da forma e aos da linguagem. Será preciso supor na criança, antes de tudo, a capacidade de copiar figuras simples, a duas dimensões; depois, a capacidade de copiá-las, sem inversão. O aprendizado da escrita reclama também maior resistência à fadiga, sobretudo àquela decorrente da relativa imobilidade do corpo, a que os exercícios gráficos obrigam (LOURENÇO FILHO, 2008, p.47).</blockquote> | ||
==Modo de avaliação== | ==Modo de avaliação== | ||
Os testes ABC foram concebidos para uma aplicação individual, pois durante a aplicação grupal é difícil de ser observada a reação de cada sujeito. A bateria de testes é constituída por 8 provas - levando em média 8 minutos para sua conclusão - que procuram avaliar as seguintes funções: coordenação viso-motora, memória imediata, memória motora, memória auditiva, memória lógica, pronúncia, coordenação motora, atenção e fatigabilidade. | Os testes ABC foram concebidos para uma aplicação individual, pois durante a aplicação grupal é difícil de ser observada a reação de cada sujeito. A bateria de testes é constituída por 8 provas - levando em média 8 minutos para sua conclusão - que procuram avaliar as seguintes funções: coordenação viso-motora, memória imediata, memória motora, memória auditiva, memória lógica, pronúncia, coordenação motora, atenção e fatigabilidade. | ||
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==Ver também== | ==Ver também== | ||
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