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Em 1945, após concluir o ensino médio na ''Phillips Academy'', em Andover, Massachusetts, Kohlberg iniciou o serviço militar na Marinha Mercante dos Estados Unidos. Vale lembrar que o ano de 1945 foi marcado pelo final da Segunda Guerra Mundial e que, por esse motivo, Kohlberg interrompeu seus serviços na Marinha Americana. Na sequência, tornou-se voluntário no navio clandestino ''Padacah''. A missão, coordenada pela organização militar sionista ''Haganah,'' tinha como objetivo transportar judeus para a Palestina, porém o navio foi interceptado por britânicos. Para enganar os fiscais e proteger os judeus, Kohlberg dizia que as camas dos refugiados eram contêineres para bananas, daí a origem do título de seu artigo ''“Beds for Bananas”,'' onde o pesquisador relatava a violência aplicada durante a captura, como o uso de gás lacrimogêneo e até mesmo a morte de bebês. Kohlberg foi preso no Chipre, onde ficou em um campo de concentração, escapando com a ajuda da ''Haganah'', que providenciou documentos falsos para que ele pudesse fugir. | Em 1945, após concluir o ensino médio na ''Phillips Academy'', em Andover, Massachusetts, Kohlberg iniciou o serviço militar na Marinha Mercante dos Estados Unidos. Vale lembrar que o ano de 1945 foi marcado pelo final da Segunda Guerra Mundial e que, por esse motivo, Kohlberg interrompeu seus serviços na Marinha Americana. Na sequência, tornou-se voluntário no navio clandestino ''Padacah''. A missão, coordenada pela organização militar sionista ''Haganah,'' tinha como objetivo transportar judeus para a Palestina, porém o navio foi interceptado por britânicos. Para enganar os fiscais e proteger os judeus, Kohlberg dizia que as camas dos refugiados eram contêineres para bananas, daí a origem do título de seu artigo ''“Beds for Bananas”,'' onde o pesquisador relatava a violência aplicada durante a captura, como o uso de gás lacrimogêneo e até mesmo a morte de bebês. Kohlberg foi preso no Chipre, onde ficou em um campo de concentração, escapando com a ajuda da ''Haganah'', que providenciou documentos falsos para que ele pudesse fugir. | ||
==Início da vida acadêmica== | ==Início da vida acadêmica== | ||
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No '''nível pré-convencional''', observado na faixa etária de 2 a 6 anos, as regras morais são impostas sobre a criança, sendo inicialmente respeitadas por medo de punições, porém a criança percebe também que o cumprimento dessas regras lhes garante recompensas. Essa fase é marcada pelo egocentrismo. Neste nível, existem dois estágios: | No '''nível pré-convencional''', observado na faixa etária de 2 a 6 anos, as regras morais são impostas sobre a criança, sendo inicialmente respeitadas por medo de punições, porém a criança percebe também que o cumprimento dessas regras lhes garante recompensas. Essa fase é marcada pelo egocentrismo. Neste nível, existem dois estágios: | ||
1-'''Punição e obediência''': Basicamente, a criança observa as regras e as cumpre, a fim de evitar punições. Ao ser punida, o tamanho de sua punição acaba por indicar o tamanho do erro praticado. Neste estágio, a criança não distingue pensamentos diferentes dos seus, porém respeita uma figura de maior poder. | 1- '''Punição e obediência''': Basicamente, a criança observa as regras e as cumpre, a fim de evitar punições. Ao ser punida, o tamanho de sua punição acaba por indicar o tamanho do erro praticado. Neste estágio, a criança não distingue pensamentos diferentes dos seus, porém respeita uma figura de maior poder. | ||
2-'''Hedonismo instrumental''': Neste estágio, ainda há o medo da punição, porém a criança percebe que pode ser recompensada se cumprir as regras. Ela percebe que o outro também tem desejos, sendo capaz, até mesmo, de realizar uma troca, porém a condição é que essa troca seja de seu próprio interesse. | 2- '''Hedonismo instrumental''': Neste estágio, ainda há o medo da punição, porém a criança percebe que pode ser recompensada se cumprir as regras. Ela percebe que o outro também tem desejos, sendo capaz, até mesmo, de realizar uma troca, porém a condição é que essa troca seja de seu próprio interesse. | ||
No '''nível convencional''' há um comportamento baseado naquilo que se é esperado da criança ou adolescente, buscando sempre uma aprovação e mantendo a ordem social. Neste nível há ainda o medo da punição, porém o que mais vale para o indivíduo são os julgamentos. Esse período é observado na faixa etária próxima aos 10 anos de idade (Idade Escolar), até a adolescência. | No '''nível convencional''' há um comportamento baseado naquilo que se é esperado da criança ou adolescente, buscando sempre uma aprovação e mantendo a ordem social. Neste nível há ainda o medo da punição, porém o que mais vale para o indivíduo são os julgamentos. Esse período é observado na faixa etária próxima aos 10 anos de idade (Idade Escolar), até a adolescência. | ||
3-''Relações interpessoais''': Neste estágio, há o ideal de “bom garoto”. Aquilo que agrada os outros, lhe garante receber a aprovação dos mesmos. Ainda neste nível, as atitudes carregadas de boas intenções, podem sobrepor uma ação vista como imoral, como por exemplo, BRIGAR (imoral) para DEFENDER (boa intenção) um animal indefeso. | 3- '''Relações interpessoais''': Neste estágio, há o ideal de “bom garoto”. Aquilo que agrada os outros, lhe garante receber a aprovação dos mesmos. Ainda neste nível, as atitudes carregadas de boas intenções, podem sobrepor uma ação vista como imoral, como por exemplo, BRIGAR (imoral) para DEFENDER (boa intenção) um animal indefeso. | ||
4-'''Autoridade mantém a ordem social:''' Neste estágio, o que está expresso nas leis, é o que de fato vale para o indivíduo. É através das leis que se sabe o que a sociedade espera dos indivíduos. Além disso, as autoridades são figuras que determinam essas leis e, portanto, têm voz ativa na sociedade. | 4- '''Autoridade mantém a ordem social:''' Neste estágio, o que está expresso nas leis, é o que de fato vale para o indivíduo. É através das leis que se sabe o que a sociedade espera dos indivíduos. Além disso, as autoridades são figuras que determinam essas leis e, portanto, têm voz ativa na sociedade. | ||
No nível '''pós-convencional''' o indivíduo consegue decidir o que é certo ou errado por uma noção mais universal do que é a justiça, por mais que manter a ordem social seja algo que importe bastante para esses indivíduos, eles ainda podem discordar das leis e das figuras de ordem, tomando as leis como algo mutável. Geralmente suas escolhas estarão pautadas nos direitos humanos e na ordem social. O nível pós-convencional pode ser observado no período final da adolescência, tendo início na vida adulta. É importante ressaltar que ao demarcarmos as faixas etárias de cada nível, buscamos nos aproximar ao máximo de uma estimativa. Porém, em especial neste nível, as pesquisas de Kohlberg apontam que são raros os indivíduos estadunidenses que alcançam o 5º estágio e apenas algumas figuras como Ghandi, Madre Tereza e Luther King, por exemplo, alcançaram o 6° estágio. (SAMPAIO, 2007, p. 587) | No nível '''pós-convencional''' o indivíduo consegue decidir o que é certo ou errado por uma noção mais universal do que é a justiça, por mais que manter a ordem social seja algo que importe bastante para esses indivíduos, eles ainda podem discordar das leis e das figuras de ordem, tomando as leis como algo mutável. Geralmente suas escolhas estarão pautadas nos direitos humanos e na ordem social. O nível pós-convencional pode ser observado no período final da adolescência, tendo início na vida adulta. É importante ressaltar que ao demarcarmos as faixas etárias de cada nível, buscamos nos aproximar ao máximo de uma estimativa. Porém, em especial neste nível, as pesquisas de Kohlberg apontam que são raros os indivíduos estadunidenses que alcançam o 5º estágio e apenas algumas figuras como Ghandi, Madre Tereza e Luther King, por exemplo, alcançaram o 6° estágio. (SAMPAIO, 2007, p. 587) | ||
5-'''Contrato social''': O indivíduo avalia sua conduta a partir de sua visão das leis. Por exemplo, se as leis são democráticas e contemplam uma maioria de forma positiva, além de preservar os direitos humanos, estas leis são bem vistas e em sua maioria são seguidas. Caso contrário, desrespeitar as leis não é visto como algo negativo. | 5- '''Contrato social''': O indivíduo avalia sua conduta a partir de sua visão das leis. Por exemplo, se as leis são democráticas e contemplam uma maioria de forma positiva, além de preservar os direitos humanos, estas leis são bem vistas e em sua maioria são seguidas. Caso contrário, desrespeitar as leis não é visto como algo negativo. | ||
6-'''Princípios universais''': Neste estágio, o indivíduo escolhe de forma consciente, adotar um ponto de vista ético como princípio, e a partir dele julgar as leis. Quando a lei contempla os princípios éticos do sujeito, ela é facilmente adotada. Quando a lei não atende a esses princípios éticos, o indivíduo priorizará agir conforme seus princípios. | 6- '''Princípios universais''': Neste estágio, o indivíduo escolhe de forma consciente, adotar um ponto de vista ético como princípio, e a partir dele julgar as leis. Quando a lei contempla os princípios éticos do sujeito, ela é facilmente adotada. Quando a lei não atende a esses princípios éticos, o indivíduo priorizará agir conforme seus princípios. | ||
Para Kohlberg, os princípios éticos estão relacionados a valores como: “vida humana, propriedade, verdade, filiação ou ligação afetiva, autoridade, lei e contrato, consciência e punição”. (BATAGLIA, 1996, ''apud'' VIDIGAL, 2001, p.58). De maneira geral, esses princípios são universais, para além de todo contrato social. Ainda sobre esse estágio 6, pode-se afirmar que nele o sujeito é capaz de ter empatia, compreender as afecções sofridas pelos indivíduos, em determinada situação e buscar uma solução que contemple a todos. | Para Kohlberg, os princípios éticos estão relacionados a valores como: “vida humana, propriedade, verdade, filiação ou ligação afetiva, autoridade, lei e contrato, consciência e punição”. (BATAGLIA, 1996, ''apud'' VIDIGAL, 2001, p.58). De maneira geral, esses princípios são universais, para além de todo contrato social. Ainda sobre esse estágio 6, pode-se afirmar que nele o sujeito é capaz de ter empatia, compreender as afecções sofridas pelos indivíduos, em determinada situação e buscar uma solução que contemple a todos. | ||
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Segundo Kohlberg, só seria possível ao sujeito passar para o próximo estágio caso o mesmo vivenciasse conflitos internos, no qual a problemática do dilema entrasse em confronto com suas questões morais pessoais. Somente depois desse confronto (que tinha como resultado um conflito cognitivo), o sujeito conseguiria maturar o julgamento moral. | Segundo Kohlberg, só seria possível ao sujeito passar para o próximo estágio caso o mesmo vivenciasse conflitos internos, no qual a problemática do dilema entrasse em confronto com suas questões morais pessoais. Somente depois desse confronto (que tinha como resultado um conflito cognitivo), o sujeito conseguiria maturar o julgamento moral. | ||
=Dilemas utilizados e o Moral Judgment Interview (MJI)= | |||
= Dilemas utilizados e o Moral Judgment Interview (MJI) = | |||
No estudo da moral, Kohlberg elaborou o Moral Judgment Interview (MJI), um instrumento de pesquisa em psicologia em três versões (A, B e C), e que consiste na apresentação de três dilemas morais acompanhado de uma entrevista semi-estruturada sobre cada dilema. Os dilemas apresentam conflitos de três tipos: | No estudo da moral, Kohlberg elaborou o Moral Judgment Interview (MJI), um instrumento de pesquisa em psicologia em três versões (A, B e C), e que consiste na apresentação de três dilemas morais acompanhado de uma entrevista semi-estruturada sobre cada dilema. Os dilemas apresentam conflitos de três tipos: | ||
# Qualidade de vida e violação das leis vs. obediência às leis; | |||
# Consideração e caráter da própria ação vs. atendimento à justiça e necessidade de punição; | |||
# Manutenção de contrato vs. manutenção da autoridade | |||
==Dilema de Heinz== | ==Dilema de Heinz== | ||
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Segundo Ravella (2010, p. 49), diante do dilema de Heinz, algumas perguntas poderiam ser feitas: | Segundo Ravella (2010, p. 49), diante do dilema de Heinz, algumas perguntas poderiam ser feitas: | ||
# Deve ou não Heinz assaltar a farmácia e roubar o medicamento? Por quê? | |||
# Se Heinz não gostasse da mulher devia roubar ou não o medicamento? Por quê? | |||
# Se a pessoa que estava a morrer não fosse a mulher, mas um desconhecido, devia ou não Heinz roubar o medicamento? Por quê? | |||
# Como deve Heinz roubar o medicamento, sabendo que por lei é proibido roubar? (Isto, se o sujeito defender que Heinz deve roubar). | |||
# É importante que as pessoas façam tudo o que podem para salvar a vida de alguém? Por quê? | |||
Segundo Vidigal (2011), a depender do nível em que o pesquisado se encontrava, as seguintes respostas poderiam ser encontradas: | Segundo Vidigal (2011), a depender do nível em que o pesquisado se encontrava, as seguintes respostas poderiam ser encontradas: | ||
''' | * '''Estágio 1''' – ''“Se você deixa sua esposa morrer, estará em um grande problema. Será acusado por não gastar o dinheiro para salvá-la, e você e o farmacêutico serão investigados pela morte dela. (''VIDIGAL, 2011, p. 60) | ||
* '''Estágio 2''' – ''“Se acontecer de você ser pego, você devolve a droga e não pega uma sentença muito grande. Não vai te incomodar muito ter cumprido essa pequena sentença se você tiver sua esposa quando sair. ”'' (VIDIGAL, 2011, p. 61) | |||
''' | * '''Estágio 3 –''' ''“Ninguém vai considerar que você é mal por ter roubado a droga, mas sua família irá pensar que você é um marido desumano se você não o fizer. Se você deixar a sua esposa morrer, nunca mais será capaz de olhar ninguém nos olhos novamente. ”'' (VIDIGAL, 2011, p. 61) | ||
* '''Estágio 4''' - ''“Se você tem um senso de honra, você não deixa a sua esposa morrer porque você tem medo de fazer a única coisa que irá salvá-la. Você sempre se sentirá culpado por ter causado sua morte e não cumpriu o seu dever para com ela. ”'' (VIDIGAL, 2011, p. 62) | |||
''' | * '''Estágio 5''' – ''“Se você deixar sua mulher morrer, seria por medo, não por julgar correto. Assim, você perderia o auto respeito e, provavelmente, o respeito dos outros também. ”'' (VIDIGAL, 2011, p. 62) | ||
* '''Estágio 6''' – ''“Se você não roubar a droga e deixar sua mulher morrer, você sempre condenará a si mesmo por isso. Você não poderá ser culpado e terá vivido de acordo com as leis, mas não terá vivido de acordo com os seus próprios padrões de consciência. ”'' (VIDIGAL, 2011, p. 63) | |||
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Ainda sobre as respostas típicas ao dilema de Heinz, encontramos em Papalia e Feldman (2013, p.409) a seguinte organização: | Ainda sobre as respostas típicas ao dilema de Heinz, encontramos em Papalia e Feldman (2013, p.409) a seguinte organização: | ||
'''Estágio 1 | * '''Estágio 1''' | ||
'''A favor''': “Ele deve roubar o remédio. Não é errado fazê-lo. Não é, porque primeiro ele quis pagar. O remédio que ele levaria vale só duzentos dólares; na verdade ele não está levando um remédio de dois mil dólares". | '''A favor''': “Ele deve roubar o remédio. Não é errado fazê-lo. Não é, porque primeiro ele quis pagar. O remédio que ele levaria vale só duzentos dólares; na verdade ele não está levando um remédio de dois mil dólares". | ||
Linha 126: | Linha 111: | ||
'''Contra:''' “Ele não deve roubar o remédio. É crime. Ele não tinha permissão; usou a força, invadiu e entrou. Ele causou muitos danos e roubou um remédio muito caro". | '''Contra:''' “Ele não deve roubar o remédio. É crime. Ele não tinha permissão; usou a força, invadiu e entrou. Ele causou muitos danos e roubou um remédio muito caro". | ||
'''Estágio 2 | * '''Estágio 2''' | ||
'''A favor:''' “Está certo roubar o remédio, pois sua mulher precisa e ele quer que ela viva. Não é que ele queira roubar, mas é o que ele tem de fazer para salvá-la". | '''A favor:''' “Está certo roubar o remédio, pois sua mulher precisa e ele quer que ela viva. Não é que ele queira roubar, mas é o que ele tem de fazer para salvá-la". | ||
Linha 132: | Linha 117: | ||
'''Contra:''' “Ele não deveria roubar. O farmacêutico não está errado nem é mau; ele só quer lucrar. É para isso que ele está no negócio - para ganhar dinheiro". | '''Contra:''' “Ele não deveria roubar. O farmacêutico não está errado nem é mau; ele só quer lucrar. É para isso que ele está no negócio - para ganhar dinheiro". | ||
'''Estágio 3 | '''Estágio 3''' | ||
'''A favor:''' “Ele deve roubar o remédio. Ele só está fazendo o que é natural um marido fazer. Não se pode culpá-lo de fazer algo por amor à esposa. Ele seria culpado se não amasse a esposa o suficiente para salvá-la". | '''A favor:''' “Ele deve roubar o remédio. Ele só está fazendo o que é natural um marido fazer. Não se pode culpá-lo de fazer algo por amor à esposa. Ele seria culpado se não amasse a esposa o suficiente para salvá-la". | ||
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'''Contra:''' “Ele não deve roubar. Se a esposa morrer, ele não tem culpa. Não é porque ele é cruel ou não ama suficientemente sua mulher a ponto de fazer tudo que é legalmente possível. O farmacêutico é que é egoísta ou cruel". | '''Contra:''' “Ele não deve roubar. Se a esposa morrer, ele não tem culpa. Não é porque ele é cruel ou não ama suficientemente sua mulher a ponto de fazer tudo que é legalmente possível. O farmacêutico é que é egoísta ou cruel". | ||
'''Estágio 4 | * '''Estágio 4''' | ||
'''A favor:''' “Você deve roubar. Se não fizer nada, deixará sua mulher morrer. A responsabilidade será sua se ela morrer. Você precisa levar o remédio com a ideia de pagar o farmacêutico". | '''A favor:''' “Você deve roubar. Se não fizer nada, deixará sua mulher morrer. A responsabilidade será sua se ela morrer. Você precisa levar o remédio com a ideia de pagar o farmacêutico". | ||
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'''Contra:''' “É natural que ele queira salvar a esposa, mas é sempre errado roubar. Ele sabe que está tirando um remédio valioso do homem que o fabricou". | '''Contra:''' “É natural que ele queira salvar a esposa, mas é sempre errado roubar. Ele sabe que está tirando um remédio valioso do homem que o fabricou". | ||
'''Estágio 5''' | * '''Estágio 5''' | ||
'''A favor:''' “A lei não foi criada para essas circunstâncias. Levar o remédio nessa situação, na verdade, não é certo, mas é justificável". | '''A favor:''' “A lei não foi criada para essas circunstâncias. Levar o remédio nessa situação, na verdade, não é certo, mas é justificável". | ||
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'''Contra:''' “Você pode não culpar totalmente uma pessoa por roubar, mas circunstâncias extremas de fato não justificam tomar a lei em suas próprias mãos. Você não pode aceitar que as pessoas roubem toda vez que estiverem desesperadas. O objetivo pode ser bom, mas os fins não justificam os meios". | '''Contra:''' “Você pode não culpar totalmente uma pessoa por roubar, mas circunstâncias extremas de fato não justificam tomar a lei em suas próprias mãos. Você não pode aceitar que as pessoas roubem toda vez que estiverem desesperadas. O objetivo pode ser bom, mas os fins não justificam os meios". | ||
'''Estágio 6 | * '''Estágio 6''' | ||
'''A favor:''' “Essa é uma situação que o força a escolher entre roubar e deixar sua mulher morrer. Numa situação em que deve ser feita uma escolha, é moralmente correto roubar. Ele tem de agir em termos do princípio de preservação e respeito à vida". | '''A favor:''' “Essa é uma situação que o força a escolher entre roubar e deixar sua mulher morrer. Numa situação em que deve ser feita uma escolha, é moralmente correto roubar. Ele tem de agir em termos do princípio de preservação e respeito à vida". | ||
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'''Contra:''' “Heinz está diante da decisão de considerar ou não as outras pessoas que precisam do remédio tanto quanto sua mulher. Ele deve agir não de acordo com os seus sentimentos pela esposa, mas considerando o valor de todas as vidas envolvidas". | '''Contra:''' “Heinz está diante da decisão de considerar ou não as outras pessoas que precisam do remédio tanto quanto sua mulher. Ele deve agir não de acordo com os seus sentimentos pela esposa, mas considerando o valor de todas as vidas envolvidas". | ||
== Dilema de Jane == | ==Dilema de Jane== | ||
Judy era uma menina de 12 anos. Sua mãe prometeu a ela que ela poderia ir a um show que ia acontecer na sua cidade se ela economizasse dinheiro para comprar um ingresso para o show. Ela conseguiu economizar os quinze dólares do preço do ingresso mais outros cinco dólares. Contudo, sua mãe mudou de ideia e disse a Judy que ela precisava gastar o dinheiro em roupas novas para a escola. Judy ficou desapontada e decidiu ir ao show mesmo assim. Ela comprou uma passagem e disse à mãe que só conseguiu economizar cinco dólares. Naquele sábado, ela foi à apresentação e disse à mãe que passaria o dia com uma amiga. Uma semana se passou sem que sua mãe descobrisse. Judy então contou para a sua irmã mais velha, Louise, que tinha ido à apresentação e mentido para a mãe sobre isso. Louise deve contar para sua mãe que Judy mentiu? | Judy era uma menina de 12 anos. Sua mãe prometeu a ela que ela poderia ir a um show que ia acontecer na sua cidade se ela economizasse dinheiro para comprar um ingresso para o show. Ela conseguiu economizar os quinze dólares do preço do ingresso mais outros cinco dólares. Contudo, sua mãe mudou de ideia e disse a Judy que ela precisava gastar o dinheiro em roupas novas para a escola. Judy ficou desapontada e decidiu ir ao show mesmo assim. Ela comprou uma passagem e disse à mãe que só conseguiu economizar cinco dólares. Naquele sábado, ela foi à apresentação e disse à mãe que passaria o dia com uma amiga. Uma semana se passou sem que sua mãe descobrisse. Judy então contou para a sua irmã mais velha, Louise, que tinha ido à apresentação e mentido para a mãe sobre isso. Louise deve contar para sua mãe que Judy mentiu? | ||
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A mãe de Jane promete que ela poderá ir ao baile no sábado se lavar a louça durante a semana inteira. Jane lava a louça, mas chegando o sábado, sua mãe diz ter mudado de idéia, e não a deixará ir ao baile. Jane sai escondida de casa e vai ao baile, confiando o segredo à sua irmã Mary. Mary deve contar o fato para a mãe? | A mãe de Jane promete que ela poderá ir ao baile no sábado se lavar a louça durante a semana inteira. Jane lava a louça, mas chegando o sábado, sua mãe diz ter mudado de idéia, e não a deixará ir ao baile. Jane sai escondida de casa e vai ao baile, confiando o segredo à sua irmã Mary. Mary deve contar o fato para a mãe? | ||
== Dilema do capitão (variação 1) == | ==Dilema do capitão (variação 1)== | ||
Um avião charter caiu no pacífico sul. Três pessoas sobreviveram. O piloto e três passageiros. Um dos passageiros era um senhor de idade avançada que tinha o ombro quebrado. O outro era um jovem, forte e saudável. Havia alguma chance de que o barco salva-vidas conseguisse chegar a salvo na ilha mais próxima se dois homens remassem continuamente por três semanas. Todavia, havia quase nenhuma chance se os três homens permanecessem no barco. Primeiro, o suplemento alimentar era insuficiente. Tinha pouco até para manter dois homens vivos pelo período de três semanas. Segundo, uma tempestade aproximava-se e o barco certamente viraria a menos que um homem não estivesse a bordo. Uma decisão deveria ser tomada rapidamente. | Um avião charter caiu no pacífico sul. Três pessoas sobreviveram. O piloto e três passageiros. Um dos passageiros era um senhor de idade avançada que tinha o ombro quebrado. O outro era um jovem, forte e saudável. Havia alguma chance de que o barco salva-vidas conseguisse chegar a salvo na ilha mais próxima se dois homens remassem continuamente por três semanas. Todavia, havia quase nenhuma chance se os três homens permanecessem no barco. Primeiro, o suplemento alimentar era insuficiente. Tinha pouco até para manter dois homens vivos pelo período de três semanas. Segundo, uma tempestade aproximava-se e o barco certamente viraria a menos que um homem não estivesse a bordo. Uma decisão deveria ser tomada rapidamente. | ||
== Dilema do capitão (variação 2) == | ==Dilema do capitão (variação 2)== | ||
Na Coréia, um grupo de dez soldados foi suplantado em números [outnumbered] e estava se retirando perante o inimigo. O grupo havia cruzado uma ponte sobre um rio, mas os inimigos ainda estavam do outro lado. Se alguém voltasse para a ponte e explodisse tudo, o grupo poderia escapar. Todavia, o homem que retornasse para explodir a ponte não conseguiria escapar com vida. O capitão perguntou se havia voluntários, mas ninguém se ofereceu. Se ninguém voltasse, era virtualmente certo que todos morreriam. (...) O capitão finalmente decidiu que tinha duas alternativas. A primeira era ordenar que o homem responsável pela demolição [demolition man] ficasse para trás. Se esse homem fosse enviado, a probabilidade de que a missão fosse cumprida com sucesso era de 80%. A segunda alternativa era selecionar alguém por sorteio. Se qualquer um que não o homem responsável pela demolição fosse selecionado, a probabilidade de que a missão seria cumprida com sucesso era de 70%. Qual das duas alternativas o capitão deveria escolher e por quê? | Na Coréia, um grupo de dez soldados foi suplantado em números [outnumbered] e estava se retirando perante o inimigo. O grupo havia cruzado uma ponte sobre um rio, mas os inimigos ainda estavam do outro lado. Se alguém voltasse para a ponte e explodisse tudo, o grupo poderia escapar. Todavia, o homem que retornasse para explodir a ponte não conseguiria escapar com vida. O capitão perguntou se havia voluntários, mas ninguém se ofereceu. Se ninguém voltasse, era virtualmente certo que todos morreriam. (...) O capitão finalmente decidiu que tinha duas alternativas. A primeira era ordenar que o homem responsável pela demolição [demolition man] ficasse para trás. Se esse homem fosse enviado, a probabilidade de que a missão fosse cumprida com sucesso era de 80%. A segunda alternativa era selecionar alguém por sorteio. Se qualquer um que não o homem responsável pela demolição fosse selecionado, a probabilidade de que a missão seria cumprida com sucesso era de 70%. Qual das duas alternativas o capitão deveria escolher e por quê? | ||
== Dilema de Joe == | ==Dilema de Joe== | ||
Joe é um garoto de quatorze anos que queria muito ir para o acampamento. Seu pai prometeu que ele poderia ir se ele mesmo economizasse dinheiro para isso. Assim, Joe trabalhou bastante entregando jornais e economizou os quarenta dólares que custava para ir para o acampamento, e ainda um pouco mais. Mas pouco antes do acampamento começar, seu pai mudou de ideia. Alguns de seus amigos decidiram fazer uma pescaria especial, e o pai de Joe estava sem o dinheiro que isso custaria. Então ele disse a Joe para lhe dar o dinheiro que ele economizou com a entrega de jornais. Joe não queria desistir de ir para o acampamento, então pensa em se recusar a dar o dinheiro ao pai. | Joe é um garoto de quatorze anos que queria muito ir para o acampamento. Seu pai prometeu que ele poderia ir se ele mesmo economizasse dinheiro para isso. Assim, Joe trabalhou bastante entregando jornais e economizou os quarenta dólares que custava para ir para o acampamento, e ainda um pouco mais. Mas pouco antes do acampamento começar, seu pai mudou de ideia. Alguns de seus amigos decidiram fazer uma pescaria especial, e o pai de Joe estava sem o dinheiro que isso custaria. Então ele disse a Joe para lhe dar o dinheiro que ele economizou com a entrega de jornais. Joe não queria desistir de ir para o acampamento, então pensa em se recusar a dar o dinheiro ao pai. | ||
== Dilema dos dois irmãos == | ==Dilema dos dois irmãos== | ||
Dois jovens, irmãos, estavam com sérios problemas. Eles estavam secretamente deixando a cidade com pressa e precisavam de dinheiro. Karl, o mais velho, invadiu uma loja e roubou mil dólares. Bob, o mais jovem, foi até um velho aposentado que era conhecido por ajudar as pessoas na cidade. Ele disse ao homem que estava muito doente e que precisava de mil dólares para pagar a operação. Bob pediu ao velho que lhe emprestasse o dinheiro e prometeu que o pagaria de volta quando se recuperasse. Na verdade, Bob não estava nem um pouco doente e não tinha intenção de pagar ao homem de volta. Embora o velho não conhecesse Bob muito bem, ele lhe emprestou o dinheiro. Então Bob e Karl fugiram da cidade, cada um com mil dólares. | Dois jovens, irmãos, estavam com sérios problemas. Eles estavam secretamente deixando a cidade com pressa e precisavam de dinheiro. Karl, o mais velho, invadiu uma loja e roubou mil dólares. Bob, o mais jovem, foi até um velho aposentado que era conhecido por ajudar as pessoas na cidade. Ele disse ao homem que estava muito doente e que precisava de mil dólares para pagar a operação. Bob pediu ao velho que lhe emprestasse o dinheiro e prometeu que o pagaria de volta quando se recuperasse. Na verdade, Bob não estava nem um pouco doente e não tinha intenção de pagar ao homem de volta. Embora o velho não conhecesse Bob muito bem, ele lhe emprestou o dinheiro. Então Bob e Karl fugiram da cidade, cada um com mil dólares. | ||
Linha 224: | Linha 209: | ||
=Discípulos/Seguidores/Quem influenciou= | =Discípulos/Seguidores/Quem influenciou= | ||
*[[Angela Biaggio|Ângela Maria Biaggio]] | *[[Angela Biaggio|Ângela Maria Biaggio]] | ||
*Darcia Narvaez | *[[Darcia Narvaez]] | ||
*Elliot Turiel | *[[Elliot Turiel]] | ||
*James Rest | *[[James Rest]] | ||
*Júlia Oliveira Formosinho | *[[Júlia Oliveira Formosinho]] | ||
*Muriel J. Bebeau | *[[Muriel J. Bebeau]] | ||
*Orlando Lourenço | *[[Orlando Lourenço]] | ||
*Stephen J. Thoma | *[[Stephen J. Thoma]] | ||
Segundo Ravella (2010, p. 14), a teoria de Kohlberg tem grande influência nas questões da educação moral, sendo assim, ao longo dos anos, diversos pesquisadores interessaram-se pelo trabalho desenvolvido por Kohlberg e foram influenciados por ele. Como exemplo, podemos citar James Rest e Elliot Turiel. Ambos defendiam a teoria desenvolvida por Kohlberg, principalmente no que se refere à importância que o estudioso deu à função da '''razão'''. Ainda de acordo com Ravella (2010, p.14), é possível encontrar trabalhos, realizados em língua inglesa que falam sobre uma abordagem chamada “''neo-kohlberguiana''”. Neste contexto, destacamos mais uma vez James Rest e seu trabalho, publicado no ano de 1999, desenvolvido em parceria com Darcia Narvaez, Muriel J. Bebeau e Stephen J. Thoma. | Segundo Ravella (2010, p. 14), a teoria de Kohlberg tem grande influência nas questões da educação moral, sendo assim, ao longo dos anos, diversos pesquisadores interessaram-se pelo trabalho desenvolvido por Kohlberg e foram influenciados por ele. Como exemplo, podemos citar James Rest e Elliot Turiel. Ambos defendiam a teoria desenvolvida por Kohlberg, principalmente no que se refere à importância que o estudioso deu à função da '''razão'''. Ainda de acordo com Ravella (2010, p.14), é possível encontrar trabalhos, realizados em língua inglesa que falam sobre uma abordagem chamada “''neo-kohlberguiana''”. Neste contexto, destacamos mais uma vez James Rest e seu trabalho, publicado no ano de 1999, desenvolvido em parceria com Darcia Narvaez, Muriel J. Bebeau e Stephen J. Thoma. | ||
Linha 242: | Linha 227: | ||
=Obras= | =Obras= | ||
● The Philosophy of Moral Development: Moral Stages and the Idea of Justice | ● The Philosophy of Moral Development: Moral Stages and the Idea of Justice | ||
● Moral Stages: A Current Formulation and a Response to Critics (Contributions to Human Development) | ● Moral Stages: A Current Formulation and a Response to Critics (Contributions to Human Development) | ||
● Lawrence Kohlberg′s Approach to Moral Education - F. Clark Power, Ann Higgins, Lawrence Kohlberg | ● Lawrence Kohlberg′s Approach to Moral Education - F. Clark Power, Ann Higgins, Lawrence Kohlberg | ||
● The Measurement of Moral Judgement - Ann Colby, Lawrence Kohlberg, Betsy Speicher, Alexandra Hewer, Daniel Candee, John Gibbs e Clark Power | ● The Measurement of Moral Judgement - Ann Colby, Lawrence Kohlberg, Betsy Speicher, Alexandra Hewer, Daniel Candee, John Gibbs e Clark Power | ||
● Constructivist Early Education, Overview an Comparison With Our Program: Overview and Comparison With Other Programs - Rheta Devries , Lawrence Kohlberg | ● Constructivist Early Education, Overview an Comparison With Our Program: Overview and Comparison With Other Programs - Rheta Devries, Lawrence Kohlberg | ||
=Relação com outros personagens ou teorias= | =Relação com outros personagens ou teorias= | ||
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● Outra diferença pode ser encontrada no fato de que para Piaget a ação antecede o juízo moral (definido como a capacidade cognitiva de diferenciar o certo e o errado), enquanto Kohlberg defendia o inverso. | ● Outra diferença pode ser encontrada no fato de que para Piaget a ação antecede o juízo moral (definido como a capacidade cognitiva de diferenciar o certo e o errado), enquanto Kohlberg defendia o inverso. | ||
=Ver também= | =Ver também= | ||
* [[Jean Piaget]] | |||
* [[Carol Gilligan]] | |||
* [[Escola Cluster]] | |||
* [[Angela Biaggio|Ângela Maria Brasil Biaggio]] | |||
=Referências= | |||
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=Autoria= | == Autoria == | ||
Verbete criado inicialmente por: Juliana de Azevedo Santos, Kevin Souza dos Santos Silva, Ralfe Viana Costa, como exigência parcial para a disciplina de Psicologia e Desenvolvimento Cognitivo da UFF de Rio das Ostras. Criado em 2021.1. publicado em 2021.1. | Verbete criado inicialmente por: Juliana de Azevedo Santos, Kevin Souza dos Santos Silva, Ralfe Viana Costa, como exigência parcial para a disciplina de Psicologia e Desenvolvimento Cognitivo da UFF de Rio das Ostras. Criado em 2021.1. publicado em 2021.1. | ||
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