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Em 1954, Carolina foi presidente da [[Sociedade Brasileira de Psicologia]] (atualmente extinta), que tinha como objetivo desenvolver a psicologia como ciência, profissão e bem-estar ao mundo.  
Em 1954, Carolina foi presidente da [[Sociedade Brasileira de Psicologia]] (atualmente extinta), que tinha como objetivo desenvolver a psicologia como ciência, profissão e bem-estar ao mundo.  


Mesmo que em 1962 o psicólogo tenha sido reconhecido legalmente no Brasil, sua atuação começou antes dessa data. Bori foi uma das pessoas que participou ativamente para o reconhecimento e defesa desse novo profissional: o psicólogo. Nessa luta, pode-se destacar sua participação em uma comissão de estudos que escreveu o projeto de lei com elementos que deveriam ser obrigatórios em cursos de psicologia, que até hoje estão em vigor, como ciências naturais, a observação e os métodos de investigação científica, por exemplo, situações em laboratório de controle e manipulações de variáveis para observar seus efeitos no comportamento. Carolina teve um papel primordial na disseminação e criação de laboratórios de psicologia experimental no país, além de montar projetos para planejar a construção de protótipos de equipamentos para estudo nesses ambientes. Dentre eles, estão os relacionados a pesquisa na área de psicofísica e análise experimental do comportamento. Colaborou na estrutura do Departamento de Psicologia Social e Experimental do Instituto de Psicologia da USP em 1968, com apoio do Professor Walter Hugo Cunha, e implantou nesse lugar um curso de pós-graduação em Psicologia Experimental, estabelecendo os focos principais e o itinerário. Fundou o antigo Departamento de Psicologia da Universidade de Brasília, que hoje é o [[Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília]], e participou do jogo de ideias para criação do Curso de Mestrado em Análise do Comportamento na Universidade Federal do Pará. Em suma, Carolina Bori presidiu e teve participação fundamental para criação de diversos cursos de psicologia e pós-graduação espalhadas pelo Brasil. Também realizou congressos com colaboradores que divulgaram os princípios da análise do comportamento pelo país.
Mesmo que em 1962 o psicólogo tenha sido reconhecido legalmente no Brasil, sua atuação começou antes dessa data. Bori foi uma das pessoas que participou ativamente para o reconhecimento e defesa desse novo profissional: o psicólogo. Nessa luta, pode-se destacar sua participação em uma comissão de estudos que escreveu o projeto de lei com elementos que deveriam ser obrigatórios em cursos de psicologia, que até hoje estão em vigor, como ciências naturais, a observação e os métodos de investigação científica, por exemplo, situações em laboratório de controle e manipulações de variáveis para observar seus efeitos no comportamento. Carolina teve um papel primordial na disseminação e criação de laboratórios de psicologia experimental no país, além de montar projetos para planejar a construção de protótipos de equipamentos para estudo nesses ambientes. Dentre eles, estão os relacionados a pesquisa na área de psicofísica e análise experimental do comportamento. Colaborou na estrutura do Departamento de Psicologia Social e Experimental do Instituto de Psicologia da USP em 1968, com apoio do Professor Walter Hugo Cunha, e implantou nesse lugar um curso de pós-graduação em Psicologia Experimental, estabelecendo os focos principais e o itinerário. Fundou o antigo Departamento de Psicologia da Universidade de Brasília, que hoje é o [[Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília]], e participou do jogo de ideias para criação do Curso de Mestrado em Análise do Comportamento na Universidade Federal do Pará. E
 
Em suma, Carolina Bori presidiu e teve participação fundamental para criação de diversos cursos de psicologia e pós-graduação espalhadas pelo Brasil. Também realizou congressos com colaboradores que divulgaram os princípios da análise do comportamento pelo país, Como um todo, sua obra e empenho para propagar os estudos do comportamento no Brasil teve resultados para a posteridade, afirmando mais uma vez a importância de seu trabalho acadêmico para a estruturação e continuidade da psicologia no país.


=== Ciência ===
=== Ciência ===
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== Discípulos e influências ==
== Discípulos e influências ==
Carolina Bori passou por diversos lugares e instituições como professora e pesquisadora ao longo de sua vida acadêmica, dessa forma muitas pessoas foram influenciadas e de certa forma seguiram Bori. Uma de suas maiores contribuições que ajudou muitos a seguirem um novo caminho vigente no Brasil, foi seu empenho em propagar o estudo do comportamento como uma nova psicologia, baseada no que havia aprendido em aulas e trabalhos de Fred Keller, que por consequência ensinava nas universidades brasileiras o behaviorismo de Skinner no Brasil. Durante sua carreira como professora diversos alunos puderam seguir seus caminhos na psicologia a partir de Carolina Bori, que era uma professora muito admirada e respeitada. Não só os alunos foram influenciados, mas também aqueles que trabalhavam lado a lado com ela como um de seus assistentes da época da UNB, Isaias Pessotti que após algum tempo de trabalho com Bori passa a conduzir estudos e artigos sobre o comportamento.
Carolina Bori passou por diversos lugares e instituições como professora e pesquisadora ao longo de sua vida acadêmica. Por conta disso, muitas pessoas foram influenciadas e, de certa forma, seguiram Bori. Uma de suas principais contribuições que levou muitos a seguirem um novo caminho vigente no Brasil foi seu empenho em propagar o estudo do comportamento como uma nova psicologia, baseada no que havia aprendido em aulas e trabalhos de Fred Keller, que por consequência ensinava nas universidades brasileiras o behaviorismo de Skinner. Durante sua carreira como professora, diversos alunos puderam seguir seus caminhos na psicologia a partir de Carolina Bori, que era uma professora muito admirada e respeitada. Não só os alunos foram influenciados, mas também aqueles que trabalharam lado a lado com ela, como um de seus assistentes da época da UNB, Isaias Pessotti, que após algum tempo de trabalho com Bori passa a desenvolver estudos e artigos sobre o comportamento.
 
Muitos docentes e alunos de diversos cursos, além de psicologia, foram influenciados pelas ideias trazidas ao meio universitário por Carolina, esses alunos ou até mesmo companheiros de trabalho, expressaram sua admiração escrevendo artigos sobre a história acadêmica da professora, principalmente nos arquivos da USP. Elas são Ana Maria Almeida Carvalho, Eda T. de Oliveira Tassara, Maria Ignez Rocha e Silva, Deisy das Graças de Souza, [[Maria do Carmo Guedes]]. Em um de seus artigos publicados sobre Carolina Bori, elas a descrevem e a exaltam “Uma imagem que pode representar a atuação de Carolina é a de um ponto de luz, uma estrela, cujo núcleo, constituído por sua consciência e coerência em relação ao papel da ciência e dos cientistas na sociedade, se irradia em inúmeras direções de atuação. Essa, no entanto, é a única associação possível entre Carolina e uma estrela: seu comportamento pessoal, atestam inúmeros dos nossos depoentes e nossa própria experiência pessoal, caracteriza-se antes por sobriedade, moderação, discrição, muito trabalho e pouco alarde.” – Trecho do artigo “Carolina Bori, Psicologia e Ciência no Brasil”.


Vera Soares, é outro nome entre muitas outros, que trilharam seus caminhos a partir da professora. Não só na universidade fez admiradores e seguidores, em seu trabalho à frente de associações e sociedades também pode deixar sua marca em muitos, como exemplo Gilberto Velho que a conheceu na SBPC e que também produziu um curto artigo demonstrando sua admiração por Bori ao ter mais contato com a pessoa acadêmica que ela era. Nele é posto pelo autor que “Em todos os cargos que ocupou estabeleceu padrões de notável equilíbrio entre um espírito acadêmico e um posicionamento político crítico. São notórios o seu desprendimento pessoal e espírito de sacrifício, não medindo esforços para defender não só a comunidade científica, mas as causas sociais que sempre a preocuparam.” – trecho retirado do artigo “O Humanismo de Carolina Bori”. Outra pessoa que seguiu a linha de admiração pelo trabalho de Bori foi Aziz Nacib Ab’Saber, que foi seu colega na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, que pode contribuir para mais um artigo biográfico da professora.
Muitos docentes e alunos de diversos cursos, além de psicologia, foram influenciados pelas ideias trazidas ao meio universitário por Carolina. Esses alunos, ou até mesmo companheiros de trabalho, expressaram sua admiração escrevendo artigos sobre a história acadêmica da professora, principalmente nos arquivos da USP. Elas são: Ana Maria Almeida Carvalho, Eda T. de Oliveira Tassara, Maria Ignez Rocha, Silva, Deisy das Graças de Souza e [[Maria do Carmo Guedes]]. Em um de seus artigos publicados sobre Carolina Bori, elas a descrevem e a exaltam:<blockquote>“Uma imagem que pode representar a atuação de Carolina é a de um ponto de luz, uma estrela, cujo núcleo, constituído por sua consciência e coerência em relação ao papel da ciência e dos cientistas na sociedade, se irradia em inúmeras direções de atuação. Essa, no entanto, é a única associação possível entre Carolina e uma estrela: seu comportamento pessoal, atestam inúmeros dos nossos depoentes e nossa própria experiência pessoal, caracteriza-se antes por sobriedade, moderação, discrição, muito trabalho e pouco alarde.” (CARVALHO et al., 1998, n.p) </blockquote>Vera Soares, é outra pessoa que trilhou seus caminhos a partir da professora. Não só na universidade fez admiradores e seguidores, como também é perceptível em seu trabalho à frente de associações e sociedades, como por exemplo Gilberto Velho, que a conheceu na SBPC e que também produziu um curto artigo demonstrando sua admiração por Bori ao ter mais contato com a pessoa acadêmica que ela era. O autor afirma que:<blockquote>“Em todos os cargos que ocupou estabeleceu padrões de notável equilíbrio entre um espírito acadêmico e um posicionamento político crítico. São notórios o seu desprendimento pessoal e espírito de sacrifício, não medindo esforços para defender não só a comunidade científica, mas as causas sociais que sempre a preocuparam.” (VELHO, 1998, n.p) </blockquote>Outra pessoa que seguiu a linha de admiração pelo trabalho de Bori foi Aziz Nacib Ab’Saber, que foi seu colega na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, que contribuiu com mais um artigo biográfico da professora.


Mesmo com diversos nomes influenciados por Carolina Bori, a mais notável de todas é Maria Amélia Matos, que se tornou além de aluna uma pessoa próxima de sua professora. Sendo assim, com a chegada de Keller e o início de seus trabalhos com Carolina Bori, Maria Amélia Matos também começa seus estudos sobre o behaviorismo, futuramente se tornando um dos principais nomes da vertente no Brasil. Também em artigo entregue a USP Maria Amélia Matos demonstra sua admiração para com o engajamento de Bori em debates e na proatividade para ações político-sociais. Todo o trabalho de Carolina Bori para propagar os estudos do comportamento no Brasil teve resultados para a posteridade como demonstrado, afirmando mais uma vez a importância de todo seu trabalho acadêmico para a estruturação e continuidade da psicologia no país.
Mesmo com diversos nomes influenciados por Carolina Bori, a mais notável de todas é [[Maria Amélia Matos]], que se tornou além de aluna uma pessoa próxima de sua professora. Sendo assim, com a chegada de Keller e o início de seus trabalhos com Carolina Bori, Maria Amélia Matos também começa seus estudos sobre o behaviorismo, futuramente se tornando um dos principais nomes da vertente no Brasil. Também em artigo entregue a USP, Maria Amélia Matos demonstra sua admiração para com o engajamento de Bori em debates e na proatividade para ações político-sociais.  


== Obras ==
== Obras ==


* Martuscelli, C. (1950). Uma pesquisa sobre aceitação de grupos nacionais, “raciais” e regionais em São Paulo. Boletim CXIX, Psicologia, 3. São Paulo: Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Bori C. M (1953). O papel do experimentador e do sujeito na situação experimental. Boletim de Psicologia.
* Martuscelli, C. (1950). Uma pesquisa sobre aceitação de grupos nacionais, “raciais” e regionais em São Paulo. Boletim CXIX, Psicologia, 3. São Paulo: Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras.  
* Bori C. M (1953). O papel do experimentador e do sujeito na situação experimental. Boletim de Psicologia.
* Bori, C. M. (1954). Um curso de estatística aplicada à experimentação psicológica. Ciência e Cultura.
* Bori, C. M. (1954). Um curso de estatística aplicada à experimentação psicológica. Ciência e Cultura.
* Martuscelli, C. (1955). Desenho no estudo da personalidade: a prova de desenho da figura humana. Boletim de Psicologia.
* Martuscelli, C. (1955). Desenho no estudo da personalidade: a prova de desenho da figura humana. Boletim de Psicologia.
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* Bori, C. M., (1964). Aparelhos e o laboratório de psicologia. Jornal Brasileiro de Psicologia.
* Bori, C. M., (1964). Aparelhos e o laboratório de psicologia. Jornal Brasileiro de Psicologia.


== Outras informações ==
=== Outras informações ===
O nome de Carolina Bori é facilmente citado em obras sobre a história da psicologia, porém, pouco se conhece a respeito de sua produção bibliográfica e os temas discutidos. Dentre eles estão “A formação do psicólogo” e “O estudo da personalidade”.

Em 1950, Bori publica seu primeiro artigo “Uma pesquisa sobre aceitação de grupos nacionais,” raciais” e regionais em São Paulo” com objetivo de “situar alguns aspectos do problema de aceitação de nacionalidades, grupos nacionais, ‘raciais’ e regionais ao nosso meio” (1950, p. 57)).
O nome de Carolina Bori é facilmente citado em obras sobre a história da psicologia, porém, pouco se conhece a respeito de sua produção bibliográfica e os temas discutidos. Dentre eles estão “A formação do psicólogo” e “O estudo da personalidade”.

Em 1950, Bori publica seu primeiro artigo “Uma pesquisa sobre aceitação de grupos nacionais, 'raciais' e regionais em São Paulo”, com objetivo de “situar alguns aspectos do problema de aceitação de nacionalidades, grupos nacionais, ‘raciais’ e regionais ao nosso meio” (BORI,1950, p. 57).


O artigo “O papel do experimentador e do sujeito na situação experimental” de 1953, fala sobre a importância da experimentação em um ambiente no qual todos os fatores que podem influenciar os resultados sejam reconhecidos e extremamente controlados. Só dessa forma poderiam ser feitas observações de seus efeitos e terem resultados compatíveis. O campo da psicologia experimental foi entrando em declínio, mas ela continuava a achar esse um bom método. Bori ainda defende a introspecção como método experimental, porém ressalta as dificuldades em utilizá-la e controlá-la.
Em 1954 com a estatística, Carolina propôs a inclusão da estatística para o estudo de psicologia, pois vê como de suma importância que os profissionais tenham conhecimentos de outras áreas e que saibam ler, interpretar e criticar dados estatísticos.
O artigo “O papel do experimentador e do sujeito na situação experimental”, de 1953, fala sobre a importância da experimentação em um ambiente no qual todos os fatores que podem influenciar os resultados sejam reconhecidos e extremamente controlados. Só dessa forma poderiam ser feitas observações de seus efeitos e alcançar resultados compatíveis. Embora o campo da psicologia experimental estivesse entrando em declínio, ela continuava a achar esse um bom método. Bori ainda defende a introspecção como método experimental, porém ressalta as dificuldades em utilizá-la e controlá-la.
Em 1954, Carolina propôs a inclusão da estatística para o estudo de psicologia, pois vê como de suma importância que os profissionais tenham conhecimentos de outras áreas e que saibam ler, interpretar e criticar dados estatísticos.


Em 1955, publicou “Desenho no estudo da personalidade: a prova de desenho da figura humana” que coloca o método desenvolvido por [[Karen Machover]] em análise, o qual apresenta a hipótese que no desenho o indivíduo expressa partes de seu comportamento, pela projeção. Mas Bori conclui que “Muitas dessas técnicas (utilização de desenhos para o estudo da personalidade) se mostram inadequadas e insatisfatórias para o diagnóstico e orientação de tratamento” (1955, p. 60). Porém, dois anos depois utilizou-se desse método para um estudo no interior de Minas Gerais, no qual, buscou descobrir as possibilidades de relações entre variáveis e os métodos utilizados, em vez de verificar hipóteses. Portanto, não descartou o uso de desenhos para pesquisas, apenas o exigiu em um ambiente controlado e sem falta de informações.
Em 1955, publicou “Desenho no estudo da personalidade: a prova de desenho da figura humana” que coloca o método desenvolvido por [[Karen Machover]] em análise, o qual apresenta a hipótese que no desenho o indivíduo expressa partes de seu comportamento, pela projeção. Mas Bori conclui que “Muitas dessas técnicas (utilização de desenhos para o estudo da personalidade) se mostram inadequadas e insatisfatórias para o diagnóstico e orientação de tratamento” (1955, p. 60). Porém, dois anos depois utilizou-se desse método para um estudo no interior de Minas Gerais, no qual, buscou descobrir as possibilidades de relações entre variáveis e os métodos utilizados, em vez de verificar hipóteses. Portanto, não descartou o uso de desenhos para pesquisas, apenas o exigiu em um ambiente controlado e sem falta de informações.
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* [[Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília]]
* [[Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília]]
* [[Isaias Pessotti]]
* [[Isaias Pessotti]]
* [[Maria Amélia Matos]]
* [[Maria do Carmo Guedes]]
* [[Sociedade Brasileira de Psicologia]]
* [[Sociedade Brasileira de Psicologia]]