99
edições
(Bibliografia) |
mSem resumo de edição |
||
Linha 9: | Linha 9: | ||
== Características Gerais da Introspecção == | == Características Gerais da Introspecção == | ||
=== Características Necessárias para um | === Características Necessárias para um Processo Introspectivo === | ||
A introspecção é comumente considerada como um processo por meio do qual adquirimos conhecimento de nossos próprios estados ou processos mentais em curso ou imediatamente passados. No entanto, nem todos os processos são introspectivos, alguns diriam que você realizou a introspecção se você souber que está com raiva ao ver sua expressão facial no espelho. Contudo, é incerto e controverso saber o que mais é necessário para um processo ser qualificado como introspectivo. Uma visão relativamente restrita da introspecção talvez requeira o envolvimento da atenção e da detecção direta do estado mental em curso; mas muitos filósofos pensam que a atenção ou a detecção direta do estado mental é impossível ou pelo menos não está presente em muitas instâncias paradigmáticas da introspecção. | A introspecção é comumente considerada como um processo por meio do qual adquirimos conhecimento de nossos próprios estados ou processos mentais em curso ou imediatamente passados. No entanto, nem todos os processos são introspectivos, alguns diriam que você realizou a introspecção se você souber que está com raiva ao ver sua expressão facial no espelho. Contudo, é incerto e controverso saber o que mais é necessário para um processo ser qualificado como introspectivo. Uma visão relativamente restrita da introspecção talvez requeira o envolvimento da atenção e da detecção direta do estado mental em curso; mas muitos filósofos pensam que a atenção ou a detecção direta do estado mental é impossível ou pelo menos não está presente em muitas instâncias paradigmáticas da introspecção. | ||
Linha 30: | Linha 30: | ||
Embora nem todas as vertentes filosóficas apresentadas por seus autores como modelos de “introspecção” atendam a todas as condições de 4 a 6, a maioria atende a pelo menos duas delas. Devido às diferenças na importância atribuída às condições 4-6, não é incomum que autores com outros modelos semelhantes de autoconhecimento difiram em sua vontade de descrever suas abordagens como modelos de “introspecção”. | Embora nem todas as vertentes filosóficas apresentadas por seus autores como modelos de “introspecção” atendam a todas as condições de 4 a 6, a maioria atende a pelo menos duas delas. Devido às diferenças na importância atribuída às condições 4-6, não é incomum que autores com outros modelos semelhantes de autoconhecimento difiram em sua vontade de descrever suas abordagens como modelos de “introspecção”. | ||
=== Os | === Os Objetivos da Introspecção === | ||
Métodos de introspecção diferem no que eles tratam como alvos apropriados do processo introspectivo. Nenhum grande filósofo contemporâneo acredita que toda a mentalidade está disponível para ser descoberta pela introspecção. Por exemplo, os processos cognitivos envolvidos no processamento visual primário e na detecção de fonemas são frequentemente considerados introspectivamente impenetráveis e, no entanto (em algum sentido importante) mentais (Marr 1983; Fodor 1983). Muitos filósofos também aceitam a existência de crenças ou desejos inconscientes, aproximadamente no sentido freudiano, que não estão introspectivamente disponíveis (por exemplo, Gardner 1993; Velleman 2000; Moran 2001; Wollheim 2003; a despeito disso veja Lear 1998). Embora no uso comum do inglês às vezes dizemos que estamos “fazendo introspecção” quando refletimos sobre nossos traços de caráter, os filósofos contemporâneos da mente geralmente não acreditam que possamos fazer, diretamente, a introspecção dos traços de caráter da mesma forma que podemos fazer introspecção de alguns de nossos outros estados mentais (especialmente perante pesquisas que sugerem que às vezes temos pouco conhecimento de nosso traços, analisados em Taylor e Brown 1988; Paulhus e John 1998; Vazire 2010). | Métodos de introspecção diferem no que eles tratam como alvos apropriados do processo introspectivo. Nenhum grande filósofo contemporâneo acredita que toda a mentalidade está disponível para ser descoberta pela introspecção. Por exemplo, os processos cognitivos envolvidos no processamento visual primário e na detecção de fonemas são frequentemente considerados introspectivamente impenetráveis e, no entanto (em algum sentido importante) mentais (Marr 1983; Fodor 1983). Muitos filósofos também aceitam a existência de crenças ou desejos inconscientes, aproximadamente no sentido freudiano, que não estão introspectivamente disponíveis (por exemplo, Gardner 1993; Velleman 2000; Moran 2001; Wollheim 2003; a despeito disso veja Lear 1998). Embora no uso comum do inglês às vezes dizemos que estamos “fazendo introspecção” quando refletimos sobre nossos traços de caráter, os filósofos contemporâneos da mente geralmente não acreditam que possamos fazer, diretamente, a introspecção dos traços de caráter da mesma forma que podemos fazer introspecção de alguns de nossos outros estados mentais (especialmente perante pesquisas que sugerem que às vezes temos pouco conhecimento de nosso traços, analisados em Taylor e Brown 1988; Paulhus e John 1998; Vazire 2010). | ||
Linha 155: | Linha 155: | ||
Diversos autores desafiaram a ideia de que a experiência sensorial necessariamente escapa à atenção — Isso é, eles negaram a afirmação central das teorias de transparência sobre a experiência sensorial. Block (1996), e Smith (2008) defenderam que fosfenos — aquelas pequenas luzes que você vê quando pressiona seus olhos — e o embaçamento visual são aspectos das experiências sensoriais que podem ser diretamente assistidos. Siewert (2004) defendeu que o que é intuitivamente atraente na visão de transparência é principalmente a observação de que ao refletir sobre a experiência sensorial ''não se retira'' a atenção dos objetos sentidos; mas, ele argumenta, isso é compatível com dedicar, também, um certo tipo de atenção à própria experiência sensorial. Nas primeiras discussões sobre atenção, a atenção perceptiva por vezes se distinguia da “atenção intelectual” (James 1890 [1981]; Baldwin 1901–1905; veja também Peacocke 1998; Mole 2011), ou seja, do tipo de atenção que podemos dedicar à quebra-cabeças de palavras puramente imaginadas ou à questões filosóficas. Se formas não sensoriais de atenção são possíveis, então a tese de transparência para a experiência sensorial requererá uma reformulação: É apenas a atenção sensorial à experiência sensorial que é impossível? Ou é qualquer tipo de atenção? Simplesmente dizer que não assistimos sensorialmente nossos estados mentais é fazer apenas uma afirmação modesta, similar à afirmação de que vemos objetos em vez de ver nossas experiências visuais de objetos; mas dizer que não podemos assistir nossos estados mentais mesmo intelectualmente parece extremo. À luz disso, permanece incerto como moldar a intuição da transparência para melhor trazer à tona a ideia central que deve ser transmitida pelo lema de que a introspecção da experiência sensorial não é uma questão de assistir à própria mente. | Diversos autores desafiaram a ideia de que a experiência sensorial necessariamente escapa à atenção — Isso é, eles negaram a afirmação central das teorias de transparência sobre a experiência sensorial. Block (1996), e Smith (2008) defenderam que fosfenos — aquelas pequenas luzes que você vê quando pressiona seus olhos — e o embaçamento visual são aspectos das experiências sensoriais que podem ser diretamente assistidos. Siewert (2004) defendeu que o que é intuitivamente atraente na visão de transparência é principalmente a observação de que ao refletir sobre a experiência sensorial ''não se retira'' a atenção dos objetos sentidos; mas, ele argumenta, isso é compatível com dedicar, também, um certo tipo de atenção à própria experiência sensorial. Nas primeiras discussões sobre atenção, a atenção perceptiva por vezes se distinguia da “atenção intelectual” (James 1890 [1981]; Baldwin 1901–1905; veja também Peacocke 1998; Mole 2011), ou seja, do tipo de atenção que podemos dedicar à quebra-cabeças de palavras puramente imaginadas ou à questões filosóficas. Se formas não sensoriais de atenção são possíveis, então a tese de transparência para a experiência sensorial requererá uma reformulação: É apenas a atenção sensorial à experiência sensorial que é impossível? Ou é qualquer tipo de atenção? Simplesmente dizer que não assistimos sensorialmente nossos estados mentais é fazer apenas uma afirmação modesta, similar à afirmação de que vemos objetos em vez de ver nossas experiências visuais de objetos; mas dizer que não podemos assistir nossos estados mentais mesmo intelectualmente parece extremo. À luz disso, permanece incerto como moldar a intuição da transparência para melhor trazer à tona a ideia central que deve ser transmitida pelo lema de que a introspecção da experiência sensorial não é uma questão de assistir à própria mente. | ||
=== Pluralismo | === Pluralismo Introspectivo === | ||
Filósofos que discutem o autoconhecimento frequentemente escrevem como se abordagens que destacam um desses métodos não auto-detectáveis de gerar auto-atribuições conflitassem com abordagens que destacam outros desses métodos não auto-detectáveis, e também como se abordagens gerais desse tipo conflitassem com abordagens de auto-detecção (seção 2.2 acima). Embora certamente existam conflitos entre diferentes teses destinados a servir como abordagens ''exaustivas'' do autoconhecimento, é implausível que qualquer uma ou mesmo algumas destas abordagens do autoconhecimento seja ''exaustiva''. Plausivelmente, todas as abordagens não auto-detectáveis descritas acima podem levar, pelo menos ocasionalmente, a auto-atribuições precisas. Entusiastas de outros dos modelos, ou de um modelo de auto-detecção, não precisam negar isso. Também parece difícil negar que, pelo menos ''às vezes'', chegamos a conclusões sobre nossas vidas mentais com base no tipo de inferência teórica ou auto-interpretação enfatizada por defensores da visão de auto/outra paridade (seção 2.1 acima). Finalmente, até mesmo os filósofos preocupados com visões fortes ou excessivamente simplistas de auto-escaneamento podem querer garantir que a mente possa fazer ''algum'' tipo de rastreamento de seus próprios estados presentes ou passados recentemente — por exemplo, quando rastreamos um fluxo de pensamentos passados recentemente que, presumivelmente, não podem (porque é passado) ser auto-atribuídos por métodos de auto-satisfação, auto-modelagem, auto-expressão ou transparência. | Filósofos que discutem o autoconhecimento frequentemente escrevem como se abordagens que destacam um desses métodos não auto-detectáveis de gerar auto-atribuições conflitassem com abordagens que destacam outros desses métodos não auto-detectáveis, e também como se abordagens gerais desse tipo conflitassem com abordagens de auto-detecção (seção 2.2 acima). Embora certamente existam conflitos entre diferentes teses destinados a servir como abordagens ''exaustivas'' do autoconhecimento, é implausível que qualquer uma ou mesmo algumas destas abordagens do autoconhecimento seja ''exaustiva''. Plausivelmente, todas as abordagens não auto-detectáveis descritas acima podem levar, pelo menos ocasionalmente, a auto-atribuições precisas. Entusiastas de outros dos modelos, ou de um modelo de auto-detecção, não precisam negar isso. Também parece difícil negar que, pelo menos ''às vezes'', chegamos a conclusões sobre nossas vidas mentais com base no tipo de inferência teórica ou auto-interpretação enfatizada por defensores da visão de auto/outra paridade (seção 2.1 acima). Finalmente, até mesmo os filósofos preocupados com visões fortes ou excessivamente simplistas de auto-escaneamento podem querer garantir que a mente possa fazer ''algum'' tipo de rastreamento de seus próprios estados presentes ou passados recentemente — por exemplo, quando rastreamos um fluxo de pensamentos passados recentemente que, presumivelmente, não podem (porque é passado) ser auto-atribuídos por métodos de auto-satisfação, auto-modelagem, auto-expressão ou transparência. | ||
Linha 198: | Linha 198: | ||
Se relatarmos nossas atitudes através da sua introspecção, então muitos dos surveys também são introspectivos, embora os psicólogos geralmente não os tenham descrito explicitamente como tal. Como nos métodos subjetivos vs objetivos na psicofísica, parece haver apenas uma pequena diferença entre perguntas subjetivas (“Você aprova a forma com que o Presidente está lidando com a guerra?”, “Você acha que a maconha deveria ser legalizada?”) e perguntas objetivas (“O Presidente lidou bem com a guerra?”, “A maconha deveria ser legalizada?”). Isso parece reforçar a observação na base da teoria de transparência (discutida na seção 2.3.4 acima) de que perguntas sobre a mente e perguntas sobre o mundo exterior muitas vezes exigem o mesmo tipo de reflexão. | Se relatarmos nossas atitudes através da sua introspecção, então muitos dos surveys também são introspectivos, embora os psicólogos geralmente não os tenham descrito explicitamente como tal. Como nos métodos subjetivos vs objetivos na psicofísica, parece haver apenas uma pequena diferença entre perguntas subjetivas (“Você aprova a forma com que o Presidente está lidando com a guerra?”, “Você acha que a maconha deveria ser legalizada?”) e perguntas objetivas (“O Presidente lidou bem com a guerra?”, “A maconha deveria ser legalizada?”). Isso parece reforçar a observação na base da teoria de transparência (discutida na seção 2.3.4 acima) de que perguntas sobre a mente e perguntas sobre o mundo exterior muitas vezes exigem o mesmo tipo de reflexão. | ||
== A precisão da | == A precisão da Introspecção == | ||
=== Variedades de Privilégio === | === Variedades de Privilégio === | ||
Linha 222: | Linha 222: | ||
Alegações de auto-sugestão (ao contrário das alegações de infalibilidade, indubitabilidade e incorrigibilidade) geralmente não são classificadas como alegações sobre "introspecção". Isso pode ser porque o conhecimento adquirido através da auto-sugestão parece ser constante e automático, violando assim a condição de esforço na introspecção (condição 6 na seção 1.1 acima). | Alegações de auto-sugestão (ao contrário das alegações de infalibilidade, indubitabilidade e incorrigibilidade) geralmente não são classificadas como alegações sobre "introspecção". Isso pode ser porque o conhecimento adquirido através da auto-sugestão parece ser constante e automático, violando assim a condição de esforço na introspecção (condição 6 na seção 1.1 acima). | ||
==== Garantias | ==== Garantias Mais Fracas ==== | ||
Vários filósofos defendem formas de privilégio em primeira pessoa que envolve algum tipo de garantia epistêmica — não apenas precisão condicional como uma questão de fato empírico, mas algo mais robusto do que isso — sem abranger infalibilidade, indubitabilidade, incorrigibilidade ou auto-sugestão nos sentidos descritos na Seção 4.1.1 acima. | Vários filósofos defendem formas de privilégio em primeira pessoa que envolve algum tipo de garantia epistêmica — não apenas precisão condicional como uma questão de fato empírico, mas algo mais robusto do que isso — sem abranger infalibilidade, indubitabilidade, incorrigibilidade ou auto-sugestão nos sentidos descritos na Seção 4.1.1 acima. | ||
Linha 235: | Linha 235: | ||
Argumentos transcendentais para a precisão de certos tipos de autoconhecimento oferecem um tipo diferente de garantia epistêmica — “argumentos transcendentais” sendo argumentos que assumem a existência de algum tipo de experiência ou capacidade e, em seguida, desenvolvem insights sobre as condições de fundo necessárias para essa experiência ou capacidade e, finalmente, concluem que essas condições de fundo devem, de fato, ser satisfeitas. Burge (1996; ver também Shoemaker 1988) argumenta que para ser capaz de “raciocinar criticamente” é preciso ser capaz de reconhecer as próprias atitudes, avaliar, identificar e rever as próprias crenças, desejos, compromissos, suposições, etc., onde esses estados mentais são conhecidos por serem os estados em que se encontram, com conhecimento de causa. Desde que somos (por suposição, em nome do argumento transcendental) capazes de raciocinar de forma crítica, devemos ter algum conhecimento de nossas atitudes. Bilgrami (2006) argumenta que só podemos ser responsabilizados por ações se conhecermos as crenças e desejos que “racionalizam” nossas ações; uma vez que, às vezes, podemos (por suposição) ser responsabilizados, devemos ocasionalmente conhecer nossas crenças e desejos. Wright (1989) argumenta que o “jogo de linguagem” de atribuir “estados intencionais”, tais como crença e desejo, a si mesmo e aos outros requer como condição de fundo que as auto-atribuições tenham autoridade especial dentro desse jogo. Dado que jogamos este jogo de linguagem exitosamente, devemos de fato ter a autoridade especial que assumimos e que outros nos concedem no contexto do jogo. | Argumentos transcendentais para a precisão de certos tipos de autoconhecimento oferecem um tipo diferente de garantia epistêmica — “argumentos transcendentais” sendo argumentos que assumem a existência de algum tipo de experiência ou capacidade e, em seguida, desenvolvem insights sobre as condições de fundo necessárias para essa experiência ou capacidade e, finalmente, concluem que essas condições de fundo devem, de fato, ser satisfeitas. Burge (1996; ver também Shoemaker 1988) argumenta que para ser capaz de “raciocinar criticamente” é preciso ser capaz de reconhecer as próprias atitudes, avaliar, identificar e rever as próprias crenças, desejos, compromissos, suposições, etc., onde esses estados mentais são conhecidos por serem os estados em que se encontram, com conhecimento de causa. Desde que somos (por suposição, em nome do argumento transcendental) capazes de raciocinar de forma crítica, devemos ter algum conhecimento de nossas atitudes. Bilgrami (2006) argumenta que só podemos ser responsabilizados por ações se conhecermos as crenças e desejos que “racionalizam” nossas ações; uma vez que, às vezes, podemos (por suposição) ser responsabilizados, devemos ocasionalmente conhecer nossas crenças e desejos. Wright (1989) argumenta que o “jogo de linguagem” de atribuir “estados intencionais”, tais como crença e desejo, a si mesmo e aos outros requer como condição de fundo que as auto-atribuições tenham autoridade especial dentro desse jogo. Dado que jogamos este jogo de linguagem exitosamente, devemos de fato ter a autoridade especial que assumimos e que outros nos concedem no contexto do jogo. | ||
==== Privilégio | ==== Privilégio Sem Garantia ==== | ||
Fazendo uma analogia a partir de Wright (1998), se é a sua vez com o caleidoscópio, você tem um tipo de perspectiva privilegiada das formas e cores que ele apresenta. Se outra pessoa na sala quiser saber qual a cor que domina, por exemplo, o caminho mais simples seria lhe perguntar. Mas esse tipo de acesso privilegiado vem sem nenhuma garantia. Pelo menos a princípio, você pode estar muito equivocado em relação às formas de queda. Você pode ficar deslumbrado por imagens que continuam a aparecer nos olhos após um período de exposição à imagem original, ou momentaneamente confuso, ou alucinado, ou (sem o seu conhecimento) daltônico. (Sim, as pessoas frequentemente não sabem que são daltônicas, um ponto enfatizado por Kornblith 1998). Também é, pelo menos a princípio, possível que outros saibam melhor do que você, talvez até mesmo sistematicamente, o que está acontecendo no caleidoscópio. Você pode pensar que a figura mostra uma simetria octogonal, mas o resto de nós, familiarizados com o modelo do caleidoscópio, podemos saber que a simetria é hexagonal. Um engenheiro brilhante pode inventar um detector de estado de caleidoscópios que pode revelar, de forma confiável, a forma, a cor e a posição dos fragmentos que caem pelo exterior. | Fazendo uma analogia a partir de Wright (1998), se é a sua vez com o caleidoscópio, você tem um tipo de perspectiva privilegiada das formas e cores que ele apresenta. Se outra pessoa na sala quiser saber qual a cor que domina, por exemplo, o caminho mais simples seria lhe perguntar. Mas esse tipo de acesso privilegiado vem sem nenhuma garantia. Pelo menos a princípio, você pode estar muito equivocado em relação às formas de queda. Você pode ficar deslumbrado por imagens que continuam a aparecer nos olhos após um período de exposição à imagem original, ou momentaneamente confuso, ou alucinado, ou (sem o seu conhecimento) daltônico. (Sim, as pessoas frequentemente não sabem que são daltônicas, um ponto enfatizado por Kornblith 1998). Também é, pelo menos a princípio, possível que outros saibam melhor do que você, talvez até mesmo sistematicamente, o que está acontecendo no caleidoscópio. Você pode pensar que a figura mostra uma simetria octogonal, mas o resto de nós, familiarizados com o modelo do caleidoscópio, podemos saber que a simetria é hexagonal. Um engenheiro brilhante pode inventar um detector de estado de caleidoscópios que pode revelar, de forma confiável, a forma, a cor e a posição dos fragmentos que caem pelo exterior. | ||
Wright levanta essa analogia para sugerir que o privilégio das pessoas, no que diz respeito a certos aspectos de suas vidas mentais, deve ser diferente do da pessoa com o caleidoscópio; mas outros filósofos, especialmente aqueles que abraçam teorias de auto-detecção da introspecção, devem achar a analogia pelo menos um pouco apta: O privilégio introspectivo é similar ao privilégio de ter uma perspectiva sensorial única e vantajosa sobre algo. Metaforicamente falando, somos os únicos que podemos olhar diretamente para nossas atitudes ou nosso fluxo de experiência, enquanto os outros devem confiar em nós ou em sinais externos. Menos metaforicamente, ao gerar julgamentos introspectivos (ou crenças ou conhecimento) sobre a própria mentalidade, emprega-se um processo de detecção não disponível a ninguém mais. Isso é, então, uma questão empírica do quão precisas são as declarações desse processo; mas partindo do pressuposto de que as declarações estão em uma ampla gama de condições, pelo menos relativamente precisas e mais precisas do que os julgamentos típicos que outras pessoas fazem sobre esses mesmos aspectos de sua mente, você tem uma perspectiva “privilegiada". Normalmente, os defensores dos modelos de auto-detecção da introspecção consideram o mecanismo ou o processo cognitivo, que geram julgamentos ou crenças introspectivas, a grosso modo, como altamente confiáveis, mas não infalíveis, e não imunes à correção por outras pessoas. (Armstrong 1968; Churchland 1988; Hill 1981, 2009; Lycan 1996; Nichols e Stich 2003; Goldman 2000, 2006). | Wright levanta essa analogia para sugerir que o privilégio das pessoas, no que diz respeito a certos aspectos de suas vidas mentais, deve ser diferente do da pessoa com o caleidoscópio; mas outros filósofos, especialmente aqueles que abraçam teorias de auto-detecção da introspecção, devem achar a analogia pelo menos um pouco apta: O privilégio introspectivo é similar ao privilégio de ter uma perspectiva sensorial única e vantajosa sobre algo. Metaforicamente falando, somos os únicos que podemos olhar diretamente para nossas atitudes ou nosso fluxo de experiência, enquanto os outros devem confiar em nós ou em sinais externos. Menos metaforicamente, ao gerar julgamentos introspectivos (ou crenças ou conhecimento) sobre a própria mentalidade, emprega-se um processo de detecção não disponível a ninguém mais. Isso é, então, uma questão empírica do quão precisas são as declarações desse processo; mas partindo do pressuposto de que as declarações estão em uma ampla gama de condições, pelo menos relativamente precisas e mais precisas do que os julgamentos típicos que outras pessoas fazem sobre esses mesmos aspectos de sua mente, você tem uma perspectiva “privilegiada". Normalmente, os defensores dos modelos de auto-detecção da introspecção consideram o mecanismo ou o processo cognitivo, que geram julgamentos ou crenças introspectivas, a grosso modo, como altamente confiáveis, mas não infalíveis, e não imunes à correção por outras pessoas. (Armstrong 1968; Churchland 1988; Hill 1981, 2009; Lycan 1996; Nichols e Stich 2003; Goldman 2000, 2006). | ||
=== Evidência empírica sobre a | === Evidência empírica sobre a Precisão da Introspecção === | ||
Os argumentos da seção anterior são ''a priori'' pelo menos no sentido amplo desse termo (o sentido dos psicólogos): Eles dependem de considerações conceituais gerais e da psicologia dos povos de gabinete, e não de pesquisas empíricas. A estes pode ser adicionado o argumento, devido a Boghossian (1989) de que o “externalismo” sobre o conteúdo de nossas atitudes (a visão de que nossas atitudes dependem constitutivamente não apenas do que está acontecendo internamente, mas também de fatos sobre nosso ambiente; Putnam 1975; Burge 1979) parece problematizar o autoconhecimento introspectivo dessas atitudes. Essa questão não será tratada aqui, pois é amplamente abordada nos verbetes sobre [https://plato.stanford.edu/entries/content-externalism/ externalismo sobre conteúdo mental] e [https://plato.stanford.edu/entries/self-knowledge-externalism/ externalismo e autoconhecimento]. | Os argumentos da seção anterior são ''a priori'' pelo menos no sentido amplo desse termo (o sentido dos psicólogos): Eles dependem de considerações conceituais gerais e da psicologia dos povos de gabinete, e não de pesquisas empíricas. A estes pode ser adicionado o argumento, devido a Boghossian (1989) de que o “externalismo” sobre o conteúdo de nossas atitudes (a visão de que nossas atitudes dependem constitutivamente não apenas do que está acontecendo internamente, mas também de fatos sobre nosso ambiente; Putnam 1975; Burge 1979) parece problematizar o autoconhecimento introspectivo dessas atitudes. Essa questão não será tratada aqui, pois é amplamente abordada nos verbetes sobre [https://plato.stanford.edu/entries/content-externalism/ externalismo sobre conteúdo mental] e [https://plato.stanford.edu/entries/self-knowledge-externalism/ externalismo e autoconhecimento]. | ||
edições