Adelheid Lucy Koch: mudanças entre as edições

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Adelheid Koch graduou-se em Medicina na Universidade de Berlim em 1924 e, posteriormente, submeteu-se a análise - por quatro anos e meio - com Otto Fenichel para ingressar como candidata no Instituto de Psicanálise de Berlim (1929), onde tornou-se membro em 1935. Com a ameaça de uma Segunda Guerra Mundial e com a intensificação do antissemitismo e do regime Nazista na Alemanha, além dos episódios de queimas dos livros de Freud e da arianização das instituições médicas, Adelheid, que possuía origem judaica e que, portanto, sofria as consequências das perseguições à sua etnia aliada à sua condição profissional de psicanalista, decide vir ao Brasil após ser convidada para vir ao país para exercer a função de analista-didata e participar da formação de novos psicanalistas.
Adelheid Koch graduou-se em Medicina na Universidade de Berlim em 1924 e, posteriormente, submeteu-se a análise - por quatro anos e meio - com Otto Fenichel para ingressar como candidata no Instituto de Psicanálise de Berlim (1929), onde tornou-se membro em 1935. Com a ameaça de uma Segunda Guerra Mundial e com a intensificação do antissemitismo e do regime Nazista na Alemanha, além dos episódios de queimas dos livros de Freud e da arianização das instituições médicas, Adelheid, que possuía origem judaica e que, portanto, sofria as consequências das perseguições à sua etnia aliada à sua condição profissional de psicanalista, decide vir ao Brasil após ser convidada para vir ao país para exercer a função de analista-didata e participar da formação de novos psicanalistas.


Em 1936, a Dra. Koch chega ao novo país com sua família e ,por não possuir contato com a língua portuguesa, tem de início dificuldades em se adaptar ao novo lar, como retrata sua filha Eleonora: "Acho que foi difícil por causa da língua. Eles não sabiam como se comportar. A coisa não é só a língua falada, mas é a gente entender a coisa extraverbal" (KOCH, 1994, p.18). Diante disso, Adelheid só entra em contato com [http://wiki.historiadapsicologia.com.br/index.php?title=Durval_Marcondes Durval Marcondes] para iniciar seus trabalhos no ano seguinte, em julho de 1937.
Em 1936, a Dra. Koch chega ao novo país com sua família e ,por não possuir contato com a língua portuguesa, tem de início dificuldades em se adaptar ao novo lar, como retrata sua filha Eleonora: "Acho que foi difícil por causa da língua. Eles não sabiam como se comportar. A coisa não é só a língua falada, mas é a gente entender a coisa extraverbal" (KOCH, 1994, p.18). Diante disso, Adelheid só entra em contato com [[Durval Marcondes]] para iniciar seus trabalhos no ano seguinte, em julho de 1937.


Seus primeiros candidatos à análise foram algumas das pessoas que contribuíram para a formação do primeiro núcleo psicanalítico da América Latina. Como as ideias ainda eram muito recentes no Brasil, ela teve que assumir a postura de analista e professora. Dentre esses candidatos, encontram-se figuras importantes para o movimento psicanalítico no Brasil, como Darcy Uchôa, [http://wiki.historiadapsicologia.com.br/index.php?title=Virg%C3%ADnia_Bicudo Virgínia Bicudo] e Flávio Dias. Esse grupo almejava integrar-se na IPA (Associação Internacional de Psicanálise), uma tarefa que demandava tempo e dedicação.
Seus primeiros candidatos à análise foram algumas das pessoas que contribuíram para a formação do primeiro núcleo psicanalítico da América Latina. Como as ideias ainda eram muito recentes no Brasil, ela teve que assumir a postura de analista e professora. Dentre esses candidatos, encontram-se figuras importantes para o movimento psicanalítico no Brasil, como Darcy Uchôa, [[Virgínia Bicudo]] e Flávio Dias. Esse grupo almejava integrar-se na IPA (Associação Internacional de Psicanálise), uma tarefa que demandava tempo e dedicação.


No dia 9 de outubro de 1943, a Dra. Koch enviou uma carta a Ernest Jones, que presidia a IPA, solicitando que os psicanalistas formados pelo núcleo se tornassem membros de uma filial da IPA. Dois meses depois, Jones respondeu e concordou em aceitar tais nomes indicados, pavimentando o terreno da fundação do Grupo Psicanalítico de São Paulo em 1944, que foi reconhecido definitivamente como filial apenas no ano de 1951. Assim, a Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP) tornou-se um marco muito significativo para a psicanálise brasileira, atingindo níveis clínicos e científicos inimagináveis na década de 1970 e de 1980.
No dia 9 de outubro de 1943, a Dra. Koch enviou uma carta a Ernest Jones, que presidia a IPA, solicitando que os psicanalistas formados pelo núcleo se tornassem membros de uma filial da IPA. Dois meses depois, Jones respondeu e concordou em aceitar tais nomes indicados, pavimentando o terreno da fundação do Grupo Psicanalítico de São Paulo em 1944, que foi reconhecido definitivamente como filial apenas no ano de 1951. Assim, a Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP) tornou-se um marco muito significativo para a psicanálise brasileira, atingindo níveis clínicos e científicos inimagináveis na década de 1970 e de 1980.
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O surgimento da psicanálise no Brasil passou por diversos entraves no meio acadêmico, dificultando o processo de reconhecimento da psicanálise como uma ciência. Foi preciso muito empenho e divulgação científica para que o movimento atraísse força, e ainda assim, durante o período entre 1910 a 1940, permaneceu discriminado pelas instituições renomadas do Estado. A tentativa de que a psicanálise fosse reconhecida pela Faculdade de Medicina foi falha e um clima crescente de hostilidade e marginalização era notório.
O surgimento da psicanálise no Brasil passou por diversos entraves no meio acadêmico, dificultando o processo de reconhecimento da psicanálise como uma ciência. Foi preciso muito empenho e divulgação científica para que o movimento atraísse força, e ainda assim, durante o período entre 1910 a 1940, permaneceu discriminado pelas instituições renomadas do Estado. A tentativa de que a psicanálise fosse reconhecida pela Faculdade de Medicina foi falha e um clima crescente de hostilidade e marginalização era notório.


[http://wiki.historiadapsicologia.com.br/index.php?title=Durval_Marcondes Durval Marcondes] tentou reverter esse cenário contatando a IPA para que mandasse ao Brasil uma psicanalista-didata, com o intuito de alavancar as pesquisas aqui no país e atender uma demanda que estava em falta. Em 1936, a psicanalista alemã Adelheid Koch chega ao Brasil e passa a atuar junto com [http://wiki.historiadapsicologia.com.br/index.php?title=Durval_Marcondes Durval] na institucionalização da psicanálise no Brasil.
[[Durval Marcondes]] tentou reverter esse cenário contatando a IPA para que mandasse ao Brasil uma psicanalista-didata, com o intuito de alavancar as pesquisas aqui no país e atender uma demanda que estava em falta. Em 1936, a psicanalista alemã Adelheid Koch chega ao Brasil e passa a atuar junto com [[Durval Marcondes|Durval]] na institucionalização da psicanálise no Brasil.


==Discípulos/Seguidores/Quem influenciou==
==Discípulos/Seguidores/Quem influenciou==


Adelheid Koch trabalhou como assistente de [http://wiki.historiadapsicologia.com.br/index.php?title=Durval_Marcondes Durval Marcondes] na cadeira de psicanálise na Escola de Sociologia e Política no período entre 1939 e 1941, convidada a contribuir com o Instituto de higiene mental público, e no meio tempo foi desenvolvendo os seus estudos sobre psicanálise e aprendendo sobre a cultura e língua brasileira. Por essa ótica, as produções de Adelheid apresentam grande respaldo e influência das obras freudianas, utilizadas em suas pesquisas na área da psicanálise infantil.
Adelheid Koch trabalhou como assistente de [[Durval Marcondes]] na cadeira de psicanálise na Escola de Sociologia e Política no período entre 1939 e 1941, convidada a contribuir com o Instituto de higiene mental público, e no meio tempo foi desenvolvendo os seus estudos sobre psicanálise e aprendendo sobre a cultura e língua brasileira. Por essa ótica, as produções de Adelheid apresentam grande respaldo e influência das obras freudianas, utilizadas em suas pesquisas na área da psicanálise infantil.


Em sua posição de analista, Adelheid ensinou aos seus analisandos conhecimentos de psicanálise, propiciando um espaço de debate em que todos podiam manifestar suas opiniões, sendo muito querida pelos que a rodeavam e conhecida por sua personalidade amável e imponente. Seus primeiros seguidores foram Flávio Diaz e [[Virgínia Bicudo]], na qual se destacou posteriormente como uma analista eminente em um meio extremamente misógino e por ter estreado o divã da doutora Adelheid Koch, em 1937. Seguidamente, Darcy Uchôa, Durval, Lygia Amaral, Isaías Melshon, Ferrão, Judith Andreucci uniram-se ao grupo. Logo, A Dra. Koch influenciou um contingente de novos emergentes da psicanálise com seus trabalhos, os quais constituíram o primeiro grupo de psicanalistas brasileiros. O seu trabalho recebeu apoio do jornalista e empresário do José Nabantino Ramos, do grupo Folha, e Adelheid buscou a associação psicanalítica internacional (IPA) em busca da efetivação e prestígio da sociedade paulista.
Em sua posição de analista, Adelheid ensinou aos seus analisandos conhecimentos de psicanálise, propiciando um espaço de debate em que todos podiam manifestar suas opiniões, sendo muito querida pelos que a rodeavam e conhecida por sua personalidade amável e imponente. Seus primeiros seguidores foram Flávio Dias e [[Virgínia Bicudo]], na qual se destacou posteriormente como uma analista eminente em um meio extremamente misógino e por ter estreado o divã da doutora Adelheid Koch, em 1937. Seguidamente, Darcy Uchôa, [[Durval Marcondes|Durval]], Lygia Amaral, Isaías Melshon, Ferrão, Judith Andreucci uniram-se ao grupo. Logo, A Dra. Koch influenciou um contingente de novos emergentes da psicanálise com seus trabalhos, os quais constituíram o primeiro grupo de psicanalistas brasileiros. O seu trabalho recebeu apoio do jornalista e empresário do José Nabantino Ramos, do grupo Folha, e Adelheid buscou a associação psicanalítica internacional (IPA) em busca da efetivação e prestígio da sociedade paulista.


==Obras==
==Obras==
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Adelheid Koch deixou poucos escritos e obras em seu acervo, porém, como analista-didata, produziu diversos seminários, aulas e artigos, entre eles:
Adelheid Koch deixou poucos escritos e obras em seu acervo, porém, como analista-didata, produziu diversos seminários, aulas e artigos, entre eles:


*Análise de resistência numa neurose narcísica - 1935
*Análise de Resistência Numa Neurose Narcísica (1935)
*Elementos básicos da terapia psicanalítica – 1945
*Elementos Básicos da Terapia Psicanalítica (1945)
*Omnipotence and sublimation – 1956
*Omnipotence and Sublimation (1956)


==Relação com outros personagens ou teorias==
==Relação com outros personagens ou teorias==
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*Flávio Dias
*Flávio Dias
*Darcy de Mendonça Uchôa
*Darcy de Mendonça Uchôa
*Virgínia L. Bicudo
*[[Virgínia L. Bicudo]]
*[http://wiki.historiadapsicologia.com.br/index.php?title=Durval_Marcondes Durval Marcondes]
*[[Durval Marcondes]]
*Lygia Amaral
*Lygia Amaral
*Isaías Melsohn
*Isaías Melsohn
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==Ver também==
==Ver também==


*[http://wiki.historiadapsicologia.com.br/index.php?title=Durval_Marcondes Durval Marcondes]
*[[Durval Marcondes]]
*[http://wiki.historiadapsicologia.com.br/index.php?title=Virg%C3%ADnia_Bicudo Virgínia Bicudo]
*[[Virgínia Bicudo]]


==Referências==
==Referências==


#GALVÃO, LUIZ DE ALMEIDA PRADO. Notas para a história da psicanálise em São Paulo. Revista Brasileira de Psicanálise, v. 50, n. 1, p. 28–43, 2016.
#GALVÃO, LUIZ DE ALMEIDA PRADO. Notas para a história da psicanálise em São Paulo. Revista Brasileira de Psicanálise, v. 50, n. 1, p. 28–43, 2016.
#GOMES, Maria; BICUDO, Virgínia; TEPERMAN, Maria; et al. Uma história brasileira 1. JORNAL de PSICANÁLISE, v. 46, n. 85, p. 209–229, 2013. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/jp/v46n85/v46n85a19.pdf>.
#GOMES, Maria; BICUDO, Virgínia; TEPERMAN, Maria; et al. [http://pepsic.bvsalud.org/pdf/jp/v46n85/v46n85a19.pdf Uma história brasileira]. JORNAL de PSICANÁLISE, v. 46, n. 85, p. 209–229, 2013.
#KOCK, A. Elementos básicos da terapia psicanalítica. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, v. 3, n. 4, p. 458–466, dez. 1945.
#KOCK, A. Elementos básicos da terapia psicanalítica. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, v. 3, n. 4, p. 458–466, dez. 1945.
#‌NOSEK, Leopold. Álbum de família: imagens, fontes e idéias da psicanálise em São Paulo. Casa do Psicólogo, 1994.
#‌NOSEK, Leopold. Álbum de família: imagens, fontes e idéias da psicanálise em São Paulo. Casa do Psicólogo, 1994.
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