Christophe Dejours nasceu em Paris, França, em 7 de abril de 1949. É doutor em medicina, com formação em psicossomática e psicanálise, especialista em medicina do trabalho e em psiquiatria. Além disso, é professor no Conservatoire National des Arts et Métiers CNAM), em Paris, e diretor científico do Laboratório de Psicologia do Trabalho e da Ação. Se torna um pioneiro ao tratar da ciência sobre a “análise do sofrimento psíquico resultante do confronto dos homens com a organização do trabalho”, e é conhecido como um dos primeiros psicanalistas do trabalho.

BiografiaEditar

Christophe Dejours nasceu no dia 7 de abril de 1949, em Paris, França. Em 1968, no ano em que havia um vasto movimento de denúncia do trabalho alienante e a descoberta da condição da classe trabalhadora, em particular a dos trabalhadores imigrantes da França, Dejours iniciou seus estudos em medicina com a intenção de se tornar um psicanalista. Assim, optou por uma dupla formação, em psiquiatria e em ergonomia e medicina do trabalho, devido a uma bolsa de estudos de dois anos e então começou sua investigação em psicopatologia ocupacional. Concluiu seu doutorado em medicina em 1974 e adquiriu seu certificado de estudos especiais em medicina do trabalho em 1975. Nesse mesmo ano, foi residente no Hôpitaux psychiatriques de la Seine.

Em 1978, cursou ergonomia no Conservatoire National des arts e mètiers e no ano seguinte obteve seu certificado de especialização em psiquiatria. Entre os anos de 1978 e 1982, Dejours foi médico do trabalho na Universidade Pierre e Marie Curie, também conhecida como Universidade de Paris VI, ao mesmo tempo em que trabalhou e estudou no Hôtel-Dieu com biólogos e clínicos, enquanto se formava em psicanálise e psicossomática.

Dejours se tornou membro do Instituto de Psicossomática de Paris em 1983 e atuou como psiquiatra de 1981 a 1990. Posteriormente foi nomeado para a cadeira de psicologia do trabalho no Conservatoire National des Arts et Métiers em Paris (1990) e tornou-se membro da Association Psychanalytique de France um pouco mais tarde. No processo de construção do conceito da Psicodinâmica do Trabalho, uma abordagem científica que possibilita uma compreensão contemporânea sobre a subjetividade no trabalho, Dejours organizou, em 1984, o primeiro Colóquio Nacional de Psicopatologia do Trabalho, onde foram apresentados vários indicadores de sofrimento, tendo a participação de sindicalistas e profissionais da saúde do trabalhador. Desde essa década, a ideia da Psicodinâmica passa por reformulações importantes.

Em 1992, Dejours introduziu o nome “psicodinâmica do trabalho” para designar o campo da investigação que é mais amplo do que o da psicopatologia do trabalho, na medida em que envolve o estudo não só do sofrimento e da patologia em relação ao trabalho, mas também do prazer e mesmo da saúde através do trabalho. Ao chegar no Conservatoire National des Arts et Métiers, Dejours montou um laboratório com atividades de investigação no campo dos negócios, serviços, agricultura e criação de animais, na indústria, entre outros.

Em 1998, quando Christophe Dejours publicou o livro Souffrance em France: Banalisation de l'injustice sociale, já correspondia a 20 anos de experiência e estudos de campo, e para o doutor era evidente que a relação entre a saúde mental e o trabalho estava a se deteriorar. Dejours recebeu o prêmio Maurice-Bouvet em 2001, concedido por todo o seu trabalho na psicanálise. Em 2006, se tornou professor da cadeira de psicanálise, saúde e trabalho do Conservatoire National des Arts et Métiers.

Dejours tem pesquisado a vida psíquica no trabalho a mais de 30 anos, tendo como foco o sofrimento psíquico e as estratégias de enfrentamento utilizadas pelos trabalhadores para a superação e transformação do trabalho em fonte de prazer.

ContribuiçõesEditar

Christophe Dejours é considerado maior expoente da psicanálise no campo da psicopatologia do trabalho, considerando sua abordagem divergente. Vale notar que sua abordagem “Psicodinâmica do Trabalho” não suplantou ou substituiu a psicopatologia do trabalho, diferenciando-se deste campo que, por si só, já contava com uma vasta pluralidade de abordagens e métodos de pesquisa e atuação.

Sua abordagem inovadora tornou-se uma referência para a psicopatologia do trabalho, apesar das divergências. Sua pesquisa tem exercido grande influência na área e ele é um dos pensadores contemporâneos mais conhecidos associado à psicopatologia do trabalho. Seu trabalho representa uma grande contribuição na concepção do ser humano em sua interface com o trabalho. Apesar de empregar um método psicanalítico, ressalta a importância da transdisciplinaridade na compreensão dos processos de saúde relacionados ao trabalho, encontrando na sociologia e na antropologia suportes para ampliação da compreensão sobre tais processos.

TeoriaEditar

Dejours propõe, em 1992, a mudança do termo psicopatologia do trabalho para “Psicodinâmica do Trabalho”, pois propôs-se a investigar as estratégias empregadas pelos trabalhadores na manutenção da saúde e da normalidade diante de condições adversas e de uma organização do trabalho perversa. Desde 1980, Dejours já tem sua atenção voltada para tais processos, o que na época chamou de “estratégias defensivas”. Sua Psicodinâmica do Trabalho trata das investigações psicológicas acerca destes processos, individuais e/ou coletivos, da manutenção da normalidade, e que são passíveis de descompensação. Psicodinâmica do Trabalho, sobretudo, amplia o campo de investigação para além das doenças mentais associadas à atividade laboral. Tal ampliação permite um olhar, não só para o sofrimento no trabalho, mas para o prazer; não só para o trabalhador, mas para a organização do trabalho.

Para Dejours, o prazer no trabalho está associado ao emprego das aptidões psicomotoras, psicossensoriais e psíquicas do trabalhador. Desta forma, quando o trabalhador possui uma autonomia, ainda que relativa, para tomar decisões acerca da organização de seu trabalho (organização dos homens, organização das tarefas, condições de trabalho, etc.), ele possui mais ferramentas para fazer de seu trabalho uma fonte de prazer. No entanto, ao se encontrar diante de condições insalubres e de um itinerário de tarefas irredutíveis e que ameacem seu equilíbrio psicossomático, este empregará estratégias defensivas para manter sua saúde mental.

Dejours emprega uma leitura psicanalítica dos trabalhadores em sua teoria, chegando a alegar que a psicanálise representa a via régia para se pensar uma psicodinâmica da normalidade. No entanto, indica que as estratégias mobilizadas para a manutenção da normalidade não são conhecidas pela psicanálise, ou pela psiquiatria. Ele afirma que os elementos pertinentes a estes processos também são objetos de estudo principalmente da sociologia e da antropologia da saúde, adicionando a psicodinâmica do trabalho como um destes campos de pesquisa.

CríticasEditar

Em entrevista, Dejours é questionado acerca de como sua obra “Souffrance en France: Banalisation de l'injustice sociale” foi recebida pelos especialistas da época. A partir disso, o autor responde afirmando que para uns, o livro foi uma revelação, para outros, um alívio, mas que também houve uma quantia numerosa de detratores: “Entre psicólogos, psiquiatras e psicanalistas, o lugar que dou à filosofia moral a fim de compreender a etiologia do sofrimento e patologia mental no trabalho não só é inaceitável, como é uma patologia e contradição teórica e epistemológica” (DEJOURS, 2018). Ainda, completa dizendo que há muitos cientistas sociais que denunciam seu livro como uma análise psicologizante, vitimista, “miserabilista” e “despolitizante”.

Posteriormente, Dejours afirma também ter sido criticado por sua discussão com as teses de Hannah Arendt sobre o trabalho (Condição do Homem Moderno) e a banalidade do mal (Eichmann em Jerusalém). Porém, a fim de marcar tanto o que devia ao pensamento de Arendt quanto à distância crítica de suas posições, o doutor propôs uma distorção do título “Eichmann em Jerusalém” para “Ensaio sobre a banalização do mal”. Porém, sua editora preferiu a primeira opção.

Por fim, Dejours disserta acerca das acusações que recebera – nem sempre honestas, segundo ele – de que havia amalgamado o neoliberalismo aos campos de concentração nazistas, o que para ele seria justamente o oposto de sua tese. O autor encerra afirmando que, na época, a controvérsia sobre sua obra foi bastante severa e que pensa continuar até os dias de hoje.

Cronologia biográficaEditar

1949: Christophe Dejours nasce em Paris, França.

1974: Conclui doutorado em Medicina.

1975: Certificado de estudos especiais em medicina do trabalho.

1975: Residente no Hôpitaux psychiatriques de la Seine.

1978: Cursou ergonomia no Conservatoire National des arts e mètiers.

1979: Certificado de estudos especializados em psiquiatria.

1980: Assistente de hospitais psiquiátricos, classificado em primeiro lugar no concurso.

1981: Trabalha como Psiquiatra.

1990: Se torna professor da cadeira de Psicologia do Trabalho do Conservatoire national des arts et métiers, em Paris.

2006: Professor da cadeira de Psicanálise-Saúde-Trabalho do Conservatoire national des arts et métiers, em Paris.

Quem influenciouEditar

Pode-se observar no Brasil a presença de diversas pesquisas que vem utilizando a abordagem da psicodinâmica do trabalho. Tendo como destaque as áreas da arte, entretenimento e lazer nas pesquisas de Lúcia Kratz Souza, Kátia Barbosa Macêdo, João Batista de Oliveira Ferreira e Marcos Valle Bueno. Além disso, na área da saúde com os estudos de Ana Magnólia Bezerra Mendes e Álvaro Roberto Crespo Merlo.

O trabalho observado pela visão da psicodinâmica tende a buscar um interesse principalmente nos estudos sobre o prazer, conectado a identidade, liberdade, autonomia, sublimação, reconhecimento e com destaque para o processo criativo. Mas além disso, se liga também ao sofrimento, que está relacionado com a ausência de sobrecarga, reconhecimento e na patologia da solidão estudada por Christophe Dejours.

Não há como negar a interferência dos trabalhos de Dejours sobre os estudos dos pensadores que por algum momento já estiveram em posições de parceiros e colaboradores do pai da psicodinâmica do trabalho. Esses tornaram-se, ao longo de seus desenvolvimentos acadêmicos, dissentes e críticos do destino da Psicodinâmica do Trabalho. Entre ex-colegas de profissão e parceiros de pesquisa, como Philippe Davezies, Damien Cru e Yves Clot, a influência de Dejours sobre toda a área de pesquisa referente ao trabalho e saúde é de grande valor.

Relação com outros personagens e teoriasEditar

Em uma de suas obras, “A Banalização da Injustiça Social”, Christophe Dejours faz uma análise das várias formas de supressão e desigualdades sociais exercidas em prol dos modos de produção da sociedade contemporânea. Essa obra é de grande valor por ser a primeira contribuição a analisar tais feitos com a participação e colaboração das pessoas que sofreram essas injustiças. Para a construção da análise das formas de banalização da gestão do trabalho, Dejours utilizou da visão de Hannah Arendt, uma filósofa alemã de origem judaica, que examinou a questão do nazismo Alemão, mais especificamente as atitudes do oficial nazista Eichmann. Esse que diversas vezes permitiu, consentiu e colaborou com a matança indiscriminada de judeus no período da Segunda Guerra Mundial, serviu de baseamento para Arendt na formação da expressão “Banalidade do Mal”.

Ademais, Dejours utilizou de um dos conceitos formulados por Jürgen Habermas, conhecido como “distorção comunicacional”, com a finalidade de analisar variados meios de comunicação que em nome da “valorização”, foram responsáveis por criar comunicações distorcidas sobre o trabalho. A exemplo dessas comunicações, tem-se a negação da descrição da atividade produtiva, o silêncio entre os trabalhadores sobre a realidade do trabalho, o sofrimento subjetivo e a injustiça no trabalho. Christopher Dejours utilizou de ambos os conceitos de forma que conseguisse realizar uma reflexão sobre a banalização e a negação das torturas no meio de trabalho.

ObrasEditar

Uma lista completa das obras de Dejours pode ser encontrada aqui.

PrêmiosEditar

Prêmio Maurice-Bouvet (2001) - Concedido por todo o seu trabalho.

ReferênciasEditar

  1. ABRAHAO, Júlia. A loucura do trabalho. Psicol. cienc. prof., Brasília, v. 10, n. 1, p. 39, 1990.
  2. ANDRÉ. O sofrimento no trabalho: artigo de Christophe Dejours. Revista IHU On-line, 2013.
  3. APF. M. Christophe Dejours. Association Psychanalytique de France.
  4. ATHAYDE, Milton. Christophe Dejours: da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 21, n. 3, p. 989-990, junho 2005.
  5. BUENO, Marcos; MACÊDO, Kátia Barbosa. A Clínica psicodinâmica do trabalho: de Dejours às pesquisas brasileiras. Ecos: estudos contemporâneos da subjetividade, Campos dos Goytacazes, v. 2, n. 2, p. 306-318, 21 nov. 2012.
  6. CARDOSO, Marta Rezende. Christophe Déjours. Ágora (Rio J.), Rio de Janeiro, v. 4, n. 2, p. 89-94, dez.  2001.
  7. CNAM. Christophe Dejours. Équipe de recherche. Cnam - Psychanalyse, santé, travail.
  8. DEJOURS, Christophe. Loucura e trabalho: da análise etiológica às contradições teóricas (acerca de uma crise asmática). In: DEJOURS, Christophe. Psicodinâmica do trabalho: casos clínicos. Porto Alegre - São Paulo: Dublinense, 2017. p. 19-41. Tradução de: Vanise Dresch.
  9. DEJOURS, Christophe. Por um novo conceito de saúde. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, v. 14, n. 54, p. 7-11. 1986. Palestra proferida na Federação dos Trabalhadores da Metalurgia da Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT).
  10. GRANGER, Bernard. Sortir du travail aliénant: entretien avec Christophe Dejours. PSN, v. 16, n° 3, p. 27 a 36, 2018.
  11. KANABUS, Benoît. Christophe Dejours - O corpo inacabado entre fenomenologia e psicanálise: entrevista. Psicol. USP, São Paulo, v. 26, n. 3, p. 328-339, dez.  2015.
  12. Les lauréats du prix Maurice Bouvet. Revue française de psychanalyse, 2013/4 (Vol. 77), p. 1155-1160. DOI: 10.3917/rfp.774.1155.
  13. MARTINS, Soraya Rodrigues; CRUZ, Roberto Moraes; BOTOME, Sílvio Paulo. A (in)sustentável banalização do ser. Rev. Psicol., Organ. Trab., Florianópolis, v. 1, n. 1, p. 173-179, jun. 2001.
  14. MENDES, Ana Magnólia Bezerra. Aspectos psicodinâmicos da relação homem-trabalho: as contribuições de C. Dejours. Psicol. cienc. prof., Brasília, v. 15, n. 1-3, p. 34-38, 1995. 
  15. NASSIF, L. E. Origens e desenvolvimento da Psicopatologia do Trabalho na França (século XX): uma abordagem histórica. Memorandum: Memória e História em Psicologia, [S. l.], v. 8, p. 79–87, 2005.

Ver tambémEditar

Links externosEditar

Entrevista com Christophe Dejours sobre Violências no Trabalho

Obras de Christophe Dejours

AutoriaEditar

Verbete criado inicialmente por: André Nunes Penha, Hanna Okamoto Antunes, Matheus Caciquinho Siman e Thais Arci, como exigência parcial para a disciplina de Psicologia e História Social do Trabalho da UFF de Rio das Ostras. Criado em 2021.1, publicado em 2021.1