A Escala de Inteligência Binet-Simon é um instrumento de avaliação psicológica criado em 1905 por Alfred Binet e Théodore Simon, em Paris. A escala tem orientação psicopedagógica e objetiva mensurar a capacidade mental do escolar para identificar as crianças que seriam inseridas em programas especiais de educação. Ele foi desenvolvido a partir de provas e pequenos testes criados por Binet nos anos anteriores e seus resultados estabelecem uma relação entre idade cronológica e idade mental. É o primeiro teste mental de sucesso mundial e um dos mais utilizados no mundo.

HistóriaEditar

Apresentação do autorEditar

Alfred Binet, famoso pelos seus feitos na área da psicometria, nasceu no dia oito de julho de 1857, em Nice, na França. Entretanto, durante sua trajetória de vida, passou grande parte dela em Paris, morrendo de derrame em 1911, aos 54 anos.

Seu avô e seu pai eram médicos, e sua mãe, Madame Moina Binet, era pintora. Binet começou sua vida acadêmica atuando na área de advocacia em 1878, mas não deu continuidade. Ingressou, então, de 1883 até 1889, os estudos no Hospital da Salpetrière. Seu interesse em psicologia, no entanto, inicia em 1870, sendo, no início, um autodidata.

Sua primeira publicação na área da psicologia foi acerca de fusão de sensações similares (1870). Entretanto, não se aprofundou, visto as críticas que obteve do médico e psicólogo Joseph Delboeu. Binet continua seus estudos no ramo da psicologia quando se depara com as vertentes do associacionismo, acreditando que poderia se explicar todos os fenômenos da mente a partir dessa visão. Assim, publica o livro, em 1886, La Psychologie Du Raisonnement.

 Durante o período que Binet estudou no Hospital, ele estudou com Charles Féré e Jean-Martin Charcot, com quem pesquisou sobre a hipnose, conhecido à época como Magnetismo Animal. Lançaram a obra “Le magnéstisme animal” em 1887. Realizaram também uma apresentação a fim de demonstrar suas descobertas, porém uma das pessoas da plateia era o crítico Joseph Delboeu que retratou que não havia realmente uma hipnose, mas uma encenação. Binet e Féré admitem o erro e, assim, Binet encerra os estudos no Hospital da Salpetrière.

Após o episódio constrangedor, Binet afasta-se da área acadêmica, mas continua praticando a psicologia ao aplicar em suas filhas Madeleine (1885) e Alice (1887) testes psicológicos inspirados em Francis Galton e James Cattell. Alguns dos pontos que estabeleceu ao testar suas filhas é de que há diferenças entre a inteligência infantil e adulta. Ademais, a personalidade era um fator de influência.

Assim, Binet foi estudando a psicometria de forma particular até que reencontra Henri Beaunis, um dos que mais havia criticado sua apresentação com Charles Féré. Após acertadas as diferenças, Binet começou a trabalhar como seu assistente. Logo em 1895, Alfred assume o cargo de diretor do laboratório de psicologia da Sorbonne.

Enquanto diretor do laboratório, contou com o auxílio de Victor Henri para realizar pesquisas com foco em uma psicologia individual e, para isso, estudou os processos mentais superiores através de diversos testes.

Vale ressaltar que suas pesquisas realizadas com base nas suas filhas e testadas em diversos locais em Paris que foram publicados em “L'étude expérimentale de l'intelligence” (1903) e o seus estudos com Henri trazem de volta sua credibilidade. Dessa forma, Alfred Binet torna-se vice-presidente da Société Libre pour l'Étude Psychologique de l'Enfant, que possui ênfase no estudo de crianças ditas como “normais” e “anormais”.

Em 1904, Binet foi convidado pelo governo francês para ser membro do comitê ministerial, com o objetivo de adequar a questão das crianças consideradas atípicas e para organizar o sistema educacional. Binet aceita o convite e, junto com o seu parceiro de estudo desde 1892, Théodore Simon, criam a famosa escala Binet-Simon. Tal escala organiza e classifica as crianças conforme suas idades mentais resultantes dos testes aplicados. A escala foi revisada duas vezes, sendo a primeira em 1908 e a segunda em 1911, ano de sua morte inesperada.

 

Desenvolvimento da escala Binet-SimonEditar

A Escala Binet-Simon foi o resultado de mais de 12 anos de pesquisas iniciadas em 1892, após Théodore Simon pedir auxílio à Alfred Binet no estudo da educação das crianças consideradas atípicas. Para então construir a escala, foi necessário elaborar os itens e nivelá-los. Foram aplicados testes em 95 crianças, sendo 50 consideradas com inteligência normal e 45 “anormais”, segundo uma classificação preliminar de médicos e professores. Para atribuir um nível mental a cada tarefa, ela deveria ser aprovada pela maioria das crianças que correspondessem a essa idade cronológica. Por exemplo: uma questão que tenha sido aprovada por algumas crianças de 6 anos, pela maioria das crianças de 7 anos e mais ainda por crianças de 8 anos, seria considerada de nível mental 7. Além disso, era comum que as crianças tivessem um nível mental que atrasasse sua idade cronológica em um ano. Se esse atraso no nível mental fosse de dois anos em relação à idade cronológica, a criança poderia ter um diagnóstico de atraso mental.

Recepção no BrasilEditar

A concepção pedagógica de Binet foi extremamente influente no Brasil. Mesmo não sendo um nome conhecido no país até então, ele foi recepcionado na área educacional por meios institucionais, ainda que de maneira discreta. No momento em que a obra de Binet foi traduzida e adaptada ao Brasil, estava acontecendo uma descredibilização dos testes de inteligência, mas essa situação não foi suficiente para desprestigiar a obra ou para reduzir sua influência.

O trabalho de Binet exerceu muita influência no campo da psicologia e contribuiu para a difusão dos testes no âmbito educacional. No Brasil, foi crucial para a promoção de pesquisas e para a regulamentação da profissão dos psicólogos. Além disso, a ampla utilização dos testes evidenciou como a educação era uma extensa área de aplicação da psicologia, constituindo assim o campo de estudos da ciência da infância.

O período mais relevante de Binet no Brasil foi entre 1906 e 1929 - desde a criação do primeiro Laboratório de Psicologia Pedagógica até a tradução de Lourenço Filho dos Testes para a medida do desenvolvimento da inteligência nas crianças. A obra não foi recebida no país sem resistência, visto que desde a primeira tentativa de instalação de um laboratório em 1897, houve oposição de muitos que acreditavam que estavam buscando “medir a alma".

Efeito BinetEditar

A popularização da obra de Binet gerou consequências no Brasil, que podem ser denominadas como Efeito Binet, por resultarem da influência de seu teste nas áreas de pesquisa e educação. Dentre elas estão:

• Laboratórios: o primeiro, criado em 1906 e denominado Laboratório de Psicologia Pedagógica, foi um marco muito importante para o início e para a recepção de Binet no Brasil, juntamente com o surgimento do Instituto de Pernambuco em 1925.

• Escolas Normais: a reforma proposta por Benjamin Constant para a educação primária procurava garantir a liberdade, a laicidade e a gratuidade do ensino, e assim, substituiria as tendências humanistas por cientificistas. Com o advento dessas instituições, a obra de Binet esteve em destaque e algumas figuras como Helena Antipoff, Isaías Alves, Manoel Bonfim e Lourenço Filho estiveram diretamente interligadas a esse processo.

• Produção Intelectual:  importante via de divulgação da obra de Binet na época:

1. 1911 - "Compêndio de Paidologia" (Clemente Quaglio)

2. 1913 - "Educação da infância anormal de inteligência no Brasil” (de

Clemente Quaglio)

3. 1914 - "O Laboratório de pedagogia experimental", editado na gestão de Oscar Thompson

4. 1916 - "Noções de psicologia" (Manoel Bomfim)

5. 1923 - "Pensar e dizer" (Manoel Bomfim)

6. 1924 - "Tests" (Medeiros e Albuquerque)

7. 1926 - "Psychologia" (Sampaio Dória)

8. 1927 -"Teste individual de inteligência: noções gerais sobre testes" (Isaías Alves)

9. 1929 - "Tradução dos Testes de Binet-Simon", por Lourenço Filho

10. 1930 - "Testes e a reorganização escolar" (Isaías Alves)

• Tradução de Binet e o Testes ABC: Lourenço Filho teve grande papel na divulgação da obra no Brasil devido a tradução dos testes de Binet em 1929 e a criação dos Testes ABC - utilizados com o propósito de verificar a maturidade necessária à aprendizagem de leitura e escrita, que foram fundamentados na obra de Binet e publicados em 1937. Esses testes foram além da adaptação da escala, contando com tópicos como “Diagnóstico”, “Prognóstico” e “Necessidade de estudo de crianças-problema''.

• Fundamentos da Nova Escola: relacionava-se a psicologia e a biologia ao escolanovismo, por meio de uma “biologização” da psicologia, e posteriormente uma “psicologização” da pedagogia.

Manoel Bomfim e a introdução da obra de Binet no BrasilEditar

Por meio de Manoel Bomfim foi criado o primeiro laboratório de Psicologia no Brasil sob a influência Binet, já que o fundador do laboratório havia estudado com o mestre francês. Esse laboratório seguia exatamente o mesmo modelo utilizado por Binet na Sorbonne e tinha o objetivo de realizar trabalhos relacionados ao desenvolvimento infantil e à educação primária, visto que ele enxergava o atraso nacional como uma das consequências da educação pública.

Bomfim foi convocado, devido à sua formação com Binet, para integrar a comissão para implementação dos testes de inteligência no ensino primário, em 1924. Como resultado, foi publicada em 1928 a obra “O método dos testes com aplicação à linguagem no ensino primário”.

Maria Lacerda de Moura e a introdução dos testes nas escolas mineirasEditar

Maria Lacerda pertencia à cadeira de Pedagogia e Higiene da Escola Normal Municipal de Barbacena e era estudiosa das obras de Binet. Como seu foco de trabalho era voltado às questões científicas com aplicabilidade na infância, ela criou e dirigiu o Pedagogium - espaço reservado para o estudo e a pesquisa sobre psicologia, higiene e medicina relacionados à educação - da escola normal entre 1912 e 1921.

Maria foi uma das primeiras a tentar unir a psicologia com a pedagogia em Minas Gerais, com o objetivo de elaborar um projeto científico de educação, buscando fazer uma pedagogia efetivamente científica. Apesar de possuir a autorização para aplicar os testes nos alunos em Barbacena, Lacerda tinha cautela quanto a aplicação dos testes.

Helena Antipoff e o conceito de inteligência civilizadaEditar

No período em que estavam ocorrendo as reformas educacionais no Brasil, o uso de testes mentais foi popularizado por servir de base para o conhecimento da criança e do desenvolvimento infantil. Naquele momento, Helena foi uma figura importante por ter estagiado no Laboratório de Binet na Sorbonne, buscando dessa forma, aplicar seus conhecimentos no recente sistema de ensino brasileiro.

Antipoff tinha como objetivo criar salas de aula homogêneas, definidas pela idade mental dos alunos. Assim, começou no decorrer da década de 1930, a adaptar os testes de QI (Quoeficiente de Inteligência) e aplicá-los à população juvenil de Belo Horizonte, na busca pela classificação dos estudantes referentes à escola primária e secundária. Ela percebeu que os testes eram insuficientes para medir capacidades de compreensão, se limitando apenas aos resultados relacionados ao nível mental da criança, como capacidade de concentração, observação, atenção, racionalidade e “fluidez de pensamentos”.

Diferente de Binet, Helena via a inteligência como produto da combinação de disposições inatas e fatores socioculturais, comprovando por meio de suas pesquisas em BH, diferenças significativas no desempenho de crianças de classes sociais distintas, por exemplo. Sendo assim, entendia como a classificação baseada no QI era rasa e compreendia apenas um procedimento preliminar, que regularmente era utilizado para propagar ideias evolucionistas que atribuíam uma distinção nas capacidades cognitivas dos grupos rotulados selvagens e dos civilizados.

Constructo avaliadoEditar

Foi o primeiro teste capaz de mensurar a capacidade cognitiva geral, vale enfatizar também que não é um teste de QI. Ele foi baseado em dados objetivos e focado em avaliar a capacidade mental (psicológica) no lugar da aprendizagem escolar, a fim de que não confundissem o déficit de inteligência com a privação da educação formal. Para cumprir com seu objetivo, evitou tarefas que tinham extensa leitura, escrita ou outras habilidades relacionadas à escola e priorizou tarefas que exigiam conhecimentos básicos da cultura e da vida francesa.

A inteligência, para Binet, não era uma entidade única. Em vez disso, ele a via como uma coleção de processos mentais, por exemplo: memória, atenção, imaginação e compreensão. Ele também acreditava que as classificações não eram absolutas e que medidas poderiam ser tomadas para elevar a inteligência, para isso criou uma série de exercícios chamados “ortopedia mental”.

Binet se concentrou no problema crítico: identificar as crianças que devem ser colocadas em programas especiais de educação. Então, para melhor detectar o nível de inteligência de um indivíduo, seria necessária uma amostra de todos os processos específicos.

Modo de avaliaçãoEditar

Escala Binet-Simon (1905)Editar

Essa primeira publicação continha 30 tarefas que aumentavam gradualmente a dificuldade. As tarefas mais simples eram de nível básico vista em bebês normais ou crianças consideradas fora da norma. As tarefas mais difíceis poderiam ser passadas facilmente por crianças normais de 11 ou 12 anos, mas estavam além do alcance das crianças mais velhas consideradas atípicas.

O teste de Binet-Simon vem acompanhado de orientações específicas para sua aplicação.

1. Ele deve ser aplicado por um especialista;

2. Em ambiente/sala tranquila sem distrações;

3. É necessário que o examinador aborde o examinado de forma amigável e na presença de uma pessoa familiar à criança, a fim de que ela fique mais à vontade, mas que depois eles fiquem preferencialmente a sós;

4. Sugere-se que inicialmente seja travado um diálogo, com perguntas clínicas e depois dê início aos itens do teste em ordem hierárquica;

5. O examinador não deve modificar a forma da questão, nem auxiliar com explicações extras, mas pode-se estimular e encorajar a criança;

6. As respostas devem ser anotadas seguindo as classificações: prova satisfatoriamente resolvida (+), fracasso (-), mais próximo ao fracasso que do êxito (?), resultado excelente (+!) e resultado francamente negativo (-!);

7. A leitura e a interpretação do resultado devem ser descritas da seguinte maneira: criança regular ou normal: nível de sua idade; criança avançada: nível superior de um, dois ou mais anos; criança retardada: nível inferior de um, dois ou mais anos.  Há também a subdivisão dos indivíduos considerados retardados em três categorias: profundamente retardados (idiotas), moderadamente retardados (imbecis) e levemente retardados (débeis).

Abaixo, segue a lista dos 30 itens, ordenados do mais fácil ao mais difícil:

1. “O olhar”. Este item testou a capacidade de uma criança de seguir uma correspondência iluminada com seus olhos. O objetivo era avaliar uma capacidade muito básica de atenção.

2. Firmeza. Este item testou a capacidade de uma criança de agarrar um pequeno objeto colocado em sua mão, segurá-lo sem deixá-lo cair e carregá-lo até a boca.

3. Firmeza. Este item era semelhante ao anterior; no entanto, testou a capacidade de uma criança de alcançar e agarrar um objeto colocado dentro de sua visão.

4. Reconhecimento da comida. Nesta tarefa, um pedaço de chocolate foi colocado ao lado de um pequeno cubo de madeira. O objetivo era ver se a criança podia dizer sozinho qual dos objetos era comida.

5. Busca de alimentos complicados por uma pequena dificuldade mecânica. Nesta tarefa, um pedaço de doce foi mostrado à criança e, em seguida, embrulhado em papel. O objetivo era ver se a criança desembrulhava os doces.

6. Execução de comandos simples e imitação de gestos simples. Este item testou se a criança sabia como apertar a mão do examinador e cumprir comandos simples falados ou gestos. O objetivo era avaliar habilidades sociais e linguísticas muito básicas.

7. Conhecimento verbal de objetos. Nesta tarefa, o examinador pediu à criança que apontasse várias partes do corpo. A criança foi então solicitada a dar ao examinador vários objetos comuns, como um copo e uma chave.

8. Conhecimento verbal de fotos. Nesta tarefa, foi solicitado à criança que apontasse objetos familiares em uma imagem, como uma janela e uma vassoura.

9. Nomeação de objetos designados. Este item era o oposto do anterior. Usando outra imagem, o examinador apontou para objetos familiares e pediu à criança para nomeá-los.

10. Comparação imediata de duas linhas de comprimentos desiguais. Nesta tarefa, a criança foi mostrada pedaços de papel com pares de linhas sobre eles. Uma linha era sempre de 4 cm de comprimento; o outro, 3 cm. A criança foi solicitada a indicar qual linha era mais longa.

11. Repetição de três dígitos. Este item testou a capacidade de uma criança de repetir uma sequência de três números.

12. Comparação de dois pesos. Nesta tarefa, a criança foi mostrada duas caixas que pareciam idênticas, mas eram de pesos diferentes. A criança foi convidada a decidir qual caixa era mais pesada.

13. Sugestionabilidade. Em algumas das tarefas anteriores, o examinador fazia falsas sugestões para ver como a criança reagiria. Por exemplo, depois de pedir à criança para apontar para vários objetos comuns, o examinador perguntaria à criança sobre um objeto que não estava lá.

14. Definição verbal de objetos conhecidos. Este item testou a capacidade de uma criança de dar definições simples para coisas familiares, como uma casa e um garfo.

15. Repetição de frases de 15 palavras. Este item testou a capacidade de uma criança de repetir frases de volta com uma média de 15 palavras.

16. Comparação de objetos conhecidos da memória. Nesta tarefa, foi solicitado à criança que afirmasse as diferenças entre pares de objetos comuns, como um pedaço de madeira e um pedaço de vidro.

17. Exercício de memória em fotos. Nesta tarefa, a criança foi mostrada várias fotos de objetos familiares por um breve período de tempo. A criança foi então solicitada a nomear os objetos da memória.

18. Desenhando um desenho da memória. Nesta tarefa, a criança foi brevemente mostrada dois desenhos geométricos, em seguida, pediu para retirá-los da memória.

19. Repetição imediata de números. Este item era idêntico ao anterior em que o examinador pediu à criança para repetir uma sequência de três números. Agora, no entanto, o examinador deu maior peso à natureza de quaisquer erros.

20. Semelhanças de vários objetos conhecidos dados pela memória. Nesta tarefa, foi solicitado à criança que declarasse as semelhanças entre conjuntos de objetos, como uma mosca, uma formiga, uma borboleta e uma pulga.

21. Comparação de comprimentos. Nesta tarefa, a criança foi mostrada pedaços de papel com pares de linhas sobre eles. A criança foi solicitada a indicar qual linha era mais longa. Embora isso fosse semelhante a uma tarefa anterior, as diferenças nos comprimentos da linha eram menores desta vez.

22. Cinco pesos a serem colocados em ordem. Este item exigia que a criança organizasse cinco caixas de aparência idêntica por ordem de peso. As caixas variaram em peso de 3 gramas a 15 gramas.

23. Lacuna de pesos. Após a tarefa anterior, uma das caixas do meio foi removida enquanto a criança fechava os olhos. A criança foi então solicitada a descobrir qual caixa estava faltando por pesagem manual.

24. Exercite-se sobre rimas. Este item testou a capacidade da criança de nomear palavras que rimavam com a palavra francesa obéissance (obediência).

25. Lacunas verbais a serem preenchidas. Este item testou a capacidade da criança de preencher os espaços em branco em frases faladas simples. Por exemplo, uma frase era: "O tempo está claro, o céu é (azul)."

26. Síntese de três palavras em uma frase. Nesta tarefa, a criança recebeu três palavras: "Paris", "rio" e "fortuna". A criança foi então solicitada a inventar uma frase usando todas as palavras.

27. Responda a uma pergunta abstrata. Este item testou a capacidade da criança de responder 25 perguntas que tratam da solução prática de problemas e julgamento social. As perguntas variavam de muito fácil a bastante difícil. Por exemplo, uma pergunta de dificuldade média perguntou: "Quando alguém o ofendeu e pede que você o perdoe, o que você deve fazer?"

28. Inversão dos ponteiros de um relógio. Este item testou a capacidade da criança de descobrir em sua cabeça que horas seriam se os ponteiros grandes e pequenos em um relógio fossem invertidos por várias vezes.

29. Corte de papel. Na frente da criança, o examinador dobrou um papel em quatro, e então cortou um triângulo na borda com uma única dobra. Sem realmente desdobrar o papel, a criança foi então solicitada a desenhar o desenho que ele veria se o papel fosse aberto.

30. Definições de termos abstratos. Nessa tarefa, foi solicitado à criança que afirmasse as diferenças entre dois termos abstratos, como cansaço e tristeza.

Os 6 primeiros itens tinham o objetivo de avaliar habilidades sociais e de linguagem muito básicas. Crianças com inteligência normal podiam passar nos primeiros nesses itens do teste aos dois anos. Entretanto, alguns eram difíceis demais para as crianças com “retardo mental profundo”.

Os 9 itens seguintes poderiam ser aprovados por crianças com inteligência normal aos cinco anos de idade. Este foi considerado o ponto de corte para retardo moderado.

Os últimos 15 itens continham a fronteira entre os indivíduos com deficiência leve e os normais, entre cinco e onze anos. No entanto, algumas das tarefas mais difíceis não foram passadas por crianças de 11 anos com inteligência normal.

Edições do testeEditar

A edição de 1908 passou a conter 58 itens e abrangia a faixa de 3 a 1. No entanto, o consenso da opinião psicométrica era que a escala enfatizava demais as habilidades verbais, como vocabulário e repetição. Foi nessa versão que o cálculo do Nível Intelectual Geral passou a ser usado.

A edição de 1911 já incluía adolescentes de até 15 anos e foi composta por 54 exercícios divididos em cinco grupos. Muitos dos itens eram semelhantes à versão de 1905. Nela, Binet buscou padronizar melhor e quantificar o teste, para isso incluiu o cálculo do nível mental, por meio de uma fórmula criada por ele. A cada subteste seria atribuída a pontuação de um quinto de um ano e, para cada acerto, é acrescido um quinto de um ano à pontuação. No entanto, ele alertava que essa pontuação poderia ser enganosa e que “não merecia confiança absoluta”. Após o cálculo da idade mental, dever-se-ia subtrair a idade mental da idade cronológica para obter o NIG - Nível de Inteligência Geral (IC — IM = NIG). Uma criança de sete anos que obtivesse no teste de idade mental de seis anos possuiria um nível intelectual geral equivalente a 1. Normalmente, crianças que obtivessem NIG menor ou igual a 1 eram mantidas em suas turmas iniciais. Mas aqueles que atingissem um valor de NIG > 2 poderiam ser alocados para os programas de educação especial.

Ver tambémEditar

ReferênciasEditar

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  2. BARBOSA, Rejane Maria; MARINHO-ARAUJO, Clasy Maria. Psicologia escolar no Brasil: considerações e reflexões históricas. Estud. psicol. (Campinas), v. 27, n. 3, p. 393-402, set.  2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-166X2010000300011&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 04 dez. 2020. https://doi.org/10.1590/S0103-166X2010000300011.
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  12. ZAZZO, René. Alfred Binet. Recife: Massangana, 2010. (Coleção Educadores).

Links externosEditar

Boletim do Portal História da PsicologiaEditar

Este verbete está publicado também no Boletim do Portal História da Psicologia, e pode ser acessado aqui

VídeoEditar

AutoriaEditar

Verbete criado inicialmente por: Allana Souza da Silva, Daniela Carolina Silva Barbosa, Victoria Salgado de Aguiar, como exigência parcial para a disciplina de História da Psicologia da UFF de Rio das Ostras. Criado em 2020.2, publicado em 2021.1