História da Psicologia no Brasil, conforme Regina Helena de Freitas Campos: mudanças entre as edições

Criação da seção "Notas" e pequenas correções em torno das citações diretas
(Formatação das citações diretas longas)
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== Introdução — História da Psicologia e o Contexto Cultural ==
== Introdução — História da Psicologia e o Contexto Cultural ==
O conhecimento sobre a psique humana tem longa data (Robinson, 2013). As sociedades humanas são compostas por pessoas dotadas de reflexividade (Morawski, 2020), logo, refletem sobre si mesmas, suas vidas, pensamentos, sentimentos e ações, elaborando suas próprias concepções sobre a natureza e práticas humanas. A psicologia enquanto campo do conhecimento pode ser vista como<blockquote>“um conjunto de teorias e práticas enraizadas socialmente que tanto reificam quanto refletem os contextos de onde se originam e para onde retornam” (Pickren & Rutherford, 2010, p. xvii). </blockquote>Essas ideias e práticas ligadas à dimensão psicológica da existência humana podem ser, de maneira geral, incluídas dentro do campo de estudos da história das ideias psicológicas (Massimi, 2020). Elas também podem ser consideradas como parte da história social, quando vistas de uma perspectiva historiográfica externalista (Lakatos, 1989), focando em suas relações com o contexto social e cultural nas quais são produzidas ou apropriadas, em um processo denominado “indigenização”, quando são combinadas com ideias e demandas locais (Danziger, 2006; Kelley, 2002). Além disso, o conhecimento produzido por seres humanos sobre si mesmos pode influenciar a maneira como vivem e interpretam suas próprias ações em sociedade, um processo descrito por Hacking (1999) como “efeito looping”. Nesse sentido, a construção do conhecimento psicológico, compreendido como o conjunto de visões e interpretações dos pensamentos, sentimentos e ações humanas, está profundamente enraizado no contexto social e cultural onde é inventado, difundido e apropriado através da interação humana. Por esse motivo, o conhecimento psicológico está fortemente ligado à sua realidade geográfica e histórica.
O conhecimento sobre a psique humana tem longa data (Robinson, 2013). As sociedades humanas são compostas por pessoas dotadas de reflexividade (Morawski, 2020), logo, refletem sobre si mesmas, suas vidas, pensamentos, sentimentos e ações, elaborando suas próprias concepções sobre a natureza e práticas humanas. A psicologia enquanto campo do conhecimento pode ser vista como:<blockquote>“um conjunto de teorias e práticas enraizadas socialmente que tanto reificam quanto refletem os contextos de onde se originam e para onde retornam” (Pickren & Rutherford, 2010, p. xvii). </blockquote>Essas ideias e práticas ligadas à dimensão psicológica da existência humana podem ser, de maneira geral, incluídas dentro do campo de estudos da história das ideias psicológicas (Massimi, 2020). Elas também podem ser consideradas como parte da história social, quando vistas de uma perspectiva historiográfica externalista (Lakatos, 1989), focando em suas relações com o contexto social e cultural nas quais são produzidas ou apropriadas, em um processo denominado “indigenização”, quando são combinadas com ideias e demandas locais (Danziger, 2006; Kelley, 2002). Além disso, o conhecimento produzido por seres humanos sobre si mesmos pode influenciar a maneira como vivem e interpretam suas próprias ações em sociedade, um processo descrito por Hacking (1999) como “efeito looping”. Nesse sentido, a construção do conhecimento psicológico, compreendido como o conjunto de visões e interpretações dos pensamentos, sentimentos e ações humanas, está profundamente enraizado no contexto social e cultural onde é inventado, difundido e apropriado através da interação humana. Por esse motivo, o conhecimento psicológico está fortemente ligado à sua realidade geográfica e histórica.


Neste artigo, a história da psicologia no Brasil é abordada. Aqui, entende-se que a palavra “psicologia” se refere à história de um campo de conhecimentos culturais, filosóficos, científicos e profissionais, e de práticas sobre pensamentos, sentimentos e ações humanas, desenvolvidas no país desde o início da colonização portuguesa em 1500.
Neste artigo, a história da psicologia no Brasil é abordada. Aqui, entende-se que a palavra “psicologia” se refere à história de um campo de conhecimentos culturais, filosóficos, científicos e profissionais, e de práticas sobre pensamentos, sentimentos e ações humanas, desenvolvidas no país desde o início da colonização portuguesa em 1500.
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== Século XIX — O Período Imperial e a Inserção da Cultura Científica no Brasil ==
== Século XIX — O Período Imperial e a Inserção da Cultura Científica no Brasil ==
Para entender como a ciência moderna chegou ao Brasil, é necessário compreender as transformações que ocorreram no sistema educacional português e brasileiro ao final do século XVIII. Naquela época, uma profunda reforma educacional foi iniciada em Portugal, na tentativa de superar os ensinamentos ministrados pelos jesuítas e outras congregações, e promover <blockquote>“o desenvolvimento da cultura geral, o incremento das indústrias, o progresso das artes, o progresso das letras, o progresso científico, a vitalidade do comércio interno, a riqueza do comércio externo, a paz política, a elevação do nível de riqueza e bem-estar” (Pombal, citado por Saviani, 2010, p. 81). </blockquote>Essencialmente, o projeto da Coroa Portuguesa (que incluía o Brasil, sua maior e mais importante colônia) era claramente promover a modernização da sociedade, por meio de reformas educacionais que tornariam o ensino mais prático e compatível com a ciência moderna. A reforma social também incluiu a extinção dos privilégios da nobreza, a expulsão dos jesuítas do território português e a união da igreja ao estado (tornando-a independente de Roma). As escolas jesuítas, tanto na metrópole como nas colônias, foram fechadas, substituindo seu ensino ministrado às elites por um sistema de “aulas régias” mantido pela monarquia. Nesse sistema, o qual levou alguns anos para ser estabelecido em todo o império, os professores pagos pela Coroa Portuguesa deveriam ensinar a leitura, escrita, aritmética, noções do latim, grego, retórica, e filosofia em escolas chamadas “inferiores” ou em suas casas. Ao mesmo tempo, uma ampla reforma no ensino universitário foi levada a cabo, aplicada na Universidade de Coimbra (a mais importante do Império Português, fundada em 1290) e em outras instituições de ensino superior existentes em Portugal.
Para entender como a ciência moderna chegou ao Brasil, é necessário compreender as transformações que ocorreram no sistema educacional português e brasileiro ao final do século XVIII. Naquela época, uma profunda reforma educacional foi iniciada em Portugal, na tentativa de superar os ensinamentos ministrados pelos jesuítas e outras congregações, e promover: <blockquote>“o desenvolvimento da cultura geral, o incremento das indústrias, o progresso das artes, o progresso das letras, o progresso científico, a vitalidade do comércio interno, a riqueza do comércio externo, a paz política, a elevação do nível de riqueza e bem-estar” (Pombal, citado por Saviani, 2010, p. 81). </blockquote>Essencialmente, o projeto da Coroa Portuguesa (que incluía o Brasil, sua maior e mais importante colônia) era claramente promover a modernização da sociedade, por meio de reformas educacionais que tornariam o ensino mais prático e compatível com a ciência moderna. A reforma social também incluiu a extinção dos privilégios da nobreza, a expulsão dos jesuítas do território português e a união da igreja ao estado (tornando-a independente de Roma). As escolas jesuítas, tanto na metrópole como nas colônias, foram fechadas, substituindo seu ensino ministrado às elites por um sistema de “aulas régias” mantido pela monarquia. Nesse sistema, o qual levou alguns anos para ser estabelecido em todo o império, os professores pagos pela Coroa Portuguesa deveriam ensinar a leitura, escrita, aritmética, noções do latim, grego, retórica, e filosofia em escolas chamadas “inferiores” ou em suas casas. Ao mesmo tempo, uma ampla reforma no ensino universitário foi levada a cabo, aplicada na Universidade de Coimbra (a mais importante do Império Português, fundada em 1290) e em outras instituições de ensino superior existentes em Portugal.


A criação dessas primeiras escolas profissionais no Brasil foi uma das consequências da transferência da capital do Império Português ao Rio de Janeiro em 1808, e a instituição, em 1816, do Reino Unido, o qual congregou os territórios de Portugal, Brasil, e das outras colônias portuguesas na África e Ásia. A transferência da corte, resultante da invasão de Napoleão à Península Ibérica, impulsionou a criação, em 1808, da Escola de Cirurgia da Bahia, e da Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica do Rio de Janeiro. Ambas foram fundadas junto aos hospitais militares reais nessas cidades, os maiores centros urbanos brasileiros da época.
A criação dessas primeiras escolas profissionais no Brasil foi uma das consequências da transferência da capital do Império Português ao Rio de Janeiro em 1808, e a instituição, em 1816, do Reino Unido, o qual congregou os territórios de Portugal, Brasil, e das outras colônias portuguesas na África e Ásia. A transferência da corte, resultante da invasão de Napoleão à Península Ibérica, impulsionou a criação, em 1808, da Escola de Cirurgia da Bahia, e da Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica do Rio de Janeiro. Ambas foram fundadas junto aos hospitais militares reais nessas cidades, os maiores centros urbanos brasileiros da época.
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Um documento interessante que fornece evidências do nível de informação sobre as tendências europeias na psicologia científica, que circulou no Brasil em meados do século XIX, é o livro publicado por Dr. Eduardo Ferreira França (1809-1857) na Bahia, em 1854.  França graduou-se com um diploma de medicina na Universidade de Paris em 1834, e tornou-se professor na Faculdade de Medicina da Bahia. Enquanto foi estudante em Paris, ele estudou as obras do filósofo francês Étienne Condillac (1714–1780), que defendia que todas as ideias provêm das sensações e propôs um método para analisar as ideias, reduzindo-as aos seus elementos mais simples. Estudou também as obras de Maine de Biran (1766-1824), um filósofo espiritualista que propôs a análise da consciência através da introspecção; os dois autores fizeram parte da história da psicologia na França (Nicolas, 2001).
Um documento interessante que fornece evidências do nível de informação sobre as tendências europeias na psicologia científica, que circulou no Brasil em meados do século XIX, é o livro publicado por Dr. Eduardo Ferreira França (1809-1857) na Bahia, em 1854.  França graduou-se com um diploma de medicina na Universidade de Paris em 1834, e tornou-se professor na Faculdade de Medicina da Bahia. Enquanto foi estudante em Paris, ele estudou as obras do filósofo francês Étienne Condillac (1714–1780), que defendia que todas as ideias provêm das sensações e propôs um método para analisar as ideias, reduzindo-as aos seus elementos mais simples. Estudou também as obras de Maine de Biran (1766-1824), um filósofo espiritualista que propôs a análise da consciência através da introspecção; os dois autores fizeram parte da história da psicologia na França (Nicolas, 2001).


A principal obra de França, ''Investigações em Psychologia'', publicada em 1973, é apresentada em dois volumes, um com 284 páginas e outro com 424 páginas. Considerado por Rocha (2004) um dos primeiros livros escritos nas Américas que contém a palavra “Psicologia” no título, a obra está dividida em seis seções, abordando os seguintes assuntos: (a) a consciência e suas faculdades; (b) modificabilidade (sensibilidade, afetividade); (c) motividade (movimentos); (d) faculdades intelectuais I (percepção interna e externa, relações entre suas qualidades e hábitos); (e) faculdades intelectuais II (sensibilidade cerebral, sono, sonhos, consciência, razão, memória, imaginação, abstração, composição, generalização, juízo, faculdade do futuro, faculdade da fé, ideia), instintos (físicos, intelectuais, sociais e morais); e (f) vontade. O autor refere-se à psicologia como uma ciência moral, e postula que <blockquote>“há no homem duas ordens bem distintas de fenômenos, os fisiológicos e os psicológicos; que a separação entre a fisiologia e a psicologia firma-se em uma base sólida. (. . .) Estas duas ciências esclarecem-se mutuamente, mas não deixam por isso de ser distintas e hoje não é lícito confundir a psicologia com a fisiologia sem mostrar que se desconhece o que é o homem” (França, 1973, p. 50). </blockquote>Nesse livro, escrito em 1854, França estava certamente anunciando o interesse pela psicologia científica que seria observado nos anos posteriores.
A principal obra de França, ''Investigações em Psychologia'', publicada em 1973, é apresentada em dois volumes, um com 284 páginas e outro com 424 páginas. Considerado por Rocha (2004) um dos primeiros livros escritos nas Américas que contém a palavra “Psicologia” no título, a obra está dividida em seis seções, abordando os seguintes assuntos: (a) a consciência e suas faculdades; (b) modificabilidade (sensibilidade, afetividade); (c) motividade (movimentos); (d) faculdades intelectuais I (percepção interna e externa, relações entre suas qualidades e hábitos); (e) faculdades intelectuais II (sensibilidade cerebral, sono, sonhos, consciência, razão, memória, imaginação, abstração, composição, generalização, juízo, faculdade do futuro, faculdade da fé, ideia), instintos (físicos, intelectuais, sociais e morais); e (f) vontade. O autor refere-se à psicologia como uma ciência moral, e postula que: <blockquote>“há no homem duas ordens bem distintas de fenômenos, os fisiológicos e os psicológicos; que a separação entre a fisiologia e a psicologia firma-se em uma base sólida. (. . .) Estas duas ciências esclarecem-se mutuamente, mas não deixam por isso de ser distintas e hoje não é lícito confundir a psicologia com a fisiologia sem mostrar que se desconhece o que é o homem” (França, 1973, p. 50). </blockquote>Nesse livro, escrito em 1854, França estava certamente anunciando o interesse pela psicologia científica que seria observado nos anos posteriores.


Ao final do século XIX, a influência do positivismo fortaleceu o movimento pela modernização do país. Para os intelectuais e políticos, influenciados pelo darwinismo social, “a forte presença de descendentes africanos e da miscigenação se tornou a principal justificativa para o atraso do país. A transformação da diferença biológica em justificativa da desigualdade social — como proposta pela teoria da degeneração na psiquiatria francesa — levou à conclusão de que, com o tipo de população que habitava o Brasil, o objetivo de construir uma nação civilizada como as da Europa era praticamente impossível” (Facchinetti & Jacó-Vilela, 2019, p. 3). Entretanto, nos próximos anos, novas medidas seriam tomadas pelos intelectuais brasileiros na tentativa de superar os problemas sociais do país.
Ao final do século XIX, a influência do positivismo fortaleceu o movimento pela modernização do país. Para os intelectuais e políticos, influenciados pelo darwinismo social, “a forte presença de descendentes africanos e da miscigenação se tornou a principal justificativa para o atraso do país. A transformação da diferença biológica em justificativa da desigualdade social — como proposta pela teoria da degeneração na psiquiatria francesa — levou à conclusão de que, com o tipo de população que habitava o Brasil, o objetivo de construir uma nação civilizada como as da Europa era praticamente impossível” (Facchinetti & Jacó-Vilela, 2019, p. 3). Entretanto, nos próximos anos, novas medidas seriam tomadas pelos intelectuais brasileiros na tentativa de superar os problemas sociais do país.
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Durante as décadas de 1920 e 1930, Lourenço Filho se tornou um dos líderes mais importantes do movimento da Escola Nova no Brasil. Em 1929, ele publicou um clássico estudo sobre a conexão desse movimento com as ciências da educação, o livro intitulado ''Introdução ao estudo da Escola Nova'', revisto e reimpresso 14 vezes (Lourenço Filho, 2002). Nesse livro, a psicologia científica é apresentada como um conhecimento essencial para os educadores, suas contribuições sendo: o estudo das variações psicológicas com a idade, a diferenciação entre as características psicológicas de crianças e adultos, a descrição das semelhanças humanas e das diferenças individuais e a elaboração de um modelo genético-funcional para explicar o desenvolvimento psicológico.  
Durante as décadas de 1920 e 1930, Lourenço Filho se tornou um dos líderes mais importantes do movimento da Escola Nova no Brasil. Em 1929, ele publicou um clássico estudo sobre a conexão desse movimento com as ciências da educação, o livro intitulado ''Introdução ao estudo da Escola Nova'', revisto e reimpresso 14 vezes (Lourenço Filho, 2002). Nesse livro, a psicologia científica é apresentada como um conhecimento essencial para os educadores, suas contribuições sendo: o estudo das variações psicológicas com a idade, a diferenciação entre as características psicológicas de crianças e adultos, a descrição das semelhanças humanas e das diferenças individuais e a elaboração de um modelo genético-funcional para explicar o desenvolvimento psicológico.  


O interesse em aspectos específicos da cultura brasileira foi também despertado entre os médicos que receberam estudantes brasileiros na França. Entre 1901 e 1905, médicos franceses visitaram o Brasil para estudar as doenças tropicais. O interesse do governo francês em fortalecer a representatividade da cultura francesa na América Latina levou à criação, em 1908, do “Agrupamento de universidades e grandes escolas na França para relações com a América Latina”, dirigido pelo psiquiatra Georges Dumas, catedrático de psicologia no Collège de France, professor na Sorbonne desde 1902, e um dos fundadores da Sociedade Francesa de Psicologia. Entre 1908 e 1947, essa associação de instituições de ensino superior promoveu a realização de várias conferências no Brasil ministradas por professores universitários franceses envolvidos com a área da psicologia, entre eles os psiquiatras Henri Wallon (1879–1962), Pierre Janet (1859–1947), Théodore Simon (1873–1961) e Henri Piéron (1881–1964) (Melo & Campos, 2014). Wallon e Janet eram professores de psiquiatria na Sorbonne, enquanto Simon e Piéron eram especialistas em psicologia aplicada e testes mentais. Simon foi o parceiro de Alfred Binet na invenção dos testes de inteligência, e se tornou o diretor do Laboratório de Psicologia na Sorbonne após a morte de Binet, em 1911. Piéron foi o fundador do Instituto de Psicologia de Paris em 1920, e em 1928 criou o Instituto Nacional de Orientação Profissional na França, tendo sido um grande defensor da psicologia aplicada (Melo & Campos, 2014; Reuchlin, 1999).  
O interesse em aspectos específicos da cultura brasileira foi também despertado entre os médicos que receberam estudantes brasileiros na França. Entre 1901 e 1905, médicos franceses visitaram o Brasil para estudar as doenças tropicais. O interesse do governo francês em fortalecer a representatividade da cultura francesa na América Latina levou à criação, em 1908, do “Agrupamento de universidades e grandes escolas na França para relações com a América Latina”<sup>1</sup>, dirigido pelo psiquiatra Georges Dumas, catedrático de psicologia no Collège de France, professor na Sorbonne desde 1902, e um dos fundadores da Sociedade Francesa de Psicologia. Entre 1908 e 1947, essa associação de instituições de ensino superior promoveu a realização de várias conferências no Brasil ministradas por professores universitários franceses envolvidos com a área da psicologia, entre eles os psiquiatras Henri Wallon (1879–1962), Pierre Janet (1859–1947), Théodore Simon (1873–1961) e Henri Piéron (1881–1964) (Melo & Campos, 2014). Wallon e Janet eram professores de psiquiatria na Sorbonne, enquanto Simon e Piéron eram especialistas em psicologia aplicada e testes mentais. Simon foi o parceiro de Alfred Binet na invenção dos testes de inteligência, e se tornou o diretor do Laboratório de Psicologia na Sorbonne após a morte de Binet, em 1911. Piéron foi o fundador do Instituto de Psicologia de Paris em 1920, e em 1928 criou o Instituto Nacional de Orientação Profissional na França, tendo sido um grande defensor da psicologia aplicada (Melo & Campos, 2014; Reuchlin, 1999).  


As conferências de Georges Dumas abordavam principalmente o campo da psicologia patológica, com explicações científicas para os fenômenos místicos do espiritismo e das possessões observadas nas religiões populares do Brasil, comparando-as às manifestações patológicas observadas na França da Idade Média. Psiquiatras brasileiros estavam interessados pelos estudos de Dumas por conta de suas experiências, com dificuldades parecidas, entre os seguidores do espiritismo de Allan Kardec (bastante popular no Brasil naquela época) e das religiões populares de origem africana (Melo, 2016). O Código Penal Brasileiro de 1890 havia tentado proibir “a prática do espiritismo, magia e seus sortilégios” (...) que afetavam a “credulidade” das pessoas, com prisão e multas, na tentativa de civilizar a população urbana e libertá-la das superstições místicas e fetichistas (Brasil, 1890). Ao mesmo tempo, psiquiatras estavam promovendo a legitimação da psicologia científica. Dumas também foi responsável pela organização do grupo francês de cientistas que estabeleceu as áreas de estudo da psicologia, antropologia e ciências sociais nas Universidades do Brasil, no Rio de Janeiro e em São Paulo, fundadas respectivamente em 1920 e 1934, duas das primeiras universidades brasileiras (Cunha, 2007; Melo & Campos, 2014).
As conferências de Georges Dumas abordavam principalmente o campo da psicologia patológica<sup>2</sup>, com explicações científicas para os fenômenos místicos do espiritismo e das possessões observadas nas religiões populares do Brasil, comparando-as às manifestações patológicas observadas na França da Idade Média. Psiquiatras brasileiros estavam interessados pelos estudos de Dumas por conta de suas experiências, com dificuldades parecidas, entre os seguidores do espiritismo de Allan Kardec (bastante popular no Brasil naquela época) e das religiões populares de origem africana (Melo, 2016). O Código Penal Brasileiro de 1890 havia tentado proibir “a prática do espiritismo, magia e seus sortilégios” (...) que afetavam a “credulidade” das pessoas, com prisão e multas, na tentativa de civilizar a população urbana e libertá-la das superstições místicas e fetichistas (Brasil, 1890). Ao mesmo tempo, psiquiatras estavam promovendo a legitimação da psicologia científica. Dumas também foi responsável pela organização do grupo francês de cientistas que estabeleceu as áreas de estudo da psicologia, antropologia e ciências sociais nas Universidades do Brasil, no Rio de Janeiro e em São Paulo, fundadas respectivamente em 1920 e 1934, duas das primeiras universidades brasileiras (Cunha, 2007; Melo & Campos, 2014).


Naquela época, a maioria dos professores e praticantes da psicologia vinham das áreas da medicina, educação e direito. O ''Dicionário biográfico da psicologia no Brasil—Pioneiros'' (Campos, 2001) enumera 200 figuras que teriam iniciado estudos e práticas da psicologia desde o século XVI. Enquanto nos três primeiros séculos (XVI, XVII, XVIII) dezoito pioneiros foram identificados, a maioria das áreas de teologia e filosofia (os antigos missionários e professores de colégios jesuítas e de outras escolas), no século XIX eles eram graduados das áreas de medicina (36) e direito (19), interessados pela psiquiatria e medicina legal. Durante a primeira metade do século XX, a maioria dos profissionais e acadêmicos que se especializaram na área da psicologia eram graduados em medicina (28, sendo 25 homens e 3 mulheres) ou em educação (38, 10 homens e 28 mulheres). O Dicionário apresenta 20 especialistas com formação específica em psicologia ou psicanálise obtida em outros países, onde tais especializações estavam disponíveis (França, Alemanha, Áustria, Suíça, Estados Unidos, Canadá). A maioria dos graduados nas áreas da educação e da psicologia eram mulheres, uma tendência que continuará a prevalecer na profissão após sua regulamentação legal (Bastos & Gondim, 2010; Yamamoto & Costa, 2010).
Naquela época, a maioria dos professores e praticantes da psicologia vinham das áreas da medicina, educação e direito. O ''Dicionário biográfico da psicologia no Brasil—Pioneiros'' (Campos, 2001) enumera 200 figuras que teriam iniciado estudos e práticas da psicologia desde o século XVI. Enquanto nos três primeiros séculos (XVI, XVII, XVIII) dezoito pioneiros foram identificados, a maioria das áreas de teologia e filosofia (os antigos missionários e professores de colégios jesuítas e de outras escolas), no século XIX eles eram graduados das áreas de medicina (36) e direito (19), interessados pela psiquiatria e medicina legal. Durante a primeira metade do século XX, a maioria dos profissionais e acadêmicos que se especializaram na área da psicologia eram graduados em medicina (28, sendo 25 homens e 3 mulheres) ou em educação (38, 10 homens e 28 mulheres). O Dicionário apresenta 20 especialistas com formação específica em psicologia ou psicanálise obtida em outros países, onde tais especializações estavam disponíveis (França, Alemanha, Áustria, Suíça, Estados Unidos, Canadá). A maioria dos graduados nas áreas da educação e da psicologia eram mulheres, uma tendência que continuará a prevalecer na profissão após sua regulamentação legal (Bastos & Gondim, 2010; Yamamoto & Costa, 2010).
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Durante a década de 1920, o ensino da psicologia começou como uma disciplina independente nas instituições de ensino superior na área da educação, como na Escola de Aperfeiçoamento de Professores de Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais, em 1929, e no Instituto Pedagógico de São Paulo, em 1931. Essas escolas ofereciam a formação nas ciências da educação, tanto teórica quanto prática, com o propósito de promover a racionalização da administração escolar, inspirada pelo progressivismo e pelas ideias escolanovistas (Campos, 2012a; Lourenço Filho, 2004). Os serviços psicológicos foram estabelecidos na época, associados às instituições educacionais. Dentre esses serviços, destaca-se o Laboratório de Psicologia instalado em 1929 na Escola de Aperfeiçoamento de Professores de Belo Horizonte, com a presença do psiquiatra francês Théodore Simon (1873–1961), na época visitando o Brasil para uma série de conferências sobre o uso de testes mentais para a organização do ensino primário e  na orientação profissional. O laboratório foi posteriormente dirigido por dois ex-alunos e ex-assistentes de Édouard Claparède no Instituto Rousseau em Genebra, a primeira instituição de ensino e pesquisa da Europa dedicada às ciências da educação em nível universitário (Hofstetter, 2010): Léon Walther (1889–1963) e Helena Antipoff (1892–1974). Um Serviço de Psicologia Aplicada (posteriormente denominado Laboratório de Psicologia Educacional), associado à Direção Geral do Ensino, em São Paulo, foi instalado em 1931 sob a direção de Noemy Silveira Rudolfer (1902–1988) com propósitos similares.  
Durante a década de 1920, o ensino da psicologia começou como uma disciplina independente nas instituições de ensino superior na área da educação, como na Escola de Aperfeiçoamento de Professores de Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais, em 1929, e no Instituto Pedagógico de São Paulo, em 1931. Essas escolas ofereciam a formação nas ciências da educação, tanto teórica quanto prática, com o propósito de promover a racionalização da administração escolar, inspirada pelo progressivismo e pelas ideias escolanovistas (Campos, 2012a; Lourenço Filho, 2004). Os serviços psicológicos foram estabelecidos na época, associados às instituições educacionais. Dentre esses serviços, destaca-se o Laboratório de Psicologia instalado em 1929 na Escola de Aperfeiçoamento de Professores de Belo Horizonte, com a presença do psiquiatra francês Théodore Simon (1873–1961), na época visitando o Brasil para uma série de conferências sobre o uso de testes mentais para a organização do ensino primário e  na orientação profissional. O laboratório foi posteriormente dirigido por dois ex-alunos e ex-assistentes de Édouard Claparède no Instituto Rousseau em Genebra, a primeira instituição de ensino e pesquisa da Europa dedicada às ciências da educação em nível universitário (Hofstetter, 2010): Léon Walther (1889–1963) e Helena Antipoff (1892–1974). Um Serviço de Psicologia Aplicada (posteriormente denominado Laboratório de Psicologia Educacional), associado à Direção Geral do Ensino, em São Paulo, foi instalado em 1931 sob a direção de Noemy Silveira Rudolfer (1902–1988) com propósitos similares.  


Helena Antipoff e Noemy Rudolfer foram exemplos de novas lideranças da educação no país que promoveram o papel da psicologia como a mais importante entre as ciências da educação, uma vez que essa ciência poderia fornecer aos educadores conhecimentos sobre seu principal objeto de estudo: a criança, o adolescente, o menino  ou a menina para quem a educação fosse destinada. Seus trabalhos introduziram inovações na pesquisa e na prática da psicologia na educação. Com formação em Ciências da Educação em Paris e Genebra, entre 1911 e 1914, Antipoff havia trabalhado como psicóloga na União Soviética, entre 1917 e 1924, em instituições públicas projetadas para hospedar crianças abandonadas e jovens que haviam perdido suas famílias durante aqueles anos de guerra e instabilidade social, e também trabalhou como assistente de Claparède na Universidade de Genebra entre 1926 e 1929 (Campos, 2012b). Quando assumiu a direção do Laboratório de Psicologia da Escola de Aperfeiçoamento de Professores de Belo Horizonte, promoveu um estudo minucioso do nível de desenvolvimento mental das crianças em idade escolar e observou a forte relação entre o nível socioeconômico e os resultados dos testes de QI. Para explicar essa questão, ela propôs sua própria definição para a inteligência medida pelos testes como “inteligência civilizada”, isto é, a <blockquote>“inteligência revelada por meio desses testes é menos uma inteligência natural (como o quis Binet) que uma inteligência civilizada, mostrando, assim, que os testes se dirigem à natureza mental do indivíduo, polido pela ação da sociedade em que vive e desenvolvendo-se em função da experiência, que adquire com o tempo” (Antipoff, 1931, pp. 131–132). </blockquote>Noemy Rudolfer, aluna de Lourenço Filho na Escola Normal de São Paulo, estudou com John Dewey e outros progressivistas no Teachers’ College (escola de formação de professores) da Universidade de Columbia, em Nova York. Suas ligações ao movimento da Educação Nova na Europa e ao progressivismo educacional nos Estados Unidos, e sua dedicação ao sistema de ensino público no Brasil, as levaram a promover a necessidade de aprofundar o conhecimento sobre o desenvolvimento da criança e do adolescente, e das diferenças individuais, para melhorar o planejamento da educação. Com esse propósito em mente, elas dirigiram, em Minas Gerais e em São Paulo, pesquisas em psicologia educacional ao longo das décadas de 1930 e 1940, focalizadas no desenvolvimento mental, atitudes e interesses das crianças em idade escolar. Ambas defenderam também a organização de salas de aula homogêneas (em termos do nível intelectual das crianças, medido por testes de QI) nas escolas elementares, e o atendimento psicológico de crianças com dificuldades escolares ou excepcionais em clínicas de orientação infantil (Antipoff, 1931; Rudolfer, 1931). Os fundamentos teóricos desses estudos fornecem evidências do pensamento das duas expoentes: as perspectivas genético-funcional e sociocultural de Helena Antipoff derivam da psicologia genebrina e da psicologia soviética, e as perspectivas pragmatista e funcionalista de Noemy Rudolfer foram inspiradas pelo trabalho dos intelectuais norte-americanos da Universidade de Columbia. Os laboratórios de psicologia que dirigiram foram ao mesmo tempo entidades de pesquisa, cujos trabalhos dariam continuidade à tendência já observada de produzir novos conhecimentos a respeito das características psicológicas e psicossociais das crianças e da juventude urbana brasileira, e instituições prestadoras de aconselhamento psicológico às suas famílias. O significado da expressão “laboratório de psicologia” englobava esses dois elementos (Campos, 2006).
Helena Antipoff e Noemy Rudolfer foram exemplos de novas lideranças da educação no país que promoveram o papel da psicologia como a mais importante entre as ciências da educação, uma vez que essa ciência poderia fornecer aos educadores conhecimentos sobre seu principal objeto de estudo: a criança, o adolescente, o menino  ou a menina para quem a educação fosse destinada. Seus trabalhos introduziram inovações na pesquisa e na prática da psicologia na educação. Com formação em Ciências da Educação em Paris e Genebra, entre 1911 e 1914, Antipoff havia trabalhado como psicóloga na União Soviética, entre 1917 e 1924, em instituições públicas projetadas para hospedar crianças abandonadas e jovens que haviam perdido suas famílias durante aqueles anos de guerra e instabilidade social, e também trabalhou como assistente de Claparède na Universidade de Genebra entre 1926 e 1929 (Campos, 2012b). Quando assumiu a direção do Laboratório de Psicologia da Escola de Aperfeiçoamento de Professores de Belo Horizonte, promoveu um estudo minucioso do nível de desenvolvimento mental das crianças em idade escolar e observou a forte relação entre o nível socioeconômico e os resultados dos testes de QI. Para explicar essa questão, ela propôs sua própria definição para a inteligência medida pelos testes como “inteligência civilizada”, isto é: <blockquote>“[a] inteligência revelada por meio desses testes é menos uma inteligência natural (como o quis Binet) que uma inteligência civilizada, mostrando, assim, que os testes se dirigem à natureza mental do indivíduo, polido pela ação da sociedade em que vive e desenvolvendo-se em função da experiência, que adquire com o tempo” (Antipoff, 1931, pp. 131–132). </blockquote>Noemy Rudolfer, aluna de Lourenço Filho na Escola Normal de São Paulo, estudou com John Dewey e outros progressivistas no Teachers’ College (escola de formação de professores) da Universidade de Columbia, em Nova York. Suas ligações ao movimento da Educação Nova<sup>3</sup> na Europa e ao progressivismo educacional nos Estados Unidos, e sua dedicação ao sistema de ensino público no Brasil, as levaram a promover a necessidade de aprofundar o conhecimento sobre o desenvolvimento da criança e do adolescente, e das diferenças individuais, para melhorar o planejamento da educação. Com esse propósito em mente, elas dirigiram, em Minas Gerais e em São Paulo, pesquisas em psicologia educacional ao longo das décadas de 1930 e 1940, focalizadas no desenvolvimento mental, atitudes e interesses das crianças em idade escolar. Ambas defenderam também a organização de salas de aula homogêneas (em termos do nível intelectual das crianças, medido por testes de QI) nas escolas elementares, e o atendimento psicológico de crianças com dificuldades escolares ou excepcionais em clínicas de orientação infantil (Antipoff, 1931; Rudolfer, 1931). Os fundamentos teóricos desses estudos fornecem evidências do pensamento das duas expoentes: as perspectivas genético-funcional e sociocultural de Helena Antipoff derivam da psicologia genebrina e da psicologia soviética, e as perspectivas pragmatista e funcionalista de Noemy Rudolfer foram inspiradas pelo trabalho dos intelectuais norte-americanos da Universidade de Columbia. Os laboratórios de psicologia que dirigiram foram ao mesmo tempo entidades de pesquisa, cujos trabalhos dariam continuidade à tendência já observada de produzir novos conhecimentos a respeito das características psicológicas e psicossociais das crianças e da juventude urbana brasileira, e instituições prestadoras de aconselhamento psicológico às suas famílias. O significado da expressão “laboratório de psicologia” englobava esses dois elementos (Campos, 2006).


Estabelecimentos médico-pedagógicos, onde serviços de acolhimento e de cuidado com a saúde física e psicológica de crianças e adolescentes eram oferecidos por psiquiatras e educadores, foram criados em vários estados brasileiros na época. Em Recife, Pernambuco, no ano de 1925, o psiquiatra Ulisses Pernambucano (1892-1943) criou um serviço público dedicado à orientação psicológica e seleção profissional, o Instituto de Psicologia do Recife, vinculado Departamento de Saúde e Assistência do governo estadual, onde foram realizadas adaptações de testes mentais à população brasileira. Nesse serviço, foram também realizados estudos sobre o vocabulário das crianças em idade escolar, sobre o desenvolvimento de técnicas projetivas, e outros estudos experimentais, vários deles publicados nos ''Arquivos de Assistência aos Psicopatas de Pernambuco'', periódico editado por Pernambucano e sua equipe. Uma ''Escola para Crianças Anormais'' foi também criada, ligada à Escola Normal de Recife, e no hospital de saúde mental da região, Pernambucano conduziu um estudo epidemiológico de doenças mentais prevalentes na população negra e mestiça (Antunes, 1999; Campos, 2006; Medeiros, 2001; Pernambucano & Campos, 1932).
Estabelecimentos médico-pedagógicos, onde serviços de acolhimento e de cuidado com a saúde física e psicológica de crianças e adolescentes eram oferecidos por psiquiatras e educadores, foram criados em vários estados brasileiros na época. Em Recife, Pernambuco, no ano de 1925, o psiquiatra Ulisses Pernambucano (1892-1943) criou um serviço público dedicado à orientação psicológica e seleção profissional, o Instituto de Psicologia do Recife, vinculado Departamento de Saúde e Assistência do governo estadual, onde foram realizadas adaptações de testes mentais à população brasileira. Nesse serviço, foram também realizados estudos sobre o vocabulário das crianças em idade escolar, sobre o desenvolvimento de técnicas projetivas, e outros estudos experimentais, vários deles publicados nos ''Arquivos de Assistência aos Psicopatas de Pernambuco'', periódico editado por Pernambucano e sua equipe. Uma ''Escola para Crianças Anormais'' foi também criada, ligada à Escola Normal de Recife, e no hospital de saúde mental da região, Pernambucano conduziu um estudo epidemiológico de doenças mentais prevalentes na população negra e mestiça (Antunes, 1999; Campos, 2006; Medeiros, 2001; Pernambucano & Campos, 1932).
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Em 1953, um grupo de profissionais que já trabalhavam na área da psicologia (dentre eles, Lourenço Filho e Mira Y López [1896-1964]) enviou uma mensagem ao ministro da educação, argumentando a favor da regulamentação da profissão de psicólogo. Eles justificaram seu pedido tendo como referência as crescentes demandas pela aplicação do conhecimento psicológico aos problemas de desajustamento das sociedades modernas, por conta das rápidas mudanças sociais. A mensagem foi seguida por um proposta de criar diplomas universitários em psicologia (um diploma de bacharelado e uma licença em psicologia), com estudos em áreas correlatas, como biologia, sociologia, antropologia cultural e higiene mental, e estudos em áreas específicas da psicologia científica, como psicologia do desenvolvimento, psicologia diferencial, psicologia da personalidade e psicologia social. Também foi recomendado que os programas de graduação incluíssem estudos em estatística e a prática com testes e medições (Autor Desconhecido, 1954).
Em 1953, um grupo de profissionais que já trabalhavam na área da psicologia (dentre eles, Lourenço Filho e Mira Y López [1896-1964]) enviou uma mensagem ao ministro da educação, argumentando a favor da regulamentação da profissão de psicólogo. Eles justificaram seu pedido tendo como referência as crescentes demandas pela aplicação do conhecimento psicológico aos problemas de desajustamento das sociedades modernas, por conta das rápidas mudanças sociais. A mensagem foi seguida por um proposta de criar diplomas universitários em psicologia (um diploma de bacharelado e uma licença em psicologia), com estudos em áreas correlatas, como biologia, sociologia, antropologia cultural e higiene mental, e estudos em áreas específicas da psicologia científica, como psicologia do desenvolvimento, psicologia diferencial, psicologia da personalidade e psicologia social. Também foi recomendado que os programas de graduação incluíssem estudos em estatística e a prática com testes e medições (Autor Desconhecido, 1954).


O psiquiatra cubano-espanhol Emilio Mira y López participou ativamente no movimento pela regulamentação da profissão. Exilado da Espanha em 1939, após a Guerra Civil, ele imigrou ao Brasil em 1945, quando foi convidado a dar cursos sobre psicologia aplicada para trabalhar em São Paulo (no Instituto de Organização Racional do Trabalho da Universidade de São Paulo — IDORT), e no Rio de Janeiro, no  Instituto de Seleção e Orientação Profissional — ISOP), criado em 1947 e dirigido por Mira Y López desde 1947 a 1964. Essas duas instituições foram muito importantes para a especialização em seleção e capacitação profissional nas instituições públicas e privadas do Brasil. Mira Y López foi um grande defensor da aplicação de técnicas psicológicas nas áreas da justiça, saúde, educação, organizações de trabalho, indústrias, segurança nacional, diplomacia e no exército. No seu ponto de vista, <blockquote>“o Estado é um aparelho dentro do corpo nacional, que cada dia mais se vê na obrigação de intervir nas vidas dos indivíduos que constituem a nação, em aspectos os mais diversos: para a defesa de sua saúde, para a formação do seu espírito, para permitir-lhes uma organização racional da produção, para orientá-los na defesa do patrimônio nacional contra estranhos, para dar-lhes, enfim, uma orientação social. (. . .) No setor da administração pública, a psicologia aplicada deve ser a ciência mais importante” (Mira y López, 1955, pp. 115-117).</blockquote>Em 1962, após dez anos de debates no Congresso Nacional, a Lei 4.119 foi aprovada (Brasil, 1962), e a profissão de psicólogo foi instituída. Essa institucionalização não foi realizada sem conflitos: psiquiatras se opuseram à prática da psicoterapia por psicólogos, humanistas católicos e filósofos pensavam que os fenômenos psicológicos não deveriam ser encarados cientificamente. Apesar dessas críticas, a regulamentação da profissão foi bem-sucedida, e os psicólogos foram autorizados a utilizar métodos e técnicas psicológicas para a realização de diagnósticos psicológicos, fornecer seleção e orientação profissional, aconselhamento psicopedagógico, e trabalhar pela solução dos problemas de adaptação vivenciados por crianças, adolescentes e adultos. A direção dos serviços psicológicos, tanto em instituições públicas quanto privadas, também foi designada aos psicólogos formados nas universidades, assim como o ensino da psicologia nos diversos níveis do sistema educacional e a supervisão de profissionais e estudantes em tais serviços. Além disso, os psicólogos foram autorizados a trabalhar como consultores técnicos em instituições públicas e privadas, como peritos em assuntos psicológicos (Pereira & Neto, 2003).
O psiquiatra cubano-espanhol Emilio Mira y López participou ativamente no movimento pela regulamentação da profissão. Exilado da Espanha em 1939, após a Guerra Civil, ele imigrou ao Brasil em 1945, quando foi convidado a dar cursos sobre psicologia aplicada para trabalhar em São Paulo (no Instituto de Organização Racional do Trabalho da Universidade de São Paulo — IDORT), e no Rio de Janeiro, no  Instituto de Seleção e Orientação Profissional — ISOP), criado em 1947 e dirigido por Mira Y López desde 1947 a 1964. Essas duas instituições foram muito importantes para a especialização em seleção e capacitação profissional nas instituições públicas e privadas do Brasil. Mira Y López foi um grande defensor da aplicação de técnicas psicológicas nas áreas da justiça, saúde, educação, organizações de trabalho, indústrias, segurança nacional, diplomacia e no exército. No seu ponto de vista: <blockquote>“o Estado é um aparelho dentro do corpo nacional, que cada dia mais se vê na obrigação de intervir nas vidas dos indivíduos que constituem a nação, em aspectos os mais diversos: para a defesa de sua saúde, para a formação do seu espírito, para permitir-lhes uma organização racional da produção, para orientá-los na defesa do patrimônio nacional contra estranhos, para dar-lhes, enfim, uma orientação social. (. . .) No setor da administração pública, a psicologia aplicada deve ser a ciência mais importante” (Mira y López, 1955, pp. 115-117).</blockquote>Em 1962, após dez anos de debates no Congresso Nacional, a Lei 4.119 foi aprovada (Brasil, 1962), e a profissão de psicólogo foi instituída. Essa institucionalização não foi realizada sem conflitos: psiquiatras se opuseram à prática da psicoterapia por psicólogos, humanistas católicos e filósofos pensavam que os fenômenos psicológicos não deveriam ser encarados cientificamente. Apesar dessas críticas, a regulamentação da profissão foi bem-sucedida, e os psicólogos foram autorizados a utilizar métodos e técnicas psicológicas para a realização de diagnósticos psicológicos, fornecer seleção e orientação profissional, aconselhamento psicopedagógico, e trabalhar pela solução dos problemas de adaptação vivenciados por crianças, adolescentes e adultos. A direção dos serviços psicológicos, tanto em instituições públicas quanto privadas, também foi designada aos psicólogos formados nas universidades, assim como o ensino da psicologia nos diversos níveis do sistema educacional e a supervisão de profissionais e estudantes em tais serviços. Além disso, os psicólogos foram autorizados a trabalhar como consultores técnicos em instituições públicas e privadas, como peritos em assuntos psicológicos (Pereira & Neto, 2003).


A Lei 4.119 promoveu o estabelecimento de vários programas universitários para a formação de psicólogos no país, e o número de psicólogos graduados cresceu rapidamente, como se vê na Tabela 1.
A Lei 4.119 promoveu o estabelecimento de vários programas universitários para a formação de psicólogos no país, e o número de psicólogos graduados cresceu rapidamente, como se vê na Tabela 1.
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Nos anos seguintes, os profissionais eleitos à diretoria do Conselho Federal de Psicologia aderiram ao movimento do “compromisso social”. O Conselho assumiu cada vez mais a função de orientar as práticas dos psicólogos em instituições públicas nas áreas de saúde mental, educação, e de zelar pelos grupos marginalizados e de risco, como as crianças e jovens de rua, as pessoas vivendo em comunidades de baixa renda e nas favelas, os idosos, e assim por diante. Diretrizes para a atuação dos psicólogos em instituições públicas de bem-estar social foram emitidas pelo Conselho Federal para orientar o seu trabalho. Em 2006, o CREPOP (Centro de Referências Técnicas em Psicologia e Políticas Públicas) foi criado como um departamento no Conselho Federal de Psicologia, com o propósito de promover uma melhor qualificação do trabalho de psicólogos nas instituições públicas, que lidam com a implementação das políticas públicas. Além de seu papel técnico, o CREPOP assumiu uma orientação ética e política, visando a promoção do psicólogo enquanto profissional comprometido com a garantia dos direitos humanos e a transformação social. Desde então, vários documentos de referência para a atuação de psicólogos nas políticas públicas têm sido publicados nas áreas de saúde pública, saúde do trabalhador, jurisdição familiar, esporte, dependência química, educação, trânsito, trabalhadores rurais, relações raciais e comunidades tradicionais (Bock, 1999; Conselho Federal de Psicologia, 1992; CREPOP [Centro de Referências Técnicas em Psicologia e Políticas Públicas], 2020; Ferreri, 2011). Um recente levantamento sobre a atuação dos psicólogos no Brasil (Bastos & Gondim, 2010) mostrou tendências para uma melhor distribuição dos profissionais nas várias regiões do país, e um aumento da sua participação no setor público e em organizações não governamentais (ONGs). Quase um terço dos psicólogos, após sua graduação, encontram seu primeiro emprego no setor público, dentro da rede de instituições públicas nas áreas da saúde, educação e serviços sociais (Malvezzi, Souza, & Zanelli, 2010).
Nos anos seguintes, os profissionais eleitos à diretoria do Conselho Federal de Psicologia aderiram ao movimento do “compromisso social”. O Conselho assumiu cada vez mais a função de orientar as práticas dos psicólogos em instituições públicas nas áreas de saúde mental, educação, e de zelar pelos grupos marginalizados e de risco, como as crianças e jovens de rua, as pessoas vivendo em comunidades de baixa renda e nas favelas, os idosos, e assim por diante. Diretrizes para a atuação dos psicólogos em instituições públicas de bem-estar social foram emitidas pelo Conselho Federal para orientar o seu trabalho. Em 2006, o CREPOP (Centro de Referências Técnicas em Psicologia e Políticas Públicas) foi criado como um departamento no Conselho Federal de Psicologia, com o propósito de promover uma melhor qualificação do trabalho de psicólogos nas instituições públicas, que lidam com a implementação das políticas públicas. Além de seu papel técnico, o CREPOP assumiu uma orientação ética e política, visando a promoção do psicólogo enquanto profissional comprometido com a garantia dos direitos humanos e a transformação social. Desde então, vários documentos de referência para a atuação de psicólogos nas políticas públicas têm sido publicados nas áreas de saúde pública, saúde do trabalhador, jurisdição familiar, esporte, dependência química, educação, trânsito, trabalhadores rurais, relações raciais e comunidades tradicionais (Bock, 1999; Conselho Federal de Psicologia, 1992; CREPOP [Centro de Referências Técnicas em Psicologia e Políticas Públicas], 2020; Ferreri, 2011). Um recente levantamento sobre a atuação dos psicólogos no Brasil (Bastos & Gondim, 2010) mostrou tendências para uma melhor distribuição dos profissionais nas várias regiões do país, e um aumento da sua participação no setor público e em organizações não governamentais (ONGs). Quase um terço dos psicólogos, após sua graduação, encontram seu primeiro emprego no setor público, dentro da rede de instituições públicas nas áreas da saúde, educação e serviços sociais (Malvezzi, Souza, & Zanelli, 2010).


As recentes transformações da profissão podem estar promovendo o desenvolvimento de novas práticas e técnicas de intervenção mais adequadas às demandas da população de baixa renda, enraizadas nas crenças e práticas da cultura popular brasileira. O diálogo com diferentes aspectos da cultura brasileira, que é notoriamente sincrética, parece contribuir para o surgimento de inovações na área da psicologia, tornando-a mais sensível às diversas visões de mundo e de identidades sociais que a compõem, e produzindo contribuições originais com um profundo impacto na profissão. Essa tendência pode ser verificada nas publicações da revista ''Psicologia: Ciência e Profissão'', editada pelo Conselho Federal de Psicologia desde 1982, um dos principais periódicos na área da psicologia no Brasil desde então. Uma revisão da publicação analisou os conteúdos das edições de 1979 a 2004, e observou que  <blockquote>“''Psicologia: Ciência e Profissão'' revela-nos os psicólogos como profissionais que escutam a sociedade onde vivem, produtores de práticas que têm, cada vez mais, referência nesta sociedade. Nesses 25 anos, a revista registrou a produção de uma nova identidade para a Psicologia brasileira, construída a partir tanto do diálogo com os diversos campos de atuação quanto da produção de outros olhares sobre esses diversos campos, mostrando como a profissão se deslocou de uma posição mais elitista para uma outra comprometida com a ampliação dos espaços de atuação do psicólogo junto a camadas desprivilegiadas da população brasileira, conhecida como de um maior compromisso social” (Campos & Bernardes, 2005, p. 509).  </blockquote>Edições recentes da revista focam na pesquisa e em propostas sobre como lidar com questões psicológicas e psicossociais relativas aos povos tradicionais e indígenas (Pizzinato, Guimarães, & Leite, 2019), subjetividade em comunidades urbanas de baixa renda (Hüning, Bernardes, & Reis, 2019) e orientações sexuais e identidades de gênero (Cavalcanti, Bicalho, & Sposito, 2019). A produção de pesquisa apresentada nessas edições recentes fornece provas da tendência em escutar e empoderar os povos e comunidades em questão (Alves & Delmondez, 2015; Ferreira, 2009).  
As recentes transformações da profissão podem estar promovendo o desenvolvimento de novas práticas e técnicas de intervenção mais adequadas às demandas da população de baixa renda, enraizadas nas crenças e práticas da cultura popular brasileira. O diálogo com diferentes aspectos da cultura brasileira, que é notoriamente sincrética, parece contribuir para o surgimento de inovações na área da psicologia, tornando-a mais sensível às diversas visões de mundo e de identidades sociais que a compõem, e produzindo contribuições originais com um profundo impacto na profissão. Essa tendência pode ser verificada nas publicações da revista ''Psicologia: Ciência e Profissão'', editada pelo Conselho Federal de Psicologia desde 1982, um dos principais periódicos na área da psicologia no Brasil desde então. Uma revisão da publicação analisou os conteúdos das edições de 1979 a 2004, e observou que: <blockquote>“''Psicologia: Ciência e Profissão'' revela-nos os psicólogos como profissionais que escutam a sociedade onde vivem, produtores de práticas que têm, cada vez mais, referência nesta sociedade. Nesses 25 anos, a revista registrou a produção de uma nova identidade para a Psicologia brasileira, construída a partir tanto do diálogo com os diversos campos de atuação quanto da produção de outros olhares sobre esses diversos campos, mostrando como a profissão se deslocou de uma posição mais elitista para uma outra comprometida com a ampliação dos espaços de atuação do psicólogo junto a camadas desprivilegiadas da população brasileira, conhecida como de um maior compromisso social” (Campos & Bernardes, 2005, p. 509).  </blockquote>Edições recentes da revista focam na pesquisa e em propostas sobre como lidar com questões psicológicas e psicossociais relativas aos povos tradicionais e indígenas (Pizzinato, Guimarães, & Leite, 2019), subjetividade em comunidades urbanas de baixa renda (Hüning, Bernardes, & Reis, 2019) e orientações sexuais e identidades de gênero (Cavalcanti, Bicalho, & Sposito, 2019). A produção de pesquisa apresentada nessas edições recentes fornece provas da tendência em escutar e empoderar os povos e comunidades em questão (Alves & Delmondez, 2015; Ferreira, 2009).  


== Conclusão ==
== Conclusão ==
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Atualmente, os profissionais da psicologia no Brasil constituem uma das maiores comunidades de psicólogos no mundo. Percebe-se seu trabalho como fortemente influenciado  por perspectivas teóricas que enfatizam a relação entre as dinâmicas socioculturais e a elaboração psicológica, visto por muitos como uma ferramenta poderosa na realização dos ideais dos direitos humanos. Entretanto, investimentos mais baixos nos serviços públicos, propostas liberais ou conflitos sobre políticas sociais podem prejudicar essa perspectiva. Novas pesquisas devem ser feitas para acompanhar o desenvolvimento dessas tendências nos próximos anos, um tema para os futuros historiadores da psicologia.
Atualmente, os profissionais da psicologia no Brasil constituem uma das maiores comunidades de psicólogos no mundo. Percebe-se seu trabalho como fortemente influenciado  por perspectivas teóricas que enfatizam a relação entre as dinâmicas socioculturais e a elaboração psicológica, visto por muitos como uma ferramenta poderosa na realização dos ideais dos direitos humanos. Entretanto, investimentos mais baixos nos serviços públicos, propostas liberais ou conflitos sobre políticas sociais podem prejudicar essa perspectiva. Novas pesquisas devem ser feitas para acompanhar o desenvolvimento dessas tendências nos próximos anos, um tema para os futuros historiadores da psicologia.
== Notas ==
# O Agrupamento de Universidades e Grandes Escolas da França para as relações com a América Latina (em francês: Groupement des Universités et des Grandes Écoles de France pour les relations avec l’Amérique Latine) foi criado em 1908 por um grupo de representantes de instituições de ensino superior francesas, sob a liderança do médico psiquiatra Georges Dumas e com o apoio do governo da França, com o objetivo de promover o intercâmbio cultural entre a França e o Brasil tendo em vista as afinidades culturais entre os dois países. O Groupement promoveu várias missões culturais de intelectuais para conferências e outras atividades no Brasil (incluindo a famosa missão promovida por Georges Dumas quando da fundação da Universidade de São Paulo, em 1934, que contribuiu para o início do ensino das ciências humanas na instituição). Foi bastante ativo entre 1908 e 1940, tendo ficado inativo durante a Segunda Guerra Mundial. Após o término da guerra, não foi retomado, tendo sido finalmente dissolvido em 1957 (Melo, 2016).
# Segundo Melo (2016, p. 61), a expressão “psicologia patológica” (“psychologie pathologique”, em francês) foi utilizada por Carroy, Ohayon e Plas no livro sobre a história da psicologia na França nos séculos 19 e 20 (Carroy, Ohayon e Plas, 2006) com referência à ênfase dos trabalhos da psicologia e da psiquiatria francesas do início do século 20 sobre as patologias psíquicas, segunda as autoras uma “singularidade francesa”.
# O movimento conhecido como New Education na Inglaterra, Éducation Nouvelle (países francófonos na Europa), Escola Nova (Brasil), Nueva Educación (Espanha e países hispano-americanos), Progressive Education (EUA), Reformpaedagogik (Alemanha) foi um movimento liderado por educadores, educadoras, intelectuais e administradores/as educacionais que propunha reformas educacionais e transformações nas instituições escolares visando adaptá-las às novas funções que as escolas deveriam desempenhar nas sociedades modernas (Hofstetter, 2010; Lourenço Filho, 2002).


== Referências ==
== Referências ==