Mesmerismo/Magnetismo Animal: mudanças entre as edições

Pequenas correções nas citações utilizadas ao longo do verbete
(Inserção completa do verbete na WikiHP)
 
(Pequenas correções nas citações utilizadas ao longo do verbete)
 
Linha 101: Linha 101:
Avaliações das propriedades físicas do fluido, como testes envolvendo eletrômetros e bússolas foram realizados no baquet, tendo como resultado ausência de campo magnético. Assim como, avaliações acerca dos efeitos da ação do fluido, incluindo além da magnetização dos pacientes avaliados, a magnetização de alguns dos próprios comissários também foram efetuadas. Ao todo, foram realizados dezesseis experimentos clínicos.  
Avaliações das propriedades físicas do fluido, como testes envolvendo eletrômetros e bússolas foram realizados no baquet, tendo como resultado ausência de campo magnético. Assim como, avaliações acerca dos efeitos da ação do fluido, incluindo além da magnetização dos pacientes avaliados, a magnetização de alguns dos próprios comissários também foram efetuadas. Ao todo, foram realizados dezesseis experimentos clínicos.  


Dentre as diferenças presentes nos métodos avaliativos de cada comissão, tem-se a questão da observação e da experimentação direta. A Comissão Real foi responsável por realizar ambas as formas (incluindo além da magnetização dos pacientes avaliados, a magnetização de oito de seus comissários, realizada na Clínica de D’Eslon), enquanto a Comissão da Sociedade Real de Medicina restringiu-se à observação. De todo modo, prevaleceu a conclusão geral de que a responsável pelos fenômenos era a imaginação, como explicitado por um relato de Jean-Sylvain Bailly, responsável por registrar o processo:<blockquote>“O toque, a imaginação e a imitação são as verdadeiras causas  atribuídas a este agente novo, conhecido sob o nome de magnetismo animal, a este fluido que se diz circular nos corpo e se comunicar de indivíduo a indivíduo (...) Este fluido não  existe (...) Há razões para crer que a imaginação é a principal causa dentre aquelas que se destacaram acima. Percebeu-se, pelas experiências citadas, que ela é suficiente para produzir as crises. A pressão e o toque parecem, assim, servir-lhe como preparação; é pelo toque que os nervos começam a se excitar e a imitação comunica e expande suas impressões. Mais é a imaginação, esta potência ativa e terrível que opera os grandes efeitos que se observa com espanto nos tratamentos públicos.” (Bailly 1826/2004a, pp. 111-112)</blockquote>Os relatórios de ambas as comissões, realizados de forma independente, concluíram que o fluido defendido por Mesmer não exerceu nenhuma ação sobre os pacientes analisados, e demonstraram que as supostas curas poderiam ser atribuídas aos efeitos da imaginação, do toque e da imitação, em vez de ministrações magnéticas. Os comissários observaram que uma condição importante para ser magnetizado era a crença ou expectativa da pessoa suscetível de que as condições de estímulo apropriadas haviam sido atendidas, visto que indivíduos que acreditavam estar magnetizados eram acometidos por crises mesmo quando nenhuma magnetização havia ocorrido. Experimentos com olhos vendados e sem as vendas também foram realizados, nos quais a visão da prática sendo executada contribuía para a ocorrência dos fenômenos associados, permitindo a conclusão de que o olhar atuaria na imaginação.  
Dentre as diferenças presentes nos métodos avaliativos de cada comissão, tem-se a questão da observação e da experimentação direta. A Comissão Real foi responsável por realizar ambas as formas (incluindo além da magnetização dos pacientes avaliados, a magnetização de oito de seus comissários, realizada na Clínica de D’Eslon), enquanto a Comissão da Sociedade Real de Medicina restringiu-se à observação. De todo modo, prevaleceu a conclusão geral de que a responsável pelos fenômenos era a imaginação, como explicitado por um relato de Jean-Sylvain Bailly, responsável por registrar o processo:<blockquote>“O toque, a imaginação e a imitação são as verdadeiras causas  atribuídas a este agente novo, conhecido sob o nome de magnetismo animal, a este fluido que se diz circular nos corpo e se comunicar de indivíduo a indivíduo (...) Este fluido não  existe (...) Há razões para crer que a imaginação é a principal causa dentre aquelas que se destacaram acima. Percebeu-se, pelas experiências citadas, que ela é suficiente para produzir as crises. A pressão e o toque parecem, assim, servir-lhe como preparação; é pelo toque que os nervos começam a se excitar e a imitação comunica e expande suas impressões. Mais é a imaginação, esta potência ativa e terrível que opera os grandes efeitos que se observa com espanto nos tratamentos públicos.” (BAILLY, 1826/2004a, pp. 111-112)</blockquote>Os relatórios de ambas as comissões, realizados de forma independente, concluíram que o fluido defendido por Mesmer não exerceu nenhuma ação sobre os pacientes analisados, e demonstraram que as supostas curas poderiam ser atribuídas aos efeitos da imaginação, do toque e da imitação, em vez de ministrações magnéticas. Os comissários observaram que uma condição importante para ser magnetizado era a crença ou expectativa da pessoa suscetível de que as condições de estímulo apropriadas haviam sido atendidas, visto que indivíduos que acreditavam estar magnetizados eram acometidos por crises mesmo quando nenhuma magnetização havia ocorrido. Experimentos com olhos vendados e sem as vendas também foram realizados, nos quais a visão da prática sendo executada contribuía para a ocorrência dos fenômenos associados, permitindo a conclusão de que o olhar atuaria na imaginação.  


Devido a presença de uma assinatura conjunta nos relatórios apresentados, não é possível atribuir contribuições individuais a cada comissário, com exceção de Jussieu, que o elaborou de forma individual. Nenhum dos experimentos realizados contou com a presença de Mesmer, e sim de seu ex-discípulo D'Eslon - o qual Mesmer julgava não possuir todo o conhecimento necessário acerca do magnetismo animal -, e também de um médico autodidata no magnetismo animal, sem o treinamento de Mesmer ou de D’Eslon. Em resposta, Mesmer enviou um Memorando de Justificação a Franklin e ao Barão de Breteuil, ministro da Casa do Rei, alegando que não deveria ser julgado pelos resultados apresentados por terceiros, principalmente de D’Eslon, cuja relação encontrava-se estremecida.  
Devido a presença de uma assinatura conjunta nos relatórios apresentados, não é possível atribuir contribuições individuais a cada comissário, com exceção de Jussieu, que o elaborou de forma individual. Nenhum dos experimentos realizados contou com a presença de Mesmer, e sim de seu ex-discípulo D'Eslon - o qual Mesmer julgava não possuir todo o conhecimento necessário acerca do magnetismo animal -, e também de um médico autodidata no magnetismo animal, sem o treinamento de Mesmer ou de D’Eslon. Em resposta, Mesmer enviou um Memorando de Justificação a Franklin e ao Barão de Breteuil, ministro da Casa do Rei, alegando que não deveria ser julgado pelos resultados apresentados por terceiros, principalmente de D’Eslon, cuja relação encontrava-se estremecida.  
Linha 125: Linha 125:


==== Espiritismo por Allan Kardec ====
==== Espiritismo por Allan Kardec ====
Allan Kardec definiu o Magnetismo e o Espiritismo como ciências irmãs e reconheceu a importância da primeira na preparação de um cenário favorável para a inserção da segunda:<blockquote>“O Magnetismo preparou o caminho do Espiritismo, e o rápido progresso desta última doutrina se deve, incontestavelmente, à vulgarização das ideias sobre a primeira. Dos fenômenos magnéticos, do sonambulismo e do êxtase às manifestações espíritas não há mais que um passo; tal é a sua conexão que, por assim dizer, torna-se impossível falar de um sem falar do outro. Se tivéssemos que ficar fora da ciência magnética, nosso quadro seria incompleto e poderíamos ser comparados a um professor de física que se abstivesse de falar da luz.” (Revista Espírita - Ano 1, 1858, pág. 149)</blockquote>Na época em que Mesmer realizava seus estudos relativos ao magnetismo animal, ele considerou que as aparições, êxtases e visões inexplicáveis eram fontes de erros e reconheceu que a obscuridade que envolvia esses eventos, acrescida da ignorância popular, favorecia o estabelecimento de preconceitos em todos os povos.  
Allan Kardec definiu o Magnetismo e o Espiritismo como ciências irmãs e reconheceu a importância da primeira na preparação de um cenário favorável para a inserção da segunda:<blockquote>“O Magnetismo preparou o caminho do Espiritismo, e o rápido progresso desta última doutrina se deve, incontestavelmente, à vulgarização das ideias sobre a primeira. Dos fenômenos magnéticos, do sonambulismo e do êxtase às manifestações espíritas não há mais que um passo; tal é a sua conexão que, por assim dizer, torna-se impossível falar de um sem falar do outro. Se tivéssemos que ficar fora da ciência magnética, nosso quadro seria incompleto e poderíamos ser comparados a um professor de física que se abstivesse de falar da luz.” (KARDEC, 1858, pág. 149)</blockquote>Na época em que Mesmer realizava seus estudos relativos ao magnetismo animal, ele considerou que as aparições, êxtases e visões inexplicáveis eram fontes de erros e reconheceu que a obscuridade que envolvia esses eventos, acrescida da ignorância popular, favorecia o estabelecimento de preconceitos em todos os povos.  


Nesse contexto, para que a totalidade de tais fenômenos pudessem ser completamente esclarecidas, afastando as ideias supersticiosas, faltava, além do magnetismo, outra fonte de entendimento: o espiritismo, que, ao acrescentar a intervenção dos espíritos, esclareceu os casos relativos à atuação desses seres.
Nesse contexto, para que a totalidade de tais fenômenos pudessem ser completamente esclarecidas, afastando as ideias supersticiosas, faltava, além do magnetismo, outra fonte de entendimento: o espiritismo, que, ao acrescentar a intervenção dos espíritos, esclareceu os casos relativos à atuação desses seres.
Linha 175: Linha 175:
== Autoria ==
== Autoria ==
Verbete criado originalmente por Emanuelle Mesquita Alves da Fonseca e Joyce Filhuzzi Macabú, como exigência parcial para a disciplina História da Psicologia da UFF de Rio das Ostras. Criado em 2024.1, publicado em 2024.1.
Verbete criado originalmente por Emanuelle Mesquita Alves da Fonseca e Joyce Filhuzzi Macabú, como exigência parcial para a disciplina História da Psicologia da UFF de Rio das Ostras. Criado em 2024.1, publicado em 2024.1.
[[Categoria:Teorias e conceitos]]