Resumo

A reflexividade tem sido um tema comum na literatura sobre a história da psicologia nos últimos anos. Refletir sobre a história da psicologia é, para os historiadores da psicologia, o último passo reflexivo. A Alemanha é amplamente considerada como a terra natal da psicologia “moderna” ou “científica”. Foi nesse país que o trabalho conhecido mais antigo que utiliza no título a palavra “psicologia” foi publicado, em 1590. Também foi aqui que o primeiro livro com o título “Geschichte der Psychologie” [História da Psicologia] foi publicado, em 1808. Isso reflete o fato de que uma literatura substancial sobre psicologia já havia sido publicada na Europa Continental por volta do final do século dezoito. Vários outros trabalhos sobre história da psicologia foram publicados em países falantes de alemão no século dezenove e nos anos que conduziram à Primeira Guerra Mundial. Países falantes de inglês foram relativamente tardios na adoção da psicologia, mas esta cresceu rapidamente nos Estados Unidos quando ela foi adotada, e o país já era a força dominante no campo por volta da eclosão da Primeira Guerra Mundial. Muitos trabalhos sobre a história da psicologia foram publicados nos Estados Unidos por volta da mesma época, sugerindo que as disciplinas e a história disciplinar tendem a aparecer simultaneamente. Isso acontece, porque disciplinas usam sua história para criar uma identidade distinta para si mesmas. A história da psicologia foi amplamente ensinada nos departamentos de psicologia na América do Norte, e vários manuais foram publicados para auxiliar esses cursos. O A History of Experimental Psychology [Uma História da Psicologia Experimental] (1929/1950) de E. G. Boring foi, de longe, o mais influente desses livros-texto e moldou substancialmente o entendimento dos psicólogos sobre a história de seu campo. Por exemplo, foi Boring quem remontou a história da disciplina ao estabelecimento do laboratório de psicologia experimental de Wilhelm Wundt na Universidade de Leipzig em 1879. Os anos de 1979 e 1980 foram amplamente celebrados como o “centenário” da psicologia, e o XXII Congresso Internacional de Psicologia foi realizado em Leipzig para marcar a ocasião. Antes dos anos 1960, a história da psicologia era, principalmente, um campo pedagógico, e ainda é para muitos psicólogos. Contudo, ela se tornou também uma área de especialização durante essa década. Isso aconteceu, em parte, devido ao fato de alguns poucos psicólogos terem a adotado como sua área principal de interesse e, em parte, devido ao fato de historiadores da ciências terem se tornado mais interessados no campo. Um grande corpo de literatura acadêmica foi produzido, incluindo alguns manuais acadêmicos, mas essa literatura existe lado a lado com manuais mais tradicionais, para os quais ainda há demanda significativa. Há sinais de que a história da psicologia está enfrentando dificuldades como um ramo da psicologia na América do Norte e na Europa nos anos recentes. Contudo, o interesse pelo campo tem crescido entre psicólogos em outras partes do mundo e entre historiadores da ciência. Essa situação vai, inevitavelmente, ter implicações para o conteúdo do campo.

Palavras-chave

Palavras-chave: história da psicologia, reflexividade; história disciplinar; controvérsias científicas; historiografia; livros-texto; história crítica; história da ciência.

Reflexividade

Reflexividade é um termo que  tem sido usado com frequência na história da psicologia nos anos recentes (Capshew, 2007; Smith, 2007; Richards, 2011; Morawski, 2014). Ele tem sido utilizado de diferentes modos por diferentes autores, mas um de seus usos comuns tem sido o de apontar que a psicologia envolve seres humanos tentando entender seres humanos, e, assim, que as teorias psicológicas deveriam ser aplicadas a si mesmas. A história da psicologia provê aos psicólogos uma rara oportunidade de se afastar e refletir sobre sua disciplina e, assim, ela é de importância singular no que concerne a isso. A história da psicologia, de forma similar, envolve seres humanos tentando entender os seres humanos que chamam a si mesmos “psicólogos” e, assim, refletir sobre a história da história da psicologia é, para os historiadores da psicologia, o último passo reflexivo.

Escopo e limites do verbete

Todas as histórias são seletivas, quer seus autores estejam conscientes disso ou não. O melhor modo de abordar esse problema é tornar explícita a seleção e explicar as razões para ela. Eu não tenho nem o espaço nem a expertise para cobrir a história da história da psicologia em todos os países ao redor do mundo. Eu focarei, portanto, principalmente na Alemanha do século dezenove e nos Estados Unidos do século vinte.

A Alemanha é amplamente considerada como a terra natal da psicologia científica (Ash, 2003). É lá que o trabalho mais antigo conhecido com a palavra “psicologia” no título foi publicado, em 1590 (Goclenius, 1590). Foi também aqui que o trabalho mais antigo com o título “Geschichte der Psychologie” [História da Psicologia] foi publicado, em 1808 (Carus, 1808). A Alemanha foi também o lar de figuras significativas, como Helmholtz, Fechner e Wundt, e uma literatura substancial sobre história da psicologia foi publicada na Alemanha no século dezenove e nos anos que conduziram à Primeira Guerra Mundial.

Tanto a psicologia como sua história se desenvolveram de forma relativamente lenta nos Estados Unidos, mas cresceram rapidamente quando o fizeram. Por volta do início da Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos eram a força dominante na psicologia, e uma grande quantidade de literatura sobre a história da psicologia foi publicada por volta da mesma época. Foi também nos Estados Unidos que foi publicada o que indubitavelmente é a obra mais influente sobre a história da psicologia, Uma História da Psicologia Experimental [A History of Experimental Psychology] (1929/1950) de E. G. Boring, e foi nos Estados Unidos que a história da psicologia se tornou, pela primeira vez, uma área de especialização profissional, nos anos 1960. O resultado de tudo isso é que, mesmo quando a história da psicologia é considerada em uma escala global, ambos esses países desempenharam um papel significativo.

Onde a história da psicologia começa?

O ponto pode parecer óbvio, mas a história da psicologia é dependente de seu objeto. Em outras palavras, sem psicologia não poderia existir uma história da psicologia. Vale a pena, portanto, olhar onde a história da psicologia começa.

Os manuais tradicionalmente deram a ela duas origens. Por um lado, ela é usualmente remontada à Grécia Antiga, com o trabalho de Aristóteles sobre a alma sendo particularmente proeminente (p.ex. Watson, 1963). Por outro lado, os começos da psicologia “moderna” ou “científica” são usualmente localizados no século dezenove, sendo dado um papel proeminente ao estabelecimento do laboratório de psicologia experimental de Wilhelm Wundt na Universidade de Leipzig em 1879. A American Psychological Association [Associação Americana de Psicologia] declarou ser 1979/80 o centenário da psicologia e o XXII International Congress of Psychology [XXII Congresso Internacional de Psicologia] foi realizado em Leipzig para marcar a ocasião. Essa abordagem dualista das origens da psicologia é frequentemente explicada por referência à famosa afirmação de Hermann Ebbinghaus de que a psicologia tem uma curta história e um longo passado (Ebbinghaus, 1908). De acordo com essa visão, a história da psicologia começa quando se tornou uma ciência experimental. Tudo  anterior a isso é pré-história.

Os propósitos desses relatos são claros. Remontar a psicologia à Grécia Antiga a provê com uma ancestralidade longa e distinta, com Aristóteles sendo o que é conhecido nas questões de casamento como “um bom partido”. Embora apenas uma pequena parte da psicologia seja e tenha sempre sido experimental, remontar a disciplina ao estabelecimento de um laboratório ajuda a reforçar seu status científico.

Ambos esses relatos têm uma precisão questionável. Discursos sobre o que é ser humano foram uma característica de muitas sociedades ao longo dos anos, mas eles não eram parte de uma área específica do conhecimento chamada “psicologia” até o século dezesseis. Eles estavam espalhados por uma ampla gama de assuntos, incluindo filosofia, teologia, literatura, medicina e biologia,assim como áreas de conhecimento não ocidentais que desafiam a classificação nesses termos. Esse é ainda o caso hoje, e a psicologia tem que dividir seu território com estes assuntos e com os outros assuntos que são variadamente chamados ciências humanas, sociais ou comportamentais. Como Richards (1987) apontou, incluir  todo esse material na história da psicologia a faria tão vasta a ponto de ser inadministrável.

Um modo de abordar o problema é olhar as origens do termo “psicologia”. Seus usos registrados mais antigos são do século dezesseis e, como mencionado anteriormente, o trabalho conhecido mais antigo com a palavra no título é de 1590. Há um artigo de 1964 no qual um autor croata reivindica que o termo foi usado pela primeira vez por um croata, mas o trabalho no qual ele alegadamente foi utilizado não sobreviveu. A reivindicação é baseada inteiramente numa fonte secundária (Krstic, 1964). Isso aponta para um terceiro modo de utilizar a história da psicologia: aumentar o prestígio de algum grupo nacional ou étnico. Houve uma situação similar por volta da época do “Centenário de Wundt” em 1979/80, quando alguns estadunidenses, que presumidamente estavam descontentes por ser o “fundador” alemão da psicologia, começaram a reivindicar que William James já tinha um laboratório na Universidade de Harvard em 1875. Aparentemente, uma das edições da revista Monitor on Psychology [Monitor em Psicologia], da Associação Americana de Psicologia, contém um desenho que traz Wundt e James como dois caubóis duelando acerca de quem tinha o primeiro laboratório (Hillix, 1980). Ainda outro exemplo é a reivindicação mais recente de que todas as maiores inovações na história da psicologia ocorreram originalmente no mundo islâmico medieval (Brock, 2015).

O livro de 1590 foi escrito por Rudolf Göckel de Marburg, que é também às vezes conhecido por seu nome latino, Goclenius. Seu título é Psychologia: hoc est de Hominis Perfectione [Psicologia ou sobre a perfeição humana]   (Goclenius, 1590). Como o título sugere, o assunto tinha pouco em comum com o que nós entendemos por “psicologia” hoje. Era uma forma de discurso religioso centrado na alma,e é assim que o termo era utilizado em seus anos iniciais. Outro exemplo é um trabalho do ex-aluno de Göckel, Otto Cassman, de 1594, intitulado Psychologia anthropologia; sive animae humanae doctrina [Psicologia antropológica; ou doutrina da alma humana] (Cassman, 1594). Como o termo “psychologia”, “anthropologia” tinha pouco em comum com o que nós entendemos pelo termo “antropologia” hoje. Era um relato geral dos seres humanos que era subdividido em duas partes: “psychologia”, que estava preocupada com questões da alma, e “somatologia”, que estava preocupada com questões do corpo. De acordo com Vidal (2012), que fez um estudo detalhado da literatura original dos anos iniciais da psicologia, o campo que nós agora reconhecemos como psicologia começou no século dezoito, quando esses relatos religiosos sobre a alma foram substituídos por relatos seculares sobre a mente. Christian Wolff, cujos trabalhos em psicologia racional e psicologia empírica apareceram respectivamente em 1730 e 1732, teve um importante papel neste ponto (Wolff, 1737; 1738). O termo foi também amplamente utilizado na França. Por exemplo, a famosa Encyclopédie [Enciclopédia] de Diderot contém um verbete sobre “Psychologie” (La Chapelle, 1765). O ponto é que uma quantidade significativa de literatura sobre psicologia estava disponível na Europa Continental por volta do final do século dezoito (Vidal, 2012). Isso poderia explicar por que o primeiro trabalho sobre história da psicologia apareceu em 1808, mais de 70 anos antes da disciplina ter sido alegadamente fundada, em 1879.

Os trabalhos alemães iniciais sobre história da psicologia

O trabalho em questão era intitulado Geschichte der Psychologie [História da Psicologia] e seu autor foi Friedrich August Carus, um professor de filosofia na Universidade de Leipzig. Ele cobre o período desde a pré-história até sua própria época, e ele a divide em estágios. Diz-se da pré-história que ela é marcada por fantasias. O segundo período, de 600 a 400 AC, é dito ser marcado pelo desenvolvimento da razão. O terceiro período, de 400 AC a 210 DC, é marcado pela incorporação da psicologia à filosofia, e o quarto estágio cobre o longo período de tempo desde a Grécia Antiga até o desenvolvimento do empirismo no século dezessete (Pongratz, 1980). É um livro não-usual e foi ignorado pelos historiadores da psicologia posteriores, com a exceção de Klemm (1911). Ele é notável principalmente pela antiguidade de sua publicação.

Na segunda metade do século dezenove, apareceram muitos trabalhos em história da psicologia. A psicologia era, institucionalmente, uma parte da filosofia, e isso é refletido em alguns dos trabalhos. Por exemplo, Friedrich Harms publicou uma história da filosofia em 1878 e dedicou o primeiro volume à psicologia (Harms, 1878). Esse, é claro, foi o período no qual a psicofísica e a psicologia experimental estavam começando a emergir, e parte do trabalho foi escrito com o objetivo explícito de criar uma identidade distinta para a psicologia. Um trabalho de dois volumes de  Hermann Siebeck é notável a esse respeito. Ele abriu o primeiro volume, de 1880, com as seguintes palavras: “A necessidade por sua própria história é maior para uma ciência em particular quando quer que ela esteja prestes a entrar em uma nova fase de sua evolução” (Siebeck, 1880; p. viii). Ele também se refere a ela como se libertando da filosofia e se tornando um assunto distinto, com seus próprios problemas de pesquisa e métodos. Também não é nenhuma coincidência que Siebeck centrou sua história no problema mente-corpo, e retratou a história da psicologia como uma tentativa de superar o dualismo. Isso estava de acordo com o trabalho contemporâneo sobre psicofísica e o paralelismo psicofísico que era popular na época.

Geuter (1983) se refere a esse aspecto da literatura da época e aponta que muito dele foi escrito com o objetivo de dar suporte à posição do autor nas controvérsias intra-disciplinares. Wilhelm Dilthey criticou explicitamente uma abordagem exclusivamente científica à psicologia num ensaio de 1894 (Dilthey, 1894). No mesmo ano, um de seus ex-alunos, Max Dessoir publicou uma história da psicologia alemã recente, na qual ele dividiu o campo em três áreas: Seelenphysik [física psicológica], Seelentheologie [teologia psicológica] and Seelenkunst [arte psicológica]. Dessoir também incluiu o estudo do oculto em sua história, um tópico com o qual ele próprio estava pessoalmente engajado (Dessoir, 1894). O fenômeno de utilizar a história para apoiar a posição de alguém em controvérsias intra-disciplinares pode ser visto também em uma história da psicologia que foi publicada por Eduard von Hartmann em 1901. Hartmann acreditava que o objeto da psicologia era o inconsciente e isso foi refletido no trabalho (Hartmann, 1901).

Hermann Ebbinghaus não escreveu uma história da psicologia, mas seus comentários sobre o assunto em seu Abriss der Psychologia [Esboço de Psicologia], de 1908, são lendários. Foi ele quem famosamente distinguiu a curta história da psicologia e seu longo passado. Seus outros comentários mostram que ele pensava que a psicologia tinha realizado um afastamento radical de seu passado:

Quando, em 1829, E. H. Weber, inspirado por uma curiosidade aparentemente insignificante, quis saber com qual fineza dois toques separados em diferentes pontos da pele podem ser distinguidos, e depois com qual exatidão nós somos capazes de dizer a diferença entre dois pesos colocados em nossa mão […] mais progresso real foi feito pela psicologia do que por todas as distinções, definições e classificações da época de Aristóteles a Hobbes (Ebbinghaus, 1908, p. 19, [tradução nossa]).

Para Ebbinghaus, a psicologia era uma ciência de leis (Gesetzewissenschaft), e não existia parte nenhuma dela que não pudesse ser estudada com métodos experimentais. Aqui nós podemos ver os dois objetivos juntos, quais sejam, criar uma identidade distinta para a psicologia e sustentar a posição de alguém em uma controvérsia dentro do campo psicológico.

Otto Klemm (1911) não foi tão radical como Ebbinghaus, mas sua história da psicologia apresenta objetivos similares. Ele começa sua obra com a famosa citação de Ebbinghaus e, como Dessoir, foca sua história no passado recente. Ele também se distancia de Dessoir ao discutir aquilo que ele chama de “arte psicológica” e o estudo do oculto. Como no trabalho de Ebbinghaus, Klemm combina uma abordagem particular da psicologia com a visão de que ela havia realizado um rompimento radical com o passado, e, assim, havia estabelecido sua própria identidade.

Em seu relato sobre o primeiro trabalho em alemão de história da psicologia, Pongratz (1980) faz referência aos “cinquenta anos de penúria” entre 1911 e 1963. Aparentemente, apenas dois trabalhos em história da psicologia escritos em alemão foram publicados durante esse período, e somente um deles foi traduzido para o inglês. Foi o de Richard Muller-Freienfels (1935). O outro trabalho foi escrito por Paul von Schiller e apareceu em 1948 (Schiller, 1948). O que motivou esse declínio tão dramático na história da psicologia em países germanófilos após 1911 jamais foi explicado de forma satisfatória. Pongratz (1980) sugere que a chamada “crise” da psicologia (p.ex. Driesch, 1926; Buhler, 1927) levou os psicólogos a se envolverem mais com preocupações contemporâneas. Contudo, o mesmo ocorreu nos Estados Unidos, o que não impediu os psicólogos de publicarem trabalhos na área da história da psicologia. Na verdade, poder-se-ia sugerir que a fragmentação do campo psicológico aumentaria o interesse em sua história.

A história da psicologia reemergiu na Alemanha nos anos 1960 e 1970, onde foi frequentemente associada com posições políticas radicais da época, mas neste ponto é mais apropriado mudar o foco do verbete para o que aconteceu nos Estados Unidos.

Os Estados Unidos na primeira metade do século XX

Os países falantes de inglês adotaram relativamente tarde a psicologia. Samuel Taylor Coleridge havia vivido na Alemanha e falava alemão. Ainda em 1817, ele podia escrever que “psicologia” era uma palavra que a língua inglesa faria bem em adotar (Coleridge, 1817). Evidências adicionais disso podem ser vistas em uma palestra do Sir William Hamilton de 1836 na qual ele se desculpou por utilizar esse “nome exótico, técnico” (Hamilton, 1836; p. 130). De acordo com Lapointe (1970), o primeiro livro de língua inglesa a utilizar a palavra “psicologia” no título foi publicado em 1840, e o primeiro manual sistemático sobre o assunto foi o Principles of Psychology [Princípios de Psicologia] de Herbert Spencer, de 1855 (Spencer, 1855).

Com as exceções notáveis de Cambridge e London, a psicologia se desenvolveu de forma relativamente lenta na Grã-Bretanha. A maioria das universidades britânicas não estabeleceram departamentos de psicologia até depois da Segunda Guerra Mundial. Entretanto, ela foi amplamente utilizada pelos estadunidenses, de modo que, por volta da eclosão da Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos já eram o poder dominante no campo (Ash, 2003). Talvez não coincidentemente, foi por volta dessa época que um grande número de livros estadunidenses sobre a história da psicologia começaram a aparecer. O mesmo padrão aconteceu na Alemanha, onde a emergência da psicologia e a emergência de sua história tendem a ocorrer por volta da mesma época. Claramente, novas disciplinas geram novas histórias disciplinares.

A literatura inicial era variada. Havia o relato bastante anedótico de G. Stanley Hall, Founders of Modern Psychology [Fundadores da Psicologia Moderna] (Hall, 1912). Benjamin Rand também publicou uma coleção de textos sob o título Classical Psychologists: Selections Illustrating Psychology from Anaxogoras to Wundt [Psicólogos Clássicos: seleções ilustrando a psicologia de Anaxagoras a Wundt] (Rand, 1912). History of Psychology: A Sketch and an Interpretation [O História da Psicologia: um esboço e uma interpretação] de James Mark Baldwin foi escrito por volta da época na qual ele se mudou para a filosofia, e a obra apresentava seus interesses filosóficos (Baldwin, 1913). Isso foi igualmente verdadeiro para o autor britânico-canadense George Sidney Brett, que publicou o primeiro volume de seu A History of Psychology [Uma História da Psicologia], de três volumes, em 1912. Apenas algumas poucas páginas do terceiro volume lidaram com as tentativas recentes de estabelecer uma psicologia como uma ciência (Brett, 1912-1921). Traduções inglesas de trabalhos dos alemães Max Dessoir e Otto Klemm também foram publicados por volta desse período (Dessoir, 1912; Klemm, 1914). Pode-se presumir que tais obras satisfaziam melhor a necessidade de informações sobre essas tentativas do que as obras produzidas em língua inglesa.

O ano de 1929 foi cheio de acontecimentos, pois foram publicados três livros-textos sobre a história da psicologia: o Uma História da Psicologia Experimental (1929) de E. G. Boring; o A Historical Introduction to Modern Psychology [Uma Introdução Histórica à Psicologia Moderna] (1929) de Gardner Murphy; e The History of Psychology [A História da Psicologia] (1929) de Walter Pillsbury. O fato de que tantos manuais tenham sido publicados nessa época sugere que a história da psicologia estava sendo amplamente ensinada nos departamentos de psicologia.

O manual de Boring é, de longe, o mais importante dos três. Uma ideia dessa influência pode ser vista num levantamento realizado no início dos anos 1960. Pelo menos 75% dos participantes responderam que, em seus cursos de história da psicologia, o manual de Boring era o único ou o principal utilizado (Nance, 1962). Foi Boring quem afirmou que Wilhelm Wundt foi o “fundador” da psicologia moderna ao estabelecer um laboratório na Universidade de Leipzig em 1879, e sua influência pode ser vista na celebração dos anos 1979-80 como os do “centenário” da psicologia (Ross, 1979). Em contrapartida, há o trabalho anterior de Hall Fundadores da Psicologia Moderna (1912), no qual ele havia listado mais precisamente Wundt como um dos muitos “fundadores” da disciplina moderna.

Claramente, há algo psicologicamente significativo sobre os centenários (Geuter, 1983). Flügel (1933) publicou A Hundred Years of Psychology, 1833-1933 [Cem Anos de Psicologia, 1833-1933] seguido por Hearnshaw (1964), cujos 100 anos aconteceram entre 1840 a 1940. Isso parece sugerir que a psicologia havia alcançado um certo nível de maturidade. Isso frequentemente toma precedência frente à precisão histórica, mas a escolha específica de 1879 reflete a influência do trabalho de Boring.

O’Donnell (1979) analisou os objetivos de Boring ao escrever o livro. A Universidade de Harvard, sua sede, foi uma das poucas universidades nos Estados Unidos onde a psicologia era ainda associada à filosofia. Ele, portanto, tinha objetivos, similares aos de alguns dos primeiros historiadores alemães, de defender a existência da psicologia como um campo distinto da filosofia. Ele também pertencia a um pequeno grupo de auto-intitulados “experimentalistas”, que era centrado em seu mentor, Edward B. Titchener, da Universidade de Cornell, que resistiu à emergência da psicologia aplicada nos Estados Unidos. O desenvolvimento de uma psicologia aplicada ocorreu mais por necessidade do que por qualquer outra razão. Enquanto os psicólogos na Alemanha estavam geralmente sediados em departamentos de filosofia bem financiados, os psicólogos nos Estados Unidos tinham que buscar financiamento de fontes não-acadêmicas, que apenas financiariam o trabalho deles se este levasse a resultados que fossem considerados úteis. A psicologia estadunidense havia, em grande medida, crescido apoiada na testagem realizada por psicólogos no exército durante a Primeira Guerra Mundial (Samelson, 1977).

Boring (1929) repetiu as palavras lendárias de Ebbinghaus de que “a psicologia tem um longo passado, mas apenas uma curta história” (p. vii). Ele então adicionou: “em geral, as histórias da psicologia têm enfatizado seu longo passado às expensas de sua curta história” (p. vii). O título do trabalho, “uma história da psicologia experimental” mostra que este estava preocupado principalmente com um aspecto dessa curta história, qual seja, a emergência da psicologia experimental. É por isso que Boring remontou o estabelecimento da disciplina à fundação do laboratório de Wundt em 1879. Ele estava simultaneamente criando uma linha de ancestralidade para ele mesmo que ia até o fundador da disciplina através de Titchener, que havia obtido seu próprio doutorado após estudar com Wundt em Leipzig de 1890 a 1892. A visão de que Titchener era um discípulo leal de Wundt, coisa que Boring encorajava, foi posteriormente mostrada ser falsa, embora a novidade não pareça ter alcançado os autores de alguns manuais introdutórios sobre psicologia (p. ex. Holt et al., 2015).

É difícil superestimar a importância do manual de Boring. Junto da influência do livro ele mesmo, ele formou um modelo para manuais estadunidenses posteriores sobre a história da psicologia e, até certo ponto, ainda o faz. Por exemplo, foi Boring quem introduziu o agora ubíquo conceito de Zeitgeist [espírito da época]. Eu não seria o primeiro a apontar para “a ironia de unir a defesa feroz do experimentalismo a um dos mais nebulosos conceitos do Idealismo Alemão” (Danziger, 2010; p. 13). Isso era o que se passava por localizar eventos históricos no seus contextos mais amplos, e a ênfase ficava largamente nas conquistas dos “grandes homens”. Ash (1983) apontou que Gardner Murphy, que publicou um manual de história da psicologia no mesmo ano, “mostrou estar mais ciente do papel das condições gerais históricas e culturais na história das ciências e da psicologia do que Boring. Exemplos incluem referências ao papel das grandes navegações e da revolução comercial na emergência da ciência moderna” (p. 156). Isso foi possível devido à sua formação de psicólogo social. Entretanto, foi a abordagem mais individualista de Boring que prevaleceu.

É pertinente perguntar como uma história da psicologia que não representava  muito da disciplina poderia ser tão popular e se tornar tão influente. Claramente, a ênfase sobre a psicologia como uma ciência experimental ajudou a reforçar seu status científico. Isso é importante em uma sociedade que detém a ciência em alta consideração, e é tão importante quanto ser capaz de demonstrar a utilidade do campo. A psicologia básica e aplicada sempre tiveram um relacionamento difícil. Elas são como os parceiros briguentos em um casamento infeliz que se mantêm juntos apenas por interesse (Danziger, 1990a).

Também é pertinente perguntar por que a história da psicologia estava sendo ensinada. Afinal, os cientistas naturais, como físicos e químicos, a quem os psicólogos frequentemente viam como modelos, em geral não oferecem cursos sobre a história de seus campos. Se estudantes de física ou química se interessam pela história desses assuntos, e alguns deles o fazem, espera-se deles que saiam dessas disciplinas e se tornem historiadores das ciências. Uma pista pode estar na expressão “história e sistemas de psicologia”, que é utilizada não apenas no linguajar comum nos Estados Unidos, mas também nos documentos oficiais da Associação Americana de Psicologia (p. ex. American Psychological Association, 2006). Os anos 1920 e 1930 são às vezes descritos como “a era das escolas” e, como notado anteriormente, isso levou alguns psicólogos na Europa a declarar que o campo estava em “crise”. Livros como o Contemporary Schools of Psychology [Escolas Contemporâneas de Psicologia] (1931) de R. S. Woodsworth e o Seven Psychologies [Sete Psicologias] (1933) de Edna Heidbreder também lidaram com essa situação. Um dos argumentos que foram frequentemente utilizados por historiadores da psicologia para justificar a existência de seu campo é que ele ajuda os estudantes a ver o quadro mais amplo daquilo que é um campo diverso e fragmentado (p. ex. Henle & Sullivan, 1974). Enquanto a história da psicologia pode ajudar os estudantes a entender como essa situação veio a ocorrer, ela oferece poucos recursos para resolvê-la. A existência contínua de um movimento para a unificação da psicologia provê ampla evidência disso (Charles, 2013).

Outro trabalho dessa época inclui a série A History of Psychology in Autobiography [Uma História da Psicologia em Autobiografia], que foi iniciada em 1930 (Murchison, 1930). Um novo volume na série apareceu recentemente, em 2007 (Lindzey & Runyan, 2007). Embora ela não seja “história” no sentido usual do termo, ela tem sido um recurso útil para historiadores da psicologia desde então.

A psicologia se expandiu significativamente durante a Segunda Guerra Mundial, assim como ela o havia feito durante a Primeira Guerra Mundial (Capshew, 1999). Apesar dessa situação, a história da psicologia não parece ter sido uma prioridade nos anos pós-guerra. Prova disso é que a maioria dos manuais no campo foram novas edições de manuais que haviam sido publicados antes da guerra. Eles incluíam os livros de Wordsworth (1948), Murphy (1949) e Boring (1950). A história de três volumes de Brett foi condensada em um volume e atualizada por R. S. Peters (1953), embora sua ênfase nos antecedentes filosóficos da psicologia não a tenha tornado mais popular entre os psicólogos.

A história da psicologia se torna uma área de especialização profissional

A história da psicologia era principalmente um campo de cunho pedagógico até os anos 1960. Isso estava para mudar naquela década conforme alguns poucos psicólogos começaram a adotá-la como uma área de especialização e pesquisa. Houve, simultaneamente, um movimento entre os historiadores das ciências para dentro do campo. A [14] história das ciências já estava presente como uma especialidade na maior parte do século XX, mas ela havia se concentrado principalmente sobre as ciências naturais até esse ponto.

A maioria das instituições nos Estados Unidos que estão associadas com a história da psicologia foi fundada durante um breve período nos anos 1960. A história de fundação delas já foi contada em detalhe em outro lugar, de modo que, aqui, se dará apenas um delineamento (Hilgard, Leary & McGuire, 1991; Vaughn-Blount, Rutherford & Baker, 2009; Capshew, 2014). Três das instituições foram fundadas em 1965. Elas são a Divisão 26 (História da Psicologia) da Associação Americana de Psicologia, os Arquivos para a História da Psicologia Americana na Universidade de Akron em Ohio, e o Journal of the History of the Behavioral Sciences [Revista da História das Ciências Comportamentais].

Esses desenvolvimentos não representaram uma grande mudança de interesse na história da psicologia entre os psicólogos. Referindo-se ao estabelecimento da divisão de história da psicologia da Associação Psicológica Americana, Mayer (1997) escreveu:

Não houve nenhuma grande onda demandando uma divisão de história. Menos de uma dúzia de pessoas pareceram particularmente motivadas. Parece que alguns poucos ativistas deram um jeito de mobilizar suporte de uma ampla gama de amigos e colegas (p. 135; [tradução nossa]).

Os mesmos poucos nomes tendem a aparecer na história. Robert I. Watson foi a figura central, mas haviam outros, como David Bakan, Josef Brozek, John Burnham, Marion White MacPherson e John Popplestone. Outros desenvolvimentos que ocorreram durante essa década foram o estabelecimento de um programa de pós-graduação em história e teoria da psicologia na Universidade de Nova Hampshire em 1967 e o estabelecimento da Sociedade Cheiron (Sociedade para a História das Ciências Sociais e Comportamentais) em 1969. A última celebrou seu quinquagésimo aniversário em 2018. Isso porque seu estabelecimento formal foi precedido por um curso de verão na Universidade de Nova Hampshire em 1968 (Scarborough, 2004).

Esses desenvolvimentos não conduziram inicialmente a um aprimoramento dos padrões acadêmicos. Watson parece ter considerado a si mesmo como o sucessor de Boring, e seu manual The Great Psychologists: Aristotle to Freud [Os Grandes Psicólogos: de Aristóteles a Freud] (1963) adotou uma abordagem, similar, de “grandes homens” (Capshew, 2014). Boring foi escolhido presidente honorário da Divisão 26 da APA quando ela foi estabelecida em 1965 e ele publicou o artigo de abertura no Revista da História das Ciências Comportamentais, “On the Subjectivity of Historical Dates” [“Sobre a Subjetividade das Datas Históricas”], no qual ele discutiu a fundação do laboratório de Wundt em 1879 (Boring, 1965). Esperava-se que ele tomasse parte no curso de verão que levou à fundação da Cheiron, mas notícias de sua morte chegaram aos participantes enquanto o curso estava acontecendo. Quanto ao próprio Watson, ele adotou um “prescritivismo” a-histórico no qual diferentes eras eram julgadas a partir de uma série de dicotomias, tais como mente-corpo, livre arbítrio-determinismo e racionalismo-empirismo (Watson, 1971). Essas dicotomias são, é claro, uma característica comum dos questionários psicológicos.

A baixa qualidade de muito da publicação acadêmica no campo foi destacada por Robert L. Young, um historiador da ciência originalmente do Texas que estava sediado na Universidade de Cambridge, no Reino Unido. Em 1966, ele publicou um artigo de 50 páginas na revista History of Science [História da Ciência] com o título “Scholarship and the History of the Behavioral Sciences” [“Publicações Acadêmicas e a História das Ciências Comportamentais”], no qual ele criticou muito do trabalho feito no campo. Young (1966) se referiu à falta de profissionalismo deste e o descreveu como “um passatempo com padrões muito desiguais” (p. 18). Em particular, ele questionou a viabilidade de uma área do conhecimento que estava centrada em manuais. Isso pode parecer estranho para alguém que está acostumado com esse tipo de situação, mas nós podemos conduzir um experimento mental sobre como isso funcionaria em outras áreas da psicologia. Por exemplo, o que teria nos manuais sobre psicologia social ou do desenvolvimento se ninguém nunca tivesse realizado quaisquer pesquisas sobre esses assuntos? Eles seriam provavelmente baseados em senso comum e sabedoria popular. A visão de que a história da psicologia é um campo exclusivamente pedagógico está baseada na concepção questionável de que ela consiste em uma “história” não-problemática que pode ser encontrada em seus manuais. Isso leva à concepção adicional de que não há nenhuma necessidade de qualquer pesquisa.

Aqui, um dos problemas é que o vasto escopo dos manuais de história da psicologia torna impossível para seus autores checar as fontes originais de sua informação. Seus manuais foram baseados principalmente em outros manuais, e, particularmente, no trabalho de Boring. Young sugeriu que uma moratória fosse aplicada nas tentativas de retratar o panorama no que diz respeito à história da psicologia até que mais pesquisas em tópicos específicos tivessem sido realizadas. Tal crítica não foi tida como agradável para os envolvidos, e Young posteriormente explicou seu artigo como a fúria de um jovem rebelde. Entretanto, teve um impacto positivo ao levar a um diálogo entre historiadores e psicólogos sobre padrões acadêmicos no campo e a uma melhora geral na qualidade do trabalho histórico (Capshew, 2014).

A década de 1970 viu a ascensão da abordagem chamada “história crítica”. Esta era frequentemente crítica da psicologia, mas era especialmente crítica do trabalho prévio em história da psicologia. Um dos seus primeiros ataques foi um artigo de Franz Samelson, no qual este criticou o relato de Gordon Allport, no Handbook of Social Psychology [Manual de Psicologia Social], de que o sociólogo francês Augusto Comte teria “fundado” a psicologia social (Samelson, 1974). O ensaio introdutório de Allport havia sido publicado originalmente na sua primeira edição de 1954, e foi subsequentemente publicado na segunda edição de 1968 (Allport, 1968). Samelson mostrou que Allport poderia não estar familiarizado com o trabalho de Comte, e desmereceu o relato como um “mito de origem”. Argumentos similares foram feitos por Benjamin Harris na sua análise dos relatos de manuais sobre o trabalho de  J. B. Watson com a criança que veio a ser conhecida como “Pequeno Albert” (Harris, 1979). Em suas respostas aos comentários sobre seu artigo, Harris (1980) fez uma distinção entre história “cerimonial” e “crítica”. Um nome alternativo à primeira é “história celebratória”.

A datação de 1879 feita por Boring para a história da psicologia é irônica por ter levado a uma grande dose de crítica à sua retratação de Wundt por volta da época do “centenário” de 1979/80. A moderna “reavaliação” de Wundt pode ser remontada a uma nota de rodapé em um livro de Arthur Blumenthal (1970), onde este escreveu que “relatos de manuais sobre Wundt agora apresentam caricaturas altamente imprecisas e mitológicas deste homem e de seu trabalho”. Este argumento foi expandido em artigos com títulos como A Reappraisal of Wilhelm Wundt [Uma Reavaliação de Wilhelm Wundt] (1975) e The Founding Father We Never Knew [O Pai Fundador que Nunca Conhecemos] (1979). O objetivo de Blumenthal em retomar o legado de Wundt não era necessariamente histórico. Ele era um psicolinguista que queria retomar Wundt como um psicólogo cognitivista. Como Ash (1983) apontou, sua crítica da retratação de Wundt feita por Boring está sujeita a uma refutação tu quoque [apelo à hipocrisia], pois ele parece ter se apropriado de seu próprio Pai Fundador. Claramente, a tendência de usar a história para amparar a posição de alguém em controvérsias intra-disciplinares ainda era um importante aspecto do campo.

Kurt Danziger (1979) se juntou às críticas ao relato de Boring sobre Wundt e focou particularmente nos métodos de Wundt (p. ex. Danziger, 1980). Este interesse o levou a um interesse mais geral nos métodos da história da psicologia, e consequentemente a um livro que alguns autores veem como exemplo paradigmático de história crítica, Constructing the Subject: Historical Origins of Psychological Research [Construindo o Sujeito: origens históricas da pesquisa psicológica] (Danziger, 1990b).

Em retrospecto, podemos dizer que o chamado “centenário” da psicologia teve papel importante no crescimento da história da psicologia como uma área de especialização. Não apenas houve uma grande quantidade de literatura sobre Wundt naquela época (p. ex. Rieber, 1979; Bringmann & Tweney, 1980), como também houve um volume sobre a historiografia da psicologia (Brozek & Pongratz, 1980), e outros trabalhos mais gerais em história da psicologia (Rieber & Salzinger, 1980), como também reflexões sobre o um século de psicologia (Koch & Leary, 1985). Houve desenvolvimentos similares na Alemanha, onde também houve uma literatura sobre Wundt (p. ex. Meischner & Eschler, 1979; Meischner & Metge, 1980) e literatura mais geral sobre história da psicologia (Eckardt & Sprung, 1980; Eckardt, Bringmann & Sprung, 1983). Os psicólogos da República Democrática Alemã (ou “Alemanha Oriental”, como ficou conhecida no Ocidente), devem ter ficado surpresos ao aprender que Wundt era tido como o “fundador” da psicologia nos Estados Unidos, mas as celebrações do centenário possibilitaram uma oportunidade para um maior reconhecimento de seu país e de sua profissão que eles não deixariam passar.

Os anos de 1970 e 1980 também viram um grande reconhecimento de grupos pouco representados na história da psicologia. Um dos melhores exemplos deste gênero é Even the Rat Was White: A Historical View of Psychology [Até o Rato era Branco: Uma visão histórica da psicologia], de Robert V. Guthrie (1976). Houve também um aumento significativo na quantidade de pesquisas sobre mulheres na história da psicologia, e isto se deu em grande parte devido ao número crescente de mulheres que estavam se tornando psicólogas. Um dos clássicos na área é Untold Lives: The First Generation of American Women Psychologists [Vidas Não Contadas: a primeira geração de mulheres americanas psicólogas], de Elizabeth Scarborough e Laurel Furumoto (1985). Este último é particularmente conhecido por uma conhecida palestra sobre G. Stanley Hall que ela ministrou no encontro anual da Associação Americana de Psicologia em 1988, intitulada “The New History of Psychology” [“A Nova História da Psicologia”], na qual ela resumiu as mudanças que aconteceram (Furumoto, 1989).

Manuais

A profissionalização do campo não deve ser superestimada. Várias pesquisas sobre o estado da história da psicologia foram realizadas e estas mostram como este assunto é tipicamente ensinado por psicólogos não especialistas no campo (Fuchs & Viney, 2002; Barnes & Greer, 2014; Brock & Harvey; 2015). Esta situação explica por que alguns dos mais populares manuais sobre este assunto foram escritos por psicólogos que também não eram especialistas nele. Um dos exemplos mais conhecidos a respeito disso é o manual de Duane e Ellen Schultz, que começou em 1969 e está agora na sua décima primeira edição (Schultz, 1969; Schultz & Schultz, 2015). Parece que psicólogos que não são especialistas no campo podem mais facilmente identificar-se com manuais que foram escritos por alguém que está numa posição similar à deles, e as editoras estão, antes de tudo, preocupadas em publicar manuais para os quais há demanda. A caracterização de Young (1966) do campo como “uma passatempo com padrões muito desiguais” (p. 18) é relevante ainda hoje em dia. De fato, pode ser ainda mais relevante do que era, porque o contraste entre o trabalho de amadores e profissionais é ainda mais evidente do que era quando ele publicou seu artigo em 1966. Os problemas que ele discutiu ainda existem. Como Thomas (2007) apontou, manuais de história da psicologia recorrentemente repetem os mesmos erros. Eles permanecem sem correção porque seus autores tendem a não ler literatura profissional. Sua maior fonte de informação são outros manuais.

Felizmente, algumas alternativas existem. O Pioneers of Psychology [Pioneiros da Psicologia], de Raymond Fancher, sempre foi um trabalho acadêmico, e o envolvimento de sua antiga aluna Alexandra Rutherford nas edições mais recentes o levou a ser mais representativo da pesquisa corrente (Fancher & Rutherford, 2016). Rutherford também é coautora de outro manual acadêmico, A History of Psychology in Context [Uma História da Psicologia em Contexto] (Pricken & Rutherford, 2010). A história crítica também apareceu em manuais mais recentes (Richards, 2010; Walsh, Teo & Baydala, 2016). Há ainda um manual que foi escrito por um historiador profissional que é, talvez não à toa, um ex-aluno de Robert Young (Smith, 2013). A história da história da psicologia é melhor vista em termos de estratificação, através da qual novas abordagens emergiram mas as antigas continuaram a existir, pois ainda há uma demanda por elas.

Desenvolvimentos recentes

A institucionalização do campo que aconteceu nos Estados Unidos na década de 1960 foi amplamente replicada no Canadá e na Europa na década de 1980. Braços devotados à história da psicologia foram estabelecidos nas organizações profissionais de psicologia no Canadá, Reino Unido, Alemanha e Espanha. Revistas como History of the Human Sciences [História das Ciências Humanas], Psychologie und Geschichte [Psicologia e História], Storia della Psychologia [História da Psicologia] e a Revista de la Historia de la Psicología [Revista de História da Psicologia] foram criadas na mesma época. Um equivalente europeu da Cheiron, originalmente chamada de Cheiron-Europe [Cheiron-Europa], mas subsequentemente modificada para European Society for the History of the Human Sciences [Sociedade Europeia de História das Ciências Humanas], foi criada em 1982. Cursos de pós-graduação similares ao da Universidade de New Hampshire também foram criados na Universidade York, no Canadá, e na Universidade de Groningen, na Holanda. A British Psychological Society [Sociedade Britânica de Psicologia] também criou um Centre for the History of Psychology [Centro para a História da Psicologia], contendo material de arquivo, e há também um arquivo semelhante na Universidade de Wuzburgo, na Alemanha.

Houve também desenvolvimentos posteriores nos Estados Unidos. Um grupo de historiadores profissionais, junto com psicólogos interessados, fundaram um grupo de trabalho na History of Science Society [Sociedade de História da Ciência], chamado Forum for the History of the Human Sciences [Fórum para a História das Ciências Humanas], em 1988. Seu objetivo foi alcançar maior reconhecimento para este campo dentro da história da ciência e nisso tem sido amplamente bem sucedido. Outro desenvolvimento significativo foi o estabelecimento da revista [História da Psicologia], que a American Psychological Association [Associação Americana de Psicologia] começou a publicar em 1998. Houve ainda mais recentemente o aparecimento do European Yearbook for the History of Psychology [Anuário Europeu para a História da Psicologia] em 2015. O fato de que este aparece apenas uma vez por ano sugere que há demanda limitada para este tipo de material.

Esta história não é de crescimento ininterrupto. As revistas Psychologie und Geschichte e Storia della Psicologia não existem mais, enquanto a Revista de la Historia de la Psicología é publicada exclusivamente online. Claramente, é difícil para revistas em línguas que não sejam o Inglês sobreviverem neste campo.

Talvez ainda mais significativo é o fim do curso de pós-graduação em história e teoria da psicologia na Universidade de New Hampshire em 2009, deixando o curso da Universidade York, no Canadá, como o único de seu tipo na América do Norte. Um dos problemas desses programas tem sido achar empregos para seus formados, já que departamentos de psicologia que estão dispostos a contratar um especialista em história da psicologia tendem a ser exceção ao invés da regra (Barnes & Greer, 2016). Pós-graduados no curso da Universidade de New Hampshire normalmente encontravam vagas em faculdades e universidades menores, onde o ensino é enfatizado aos custos da pesquisa. Parece que o preço que se paga por ter interesses de pesquisa não ortodoxos é terminar em instituições que não encorajam ou dão suporte à pesquisa.Também é significativo que os cursos na Universidade York e na Universidade de Groningen tenham mudado seus nomes nos últimos anos. O primeiro agora é conhecido como “Historical, Theoretical and Critical Studies of Psychology” [“Estudos Históricos, Teóricos e Críticos em Psicologia”], enquanto o segundo usa o título “Reflecting on Psychology” [“Refletindo sobre a Psicologia”]. Estas são tentativas de tornar este assunto parecer mais relevante.

Também há sinais de que alguns departamentos de psicologia não estão mais oferecendo cursos em história da psicologia na América do Norte (Fuchs & Viney, 2002; Chamberlin, 2010; Barnes and Greer, 2014). Cursos desse tipo são menos comuns na Europa (Brock & Harvey, 2015; Brock, 2016a). Algumas das organizações profissionais na Europa vêm lutando para sobreviver. Por exemplo, a Section for History and Philosophy of Psychology [Seção para a História e Filosofia da Psicologia] da Sociedade Britânica de Psicologia vêm realizando conferências conjuntas com outras organizações nos últimos anos por não ter submissões suficientes para justificar uma conferência própria. Há sinais de que o interesse no campo vem crescendo na América Latina, especialmente na Argentina e no Brasil (Klappenbach & Jacó-Vilela, 2016), mas se tal crescimento pode compensar o declínio correspondente na Europa e América do Norte é uma questão em aberto.

A situação é um pouco diferente na história da ciência. Como notado anteriormente, a história das ciências humanas alcançou mais reconhecimento do que antes neste campo. Entretanto, isto precisa ser considerado a partir da observação de que a história da ciência é um campo pequeno que não possui representação em toda universidade e que tem problemas de financiamento que assola as ciências humanas como um todo (Nussbaum, 2010). Mesmo onde existe, a história da psicologia precisa competir por espaço com todo o escopo das histórias das ciências naturais e sociais, e muitas vezes com a história da tecnologia e da medicina também. Uma situação comum em departamentos de história das ciências é ter uma pessoa que cobre a história das ciências humanas como um todo. Apesar desses problemas, há sinais de que historiadores das ciências possuem uma presença maior no campo do que tinham antes, especialmente nos Estados Unidos. Por exemplo, a revista da Associação Americana de Psicologia, História da Psicologia, teve quatro editores desde que foi criada em 1998, e apenas um dos quatro foi um psicólogo profissional. Os outros três foram historiadores da ciência.

Considerando que psicólogos tradicionalmente recorreram à história para providenciar seu campo de estudos com uma identidade distinta e dar suporte às suas posições em disputas intra-disciplinares, historiadores possuem outros objetivos. Um tema comum na literatura produzida por historiadores tem sido um exame crítico do papel que a psicologia tem ocupado na sociedade. The Romance of American Psychology [O Romance da Psicologia Americana] (1995) de Ellen Herman é um exemplo desse tipo. Historiadores também possuem seus próprios interesses disciplinares. Outro tema comum da literatura é a importância da história para compreender a psicologia (p. ex. Smith, 2007; Klempe & Smith, 2016).

Para onde vai a história da psicologia?

Previsões são difíceis de serem feitas mesmo nas melhores épocas, mas pode-se extrapolar a partir de algumas tendências correntes (Danziger, 1994; Brock, 2016b). A história da psicologia vai continuar como um campo pedagógico, amplamente sendo ensinado por psicólogos que não são especialistas no campo, apesar dessa situação talvez se tornar menos comum do que já foi. Os próprios especialistas continuarão a ter uma difícil existência às margens da psicologia. Enquanto isso, haverá maior envolvimento de historiadores profissionais e de psicólogos de fora da Europa e América do Norte. Tal situação inevitavelmente terá implicações para o conteúdo do campo.

Boletim do Portal História da Psicologia

Este verbete está publicado também no Boletim do Portal História da Psicologia, e pode ser acessado aqui

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Autoria e tradução

Este verbete foi publicado originalmente em inglês na The Oxford Encyclopedia of the History of Psychology por Adrian Brock. A tradução foi realizada por André Elias Morelli Ribeiro, Luiz Eduardo Prado da Fonseca e Marcus Vinicius do Amaral Gama Santos no âmbito do projeto Portal História da Psicologia. O autor autorizou e revisou a tradução.