Erich Neumann nasceu em Berlim, 23 de janeiro de 1905, e faleceu em Telavive no dia 5 de novembro de 1960. Foi um psicanalista e escritor alemão que deu continuidade às obras de Carl Jung e desenvolveu importantes teorias, como a da Grande Mãe.

BiografiaEditar

Formação inicialEditar

Erich Neumann nasceu em 1905 na cidade de Berlim, na Alemanha. Era filho de Edward, um comerciante de farinha, e de Zelma, uma dona de casa, sendo o mais novo de dois irmãos e o único da família inclinado para o judaísmo.

Em 1923, tornou-se acadêmico de psicologia na Universidade de Berlim. Durante esse período, fez parte de um grupo que discutia psicologia, filosofia, questões judaicas, poesia e arte. Ele também estudou filosofia, pedagogia, história da arte, literatura e estudos semíticos. Entre os anos de 1921 e 1929, escreveu um romance e uma série de poesias.

Em 1926, matriculou-se em um programa de estudos psicológicos e filosóficos na Universidade de Erlangen, em Nuremberg, onde recebeu um PhD em filosofia pela sua dissertação sobre a linguagem mística da filosofia de Johann Arnold Kanne, publicada em Berlim com o subtítulo Ein Vergessener Romantiker (O Romântico Negligenciado).

AntissemitismoEditar

No ano de 1928, casou-se com Julie Blumenfeld. Julie era sionista e teve grande influência na formação do pensamento religioso de Neumann, que tornou-se bastante interessado no Hassidismo e também adotou o Sionismo como ideologia de vida.

Em seus estudos tardios, ao ler Freud e Jung, viu-se interessado pela psicologia clínica. Com objetivo de atuar nessa área, iniciou um treinamento médico na Universidade de Friedrich Wilhelm, completando-o em 1933. No entanto, as leis antissemitas que a Alemanha defendia na época o proibiram de prestar estágios e de adquirir seu diploma, o impedindo, portanto, de exercer sua profissão. Diante disso, decidiu migrar com sua esposa e filho para a cidade de Telavive (na época, um território palestino).

Durante sua ida até a Palestina, Neumann decidiu reformular os planos e se estabelecer em Zurique, na Suíça, em busca de orientação profissional. Ele mantinha um profundo interesse pela psicologia de Jung e lá tiveram o seu primeiro encontro. Assim, Neumann passou sete meses sendo treinado e analisado pelo próprio Carl Jung e por sua colaboradora, Toni Anna Wolff.

A vida em TelaviveEditar

Em maio de 1934, Neumann deixou Zurique e continuou seu caminho até a Terra Prometida. Ao chegar em Telavive, estabeleceu uma clínica em sua pequena casa e, por não ter muitos pacientes, também lecionava em sua sala de estar.

Apesar de afastado do regime nazista, Neumann sentia-se decepcionado com a vida que estava levando em Telavive. Em uma de suas cartas para Jung, confessou que se sentia intelectualmente isolado. Esse isolamento o impedia de receber críticas e feedbacks, de discutir suas teorias com outros intelectuais, e o impossibilitava de ter editores e tradutores para reescrever seus estudos. Embora diante desses empecilhos, Neumann dizia que essa fase havia sido importante para que ele desenvolvesse um caráter mais independente quanto a suas ideias.

Essa troca de correspondências com Jung o incentivou a escrever seu primeiro livro, "Jacob and Esau" (Jacó e Esaú). Com a Segunda Guerra Mundial, o contato entre os dois foi cessado e, nesse período, Neumann produziu algumas obras. Escreveu um manuscrito intitulado "The Origins and History of Jewish Consciousness" (As Origens e a História da Consciência Judaica), tardiamente publicado sobre o título de "The Roots of Jewish Consciousness" (As Raízes da Consciência Judaica). Também escreveu "New Ethic" (Nova Ética) que, segundo o próprio, foi o seu retorno para a psicologia pura. Além dos dois manuscritos, durante seus anos de isolamento, Neumann também escreveu o que é considerado uma de suas melhores obras: "Origins and History of Consciousness" (História das Origens da Consciência).

Conferências de EranosEditar

Com o fim da guerra em 1947, a única conexão que Neumann ainda tinha dentro do círculo junguiano era Alfred Adler. Graças a ele, foi apresentado à Olga Frobe-Kapteyn, fundadora das Conferências de Eranos. Olga, impressionada com suas ideias, o convidou para fazer uma apresentação. No ano seguinte, Neumann deu sua primeira palestra, nomeada de “Mythical Man” (Homens Míticos). Em seguida, passou a apresentar anualmente sua palestra “The Psyche as the Place of Creation” (A Psique como Lugar da Criação).

Essas conferências tiveram profunda influência no pensamento de Neumann e era onde ele podia expressar seus pensamentos existenciais, metapsicológicos e fenomenológicos, o que contribuiu para o desenvolvimento de suas ideias e teorias.

Fim da vidaEditar

Em outubro de 1960, após palestrar em Eranos pela última vez, Neumann recebeu de seus médicos a notícia de que estava morrendo. Assim, no dia 5 de novembro do mesmo ano, em Telavive, veio a falecer. Segundo sua esposa, após a sua morte, a causa pôde ser identificada como câncer nos rins.

ContribuiçõesEditar

Erich Neumann através, principalmente, de sua teoria do arquétipo da Grande Mãe, foi responsável por expandir o trabalho de seu mestre, Carl G. Jung. Durante sua carreira, apresentou diversas palestras sobre o desenvolvimento humano com base na psicologia junguiana; este foi um trabalho essencial para a expansão e popularização desses pensamentos.

Ademais, produziu uma variedade de obras a respeito dos estágios de desenvolvimento humano, como “A Criança” e “A Grande Mãe: Um Estudo Histórico Sobre os Arquétipos, Simbolismos e Manifestações Femininas do Inconsciente”, contendo sua teoria mais famosa sobre o assunto.

TeoriaEditar

Com o objetivo de compreender o desenvolvimento humano, Erich Neumann disserta suas teorias a partir do conceito de que a personalidade é o resultado das relações entre o ego e os símbolos dos arquétipos.

Sua teoria mais conhecida é a da Grande Mãe, na qual define as quatro fases essenciais no desenvolvimento psicológico feminino. No primeiro estágio, o ego e o inconsciente ainda estão unidos. Em seguida, há uma invasão espiritual e a dominação do arquétipo do Grande Pai, visto como violador e destruidor. Na terceira fase, o masculino é entendido como um indivíduo normativo, que liberta a jovem mulher de um pai controlador, para que ele mesmo a controle em um casamento. Por fim, no quarto estágio, a mulher, já madura, alcança o autoconhecimento, percebendo o seu “eu” autêntico e sua própria voz.

Dentro dessa teoria, Neumann ainda discorre sobre a formação da personalidade do indivíduo desde quando este está no ventre materno, possuindo uma ligação direta com a própria mãe. Ele explica que a realidade não é dividida em duas partes, mas que existe uma realidade unificada, incluindo mundo externo, material, e a realidade intelectual e sensorial. Ele também diferencia os dois níveis fundamentais da alma que são o "Si mesmo" (totalidade da psique) e o "Eu" (parte consciente; único que tem acesso ao pensamento racional). Diante disso, a realidade unificada se dá por meio do encontro dos dois.

Cronologia biográficaEditar

23 de janeiro de 1905: Nascimento de Erich Neumann.

1921 - 1929: Escreve poesias e um romance.

1923 - 1926: Estuda psicologia, filosofia, pedagogia, história da arte, literatura e estudos psicológicos e filosóficos na Universidade de Erlangen, em Nuremberg.

1933: Completa seu treinamento médico na Universidade de Friedrich Wilhelm.

1934: Começa a trocar correspondências com Jung.

1940 - 1945: Escreve os manuscritos "The Origins and History of Jewish Consciousness" (As Origens e a História da Consciência Judaica),  "New Ethic" (Nova Ética), e "Origins and History of Consciousness" (História das Origens da Consciência).

1947: É apresentado à Olga Frobe-Kapteyn, fundadora das Conferências de Eranos.

1948: Dá a sua primeira palestra, "Mythical Man”.

Outubro de 1960: Dá sua última palestra, “The Psyche as the Place of Creation”.

5 de novembro de 1960: Falecimento em Telavive.

ObrasEditar

  • Jacó e Esaú (1934);
  • História das Origens da Consciência: Uma Jornada Arquetípica, Mítica e Psicológica sobre o Desenvolvimento da Personalidade Humana (1949);
  • Nova Ética (1949);
  • Origens (1949);
  • Amor e Psique (1954);
  • A Grande Mãe: Um Estudo Histórico Sobre os Arquétipos, Simbolismos e as Manifestações Femininas do Inconsciente (1955);
  • O Mundo Arquetípico de Henry Moore (1959);
  • A Criança (1963).

Referências bibliográficasEditar

  1. KROTH, Léo Teobaldo; RIBEIRO, Adriano Carlos; SCHONS, Cláudio Henrique; REICHERT, Fernando; LIMA, Rafael Amaral. O estudo da consciência, dos arquétipos e seus reflexos no desenvolvimento humano e organizacional. Anais do 4º Congresso Brasileiro de Sistemas – Centro Universitário de Franca Uni-FACEF – 29 e 30 de outubro de 2008, 2008. Acesso em: 4 jun. 2023.
  2. PAGLIA, Camille. Erich Neumann: theorist of the Great Mother. Arion: A Journal of Humanities and the Classics at Boston University, 2006. Acesso em: 4 jun. 2023.
  3. SHANY, Lidar. Erich Neumann: A Jungian Developmental Relational and Metapsychological Theoretician. Pacifica Graduate Institute ProQuest Dissertations Publishing, 2021. Acesso em: 4 jun. 2023.
  4. SENEGAČNIK, Brane. Illusion or Fusion?. Journal of Phenomenology and Hermeneutics, 2019. Acesso em: 23 jun. 2023.

AutoriaEditar

Verbete criado inicialmente por: Julia Lombardi Carneiro, Esther Cassa Archangelo, Jessica Dias de Carvalho, Mariano Pires Brandi e Raquel Valente Nogueira, como exigência parcial para disciplina de História da Psicologia da UFF de Rio das Ostras. Criado em 2023.1, publicado em 2023.1.