Adelheid Lucy Koch (Berlim, 16 de outubro de 1896 – São Paulo, 29 de julho de 1980) foi uma médica formada pela Universidade de Berlim e pioneira da psicanálise no Brasil. Sua vinda para o novo território foi fruto da perseguição antissemita que sofria por ter origem judaica. Ela ficou conhecida por difundir os saberes que circulavam na Europa sobre a psicanálise freudiana no Brasil e fez parte do grupo dos primeiros analistas brasileiros, o que foi essencial para a fundação da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP).

BiografiaEditar

Adelheid Koch graduou-se em Medicina na Universidade de Berlim em 1924 e, posteriormente, submeteu-se a análise - por quatro anos e meio - com Otto Fenichel para ingressar como candidata no Instituto de Psicanálise de Berlim (1929), onde tornou-se membro em 1935. Com a ameaça de uma Segunda Guerra Mundial e com a intensificação do antissemitismo e do regime Nazista na Alemanha, além dos episódios de queimas dos livros de Freud e da arianização das instituições médicas, Adelheid, que possuía origem judaica e que, portanto, sofria as consequências das perseguições à sua etnia aliada à sua condição profissional de psicanalista, decide vir ao Brasil após ser convidada para vir ao país para exercer a função de analista-didata e participar da formação de novos psicanalistas.

Em 1936, a Dra. Koch chega ao novo país com sua família e ,por não possuir contato com a língua portuguesa, tem de início dificuldades em se adaptar ao novo lar, como retrata sua filha Eleonora: "Acho que foi difícil por causa da língua. Eles não sabiam como se comportar. A coisa não é só a língua falada, mas é a gente entender a coisa extraverbal" (KOCH, 1994, p.18). Diante disso, Adelheid só entra em contato com Durval Marcondes para iniciar seus trabalhos no ano seguinte, em julho de 1937.

Seus primeiros candidatos à análise foram algumas das pessoas que contribuíram para a formação do primeiro núcleo psicanalítico da América Latina. Como as ideias ainda eram muito recentes no Brasil, ela teve que assumir a postura de analista e professora. Dentre esses candidatos, encontram-se figuras importantes para o movimento psicanalítico no Brasil, como Darcy Uchôa, Virgínia Bicudo e Flávio Dias. Esse grupo almejava integrar-se na IPA (Associação Internacional de Psicanálise), uma tarefa que demandava tempo e dedicação.

No dia 9 de outubro de 1943, a Dra. Koch enviou uma carta a Ernest Jones, que presidia a IPA, solicitando que os psicanalistas formados pelo núcleo se tornassem membros de uma filial da IPA. Dois meses depois, Jones respondeu e concordou em aceitar tais nomes indicados, pavimentando o terreno da fundação do Grupo Psicanalítico de São Paulo em 1944, que foi reconhecido definitivamente como filial apenas no ano de 1951. Assim, a Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP) tornou-se um marco muito significativo para a psicanálise brasileira, atingindo níveis clínicos e científicos inimagináveis na década de 1970 e de 1980.

Em uma viagem à Inglaterra em 1948, Adelheid assistiu seminários de psicanalistas, incluindo o de Anna Freud, entrando em contato com a teoria de Melanie Klein, sobre a qual disse: “a aproximação do ponto de vista kleiniano é bem mais natural e fácil pra mim do que imaginei, e estou aprendendo muito” (KOCH, 1994, p.20). Isto representa a visão não ortodoxa da Dra. Koch em relação à psicanálise, pois além de estudar a fundo a teoria de Freud, permitiu-se conhecer teorias diferentes e que impactaram na sua atuação, como a da própria Melanie Klein e de outros autores como Sándor Ferenczi e Wilfred Bion.

Adelheid, em 1966, começa a sentir os sintomas de câncer nas glândulas salivares e buscou um tratamento no ano seguinte nos EUA. Ela faleceu em 29 de julho de 1980, em São Paulo.

ContribuiçõesEditar

  • Primeira psicanalista didata no Brasil e em toda América Latina
  • Pioneira da psicanálise no Brasil
  • Membro do Instituto de Psicanálise de Berlim em 1934
  • Ministrava os seminários teóricos-clínicos
  • Participou da formação de novos psicanalistas no Brasil

TeoriaEditar

Adelheid Koch deixou poucos escritos teóricos durante sua vida. Em uma palestra dada na Conferência feita na Secção de Neuro-Psiquiatria da Associação Paulista de Medicina em 5 de outubro de 1945, ela apresentou métodos de análise clínica e o que consistia o processo analítico, ou seja, a procura de conhecer a origem dos sintomas psíquicos. Para a Dra. Koch, os afetos psíquicos e sociais podem ter as mesmas origens, mesmos em situações diferentes. A relação de poder entre pai e filho que pode levar ao paciente a atribuir ao médico o poder que conferia aos pais na infância. Indicava, portanto, que a infância poderia ser a gênese para entender processos mentais neuróticos, por exemplo, como ela mesmo diz:

“Os atos de severidade e castigo estimulam na criança impulsos hostis e vingativos que ela, por medo do pai, não pode demonstrar nem descarregar: a dependência e o medo obrigam-na a reprimir tais impulsos hostis que, desta forma, se acumulam na sua psique (...). A neurose é, pois, o resultado da fuga, ou melhor, da defesa do indivíduo contra os perigos da vida impulsiva, e esta defesa começa na infância”.  (KOCH, 1945, p. 459)

CríticasEditar

O surgimento da psicanálise no Brasil passou por diversos entraves no meio acadêmico, dificultando o processo de reconhecimento da psicanálise como uma ciência. Foi preciso muito empenho e divulgação científica para que o movimento atraísse força, e ainda assim, durante o período entre 1910 a 1940, permaneceu discriminado pelas instituições renomadas do Estado. A tentativa de que a psicanálise fosse reconhecida pela Faculdade de Medicina foi falha e um clima crescente de hostilidade e marginalização era notório.

Durval Marcondes tentou reverter esse cenário contatando a IPA para que mandasse ao Brasil uma psicanalista-didata, com o intuito de alavancar as pesquisas aqui no país e atender uma demanda que estava em falta. Em 1936, a psicanalista alemã Adelheid Koch chega ao Brasil e passa a atuar junto com Durval na institucionalização da psicanálise no Brasil.

Discípulos/Seguidores/Quem influenciouEditar

Adelheid Koch trabalhou como assistente de Durval Marcondes na cadeira de psicanálise na Escola de Sociologia e Política no período entre 1939 e 1941, convidada a contribuir com o Instituto de higiene mental público, e no meio tempo foi desenvolvendo os seus estudos sobre psicanálise e aprendendo sobre a cultura e língua brasileira. Por essa ótica, as produções de Adelheid apresentam grande respaldo e influência das obras freudianas, utilizadas em suas pesquisas na área da psicanálise infantil.

Em sua posição de analista, Adelheid ensinou aos seus analisandos conhecimentos de psicanálise, propiciando um espaço de debate em que todos podiam manifestar suas opiniões, sendo muito querida pelos que a rodeavam e conhecida por sua personalidade amável e imponente. Seus primeiros seguidores foram Flávio Dias e Virgínia Bicudo, na qual se destacou posteriormente como uma analista eminente em um meio extremamente misógino e por ter estreado o divã da doutora Adelheid Koch, em 1937. Seguidamente, Darcy Uchôa, Durval, Lygia Amaral, Isaías Melshon, Ferrão, Judith Andreucci uniram-se ao grupo. Logo, A Dra. Koch influenciou um contingente de novos emergentes da psicanálise com seus trabalhos, os quais constituíram o primeiro grupo de psicanalistas brasileiros. O seu trabalho recebeu apoio do jornalista e empresário do José Nabantino Ramos, do grupo Folha, e Adelheid buscou a associação psicanalítica internacional (IPA) em busca da efetivação e prestígio da sociedade paulista.

ObrasEditar

Adelheid Koch deixou poucos escritos e obras em seu acervo, porém, como analista-didata, produziu diversos seminários, aulas e artigos, entre eles:

  • Análise de Resistência Numa Neurose Narcísica (1935)
  • Elementos Básicos da Terapia Psicanalítica (1945)
  • Omnipotence and Sublimation (1956)

Relação com outros personagens ou teoriasEditar

Ver tambémEditar

ReferênciasEditar

  1. GALVÃO, Luiz de Almeida Prado. Notas para a história da psicanálise em São Paulo. Revista Brasileira de Psicanálise, v. 50, n. 1, p. 28–43, 2016.
  2. GOMES, Maria; BICUDO, Virgínia; TEPERMAN, Maria; et al. Uma história brasileira. JORNAL de PSICANÁLISE, v. 46, n. 85, p. 209–229, 2013.
  3. KOCK, A. Elementos básicos da terapia psicanalítica. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, v. 3, n. 4, p. 458–466, dez. 1945.
  4. ‌NOSEK, Leopold. Álbum de família: imagens, fontes e idéias da psicanálise em São Paulo. Casa do Psicólogo, 1994.

AutoriaEditar

Verbete criado inicialmente por Marina Toledo, Rebeca Goifman e Sophie Prado, como exigência parcial para disciplina de História da Psicologia da UFF de Rio das Ostras. Criado em 2021.2, publicado em 2021.2.