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Quando Maria Lúcia retorna de sua viagem de 15 dias aos Estados Unidos, ela cria um projeto chamado "Construindo nossa Cumplicidade", que durou 3 anos. esse projeto consistia em dinâmicas de grupo com encontros quinzenais, com o intuito de que as mulheres que participassem pudessem compartilhar suas vivências e ter acompanhamento psicológico. | Quando Maria Lúcia retorna de sua viagem de 15 dias aos Estados Unidos, ela cria um projeto chamado "Construindo nossa Cumplicidade", que durou 3 anos. esse projeto consistia em dinâmicas de grupo com encontros quinzenais, com o intuito de que as mulheres que participassem pudessem compartilhar suas vivências e ter acompanhamento psicológico. | ||
No final do ano de 1994, saindo do consultório de sua supervisora de bioenergética, Maria Lúcia encontra uma psicóloga chamada Marilza de Souza e conversam sobre a questão da psicologia negra. A partir desse momento, ambas começaram a pensar na construção de uma clínica voltada para o atendimento de pessoas negras. Depois de algum tempo amadurecendo a ideia, elas, juntamente com Ana Maria e Silvia de Souza, fundaram em setembro de 1995 o | No final do ano de 1994, saindo do consultório de sua supervisora de bioenergética, Maria Lúcia encontra uma psicóloga chamada Marilza de Souza e conversam sobre a questão da psicologia negra. A partir desse momento, ambas começaram a pensar na construção de uma clínica voltada para o atendimento de pessoas negras. Depois de algum tempo amadurecendo a ideia, elas, juntamente com Ana Maria e Silvia de Souza, fundaram em setembro de 1995 o Instituto AMMA- Psique e Negritude com o objetivo de pensar o racismo e a psicologia. Lucinha foi presidente do Instituto no período de 2008 a 2011 e depois de 2016 a 2019. No final de 2019, deixou a presidência e se tornou conselheira do Instituto. | ||
===Atualmente=== | ===Atualmente=== | ||
Atualmente, Maria Lúcia continua trabalhando como psicanalista na área clínica, é conselheira do | Atualmente, Maria Lúcia continua trabalhando como psicanalista na área clínica, é conselheira do Instituto AMMA- Psique e Negritude e coordenadora da Articulação Nacional de Psicólogas(os) Negras(os) e Pesquisadoras(es) do Brasil. | ||
==Contribuições== | ==Contribuições== | ||
Maria Lúcia é psicóloga, psicanalista e psicoterapeuta, especialista em trabalhos com recorte de gênero | Maria Lúcia é psicóloga, psicanalista e psicoterapeuta, especialista em trabalhos com recorte de gênero, raça, questão da negritude e do racismo dentro da psicologia. Todo seu trabalho é voltado para um debate crítico da visão psicanalítica sobre o racismo, vidas negras em meio ao social, sentimentos e vontades dessas pessoas. Assim, sua obra tem como objetivo ajudar pessoas negras a se encaixarem neste mundo, levando em conta não só suas vivências, mas também o quanto causos como o preconceito racial podem interferir em seus pensamentos ou visões sobre si mesmos. | ||
Sua proposta de trabalho é de grande importância para o Brasil, o segundo país com mais negros fora do continente africano, tendo mais de 52% da população racializada e, mesmo assim, ainda possui um sistema e padrões que excluem constantemente a participação dessas pessoas. | |||
A principal contribuição de Maria | A principal contribuição de Maria Lúcia dentro da psicologia se dá por meio da fundação do Instituto AMMA - Psique e Negritude, que desenvolve estratégias para identificação, elaboração e desconstrução do racismo e seus efeitos psicossociais. | ||
Além do trabalho no instituto Maria | Além do trabalho no instituto, Maria Lúcia da Silva desenvolveu alguns debates, pesquisas, seminários, oficinas temáticas e cursos. Como consta em seu currículo Lattes, é possível resgatar o nome de alguns projetos, como por exemplo: | ||
*'''Planejamento e coordenação de projetos institucionais com foco psicossocial.''' | *'''Planejamento e coordenação de projetos institucionais com foco psicossocial.''' | ||
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*'''Elaboração e facilitação de Oficinas de Identificação e abordagem do racismo e sexismo institucional:''' | *'''Elaboração e facilitação de Oficinas de Identificação e abordagem do racismo e sexismo institucional:''' | ||
Equipe do Plano Juventude Viva, da Secretaria Nacional da Juventude, em Brasília e Rio de Janeiro; | |||
Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial/Brasilia; | Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial/Brasilia; | ||
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Elas Fundo Social de Investimento. Acompanhamento Projeto “Elas em Movimento”. Grupos de Mulheres Empreendedoras, em territórios pacificados: Cidade de Deus, Providência, Borel e Batan/RJ; | Elas Fundo Social de Investimento. Acompanhamento Projeto “Elas em Movimento”. Grupos de Mulheres Empreendedoras, em territórios pacificados: Cidade de Deus, Providência, Borel e Batan/RJ; | ||
==Ideias== | ==Ideias== | ||
Para a Conselheira do | Para a Conselheira do Instituto AMMA, Maria Lúcia da Silva, as discussões sobre raça e racismo no Brasil muitas vezes são superficiais porque em pesquisas que apontam sobre os números raciais, a maioria diz existir o preconceito, mas ninguém se assume no lugar de preconceituoso. Para Maria, um debate aberto envolvendo racializados e não racializados é extremamente necessário para a evolução do pensamento humano. | ||
Além disso, pessoas de pele preta são desvalorizadas e intituladas como escória da sociedade e nem sempre sua classe social (sendo um indivíduo negro mais rico) ajudaria muito em desvincular esse título. Maria Lucia critica a falta de debates em volta do assunto pois, ao colocar o preconceito como tabu, deixamos de lado questões como essas. Como fica a psique de um ser sobrevivente ao preconceito, mas que não pode expor e anunciar suas vivências? A teoria de Maria Lúcia está voltada para este questionamento. | |||
Maria Lúcia possui participação em três obras publicadas. | Maria Lúcia possui participação em três obras publicadas. Em um de seus livros, a autora fala sobre como lidar com as marcas do preconceito racial, como principalmente cuidar da saúde psíquica no contexto brasileiro. Em 2017, publicou "O racismo e o Negro No Brasil- Questões para a Psicanalise", onde a mesma foi a organizadora, e busca mostrar que no Brasil a dificuldade de perceber a dimensão da questão racial trava o processo de construção e constituição do país como nação. | ||
A psicóloga faz o recorte de raça e gênero e | A psicóloga faz o recorte de raça e gênero e afirma que ele é necessário para entender os processos individuais e coletivos da sociedade, para que se possa entender cada subjetividade e trabalhá-las por meio da psicanálise. Além disso, tem o objetivo de pensar a sociedade e refletir sobre o racismo, possibilitando pensar como esse fenômeno afeta o indivíduo, logo, Ajuda a pensar no sujeito atravessado pelo racismo. | ||
Maria | Maria Lúcia da Silva leva em conta a composição da população brasileira e afirma que os psicólogos devem conhecer a história do Brasil, saber com o que estão lidando e quais são os processos de construção do país, sendo necessário admitir a história de escravidão e preconceituosa para que possam construir uma psicologia que atenda bem as necessidades de cada um da melhor maneira possível. Ela afirma que olhar o país mestiço com um olhar europeu é um equívoco. Pensar a psicanálise é pensar os lugares de poder que ela ocupa. | ||
==Seguidores== | ==Seguidores== | ||
O [https://www.geledes.org.br/ Instituto Geledés] e o AMMA são idealizados em parte pela Maria Lúcia e um grupo de psicólogos que juntas visam o debate e a discussão sobre Psique e Negritude. Geledés é um instituto conhecido pelos temas trazidos em textos e reportagens. Para a construção desses trabalhos foram necessárias algumas pessoas que acreditavam nas ideias e apoiavam '' | O [https://www.geledes.org.br/ Instituto Geledés] e o AMMA são idealizados em parte pela Maria Lúcia e por um grupo de psicólogos que, juntas, visam o debate e a discussão sobre Psique e Negritude. Geledés é um instituto conhecido pelos temas trazidos em textos e reportagens. Para a construção desses trabalhos, foram necessárias algumas pessoas que acreditavam nas ideias e apoiavam Lucinha''.'' | ||
Como Jussara Dias, uma psicóloga especialista em psicodrama pelo | Como Jussara Dias, uma psicóloga especialista em psicodrama pelo Centre International de Psychothérapie Expressive em Quebec. Jussara é uma Co-fundadora do AMMA. | ||
Como a psicóloga clínica e psicoterapeuta corporal em Análise Bioenergética e biossíntese, a Maria Cristina Francisco, importante integrante do instituto. | |||
Como a doutora Clélia Prestes, que possui estágio doutoral no Departamento de Estudos Africanos e Afro-Diaspóricos, e é integrante e palestrante do grupo. | |||
Como Marcio Farias, psicólogo pela universidade presbiteriana Mackenzie e Professor convidado pela Celacc ECA/USP, outro participante do Instituto AMMA. | |||
Importante membro do Grupo de Pesquisa do AMMA, Marcos Amaral é psicólogo e doutorando em Psicologia da Educação pela PUC-SP trabalha em “A Dimensão Subjetiva da Desigualdade Social: suas diversas expressões” na pesquisa. | Importante membro do Grupo de Pesquisa do AMMA, Marcos Amaral é psicólogo e doutorando em Psicologia da Educação pela PUC-SP trabalha em “A Dimensão Subjetiva da Desigualdade Social: suas diversas expressões” na pesquisa. | ||
==Obras== | ==Obras== | ||
Das muitas obras que levam o nome de Maria | Das muitas obras que levam o nome de Maria Lúcia da Silva, esses são os livros principais que a psicóloga contribuiu para a escrita, lançamento e organização dos mesmos. Além dos três livros, há no site do Instituto AMMA uma biblioteca repleta de outras obras. | ||
Psique e Negritude – Os Efeitos Psicossociais do Racismo, 2008. | Psique e Negritude – Os Efeitos Psicossociais do Racismo, 2008. | ||
Linha 88: | Linha 88: | ||
Concurso Desafio de Impacto Social Google|Brasil, 2014 -Prêmio recebido pelo [https://www.geledes.org.br/ Instituto Geledés]. | Concurso Desafio de Impacto Social Google|Brasil, 2014 -Prêmio recebido pelo [https://www.geledes.org.br/ Instituto Geledés]. | ||
==Relações com outros personagens== | ==Relações com outros personagens== | ||
A abordagem escolhida por | A abordagem escolhida por "Lucinha” é a psicanálise de Sigmund Freud, onde é apresentado ferramentas para analisar e entender alguns fenômenos sociais como o racismo. | ||
Tendo como base toda produção freudiana e conceitos de Tânia Corghi Veríssimo que mostram a dificuldade em discutir questões raciais no país citando termos como traumas e outros relacionados. Se tratando de vivências não só em debates, mas também no atendimento clínico onde a psicóloga Maria Lúcia sempre enfatiza a necessidade de falar sobre e levar em conta cada fenômeno da sociedade. | Tendo como base toda produção freudiana e conceitos de Tânia Corghi Veríssimo, que mostram a dificuldade em discutir questões raciais no país citando termos como traumas e outros relacionados. Se tratando de vivências não só em debates, mas também no atendimento clínico onde a psicóloga Maria Lúcia sempre enfatiza a necessidade de falar sobre e levar em conta cada fenômeno da sociedade. | ||
Levando em conta sempre o lugar de fala do paciente, do coletivo onde são tratados as dores e angústias que são capazes de prender um indivíduo em busca de compreender as necessidades de cada um em meio a sociedade. | Levando em conta sempre o lugar de fala do paciente, do coletivo onde são tratados as dores e angústias que são capazes de prender um indivíduo em busca de compreender as necessidades de cada um em meio a sociedade. | ||
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==Cronologia Biográfica== | ==Cronologia Biográfica== | ||
15 de abril de 1949 - Nascimento | 15 de abril de 1949 - Nascimento; | ||
1976- Colaboração na reabertura do Centro de Cultura e Arte Negra | 1976 - Colaboração na reabertura do Centro de Cultura e Arte Negra; | ||
1980 - Ingresso na Faculdade Paulistana de Ciências e Letras | 1980 - Ingresso na Faculdade Paulistana de Ciências e Letras; | ||
1985- Conclusão do Curso de Psicologia na Faculdade Paulistana de Ciências e Letras | 1985- Conclusão do Curso de Psicologia na Faculdade Paulistana de Ciências e Letras; | ||
30 de setembro de 1988- Criação do | 30 de setembro de 1988- Criação do Instituto Geledés; | ||
Entre 1988 - 1994- Foi presidente do | Entre 1988 - 1994- Foi presidente do Instituto Geledés; | ||
1989- Criação do Projeto Construindo Nossa Cumplicidade | 1989- Criação do Projeto Construindo Nossa Cumplicidade; | ||
1995- Fundação do | 1995 - Fundação do Instituto AMMA- Psique e Negritude; | ||
Presidenta do | 2008-2011 - Presidenta do Instituto AMMA- Psique e Negritude; | ||
Novembro de 2019- Transição do lugar de Diretora-Presidente para conselheira do [http://www.ammapsique.org.br/ Instituto AMMA- Psique e Negritude] | 2016-2019 - Segunda vez presidenta do Instituto AMMA - Psique e Negritude; | ||
Novembro de 2019- Transição do lugar de Diretora-Presidente para conselheira do [http://www.ammapsique.org.br/ Instituto AMMA- Psique e Negritude]. | |||
==Referências== | ==Referências== | ||
# KHOURI, Magda Guimarães Resenha: O racismo e o negro no Brasil Questões para a psicanálise '''Revista Brasileira de Psicanálise.''' Vol. 53, n. 1, out. 2019. | # KHOURI, Magda Guimarães. Resenha: O racismo e o negro no Brasil Questões para a psicanálise '''Revista Brasileira de Psicanálise.''' Vol. 53, n. 1, out. 2019. | ||
# POMPERMAIER. Paulo Henrique. [https://www.geledes.org.br/tag/maria-lucia-da-silva/ Como a vivência cotidiana do racismo pode se converter em traumas: Maria Lucia da Silva]. 2017. | # POMPERMAIER. Paulo Henrique. [https://www.geledes.org.br/tag/maria-lucia-da-silva/ Como a vivência cotidiana do racismo pode se converter em traumas: Maria Lucia da Silva]. 2017. | ||
# POMPEU, Fernanda. [http://fernandapompeu.com.br/as-caras-da-violencia/?fbclid=IwAR2HS9B2SxeujG5dyz4xigqHacgwCvFoR5Zl320mRhmOe2Td5yITLBPvgXo As caras da violência]. | # POMPEU, Fernanda. [http://fernandapompeu.com.br/as-caras-da-violencia/?fbclid=IwAR2HS9B2SxeujG5dyz4xigqHacgwCvFoR5Zl320mRhmOe2Td5yITLBPvgXo As caras da violência]. | ||
# SILVA, Maria Lucia da. '''Histórico Maria Lucia da Silva'''. Mensagem recebida por: <thatyelipolo@id,uff.br>. em: 01 dez. 2020. | # SILVA, Maria Lucia da. '''Histórico Maria Lucia da Silva'''. Mensagem recebida por: <thatyelipolo@id,uff.br>. em: 01 dez. 2020. | ||
# SILVA, Maria Lúcia da | # SILVA, Maria Lúcia da. [https://www.youtube.com/watch?v=FXwoTBYE88c&t=419s Psique e Negritude]. [S.I]: Tupi Produções, 2019. Son., color. '''Série Psicanalista que falam'''. | ||
== Ver também == | |||
* [[Sigmund Freud]] | |||
== Ligações externas == | |||
* [http://www.ammapsique.org.br/ Instituto AMMA - Psique e Negritude] | |||
* [https://www.geledes.org.br/ Instituto Geledés] | |||
[[Categoria:Personagens]] | [[Categoria:Personagens]] |
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