O Laboratório de Psicologia da Colônia de Psicopatas de Engenho de Dentro, fundado na cidade do Rio de Janeiro, foi inaugurado em 1924 por Gustavo Kohler Riedel, médico higienista, idealizador do laboratório. No mesmo ano, convidou o psicólogo polonês Waclaw Radecki, que o dirigiu até sua extinção em 1932.

O local funcionava como um espaço cientifico, utilizando-se dos inúmeros aparelhos que serviam de pesquisas e exames do tato, sensações musculares, sensações térmicas, olfato, paladar, audição, visão, atenção, associação, discriminação, memória, pensamento, processos afetivos, reações orgânicas, fisiológicas e sugestão. Outra ambição para o laboratório era que se consolidasse como um centro de formação de psicólogos.

HistóriaEditar

AntecedentesEditar

A Colônia de Alienados do Engenho de Dentro, onde se formará o Laboratório de Psicologia, tem sua origem em mudanças político-sociais ocorridas no Brasil do século XIX. Em um contexto social de políticas higienistas, os ideais de prevenção e promoção de saúde da medicina social ganharam espaço entre psiquiatras brasileiros e em políticas de Estado, acarretando na reestruturação do tratamento dispensado aos alienados.

Até então, cabia à Santa Casa de Misericórdia tratar os considerados loucos, sendo estes os desajustados, indigentes, doentes mentais ou qualquer um que fosse considerado fora dos padrões estabelecidos. Tratamento esse que, de acordo com a classe médica, não considerava as reais demandas do tratamento da loucura. A fundação do Hospital Pedro II no ano de 1852 será um marco para a psiquiatria do período, no entanto, seguirá sob direção da Santa Casa até 1890, quando é desvinculado da instituição filantrópica e passa a ser denominado de Hospício Nacional de Alienados (HNA), sendo ainda criadas duas colônias na Ilha do Governador anexas a este.

Posteriormente, em 1911, para atender a demanda devido a superlotação do Hospital Nacional, é criada a Colônia de Alienadas do Engenho de Dentro ou Colônia de Psicopatas do Engenho de Dentro, tendo como diretor Simplício de Lemos Braule Pinto (1911-1918) e, posteriormente, Gustavo Kholer Riedel (1918-1932). A colônia se destina a pacientes do HNA consideradas mulheres, indigentes e aptas a trabalhar, uma vez que o trabalho era tido como estratégia terapêutica. Além disso, pretendia-se estender ao subúrbio serviços de prevenção e higiene mental, o que, mais tarde, acarretou na oferta de assistência médica gratuita para a comunidade no entorno, devido a surtos de doenças no período.

E então, em 1920, é inaugurado o Ambulatório Ridávia Correia, com serviços de medicina geral, ginecologia, pediatria, obstetrícia, radiologia, otorrinolaringologia e cirurgia geral. Além, é claro, de assumir o papel de instruir a população sobre as causas da loucura e as maneiras de preveni-la, assim como visitar as residências de familiares de alienados e prestar-lhes orientação genética. E será na, assim apelidada, Policlínica dos Subúrbios que o pioneiro Laboratório de Psicologia será fundado.

O Laboratório de Psicologia da Colônia de Alienadas do Engenho de DentroEditar

Com o financiamento da Fundação Gaffrée-Guinle, o então diretor da colônia, Gustavo Riedel, faz em 1923 a aquisição de instrumentos para um laboratório de pesquisas a ser anexado ao Serviço de Profilaxia Mental do ambulatório. Faz-se, então, necessária a contratação de um técnico qualificado para coordenar e dirigir esse laboratório, que terá como funções principais investigar as causas da alienação e promover sua prevenção.

Pelo seu histórico profissional e experiência, o psicólogo polonês Waclaw Radecki foi contratado como diretor do Laboratório de Pesquisas da Colônia de Psicopatas do Engenho de Dentro, em 1924. O espaço físico do laboratório se localizava em salas cedidas pelo Dr. Guilherme Guinle, dentro do ambulatório da colônia.

Inicialmente, o laboratório teve como colaboradores somente Radecki e sua esposa, Halina Radecka, o que nos anos seguintes mudará com a entrada de Nilton Campos, Gustavo Augusto de Rezende, Ubirajara da Rocha, Arauld Bretas, Alberto Moore, Lucília Tavares, Jayme Grabois, entre outros.

É importante ressaltar que a psicologia do laboratório realizava mais funções técnicas e práticas do que de fato experimentais, o que se explica pelo caráter funcional esperado do local, de que a psicologia ali estudada servisse mais como um instrumento da psiquiatria do que de fato uma psicologia. O potencial desenvolvimento teórico associado ao laboratório se deve mais ao interesse de Radecki do que a funcionalidade do local. O psicólogo desenvolveu como diretor um sistema psicológico que chamou de discriminacionismo afetivo, mas o mesmo não vingou.

Um instrumento muito marcante do laboratório foi a ficha psicológica, que compunha os longos exames que eram realizados pelos profissionais do local. Os exames poderiam durar horas, dias ou até mesmo semanas, e para evitar que os avaliados ficassem fatigados, os testes eram divididos em etapas.

Quando já estabelecido, o laboratório passou a ganhar reconhecimento e cumprir com suas funções sociais para além da colônia e ambulatório. Com destaque para o convite do Exército em 1927, para que o laboratório da Colônia prestasse auxílio na seleção de pilotos, o que culminou na comitiva de médicos militares que foram estudar e compuseram de seu laboratório por um período; e também quando o Ministro da Educação autorizou testes e exames de atletas brasileiro com o objetivo de seleção e orientação, em 1932.

E é em 1932 que, devido à Reforma Francisco Campos, o Laboratório de Psicologia da Colônia de Alienadas do Engenho de Dentro é convertido em Instituto de Psicologia ligado à, então, Universidade do Rio de Janeiro (atual UFRJ).

ExtinçãoEditar

Por meio de contatos e negociações, o psicólogo polonês Waclaw Radecki conseguiu ampliar o laboratório e justificar a criação do, atualmente conhecido, Instituto de Psicologia da UFRJ. Entretanto, o Instituto de Psicologia foi extinto por ordem presidencial por meio do Decreto Lei n. 21.999, no dia 24 de outubro de 1932, sete meses após sua criação. Este Decreto revogou o Decreto n. 21.173 de 19 de março de 1932, que marcava a criação do Instituto de Psicologia, e anexou os serviços julgados necessários à Assistência a Psicopatas. As justificativas da revogação, apesar de expostas pelo ministro de Estado dos Negócios da Educação e Saúde, não trazem na íntegra as causas para o fechamento do Instituto. Centofanti (1982) afirma que o Instituto foi fechado por não ter sido capaz de se manter financeiramente e por não ter sido motivo de interesse a alguns setores, como a Psiquiatria da época e grupos católicos ligados à Psicologia. Contudo, o Decreto foi assinado pelo Ministro da Educação e Saúde Pública Washington Ferreira Pires (1892-1970), que sucedeu a Francisco Campos a partir de 16 de setembro de 1932 (Brasil, 1932). Ao longo desses anos iniciais em que o Laboratório ficou aberto, apresentou-se sucintamente como instrumento para a Colônia de Psicopatas e, posteriormente, como base para as pesquisas de Radecki.

Após um período de interrupção de cinco anos após o fechamento do laboratório, o local perde o seu sentido original, passando a vincular-se ao centro de psiquiatria da Colônia, sendo utilizado para aulas demonstrativas pelos antigos auxiliares de Radecki. Esse cenário chega ao fim com a iniciativa de Jaime Grabois e Euríalo Cannabrava de recriar o Instituto de Psicologia em 1937, conjecturado pela organização da Universidade do Brasil (atual UFRJ). Assim, sob a direção de Jayme Grabois, que durou de 1937 a 1945, o laboratório foi incorporado e os instrumentos foram transferidos da Colônia para a sede da Universidade do Brasil.  Em 1948, Nilton Campos assume a direção do Instituto e fecha o laboratório novamente. A partir desse período, o laboratório foi utilizado com menos frequência e há poucas pesquisas ou quase nenhuma que indicam o funcionamento recorrente do laboratório desde então.

ObjetivosEditar

  1. Ser uma instituição auxiliar médica, com exames parciais e gerais de doentes; posteriormente com o propósito de auxílio no atendimento médico e ambulatorial para os alienados da colônia e a comunidade do entorno; trabalhos terapêuticos e psicanalíticos a requerimento dos médicos.
  2. Auxiliar das necessidades sociais e práticas: como avaliações infantis, profissionais e em investigações forenses, por exemplo.
  3. Ser um núcleo científico: contribuir com o avanço da psicologia e seus alcances a partir do desenvolvimento de pesquisas experimentais.
  4. Ser um centro de formação de profissionais em psicologia.

Reuniões e congressosEditar

  • 1927:
  1. Radecki viaja pela Europa, acompanhado de uma comissão de médicos brasileiros, e visita os principais centros de desenvolvimento de Psicologia europeia. Promoveu também um curso na Faculdade de Direito de Curitiba e uma conferência no Congresso de Higiene em Belo Horizonte.
  • 1928 e 1929:
  1. Radecki participa de um curso de Psicologia ministrado na Escola de Aplicação do Serviço de Saúde do Exército, publicado em 17 fascículos chamados de "Resumo do Curso de Psychologia".
  2. Durante esses anos, também são publicados os "Trabalhos de Psychologia" (vol. I e II), registrando as produções do laboratório.
  • 1930:
  1. Os assistentes de Radecki apresentam trabalhos para um concurso da Escola Normal do Rio de Janeiro.

Trabalhos realizadosEditar

  • Pesquisas experimentais da influência do material mnemônico esquecido sobre a associação livre - Halina Radecka e Waclaw Radecki
  • Pesquisas experimentais da influência do material mnemônico esquecido sobre a associação voluntária - Nilton Campos e Waclaw Radecki
  • Contribuição experimental à psicologia dos juízos - Lucília Tavares e Waclaw Radecki
  • A criação de hábitos sadios nas crianças - Waclaw Radecki
  • O Estado atual da psicotécnica e meios práticos de aplicá-la - Waclaw Radecki
  • Test de inteligência para adultos - Waclaw Radecki
  • Um interessante caso de estupor catatônico - Gustavo Rezende
  • Relatório de uma viagem realizada à Europa para estudos psicológicos - Nilton Campos
  • Observação de um segmento (parte sensorial) do perfil psicológico do aviador - Arauld Bretas
  • Estudo de atenção nos aviadores - Ubirajara Rocha
  • Contribuição experimental à psicologia da fixação mnemônica - Antonio de Bulhões Pedreira
  • Conceito de Saúde e Doença em face da biologia teórica - Paulo Schirch
  • Contribuição ao estudo da sugestão e suas aplicações - Waclaw Radecki
  • Contribuição ao estudo psicológico da psicanálise - Waclaw Radecki
  • Contribuição ao estudo psicotécnico dos automatismos - Alberto Moore
  • Problemas e métodos de psicologia individual (diferencial) - Waclaw Radecki
  • Contribuição psicológica ao estudo da demência precoce - Waclaw Radecki e Gustavo Rezende
  • Tratamento médico de crianças anormais - Hugo Marques
  • À margem de dois psicogramas: Algumas observações a respeito da utilização, na psiquiatria, dos exames psicológicos dos doentes- Waclaw Radecki
  • Exame Psicológico da Criança - Halina Radecka
  • Psicologia do Pensamento - Lucília Tavares
  • Psicologia da Vida Afetiva - Nilton Campos
  • Psicologia da Sensação - Arauld Bretas

Lista de DirigentesEditar

  • Waclaw Radecki (1924 - 1932)

Membros ImportantesEditar

  • Gustavo Köhler Riedel
  • Waclaw Radecki
  • Halina Radecka
  • Nilton Campos
  • Gustavo de Rezende
  • Lucília Tavares
  • Agnello Ubirajara da Rocha
  • Ubirajara da Rocha
  • Arauld Bretas
  • Alberto Moore
  • Antonio de Bulhões Pedreira
  • Oswaldo Guimarães
  • Flávio Rodrigues Dias
  • Jayme Grabois
  • Arthur Fajardo da Silveira
  • Antonio Moniz de Aragão

Ver tambémEditar

ReferênciasEditar

  1. BRASIL. Decreto n. 21.173 de 19 de março de 1932. Diário Oficial da União - Seção 1 - 31/3/1932, Página 5929. Acesso em: 10 de dez. 2022.
  2. BRASIL. Decreto n. 21.999 de 24 de outubro de 1932. Diário Oficial da União - Seção 1 - 31/10/1932, Página 20049. Acesso em: 10 dez. 2022.
  3. Centofanti, Rogério. Radecki e a Psicologia no Brasil. Psicologia: Ciência e Profissão [online]. 1982, v. 3, n. 1 , pp. 2-50. Acesso em: 15 de nov. 2022.
  4. Radecka, H. "Exame psychologico da criança". Colônia de Psychopathas, RJ, 1930.
  5. Radecki, W. Contribuição à psychologia das representações. Revista de Educação, SP, 1923a.
  6. Radecki, W. Methodos psychoanalyticos em psychologia. Boletim da Sociedade de Medicina de São Paulo, vol. VI, SP, 1923b.
  7. "Psychologia do pensamento", op. cit. nota 25.
  8. Campos, N. "Psychologia da vida affectiva". Colônia de Psychopathas, RJ, 1930. Rocha, U. "Psychologia da attenção", op. cit. nota 26. Bretas, A."Psychologia das sensações". Paulo Pongetti, RJ,1930.
  9. AUTUORI, Marina. Uma história do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Bol. - Acad. Paul. Psicol., São Paulo, v.34, n. 86, p.7-23, 2014. Acesso em: 02  dez.  2022.
  10. AZEVEDO, Cleomar. Dicionário histórico de instituições de Psicologia no Brasil. Cad. psicopedag., São Paulo, v.8, n.14, p. 80-83, 2010. Acesso em  12 nov. 2022.
  11. FONSECA, Luiz Eduardo Prado. Os (Des)caminhos da Psicologia no século XX: Um estudo sobre a história do Instituto de Psicologia da UFRJ. Tese de Doutorado (História das Ciências, das Técnicas e Epistemologia) – Programa de Pós-Graduação em História das Ciências, das Técnicas e Epistemologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2020. Acesso em: 06 de nov. de 2022.

Links externosEditar

AutoriaEditar

Verbete criado inicialmente por Arthur Medeiros Leite, Beatriz Fonseca da Silva, Clara Junqueira Garcez de Oliveira, Debora Rocha Gomes Aguiar e Isabella Barreto Figueiredo, como exigência parcial para a disciplina de História da Psicologia. Criado em 2022.2.