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Lawrence Kohlberg nasceu em 25 de outubro de 1927, na cidade de Bronxville, e faleceu em 19 de janeiro de 1987, na cidade de Bonston. Foi um conhecido psicólogo e professor norte-americano. Seu interesse dentro do campo psi | Lawrence Kohlberg nasceu em 25 de outubro de 1927, na cidade de Bronxville, e faleceu em 19 de janeiro de 1987, na cidade de Bonston. Foi um conhecido psicólogo e professor norte-americano. Seu interesse dentro do campo psi estava na área do desenvolvimento, sendo o criador da teoria dos “Estágios de Desenvolvimento Moral”, teoria responsável por sua fama. | ||
=Biografia= | =Biografia= | ||
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==Origem== | ==Origem== | ||
Em 1927, em Bronxville, Nova Iorque, Estados Unidos, nascia o psicólogo social americano Lawrence Kohlberg. Seu pai, Alfred Kohlberg, era um rico comerciante que atuava no ramo da seda. Sua mãe chamava-se Charlotte Albrecht Kohlberg. A boa condição financeira de sua família possibilitou que estudasse em bons colégios, de reconhecida qualidade acadêmica. | Em 1927, em Bronxville, Nova Iorque, Estados Unidos, nascia o psicólogo social americano Lawrence Kohlberg. Seu pai, Alfred Kohlberg, era um rico comerciante que atuava no ramo da seda. Sua mãe chamava-se Charlotte Albrecht Kohlberg. A boa condição financeira de sua família possibilitou que Kohlberg estudasse em bons colégios, de reconhecida qualidade acadêmica. Lawrence era o filho mais novo de uma família com quatro filhos. | ||
Lawrence Kohlberg não foi um adolescente disciplinado. Costumeiramente era penalizado por fumar e beber com os amigos, além de fugir para namorar. Apesar dos atos proibidos que cometia, Kohlberg não se sentia culpado por infringir as regras. De acordo com Francisco (2006, p. 35), Kohlberg “acreditava que as regras que violava eram resultantes de convenções arbitrárias e não do princípio de justiça ou da preocupação pelos direitos e bem-estar das pessoas”. | |||
Em 1945, após concluir o ensino médio na ''Phillips Academy'', em Andover, Massachusetts, Kohlberg iniciou o serviço militar na Marinha Mercante dos Estados Unidos. Vale lembrar que o ano de 1945 foi marcado pelo final da Segunda Guerra Mundial e que, por esse motivo, Kohlberg interrompeu seus serviços na Marinha Americana. Na sequência, tornou-se voluntário no navio clandestino ''Padacah''. A missão | Em 1945, após concluir o ensino médio na ''Phillips Academy'', em Andover, Massachusetts, Kohlberg iniciou o serviço militar na Marinha Mercante dos Estados Unidos. Vale lembrar que o ano de 1945 foi marcado pelo final da Segunda Guerra Mundial e que, por esse motivo, Kohlberg interrompeu seus serviços na Marinha Americana. Na sequência, tornou-se voluntário no navio clandestino ''Padacah''. A missão, coordenada pela organização militar sionista ''Haganah,'' tinha como objetivo transportar judeus para a Palestina, porém o navio foi interceptado por britânicos. Para enganar os fiscais e proteger os judeus, Kohlberg dizia que as camas dos refugiados eram contêineres para bananas, daí a origem do título de seu artigo ''“Beds for Bananas”,'' onde o pesquisador relatava a violência aplicada durante a captura, como o uso de gás lacrimogêneo e até mesmo a morte de bebês. Kohlberg foi preso no Chipre, onde ficou em um campo de concentração, escapando com a ajuda da ''Haganah'', que providenciou documentos falsos para que ele pudesse fugir. | ||
==Início da vida acadêmica== | ==Início da vida acadêmica== | ||
Após esse período conturbado, relativo ao trabalho voluntário no navio ''Padacah'' e sua prisão, Kohlberg ingressou na Universidade de Chicago em 1948, para cursar Psicologia. Por ter um rendimento nos testes de admissão bem acima da média, Kohlberg concluiu a graduação em Psicologia em apenas um ano. | |||
Em 1958, ele obteve seu doutorado também na Universidade de Chicago. Seu trabalho versava sobre a existência de estágios de desenvolvimento moral, universais e invariáveis. A tese de doutorado de Kohlberg, representou então uma ampliação da obra de Piaget, identificando seis estágios de desenvolvimento moral. É importante destacar que Piaget abordou o desenvolvimento da consciência moral até 12 e 13 anos, fase em que o indivíduo alcançaria a moral autônoma. Kohlberg foi além, afirmando que esse nível de desenvolvimento só seria alcançado em torno dos 20 anos de idade, no melhor dos casos. | |||
Em 1958 | |||
É importante destacar que apontamentos de Kohlberg, tiveram como influência os trabalhos dos seguintes estudiosos: George Herbert Mead, John Dewey, Platão, Émile Durkheim e Jean Piaget, tendo esse último uma influência crucial em sua pesquisa. | |||
==Pesquisa empírica sobre o desenvolvimento moral== | ==Pesquisa empírica sobre o desenvolvimento moral== | ||
Nos anos seguintes à conclusão do doutorado, Kohlberg dedicou-se a provar empiricamente a sua hipótese da existência de estágios de desenvolvimento moral universais. Para isso, o autor deu continuidade aos seus estudos na tentativa de comprovar a validade de sua tese, nas mais diversas realidades culturais. Isso foi importante para que Kohlberg demonstrasse a validade de sua hipótese de desenvolvimento moral independente do contexto cultural. Outro objetivo alcançado com esta parte de suas pesquisas foi o refinamento e melhor definição dos estágios já elaborados. | |||
Nos anos seguintes à conclusão do doutorado, Kohlberg dedicou-se a provar empiricamente a sua hipótese da existência de estágios de desenvolvimento moral universais. Para isso, o autor deu continuidade aos seus estudos na tentativa de comprovar a validade de sua tese, nas mais diversas realidades culturais. | |||
Ao observar durante 20 anos um grupo de meninos, Kohlberg finalmente concluiu que o desenvolvimento moral segue uma sequência de estágios que não é afetada pelas questões culturais. Seus estudos iniciaram quando os meninos tinham entre 10 e 16 anos e foram finalizados quando os meninos tinham idade entre 22 e 28 anos. Sua pesquisa consistia em propor dilemas morais aos meninos e observar suas respostas. Ao longo desses 20 anos, o mesmo grupo de meninos era entrevistado a cada quatro anos. | Ao observar durante 20 anos um grupo de meninos, Kohlberg finalmente concluiu que o desenvolvimento moral segue uma sequência de estágios que não é afetada pelas questões culturais. Seus estudos iniciaram quando os meninos tinham entre 10 e 16 anos e foram finalizados quando os meninos tinham idade entre 22 e 28 anos. Sua pesquisa consistia em propor dilemas morais aos meninos e observar suas respostas. Ao longo desses 20 anos, o mesmo grupo de meninos era entrevistado a cada quatro anos. | ||
Como já foi dito, Kohlberg observou o desenvolvimento moral em diversos lugares do mundo, | Como já foi dito, Kohlberg observou o desenvolvimento moral em diversos lugares do mundo, como Malásia, Taiwan, Turquia, México e Estados Unidos. Sua investigação teve como resultado a publicação da obra ''Essays on moral development'' no ano de 1981, obra apresentada em 3 volumes. | ||
Sua investigação teve como resultado a publicação da obra ''Essays on moral development'' | |||
Foram realizados inúmeros estudos nas mais diversas culturas até 1985. Os resultados de todos esses trabalhos culminaram na mesma conclusão: a de que os estágios podem ser observados no desenvolvimento humano, independentemente do local ou contexto cultural, religião, etnia e outros. | Foram realizados inúmeros estudos nas mais diversas culturas até 1985. Os resultados de todos esses trabalhos culminaram na mesma conclusão: a de que os estágios podem ser observados no desenvolvimento humano, independentemente do local ou contexto cultural, religião, etnia e outros. | ||
==Vida e carreira== | |||
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Kohlberg foi contratado pela Universidade de Harvard, onde assumiu o cargo de docente na ''Graduate School of Education''. Sua vida também foi marcada pela participação em movimentos políticos como o movimento civil contra a discriminação racial e contra a guerra do Vietnã, na década de 1970. Também atuou em prisões e escolas de ensino médio nos Estados Unidos onde tinha como objetivo implantar a ideia de “comunidade justa”, que consistia em adotar práticas para o exercício de uma democracia participativa. | Kohlberg foi contratado pela Universidade de Harvard, onde assumiu o cargo de docente na ''Graduate School of Education''. Sua vida também foi marcada pela participação em movimentos políticos como o movimento civil contra a discriminação racial e contra a guerra do Vietnã, na década de 1970. Também atuou em prisões e escolas de ensino médio nos Estados Unidos onde tinha como objetivo implantar a ideia de “comunidade justa”, que consistia em adotar práticas para o exercício de uma democracia participativa. | ||
Enquanto esteve em Belize, para realização de pesquisas, no ano de 1971, Kohlberg contraiu uma parasita intestinal que lhe causou uma infecção. A partir disso, sentiu constantes dores, ao longo de 16 anos. Tal condição fez com que sua saúde ficasse debilitada, desenvolvendo também um quadro de depressão. | Enquanto esteve em Belize, para realização de pesquisas, no ano de 1971, Kohlberg contraiu uma parasita intestinal que lhe causou uma infecção. A partir disso, sentiu constantes dores, ao longo de 16 anos. Tal condição fez com que sua saúde ficasse debilitada, desenvolvendo também um quadro de depressão. | ||
==Fim da vida== | ==Fim da vida== | ||
Kohlberg faleceu em janeiro de 1987, aos 59 anos. Seu carro foi localizado estacionado em uma rua e o seu corpo foi encontrado no mar, três meses depois do seu desaparecimento, na cidade de Boston, aparentando se tratar de um caso de suicídio. | Kohlberg faleceu em janeiro de 1987, aos 59 anos. Seu carro foi localizado estacionado em uma rua e o seu corpo foi encontrado no mar, três meses depois do seu desaparecimento, na cidade de Boston, aparentando se tratar de um caso de suicídio. | ||
=Contribuições= | =Contribuições= | ||
==Conceitos, apontamentos e teoria== | ==Conceitos, apontamentos e teoria== | ||
Por suas fortes influências advindas dos trabalhos de Piaget, Kohlberg desenvolveu sua teoria calcada na ideia de que o desenvolvimento moral está ligado ao desenvolvimento cognitivo. Segundo Vidigal (2011, p. 50), o trabalho de Piaget, tinha como foco central o desenvolvimento humano, com interesse no desenvolvimento cognitivo | Por suas fortes influências advindas dos trabalhos de Piaget, Kohlberg desenvolveu sua teoria calcada na ideia de que o desenvolvimento moral está ligado ao desenvolvimento cognitivo. Segundo Vidigal (2011, p. 50), o trabalho de Piaget, tinha como foco central o desenvolvimento humano, com interesse no desenvolvimento cognitivo, mas esmo assim, Piaget tratou de questões referentes ao desenvolvimento moral, limitando-se a falar apenas de crianças. O resultado de suas pesquisas foi divulgado no livro O Juízo Moral na Criança, publicado em 1932. Kohlberg, por sua vez, foi além de seu mestre nos estudos sobre a moralidade, dedicando grande parte de sua vida ao desenvolvimento de uma teoria a respeito do assunto. Como resultado, sua contribuição teórica vigorou nos estudos a respeito do desenvolvimento moral (BIAGGIO, 1997). | ||
Diferente de Piaget, Kohlberg produziu um estudo longitudinal com crianças e adolescentes, indo até a fase adulta dos participantes. Para ele, o desenvolvimento humano se constitui na relação do sujeito com o meio, não sendo passível de separação. Tal pensamento é o ponto central na moralidade para Kohlberg. | Diferente de Piaget, Kohlberg produziu um estudo longitudinal com crianças e adolescentes, indo até a fase adulta dos participantes. Para ele, o desenvolvimento humano se constitui na relação do sujeito com o meio, não sendo passível de separação. Tal pensamento é o ponto central na moralidade para Kohlberg. | ||
Outra contribuição de Kohlberg, foi a elaboração de uma sequência universal do desenvolvimento da moral. De acordo com ele, todo ser humano passa por uma sequência de estágios de desenvolvimento. Tal sequência pode ser observada nas mais diversas culturas e contextos. | Outra contribuição de Kohlberg, foi a elaboração de uma sequência universal do desenvolvimento da moral. De acordo com ele, todo ser humano passa por uma sequência de estágios de desenvolvimento. Tal sequência pode ser observada nas mais diversas culturas e contextos. | ||
=Teoria= | =Teoria= | ||
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==Desconsideração às diferenças referentes ao gênero== | ==Desconsideração às diferenças referentes ao gênero== | ||
Encontramos principalmente em Carol Gilligan, a crítica de que a teoria de Kohlberg não leva em consideração as questões de gênero. Tal crítica pode ser fundamentada no fato de que a pesquisa realizada por Kohlberg, só contou com a participação de indivíduos do sexo masculino em sua amostra. Essa postura metodológica, trouxe à tona a acusação de que Kohlberg não levou em conta as especificidades do desenvolvimento moral das meninas. Para Ravella (2010, p. 64), Gilligan defendia a existência de uma postura ética, característica das mulheres, conceituada pela autora como uma “ética do cuidado” (''ethics of care''). A concepção de Gilligan, representa um contraste à teoria de Kohlberg, uma vez que essa se caracteriza pela “ética da justiça”, pautada nos direitos e normas. Como exemplo de trabalhos em que Gilligan aborda o assunto, destacamos sua tese ''In a Different Voice: Psychological Theory and Women’s Development'' e o texto ''In a Different Voice: Womens’s Conceptions of Self and of Morality, de'' 1977. (SPINELLI, 2019, p. 247) | Encontramos principalmente em Carol Gilligan, a crítica de que a teoria de Kohlberg não leva em consideração as questões de gênero. Tal crítica pode ser fundamentada no fato de que a pesquisa realizada por Kohlberg, só contou com a participação de indivíduos do sexo masculino em sua amostra. Essa postura metodológica, trouxe à tona a acusação de que Kohlberg não levou em conta as especificidades do desenvolvimento moral das meninas. Para Ravella (2010, p. 64), Gilligan defendia a existência de uma postura ética, característica das mulheres, conceituada pela autora como uma “ética do cuidado” (''ethics of care''). A concepção de Gilligan, representa um contraste à teoria de Kohlberg, uma vez que essa se caracteriza pela “ética da justiça”, pautada nos direitos e normas. Como exemplo de trabalhos em que Gilligan aborda o assunto, destacamos sua tese ''In a Different Voice: Psychological Theory and Women’s Development'' e o texto ''In a Different Voice: Womens’s Conceptions of Self and of Morality, de'' 1977. (SPINELLI, 2019, p. 247). | ||
==Desvalorização da influência de aspectos como emoção e hábito no desenvolvimento moral== | ==Desvalorização da influência de aspectos como emoção e hábito no desenvolvimento moral== | ||
Outro ponto que coloca em dúvida a teoria de Kohlberg, se refere ao fato de que ele não aborda em seus estudos, a influência das emoções e do hábito, não dando a esses aspectos a devida importância. | Outro ponto que coloca em dúvida a teoria de Kohlberg, se refere ao fato de que ele não aborda em seus estudos, a influência das emoções e do hábito, não dando a esses aspectos a devida importância. | ||
==Elaboração da proposta da escola de Cluster e aplicação da técnica de educação moral “Comunidade Justa”== | |||
Nas décadas de 1960 e 1970, escolas alternativas começaram a despontar nos Estados Unidos. No ano de 1974, pais e professores requisitaram que Kohlberg assistisse uma escola, com uma proposta alternativa, em Cambridge. Como Kohlberg já desejava uma oportunidade nesse sentido, aceitou o pedido e assim foi concebida a escola alternativa chamada de Cluster. (BIAGGIO, 1997, n.p.) | |||
A escola possuía 64 estudantes, 6 docentes e pessoal administrativo que se reuniam em grupo, cerca de duas horas por dia. Cluster fazia parte de outra escola, a ''Cambridge High School,'' uma escola pública de grande porte. Apesar dos alunos passarem mais tempo na Cambridge, se identificavam mais com a Cluster e julgavam-se não pertencentes à Cambridge. Cerca de 3 vezes por semana, os estudantes participavam de aulas de inglês e estudos sociais na Cluster (BIAGGIO, 1997). | |||
Uma vez por semana acontecia uma “reunião da comunidade”. Participavam desses encontros alunos e professores, com a proposta de conversarem sobre as demandas e questões e discutia-se também regras e a manutenção delas. Tudo era decidido através de discussões, e o voto da maioria prevalecia. Havia paridade entre os votos, uma vez que os votos de professores e alunos tinham o mesmo valor (BIAGGIO, 1997). | |||
A agenda da reunião da comunidade era elaborada com antecedência com a participação de Kolberg, da equipe e dos alunos voluntários. Assim, Kohlberg e professores debatiam sobre quais tópicos eram relevantes para uma discussão moral na reunião. Um dia antes da reunião, alunos e professores se encontravam nos pequenos grupos que eram denominados de "grupos conselheiros”. | |||
Na escola de Cluster, a igualdade era um ideal valorizado e buscado por todos, a todo momento. Sendo assim, professores e alunos eram vistos como iguais, no que se referia às regras, direitos e deveres. (BIAGGIO, 1997). | |||
=Cronologia biográfica= | =Cronologia biográfica= | ||