Maria Helena Souza Patto, nascida na cidade de Taubaté - no Vale do Paraíba-, é uma psicóloga e grande pesquisadora da Psicologia da Educação no Brasil.
BiografiaEditar
Início da vidaEditar
Maria Helena Souza Patto, nascida na cidade de Taubaté, no Vale do Paraíba, em São Paulo, viveu o primeiro período de sua vida na fazenda em que morava com sua família. Mesmo não tendo energia elétrica em sua casa, a matriarca desenvolveu o hábito de ler para Patto e seus irmãos à noite, fomentando nos filhos o costume e apreço pela leitura. Já alfabetizada pela mãe, Maria Helena saiu do interior e mudou-se para São Paulo, onde posteriormente, ingressou no primário em uma escola localizada em Tremembé, bairro periférico da cidade.
A escolha do "caminho psi"Editar
Maria Helena Souza Patto sofreu uma grande influência de sua mãe, D. Ione, no tocante às escolhas que embasaram sua vida profissional: seu interesse pela psicologia foi muito direcionado pelo âmbito familiar. Apesar da intensa vontade de estudar, a mãe de Maria Helena teve que interromper precocemente seus estudos gerando uma certa frustração que tornou Patto herdeira da realização do desejo materno. A progenitora tinha uma grande admiração por uma amiga que era psiquiatra e desejou que a filha seguisse os mesmos passos da médica. A psicóloga, no entanto, não cogitou seguir tal destino devido à sua preferência em ciências humanas e dificuldades em exatas, que a prejudicam no vestibular concorrido de medicina. Logo, optou pelo “caminho psi” escolhendo cursar Psicologia e satisfazendo o desejo de sua mãe. Sendo assim, no ano de 1965, Patto formou-se em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), em 1970 realizou seu mestrado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano, em que desenvolveu o tema “Privação cultural e educação compensatória pré-primária: considerações teóricas e práticas”. 10 anos depois, concluiu seu doutorado também pela USP, na mesma área, mas agora pesquisando “Psicologia e ideologia: reflexões sobre a psicologia escolar."
Envolvimento com a Psicologia EscolarEditar
Quando Maria Helena iniciou sua graduação em Psicologia na Universidade Federal de São Paulo (USP), em 1965, o curso era ainda muito simplificado e fundamentado principalmente em manuais da Psicologia clássica norte-americana. Deste modo, o único tema que despertou profundo interesse em Patto veio de um dos textos que teve acesso na faculdade, denominado “Os falsos débeis”, que abordava a questão das crianças pobres não serem inaptas ao aprendizado, mas carentes culturais.
Tal problemática era íntima e pessoal para Maria Helena devido às precariedades experimentadas em sua infância. Quando pequena, recém-chegada do interior, participou de um grupo escolar em Tremembé, bairro periférico de São Paulo, que atendia a uma população muito pobre. Apesar de ser a primeira da classe no colégio, dado que já havia sido alfabetizada pela mãe, Patto sentia-se incomodada com as dificuldades de escolarização apresentadas por vários colegas de sala e pela forma que eles eram tratados em comparação a ela. Tal noção e sentimento de injustiça se deram, sobretudo, por influência de sua avó materna, que era filiada ao Partido Comunista Brasileiro e a ensinou várias lições durante a vida.
ContribuiçõesEditar
Patto pesquisa os problemas de aprendizagem no contexto do fracasso escolar sob a perspectiva da Psicologia Escolar. Sua abordagem é crítica e dialógica, buscando questionar os fazeres e saberes no que diz respeito à concepção das instituições escolares e sua realidade.
Para ela, a História é uma área pouco desenvolvida nas pesquisas psicológicas, mas essencial para compreender a psicologia como uma construção histórica e pode contribuir tanto para uma perspectiva mais crítica sobre as práticas psi quanto para o resgate das capacidades filosóficas desse saber. No contexto da psicologia escolar, essa perspectiva colabora para a relacionar a História da Psicologia em paralelo à História da Educação, refletindo sobre o fazer dos psicólogos na escola.
Ressalta-se sua contribuição para a abordagem desses elementos no Brasil, pensando especificamente aspectos culturais, políticos, econômicos e sociais próprios do país. Tal posição decorre de sua perspectiva acerca da própria ciência, uma vez que Patto rejeita a concepção de ciência neutra e se debruça sobre os aspectos ideológicos presentes na produção de ideias. É válido, entretanto, apontar que a autora pensa também a questão da perspectiva política e posicionada diante dos fatos, adotando metodologias científicas de pesquisa histórica para subsidiar suas argumentações.
Sua crítica se volta para a psicologia e suas bases que, a priori, servem aos interesses dominantes. É por meio dessa posição crítica que questiona teses preconceituosas e deterministas que atribuíam o fracasso escolar a fatores particulares ditos naturais dos sujeitos e atribui inaptidões e dificuldades de aprendizado a fatores ideológicos, políticos, sociais e culturais, amplificando a noção de fracasso ao atribuir sua causa à instituição escolar, ao invés do sujeito.
Sua principal obra é “A produção do fracasso escolar: Histórias de submissão e rebeldia”, o livro teve sua primeira edição publicada em 1987 pela editora Casa do Psicólogo. Nele, a autora trata da especificidade dos problemas e dificuldades de aprendizagem, abordando-os sob uma ótica crítica cuja análise avança especialmente para as questões de ensino que são atravessadas por fatores sociais, históricos e políticos, que, para a autora, são essenciais para a compreensão do fenômeno de fracasso escolar, especialmente da juventude pobre e periférica no Brasil.
Um importante ponto de sua teoria é a inter-relação entre os sujeitos da educação. Sua pesquisa desvela os discursos presentes tanto nos profissionais, quanto nos alunos e na família, promovendo uma análise qualitativa coerente com o rigor científico, isso porque ela se baseia tanto na revisão crítica da literatura quanto na coleta e análise de dados - que emergem de entrevistas, observação e investigação rigorosa sob uma perspectiva psicossocial.
RepercussãoEditar
A obra “A produção do fracasso escolar”, de sua autoria, que está agora em sua 4ª edição (revista e ampliada) figura como um marco para a Psicologia da Educação, sendo ainda base para pesquisas acadêmicas e também para concepção de provas para ingresso em concurso público nas áreas da educação. Segundo Carvalho (2011), essa trajetória de sucesso deve-se à capacidade esclarecedora do livro de tratar questões próprias da educação (e mais especificamente das dificuldades de aprendizagem) por meio da exposição do funcionamento da estrutura da instituição escolar no Brasil; e às conexões que a autora faz com os aspectos sócio-históricos que permeiam esse fazer educacional.
No Google scholar, uma pesquisa pelo nome do livro oferece mais de 77 mil resultados, denotando como a produção do fracasso escolar figura como um termo investigado na academia. Ao mesmo tempo, a busca pela autora na ferramenta oferece mais de 6 mil resultados, indicando não apenas produções que refletem sobre uma pesquisa da qual ela é pioneira, mas os textos em que suas pesquisas são citadas.
Patto foi responsável pela criação do Serviço de Psicologia do IPUSP, que atende escolas públicas do ensino fundamental. Além disso, atuou como diretora do Instituto de Psicologia da USP, de 2004 a 2008, sendo lembrada pela sua atuação ética e democrática que possibilitou a melhoria do espaço físico, a reformulação do currículo do curso de graduação em Psicologia e a criação do projeto pedagógico do Curso de Licenciatura em Psicologia, implantado em 2008.
Cronologia biográficaEditar
1961-1965 - Graduação em Psicologia, pela Universidade de São Paulo (USP)
1965 - 1965 - Professora Psicologia Social - Instituto Sedes Sapientiae (ISS)
1963 - 1965 - Psicóloga Estagiária - Centro de Estudos Juvenis do Juizado de Menores do Estado de São Paulo
1965 - 1970 - Auxiliar de Ensino - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (USP)
1967-1970 - Mestrado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano - Universidade de São Paulo (USP)
1970 - 1981 - Professora Assistente no Depto de Psicologia - Instituto de Psicologia (USP)
1977-1981 - Doutorado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano - Universidade de São Paulo (USP)
1980 - 1982 - Professora de Pós-Graduação - Instituto Metodista de Ensino Superior, IMES
1981 - 1987 - Professora Assistente Doutora - Instituto de Psicologia
1983 - 1989 - Pesquisadora Nível III - Fundação Carlos Chagas (FCC)
1985 - 1985 - Pesquisadora - Fundação Carlos Chagas (FCC)
1985 - Representante da Fundação Carlos Chagas - junto ao Conselho de Menor. - Conselhos, Comissões e Consultoria, Secretaria Estadual de Promoção Social do Governo do Estado de São Paulo, Programa do Menor Conselho do Menor.
1988 - 2000 - Professora-adjunta - Instituto de Psicologia
1995 - Prêmio APEOESP 50 anos (Melhor livro sobre educação escolar - A Produção do Fracasso Escolar: histórias de submissão e rebeldia), APEOESP.
1999 - Atual - Membro do corpo editorial - Periódico: Revista Educação e Sociedade
2000 - Atual - Professora Titular - Instituto de Psicologia
2000 - Troféu Paulo Freire de Compromisso Social, Conselhos de Psicologia do Brasil.
2000 - Brasileiros que têm compromisso Social - Professora Homenageada pelo reconhecimento e destaque da sua atuação em prol dos excluídos, Conselho Federal de Psicologia - Conselho Regional de Psicologia.
2007 - Atual - Membro do corpo editorial - Periódico: Psicologia. Reflexão e Crítica
2008 - Homenageada pelo Conselho Federal de Psicologia em matéria publicada na revista Psicologia: Ciência e Profissão, 28(10, 2008, p. 224., Conselho Federal de Psicologia.
2016 - Homenageada pelo Instituto de Psicologia da USP como Professora Emérita.
Quem influenciouEditar
Atuação na pós-graduaçãoEditar
Maria Helena Souza Patto assumiu o cargo de Professora Titular no Departamento de Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade do Instituto de Psicologia da USP, em 2000. Desde então, foi responsável pela orientação de 20 mestres e 13 doutores. Dentre os orientandos destacam-se:
Marilene Proença Rebello de Souza, Professora Titular da USP, Psicóloga pelo Instituto de Psicologia da USP. Docente e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano no Instituto de Psicologia da USP. Coordena o Laboratório Interinstitucional de Estudos e Pesquisas em Psicologia Escolar - LIEPPE e é líder do Grupo de Pesquisa do CNPq Psicologia e Escolarização: políticas públicas e atividade profissional na perspectiva histórico-crítica. Presidente da Academia Paulista de Psicologia, ocupando a Cadeira no. 02, Lourenço Filho.
Débora Cristina Piotto, que atualmente é professora da USP (campus Ribeirão Preto), no curso de Pedagogia, na Licenciatura e no Programa de Pós-Graduação em Educação, coordenando ainda o Grupo de Estudos sobre Sucesso e Fracasso Escolar (Gesfe);
Ana Beatriz Valerio Coutinho, que atua na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia da Infância, sendo psicóloga do Serviço de Psicologia Escolar do Instituto de Psicologia da USP e Editora Executiva da Revista Estilos da Clínica - IPUSP
Lizandra Guedes Baptista, que atua como coordenadora da Jornada de Alfabetização do Maranhão, programa de alfabetização de jovens e adultos, desenvolvido pelo Governo do Estado do Maranhão
Mário Sérgio Vasconcelos, foi Vice presidente da Sociedade Brasileira de Psicologia do Desenvolvimento (SBPD-2006/2008), Diretor da Faculdade de Ciências e Letras de Assis/UNESP (2007/2011), Coordenador de Permanência Estudantil da UNESP e Presidente do Conselho Curador da Editora UNESP.
Sandra Maria Sawaya, que é professora do Departamento de Filosofia da Educação e Ciências da Educação da Faculdade de Educação da USP onde desenvolve atividades de ensino, pesquisa e extensão junto aos cursos de Graduação (Licenciatura e Pedagogia) e Pós-graduação (mestrado e doutorado). Dedica-se a pesquisas sobre escolarização e camadas populares. Foi vice-coordenadora e Coordenadora da Comissão de Licenciatura da FEUSP (2015-2016) e coordenadora da Área Temática Psicologia e Educação junto à Comissão de Pós-graduação da FEUSP. É membro do Grupo de Pesquisa Nutrição e Pobreza do Instituto de Estudos Avançados IEA da Universidade de São Paulo. Escreveu o livro “Psicologia e educação: uma introdução das contribuições da psicologia à compreensão do cotidiano escolar”, publicado em 2018.
ObrasEditar
LivrosEditar
- Introdução à psicologia escolar - 1981
- A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia - 1987
- Mutações do cativeiro: escritos de psicologia e política - 2000
- Exercícios de Indignação - 2005
- Pensamento Cruel - Humanidades e Ciências - 2007
- A cidadania negada: políticas públicas e formas de viver - 2009
- Formação de psicólogo e relações de poder sobre a miséria da psicologia - 2012
ArtigosEditar
- Patto, M. H. S. (1999b). Estado, ciência e política na Primeira República: a desqualificação dos pobres. Estudos Avançados, 13(35). Recuperado em 25 de outubro de 2010, da SciELO (Scientific Electronic Library OnLine).
- Patto, M. H. S. (2000a). Para escrever uma história da psicologia. In Seminário de Historiografia da Psicologia, 1 (pp. 81-96). São Paulo: GEHPAI/FAPESP
- Patto, M. H. S. (2000b). Mutações do cativeiro: escritos de psicologia e política. São Paulo: Edusp.
- Patto, M. H. S. (2003). O que a história pode dizer sobre a profissão do psicólogo: a relação Psicologia-Educação. In A. M. B. Bock (Org.), Psicologia e compromisso social (pp. 29-35). São Paulo: Cortez.
- Patto, M. H. S. (2007a). Escolas cheias, cadeias vazias: nota sobre as raízes ideológicas do pensamento educacional brasileiro. Estudos Avançados, 21(61). Recuperado em 01 de outubro de 2010, da SciELO (Scientific Electronic Library OnLine).
- Patto, M. H. S., & Pereira, J. A. F. (2007b). Pensamento cruel – humanidades e ciências humanas: há lugar para a psicologia? São Paulo: Casa do Psicólogo.
- Patto, M. H. S. (Org.). (2009). A cidadania negada: políticas públicas e formas de viver. São Paulo: Casa do Psicólogo.
Produções coletivasEditar
- Angelucci, C. B., Kalmus, J., Paparelli, R., & Patto, M. H. S. (2004). O estado da arte da pesquisa sobre o fracasso escolar (1991-2002): um estudo introdutório. Educação e Pesquisa, 30(1), 51-72. Recuperado em 25 de outubro de 2010, da SciELO (Scientific Electronic Library OnLine).
PrêmiosEditar
- 1995 - Prêmio APEOESP 50 anos (Melhor livro sobre educação escolar - A Produção do Fracasso Escolar: histórias de submissão e rebeldia), APEOESP.
- 2000 - Troféu Paulo Freire de Compromisso Social, Conselhos de Psicologia do Brasil.
- 2008 - Homenageada pelo Conselho Federal de Psicologia em matéria publicada na revista Psicologia: Ciência e Profissão, 28(10, 2008, p. 224., Conselho Federal de Psicologia.
Ver tambémEditar
Boletim do Portal História da PsicologiaEditar
Este verbete está publicado também no Boletim do Portal História da Psicologia, e pode ser acessado aqui
ReferênciasEditar
- BASSANI, Elizabete; PINEL, Hiran. Notas sobre a contribuição da obra de Maria Helena Souza Patto em um Programa de Pós-Graduação em Educação. Psicol. USP, São Paulo, v. 22, n. 3, p. 551-568, Set. 2011.
- GOMES, Jerusa Vieira. Prefácio à segunda edição. In: PATTO, Maria Helena Souza. A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia. Casa do Psicólogo, São Paulo, 2015.
- MACIEL, Marcelo de Abreu. Leituras rebeldes: a presença de Maria Helena Souza Patto na História da Psicologia e da Educação. Mnemosine Vol.8, n.2, p. 331-336, 2012.
- Maria Helena Souza Patto - Homenagem. Psicol. cienc. prof., vol.28, n.1, pp. 220-220, 2008.
- MELLO, Sylvia Leser de. Prefácio à primeira edição. In: PATTO, Maria Helena Souza. A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia. Casa do Psicólogo, São Paulo, 2015.
- PATTO, Maria Helena Souza. A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia. São Paulo, Casa do Psicólogo, 2015. Acesso em 20 set. 2020.
- PATTO, Maria Helena Souza. Currículo do sistema currículo Lattes. Brasília, dez. 2014.
- PATTO, Maria Helena Souza. Para uma crítica da razão psicométrica. In: MACHADO, A.M.; LERNER, A.B.C.; FONSECA, P.F.(org). Concepções e proposições em psicologia e educação: a trajetória do Serviço de Psicologia Escolar do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Blucher, São Paulo, 2017.
- PATTO, Maria Helena Souza. Curso: Investigando as relações históricas entre psicologia e educação no Brasil (pt1). Clio Psyché. 08.11.2001.
- RAMOS, Conrado. A indignação dialética: paixão e resistência em Maria Helena Souza Patto. Psicol. USP, São Paulo, v. 22, n. 3, p. 499-528, Set. 2011.
Links externosEditar
AutoriaEditar
Verbete criado inicialmente por: Anna Júlia do Amaral, Anna Valentina Nascimento, Fernanda Beatriz Santo, João Victor Mothé e Raquel Donegá, como exigência parcial para a disciplina de Estudos Avançados Em História da Psicologia da UFF de Rio das Ostras. Criado em 2020.2, publicado em 2021.1