Carolina Martuscelli Bori nasceu no dia 4 de janeiro de 1924, em São Paulo. Foi uma personagem de extrema relevância para as áreas de ciência, educação, formação do profissional psicólogo e atuação da psicologia experimental (principalmente o Behaviorismo) no Brasil. Seu engajamento nesses temas e na política fez seu nome ser reconhecido e homenageado, influenciando diversos outros psicólogos em suas carreiras. Faleceu aos 80 anos no dia 4 de outubro de 2004, em virtude de uma falência múltipla dos órgãos.

BiografiaEditar

Carolina Martuscelli Bori, nascida no dia 4 de janeiro de 1924 em São Paulo, era filha de Aurélio, imigrante Italiano, e de Maria Teresa, brasileira. Seu pai, já engenheiro ao chegar ao Brasil, monta uma empresa de construção e sua mãe trabalhava na venda de tecidos. Com a empresa de sucesso, sua família pode proporcionar não só a ela como também a seus irmãos, Adele, Florinda, Francesco, Nicola e Wanda, a formação universitária. Aos 6 anos de idade, em 1930, Carolina frequentou uma escola alemã e anos depois se forma como professora pela Escola Normal Caetano de Campos na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Em 1947, conclui sua formação em pedagogia pela Universidade de São Paulo (USP), onde também realiza sua especialização. No ano seguinte, em 1948, já havia sido contratada como professora assistente de psicologia da própria USP.

O ano de 1949 é marcado por seu ingresso na Graduate Faculty of New School For Social Research, nos Estados Unidos, para a realização de seu mestrado, e em 1951 defende sua tese "The Recall of Interrupted Tasks: A Review of the Literature". De volta ao Brasil, por volta dos anos de 1953 e 1954, Carolina finaliza seu doutorado orientada por Annita Cabral na USP. É importante ressaltar que a relação das duas acadêmicas não é recente, visto que Carolina conseguiu sua cadeira de professora assistente de filosofia logo após sua formação através de Annita Cabral, que na época era responsável pelo recrutamento. Assim também foi a inspiração para a escolha da instituição no exterior para fazer seu mestrado, a mesma que Annita já havia cursado anos antes.

Em 1950, Carolina Martuscelli se torna Carolina Bori ao se casar com Giovanni Bori, de nacionalidade italiana assim como seu pai. Ela teve um único filho chamado Mário Eppler Bori em seu casamento, que acabou em divórcio poucos anos depois do nascimento da criança. Entre os anos de 1954 e 1955, adquire o título de Doutora pela USP e Presidente da Associação Brasileira de Psicologia. Além disso, publica diversos textos sobre a pesquisa experimental no campo da psicologia e sobre o estudo da personalidade entre 1952 e 1956. O maior foco da professora sempre foi a educação, assim, com a criação do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE), Bori é convidada a contribuir com discussões sobre a educação no Brasil, em 1955.

No ano de 1958, o curso de psicologia começou a ser ofertado na USP, ainda que diversas das matérias de sua grade já estivessem nas aulas para o curso de filosofia, e Bori continua atuando como professora da instituição. No período de 1956 a 1965, a atuação na psicologia social foi o foco de Bori, e dentre os principais assuntos estudados na época estava a evasão escolar. Em meio a essas pesquisas, questões pessoais dentro da própria universidade fizeram com que Carolina Bori se afastasse da USP. Com sua saída, a Faculdade de Ciências e Letras de Rio Claro lhe ofereceu o cargo de coordenadora do Departamento de Psicologia, onde permaneceu de 1959 a 1963.

Bori teve 3 assistentes, Geraldina Witter, Nilce Mejias e Isaias Pessotti, com quem trabalhou muitas vezes em outros empreendimentos. Durante esse tempo, ganhou conhecimento de que Fred Keller havia sido convidado a dar aulas na USP e, assim, Carolina passa a frequentar suas aulas, mesmo ainda trabalhando em Rio Claro. Desse modo, ela pôde entrar cada vez mais em contato com o condicionamento operante e a reproduzir em um laboratório montado por si mesma experimentos para seus alunos, além de começar a usar o método de ensino programado em suas aulas. Isaias Pessotti, a partir dos novos conhecimentos, iniciou uma pesquisa do condicionamento operante na mesma época em que Bori produzia uma outra pesquisa sobre a socialização da criança. Ela inicia antes mesmo de seu retorno à USP "Os estudos Behavioristas".

A Universidade de Brasília (UNB) chama Bori para montar o programa de seu novo Departamento de Psicologia, junto a outros colegas da USP. Assim, o grupo passa os anos de 1963 a 1965 moldando o curso, tendo como base os ensinamentos de Keller trazidos ao Brasil. Na mesma época, a professora retorna ao cargo de Presidente da Associação Brasileira de Psicologia. O curso montado na UNB tem vida curta, já que no ano de 1966 é paralisado pelo regime militar. A demissão em massa dos professores também atinge Bori, entretanto, a professora consegue novamente uma vaga na USP. Alguns anos depois, em 1968, a USP passa por reformulações que levam à criação de novos departamentos, e Carolina Bori se torna a primeira diretora do Departamento de Psicologia Social e Experimental. O ano de 1970 representa uma divisão e uma mudança de foco para Bori, visto que o departamento recém criado divide sua parte social da experimental, e ela fica a cargo do Departamento de Psicologia Experimental. Lá, foi de enorme importância para a reestruturação do departamento, atuando da contratação de docentes até o requerimento de verbas. Nesse, ano Bori também comandou a pós-graduação da USP. Além de todas as contribuições ao mundo acadêmico e científico por Bori até o momento, em 1973, começa o primeiro de seus 5 mandatos como diretora da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), principal sociedade para incentivo do progresso científico no Brasil.

A década de 1970, para Carolina Bori, foi movimentada por diversas ocupações para além de suas atividades recorrentes na USP. A filial de São Carlos recebeu a professora para auxiliar na organização do Departamento de Psicologia da instituição e ajudou o Instituto de Física da USP no curso de pós-graduação. Sempre envolvida com a educação e com a psicologia, Carolina Bori se associa a diversos grupos depois dos anos 70: se torna membro do Comitê Assessor em Ciências Humanas e Sociais do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenadora do Núcleo de Documentação sobre Formação Científica do Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura (IBECC), Presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP), Presidente de Área da Comissão de Acompanhamento e Avaliação de Cursos de Pós-Graduação do Capes/MEC. Após cumprir mais um mandato entre 1986 e 1989 como Presidente da SBPC, Bori é declarada em 1989 como Presidente de Honra, visto que sua ampla ação política em favor da ciência, numa época de enorme desvalorização desta, aliada à sua grande luta na defesa da educação, além de grandes projetos e laboratórios e o incentivo do trabalho científico da juventude, tornou-a um membro ilustre nessa sociedade. A década de 1990 marcou os últimos passos da carreira de Carolina Martuscelli Bori. A importante defensora e propagadora do conhecimento científico e praticante do Behaviorismo no Brasil vem a falecer aos 80 anos em 4 de outubro de 2004, em decorrência de uma falência múltipla dos órgãos.

ContribuiçõesEditar

Carolina Bori teve um papel de extrema importância para a psicologia, educação e ciência brasileira. Algumas de suas contribuições mais marcantes valem ser citadas.

EducaçãoEditar

Em 1956, Bori se vinculou ao Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CPBE), que foi proposto para cuidar e valorizar a educação no país. Mudou a linha de direção do Sistema Personalizado de Ensino (PSI), que antes, com a versão do professor Fred S. Keller, se centrava na análise dos textos que seriam estudados e como isso seria avaliado. Ela trouxe a Análise de Contingências em Programação de Ensino, que buscava analisar as habilidades e informações prévias necessárias para exercer uma atividade e para planejar condições de ensino que ajudassem na captação de tais habilidades. E também apresentou o treino de professores por meio de programas de ensino, alterando drasticamente o modo de ensino de escolas técnicas pelo Brasil.

PsicologiaEditar

Em 1954, Carolina foi presidente da Sociedade Brasileira de Psicologia (atualmente extinta), que tinha como objetivo desenvolver a psicologia como ciência, profissão e bem-estar ao mundo.

Mesmo que em 1962 o psicólogo tenha sido reconhecido legalmente no Brasil, sua atuação começou antes dessa data. Bori foi uma das pessoas que participou ativamente para o reconhecimento e defesa desse novo profissional: o psicólogo. Nessa luta, pode-se destacar sua participação em uma comissão de estudos que escreveu o projeto de lei com elementos que deveriam ser obrigatórios em cursos de psicologia, que até hoje estão em vigor, como ciências naturais, a observação e os métodos de investigação científica, por exemplo, situações em laboratório de controle e manipulações de variáveis para observar seus efeitos no comportamento. Carolina teve um papel primordial na disseminação e criação de laboratórios de psicologia experimental no país, além de montar projetos para planejar a construção de protótipos de equipamentos para estudo nesses ambientes. Dentre eles, estão os relacionados a pesquisa na área de psicofísica e análise experimental do comportamento. Colaborou na estrutura do Departamento de Psicologia Social e Experimental do Instituto de Psicologia da USP em 1968, com apoio do Professor Walter Hugo Cunha, e implantou nesse lugar um curso de pós-graduação em Psicologia Experimental, estabelecendo os focos principais e o itinerário. Fundou o antigo Departamento de Psicologia da Universidade de Brasília, que hoje é o Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília, e participou do jogo de ideias para criação do Curso de Mestrado em Análise do Comportamento na Universidade Federal do Pará. E

Em suma, Carolina Bori presidiu e teve participação fundamental para criação de diversos cursos de psicologia e pós-graduação espalhadas pelo Brasil. Também realizou congressos com colaboradores que divulgaram os princípios da análise do comportamento pelo país, Como um todo, sua obra e empenho para propagar os estudos do comportamento no Brasil teve resultados para a posteridade, afirmando mais uma vez a importância de seu trabalho acadêmico para a estruturação e continuidade da psicologia no país.

CiênciaEditar

Tinha participação ativa em meios de difusão da informação científica, como quadros em rádios e promoção de eventos sobre o assunto.

CríticasEditar

Carolina Bori foi uma figura na história da psicologia brasileira extremamente engajada nos problemas sociais, não só aqueles que envolviam a educação – que era seu maior foco de trabalho – mas sim problemas em geral, inclusive se envolvendo na política, posicionando-se sempre que necessário. Dessa forma, apesar de sua notável contribuição para a ciência, algumas posições contrárias ao curso de seu trabalho emergiram.

Bori foi parceira de Fred Keller na disseminação do behaviorismo de Skinner no Brasil, porém, ao aderir a esse novo método, acabou por encontrar uma resistência do público e da comunidade acadêmica em seu início, já que a linha metodológica seguida no Brasil na época era contrária ao que Keller havia trazido de fora do país. Essa reação contrária se deve a uma psicologia interpretativa e especulativa que era vigente no país da época, o que divergia dos princípios e fundamentos endossados pela vertente behaviorista, fazendo com esta não fosse aceita em princípio. Além disso, o fato de seus estudos serem embasados, principalmente, em dados dados experimentais, fez com que fossem considerados "positivistas", mais um ponto de afastamento em relação à psicologia vigente na época.

Algum tempo depois, a atitude de Carolina Bori em levar alguns docentes da USP em 1964 para a UNB, para estruturar o curso de psicologia na instituição, não agradou os alunos de São Paulo. apesar de não rechaçar o ato de Bori, os estudantes se mostraram muitos insatisfeitos e preocupados com suas formações acadêmicas. Isso é demonstrado pela publicação de uma nota de apelo na revista "Jornal Brasileiro de Psicologia", primeiro volume, onde expõem:

“Quando o nosso Curso está se estruturando, quando a experiência de poucos anos de existência começa a delinear especialistas em diversas disciplinas, esta perspectiva realmente nos assusta. Este desabafo vem principalmente em vista de um boato que corre sobre o afastamento da professora Carolina Martuscelli para Brasília. O Curso de Psicologia da Personalidade ficará assim prejudicado, pois além dos méritos específicos da ilustre professora, conta ela com um tirocínio e experiência no exercício desta função. Não é lamentável que possam acontecer coisas assim? Trata-se de um apelo e um lamento que achamos útil comunicar à ilustre redação desta revista.” (pp. 116 – 117).


Dessa forma, mesmo que não tenha sido uma grande crítica, a opinião e ação de Carolina Bori não foram vistas de forma tranquila, ao contrário do que sua movimentação acadêmica gerava em outras situações.

Seu engajamento político não lhe causou críticas, mas foi visto como uma contribuição para muitos movimentos durante a ditadura militar brasileira (1964-1988) e, consequentemente, repreendido por este. Destaca-se suas lutas contra o AI-5, a favor da liberdade de expressão e dos direitos humanos, que foram muito importantes para o momento de tensão que o país passava. Todo esse apoio perpassava a busca pela educação científica embasada em muitos de seus trabalhos e movimentos, já que Bori foi diretamente atingida pela repressão da época. O regime militar acabou com todo o seu esforço e de seus companheiros da UNB para proporcionar uma graduação em Psicologia para os estudantes de Brasília, e ainda a fez perder seu cargo nessa universidade. Por conta disso, o curso montado aos modelos de Keller não pôde ir para frente, e o estudo do comportamento, defendido e praticado por Bori, foi atrasado. Esse momento em sua história não é exatamente uma crítica, mas foi contrário à sua vertente de pensamento e de trabalho.

Cronologia BiográficaEditar

  • Antes de 1947: Faz a formação de professora na Escola Normal Caetano de Campos.
  • 1947: Graduação no curso de pedagogia da Universidade de São Paulo (USP).
  • 1948: Especialização em Psicologia Educacional na USP.
  • 1948: Professora assistente na USP.
  • 1949 – 1951: Faz mestrado fora do país, na Graduate Faculty of New School For Social Research.
  • 1950: Casa-se com Giovanni Bori.
  • 1953 – 1954: Doutorado orientado por Annita Cabral na USP.
  • 1954 – 1955: Presidente da Associação Brasileira de Psicologia.
  • 1955: Contribuinte da Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE).
  • 1958: Professora do recém-criado curso de graduação de Psicologia da USP.
  • 1959 – 1963: Sai da USP e começa a coordenar o Departamento de Psicologia da Faculdade de Ciências e Letras de Rio Claro.
  • 1963 – 1965: Monta o programa do Departamento de Psicologia da Universidade de Brasília (UNB).
  • 1963 – 1965: Segundo mandato como presidente da Associação Brasileira de Psicologia.
  • 1966: Professora da USP.
  • 1968: Primeira Diretora do Departamento de Psicologia Social e Experimental da USP.
  • 1970: Diretora do Departamento de Psicologia Experimental da USP e coordenadora da Pós-graduação na USP.
  • Início dos anos 1970: Auxílio na filial de São Carlos e no Instituto de Física da USP.
  • 1973 – 1977: Diretora da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
  • 1982 – 1984: Membro do Comitê Assessor em Ciências Humanas e Sociais do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
  • Desde 1984: Coordenadora do Núcleo de Documentação sobre Formação Científica do Instituto Brasileiro de Educação, Cultura e Ciência (IBECC).
  • 1984 – 1986: Presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP).
  • 1985 – 1987: Presidente de Área da Comissão de Acompanhamento e Avaliação de Cursos de Pós-Graduação do Capes/MEC.
  • 1986 – 1989: Presidente da SBPC.
  • 1989: Presidente de Honra da SBPC.
  • 1990 – 1994: Coordenadora do Projeto "Estação Ciência" da USP/CNPq19.
  • 1992 – 1993: Presidente da Sociedade Brasileira de Psicologia.
  • Desde 1993: Diretora Científica do IBECC na Comissão de São Paulo.
  • Desde 1994: Professora Emérito do Instituto de Psicologia da USP e Membro do Conselho Diretor da Fundação - Universidade de Brasília.
  • 1995 – 1996: Presidente da Comissão de Especialistas de Psicologia do Ministério da Educação (MEC).
  • Desde 1996: Diretora Científica do Núcleo de Pesquisa sobre Ensino Superior da USP (NUPES).

Discípulos e influênciasEditar

Carolina Bori passou por diversos lugares e instituições como professora e pesquisadora ao longo de sua vida acadêmica. Por conta disso, muitas pessoas foram influenciadas e, de certa forma, seguiram Bori. Uma de suas principais contribuições que levou muitos a seguirem um novo caminho vigente no Brasil foi seu empenho em propagar o estudo do comportamento como uma nova psicologia, baseada no que havia aprendido em aulas e trabalhos de Fred Keller, que por consequência ensinava nas universidades brasileiras o behaviorismo de Skinner. Durante sua carreira como professora, diversos alunos puderam seguir seus caminhos na psicologia a partir de Carolina Bori, que era uma professora muito admirada e respeitada. Não só os alunos foram influenciados, mas também aqueles que trabalharam lado a lado com ela, como um de seus assistentes da época da UNB, Isaias Pessotti, que após algum tempo de trabalho com Bori passa a desenvolver estudos e artigos sobre o comportamento.

Muitos docentes e alunos de diversos cursos, além de psicologia, foram influenciados pelas ideias trazidas ao meio universitário por Carolina. Esses alunos, ou até mesmo companheiros de trabalho, expressaram sua admiração escrevendo artigos sobre a história acadêmica da professora, principalmente nos arquivos da USP. Elas são: Ana Maria Almeida Carvalho, Eda T. de Oliveira Tassara, Maria Ignez Rocha, Silva, Deisy das Graças de Souza e Maria do Carmo Guedes. Em um de seus artigos publicados sobre Carolina Bori, elas a descrevem e a exaltam:

“Uma imagem que pode representar a atuação de Carolina é a de um ponto de luz, uma estrela, cujo núcleo, constituído por sua consciência e coerência em relação ao papel da ciência e dos cientistas na sociedade, se irradia em inúmeras direções de atuação. Essa, no entanto, é a única associação possível entre Carolina e uma estrela: seu comportamento pessoal, atestam inúmeros dos nossos depoentes e nossa própria experiência pessoal, caracteriza-se antes por sobriedade, moderação, discrição, muito trabalho e pouco alarde.” (CARVALHO et al., 1998, n.p)

Vera Soares, é outra pessoa que trilhou seus caminhos a partir da professora. Não só na universidade fez admiradores e seguidores, como também é perceptível em seu trabalho à frente de associações e sociedades, como por exemplo Gilberto Velho, que a conheceu na SBPC e que também produziu um curto artigo demonstrando sua admiração por Bori ao ter mais contato com a pessoa acadêmica que ela era. O autor afirma que:

“Em todos os cargos que ocupou estabeleceu padrões de notável equilíbrio entre um espírito acadêmico e um posicionamento político crítico. São notórios o seu desprendimento pessoal e espírito de sacrifício, não medindo esforços para defender não só a comunidade científica, mas as causas sociais que sempre a preocuparam.” (VELHO, 1998, n.p)

Outra pessoa que seguiu a linha de admiração pelo trabalho de Bori foi Aziz Nacib Ab’Saber, que foi seu colega na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, que contribuiu com mais um artigo biográfico da professora.

Mesmo com diversos nomes influenciados por Carolina Bori, a mais notável de todas é Maria Amélia Matos, que se tornou além de aluna uma pessoa próxima de sua professora. Sendo assim, com a chegada de Keller e o início de seus trabalhos com Carolina Bori, Maria Amélia Matos também começa seus estudos sobre o behaviorismo, futuramente se tornando um dos principais nomes da vertente no Brasil. Também em artigo entregue a USP, Maria Amélia Matos demonstra sua admiração para com o engajamento de Bori em debates e na proatividade para ações político-sociais.

ObrasEditar

  • Martuscelli, C. (1950). Uma pesquisa sobre aceitação de grupos nacionais, “raciais” e regionais em São Paulo. Boletim CXIX, Psicologia, 3. São Paulo: Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras.
  • Bori C. M (1953). O papel do experimentador e do sujeito na situação experimental. Boletim de Psicologia.
  • Bori, C. M. (1954). Um curso de estatística aplicada à experimentação psicológica. Ciência e Cultura.
  • Martuscelli, C. (1955). Desenho no estudo da personalidade: a prova de desenho da figura humana. Boletim de Psicologia.
  • Bori, C. M. (1956). Como o laboratório de psicologia estuda a expressão da personalidade. Boletim de Psicologia.
  • Martuscelli, C. (1957) Estudos de sociologia e história. São Paulo: Ed. Anhembi.
  • Martuscelli, C. (1958). Percepção e arte. Boletim de Psicologia.
  • Martuscelli, C. (1959). Experimentos de interrupção de tarefas e a teoria de motivação de Kurt Lewin. Tese doutorado. Universidade de São Paulo, SP.
  • Bori, C. M., (1964). Aparelhos e o laboratório de psicologia. Jornal Brasileiro de Psicologia.

Outras informaçõesEditar

O nome de Carolina Bori é facilmente citado em obras sobre a história da psicologia, porém, pouco se conhece a respeito de sua produção bibliográfica e os temas discutidos. Dentre eles estão “A formação do psicólogo” e “O estudo da personalidade”.

Em 1950, Bori publica seu primeiro artigo “Uma pesquisa sobre aceitação de grupos nacionais, 'raciais' e regionais em São Paulo”, com objetivo de “situar alguns aspectos do problema de aceitação de nacionalidades, grupos nacionais, ‘raciais’ e regionais ao nosso meio” (BORI,1950, p. 57).

O artigo “O papel do experimentador e do sujeito na situação experimental”, de 1953, fala sobre a importância da experimentação em um ambiente no qual todos os fatores que podem influenciar os resultados sejam reconhecidos e extremamente controlados. Só dessa forma poderiam ser feitas observações de seus efeitos e alcançar resultados compatíveis. Embora o campo da psicologia experimental estivesse entrando em declínio, ela continuava a achar esse um bom método. Bori ainda defende a introspecção como método experimental, porém ressalta as dificuldades em utilizá-la e controlá-la.
Em 1954, Carolina propôs a inclusão da estatística para o estudo de psicologia, pois vê como de suma importância que os profissionais tenham conhecimentos de outras áreas e que saibam ler, interpretar e criticar dados estatísticos.

Em 1955, publicou “Desenho no estudo da personalidade: a prova de desenho da figura humana”, que coloca o método desenvolvido por Karen Machover em análise. Este método apresenta a hipótese que, no desenho, o indivíduo expressa partes de seu comportamento pela projeção. Bori conclui que muitas das técnicas apresentadas seriam inadequadas para os propósitos de diagnóstico e orientação de tratamento. Porém, dois anos depois utilizou-se desse método para um estudo no interior de Minas Gerais, no qual buscou descobrir as possibilidades de relações entre variáveis e os métodos utilizados, em vez de verificar hipóteses. Portanto, não descartou o uso de desenhos para pesquisas, apenas o exigiu em um ambiente controlado e sem falta de informações.

Em 1956, publicou um artigo sobre “Como o laboratório de psicologia estuda a expressão da personalidade”, retomando Aristóteles, Camper, Darwin e William James, considerando este último um autor revolucionário.

O artigo “Estudo psicológico do grupo”, de 1957, tinha foco em estudar a personalidade e reitera a importância da experimentação para a psicologia, defendendo assim que o conhecimento produzido em laboratórios é o único meio de verificar hipóteses.

Ela também publicou pesquisas com conteúdos históricos de vários temas, como a distância social.
De 1958, “Percepção e arte” é um resumo que não traz tantas informações como suas outras obras, desta vez analisando a criação artística e o teórico da psicologia dando foco maior na percepção.

A tese de doutorado “Experimentos de interrupção de tarefas e a teoria de motivação de Kurt Lewin”, de 1959, com o estudo da psicologia experimental, propôs produzir conhecimento sob condições rigorosas de controle experimental, em um laboratório. E a teoria deveria ser comprovada por esse método experimental. Bori também abordou o aspecto da motivação nessa tese.

ReconhecimentoEditar

Em 1998, uma edição especial da Revista Psicologia USP foi dedicada a ela. Muitos pesquisadores escreverem artigos ressaltando o impacto que o posicionamento e a militância de Carolina Bori tiveram na colaboração para o reconhecimento do profissional “psicólogo” e para implantação de cursos e laboratórios de Psicologia Experimental, além de sua atuação em diversos órgãos de divulgação de ciência.

“Doutora Carolina é lembrada por colegas das muitas instituições pelas quais passou como uma das personalidades reconhecidamente mais expressivas da Psicologia e da ciência brasileira." (GUEDES, 2004, p. 189)

Outro grande feito de Bori foi receber o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade de Brasília, tornando-se a primeira mulher a atingir esse marco. Além disso, teve homenagens da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e da Associação Americana de Psicologia (APA).

Ver tambémEditar

ReferenciasEditar

AB’SABER, Aziz Nacib. Carolina Bori: a essência de um perfil. Psicologia Usp, São Paulo, v. 9, n. 1, p. 35-35, 25 nov. 1998.

CÂNDIDO, Gabriel Vieira. O desenvolvimento de uma cultura científica no Brasil: contribuições de carolina martuscelli bori. 2014. 331 f. Tese (Doutorado) - Curso de Psicologia, Departamento de Psicologia Programada de Pós-Graduação de Psicologia, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2014. Cap. 6.

CÂNDIDO, Gabriel Vieira; MASSIMI, Marina. Contribuição para a formação de Psicólogos: análise de artigos de carolina bori publicados até 1962. Psicologia: Ciência e Profissão, [S.L.], v. 32, n. , p. 246-263, 08 nov. 2012.

CARVALHO, Ana Maria Almeida; MATOS, Maria Amelia; TASSARA, Eda T. de Oliveira; SILVA, Maria Lgnez Rocha e; SOUZA, Deisy das Graças de. Carolina Bori. Psicologia: Ciência e Profissão, [S.L.], v. 18, n. 3, p. 65-65, 1998.

CARVALHO, Ana Maria Almeida; MATOS, Maria Amelia; TASSARA, Eda T. de Oliveira; SILVA, Maria Ignez Rocha e; SOUZA, Deisy das Graças de. Carolina Bori, Psicologia e Ciência no Brasil. Psicologia Usp, São Paulo, v. 9, n. 1, p. 25-30, 1998.

FEITOSA, Maria Angela Guimarães. Carolina Bori recebe o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade de Brasília. Revista Brasileira de Análise do Comportamento, Brasília, v. 1, n. 2, p. 263-267, 2005.

GUEDES, Maria do Carmo. Memorável Carolina Martuscelli Bori (1924-2004). Memorandum, 7, p. 189-195, out. 2004.

GUEDES, Maria do Carmo. Relembrando Carolina Bori. Paidéia (Ribeirão Preto), São Paulo, v. 15, n. 30, p. 9-10, abr. 2005. http://dx.doi.org/10.1590/s0103-863x2005000100003.

KERBAUY, Rachel Rodrigues. A presença de Carolina Martuscelli Bori na Psicologia. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, [s. l], v. 6, n. 2, p. 159-164, 2004.

MATOS, Maria Amelia. CAROLINA BORI: a psicologia brasileira como missão. Psicologia Usp, São Paulo, v. 9, n. 1, p. 67-70, 25 nov. 1998.

SOARES, Vera. Professora Carolina Bori. Psicologia Usp, [S.L.], v. 9, n. 1, p. 145-147, 1998.

TODOROV, João Claudio; HANNA, Elenice S.. Análise do comportamento no Brasil. Psicologia: Teoria e Pesquisa, São Paulo, v. 26, n. , p. 143-153, 13 dez. 2010.

VELHO, Gilberto. O Humanismo de Carolina Bori. Psicologia Usp, Rio de Janeiro, v. 9, n. 1, p. 217-217, 1998.

AutoriaEditar

Verbete criado inicialmente por Leticia Ramos Gomes e Manuela de Lucena Ramos, como exigência parcial para a disciplina de História da Psicologia da UFF de Rio das Ostras. Criado em 2022.1, publicado em 2022.1