Paul Ekman é um psicólogo americano nascido em 1934, na cidade de Washington, D.C., Estados Unidos, sendo pioneiro no estudo do comportamento facial. Ele é referência por seus feitos acadêmicos sobre as reflexões das emoções nas expressões faciais, tendo desenvolvido a Teoria Básica das Emoções (BET), além das teorias de detecção de mentiras e da mudança comportamental. Ele também criou o Sistema de Codificação Facial (FACS), um método para classificar expressões humanas através do estudo de movimentos associados aos músculos da face.

BiografiaEditar

Primeiros anosEditar

Ekman nasceu em 15 de fevereiro de 1934, na cidade de Washington, D.C., Estados Unidos. Ele foi o segundo de dois filhos, seu pai era médico pediatra e sua mãe era advogada. Eles viveram em Nova Jersey, exceto pelos anos da Segunda Guerra Mundial, em que se mudaram para uma base militar no sul da Califórnia. Sua mãe foi diagnosticada com transtorno de bipolaridade e cometeu suicídio quando Ekman ainda era adolescente, fato este que o levou a se interessar, anos mais tarde, por psicoterapia.

Atuação universitáriaEditar

Paul Ekman começou seus estudos sobre semiótica no ensino médio. Ele saiu de casa aos 15 anos de idade para estudar na Universidade de Chicago, a qual aceitava estudantes que ainda não tinham completado o período escolar. Depois de três anos em Chicago, ele pediu transferência para a Universidade de Nova York, obtendo seu diploma de graduação em 1955. Sua primeira publicação foi em 1957 e, nela, relatava seus esforços para o desenvolvimento de métodos para medir o comportamento não-verbal. Em 1958, Ekman finalizou seu doutorado em psicologia clínica na Universidade de Adelphi, tendo como tese a teoria das expressões faciais. Logo depois, ele se tornou oficial de psicologia clínica do exército no campo de Fort Dix, em Nova Jersey, onde teve as primeiras realizações na área de psicoterapia, como um trabalho de pesquisa no comportamento dos soldados desertores. No ano de 1964, Ekman conheceu Silvian S. Tomkins, psicólogo e teórico da personalidade, o qual teve uma influência intelectual importante no desenvolvimento de seu interesse em emoções e expressões. O pensamento de Ekman também sofreu influência do George Mahl por seu pensamento sobre movimentos corporais, já Thomas Sebeok introduziu para Ekman a etiologia e a semiótica. Posteriormente, Erving Goffman desafiou as ideias do Ekman sobre a decepção.

Produção acadêmicaEditar

Em 1967, Dr. Ekman fez a descoberta das microexpressões faciais, através de estudos com pacientes que não mostravam comportamentos depressivos, mas que cometeram suicidaram. Com essa pesquisa, ele chegou à conclusão de que haviam sinais comportamentais e faciais que os pacientes estavam tentando esconder e que poderiam ser índices de um diagnóstico depressivo. De 1967 a 1968, o Dr. Ekman viajou para a Papua Nova Guiné para estudar o comportamento não verbal de uma tribo, a qual, mesmo isolada do mundo ocidental, apresentou as mesmas expressões faciais de diferentes emoções expressas na face de uma pessoa alheia à sua cultura, conseguindo uma evidência para a sua tese de que expressões faciais são universais.

De 1971 a 2004, o Dr. Ekman trabalhou na Universidade de São Francisco, Califórnia, como professor, enquanto publicava livros e artigos sobre os seus estudos. No período de 1972 a 1978, ele criou o Sistema de Codificação Facial (FACS), com o objetivo de medir canais não verbais, identificando cada músculo e gesto facial.

Com a publicação do seu livro “Telling Lies” (Contando mentiras), em 1985, diversas áreas de segurança, como o FBI e a CIA, requisitaram materiais de estudo para aplicação na área de segurança dos EUA. Nos anos 2000, após um desafio do Dalai Lama, budista que recebeu um Prêmio Nobel de Paz em 1989, da criação de um programa educacional amplamente acessível e que fosse capaz de oferecer ferramentas práticas para uma gestão emocional mais eficaz, Ekman desenvolveu um programa de treinamento para ajudar pessoas a aprender a cultivar níveis mais elevados e não condicionados de bem-estar e equilíbrio emocional, o “Cultivating Emotional Balance”, ensinado pela Dr. Eve Ekman, sua filha. Como resultado do programa, após o término das 5 semanas da pesquisa, os pacientes relataram uma melhora nos graus de depressão, ansiedade e hostilidade, além de uma melhoria na capacidade de detectar expressões faciais mais sutis associadas a diversas emoções.

TeoriaEditar

Consolidação da teoriaEditar

Paul Ekman consolidou-se como uma das maiores referências na área de análise de emoções e expressões faciais e, principalmente, na relação entre um e outro. Suas teorias começaram com o estudo de linguagem corporal (gestos e movimentos manuais), porém, segundo o próprio autor, não era um assunto muito aclamado na época (1960). Dessa maneira, uma década depois, passou a estudar sobre o comportamento não verbal. Somente há poucas décadas o estudo do psicólogo sobre o comportamento não verbal se tornou ainda mais preciso quando se aprofundou em microexpressões faciais, que realizam movimentos musculares quase imperceptíveis para os não treinados, porém para os estudiosos da área há a complexificação da análise, junto ao aumento da profundidade e precisão.

Análise comportamentalEditar

O autor enxerga o comportamento do organismo nas relações interpessoais dividido em três partes: verbal, vocal e não verbal. Os dois primeiros são similares, pois se trata de declarações vocais nas quais a variação do timbre, tom e intensidade motora da faringe importam, enquanto o terceiro trata-se de movimentos corporais e gestos. Os dois primeiros também são percebidos majoritariamente pela audição, já o terceiro, pela visão.

Teoria Neuro-CulturalEditar

Paul Ekman foi o psicólogo responsável por mapear as expressões faciais universais, clamando que elas são socialmente aprendidas, porém, culturalmente diferentes. Ele aponta características gerais inatas que se relacionam à estrutura e funcionamento cognitivo mas que, ao mesmo tempo, sofrem influências socioculturais do meio através da aceitação (ou não) das emoções.

Emoções básicasEditar

Sobre o campo das emoções, o Dr.Ekman divide as emoções em 7, são elas: medo, raiva, tristeza, felicidade, surpresa, desgosto e desprezo. Ele não acredita que existam emoções negativas ou positivas, apenas emoções causadas por ações, lembranças, imaginação, etc. Ele também salienta que emoções ocultas não significam, necessariamente, que houve mentiras sobre o tópico de interesse, pois as emoções são identificadas com a análise das expressões e microexpressões faciais, e não a causa delas.

Aplicação da teoriaEditar

Paul Ekman cria a FACS (Facial Action Coding System), um meio dos cientistas mensurarem emoções e expressões sem precedentes. O aparelho é capaz de detectar até mesmo os movimentos musculares mais imperceptíveis a olho nu, medindo inclusive a intensidade da emoção, sequências repetidas e se é voluntário ou involuntário. Assim, coloca em prática suas técnicas e teorias, utilizando-as para com seus pacientes e público em geral.

CríticasEditar

Embora Paul Ekman seja considerado pioneiro no estudo das emoções e expressões faciais, suas teorias foram rejeitadas por alguns estudiosos. Como principal exemplo, percebe-se o estudo de 1997 de Carlos Crivelli, professor Associado em Ciências Afetivas e Interação Social da Universidade de Montfort, “Expressões faciais”, que define as expressões faciais da emoção de Ekman como ocidentalizadas. Sua pesquisa negou a universalidade das microexpressões proposta por Ekman, através da revisão do estudo de campo em Papua Nova Guiné, com mecanismos mais avançados, no qual eram mostradas imagens com supostas expressões universais para uma tribo das Ilhas Trobriand, que tem pouco contato com o exterior por serem horticultores de subsistência. Como resultado, as exteriorizações da face concebidas como universais, como a “cara de medo”, eram percebidas pelos Trobriandeses como uma exibição agnóstica. Além disso, foi percebido que as próprias definições de sentimento se diferenciavam de acordo com a cultura, não sendo possível encontrar um padrão absoluto. Em suma, a teoria de Ekman é desmantelada por Crivelli diante da descoberta da multiplicidade da linguagem não verbal e da diferenciação de sensações conforme a cultura de cada comunidade.

Além das críticas realizadas por Crivelli, Paul Ekman foi criticado por um grupo de pesquisadores com o artigo “Cultural Variation in Emotion Perception Is Real: A Response to Sauter, Eisner, Ekman, and Scott”, publicado em 2015 (A variação cultural na percepção da emoção é real: uma resposta a Sauter, Eisner, Ekman, e Scott). Os autores da tese fizeram pesquisas com pessoas da Namíbia que participavam de um grupo cultural chamado Himba, com o intuito de descobrir se havia uma percepção universal de emoções e, como resultado, foi descoberto que os indivíduos conseguiam identificar quais emoções eram positivas ou negativas, mas não uma suposta “emoção universal”. Dessa forma, os cientistas responsáveis pelo estudo afirmam que suas interpretações excluem a valência da teoria de Ekman, uma vez que esta se baseia no entendimento de uma universalidade da percepção da emoção, como podemos observar em sua obra "A linguagem das emoções”, na qual afirma existir emoções básicas de tristeza e angústia, raiva, surpresa e medo, aversão e desespero.

Cronologia biográficaEditar

  • Em 1934, nasceu em Washington, D.C.
  • Em 1955, se graduou na Universidade de Chicago e na Universidade de Nova York.
  • Em 1958, doutorou-se em psicologia clínica na Universidade de Adelphi.
  • Em 1967, descobriu a teoria das microexpressões faciais.
  • Em 1971, trabalhou como docente na Universidade de São Francisco, Califórnia.
  • Em 1972, criou o Sistema de Codificação Facial (FACS).
  • Em 1979, casou-se com Mary Ann Mason.
  • Em 1985, teve sua obra “Telling Lies” (Contando Mentiras) publicada.
  • Em 2000, criou o programa “Cultivating Emotional Balance”.

ContribuiçõesEditar

Facial action coding system (sistema de codificação de ação facial, tradução livre)Editar

Paul Ekman foi responsável pela criação de um procedimento de análise da face humana chamado Facial Action Coding System, FACS (sistema de codificação de ação facial, tradução livre), no qual seria possível detectar as emoções a partir dos Actions Units (unidades de ação, tradução livre), movimentos musculares da face. O sistema foi aplicado em diversas áreas de atuação profissional, desde investigações policiais até na criação de desenhos animados que gostariam de ter maior precisão nas expressões dos personagens.

Aplicação da teoria nos sitemas de segurança americanosEditar

Ao publicar o livro “Telling lies” (Contando mentiras, tradução livre), Ekman despertou o interesse de autoridades como o FBI e a CIA, que posteriormente estudaram sua teoria para a aplicação nos sistemas de segurança americano.

Programa "Cultivando o Equilíbrio Emocional"Editar

O psicólogo também desenvolveu o programa “Cultivating Emotional Balance” (Cultivando o Equilíbrio Emocional, tradução livre), como resultado de uma discussão sobre o tema “Emoções Destrutivas”, em um encontro do Instituto Mente e Vida, uma organização sem fins lucrativos que propõe unir a ciência com o conhecimento contemplativo para promover bem estar. O “Cultivating Emotional Balance" convida o participante a seguir um cronograma que o ajuda a alterar seu padrão de resposta durante um episódio sentimental, além de diminuir a reatividade emocional da face ao stress, promovendo um maior controle emotivo e melhora nas relações interpessoais.

ObrasEditar

  1. Emotion in the Human Face. (1972)
  2. Darwin and Facial Expression: A Century of Research in Review. (1973)
  3. Unmasking the face. (1975)
  4. Face of Man. (1980)
  5. Handbook of Methods in Nonverbal Behavior Research. (1982)
  6. Telling Lies: Clues to Deceit in the Marketplace, Politics, and Marriage. (1985)
  7. Why Kids Lie: How Parents Can Encourage Truthfulness. (1989)
  8. The Nature of Emotion: Fundamental Questions. (1994)
  9. What the Face Reveals. (1997)
  10. Emotions revealed: Recognizing Faces and Feelings to Improve Communication and Emotional Life. (2003)

Ver tambémEditar

ReferênciasEditar

BURGOON, Judee. Microexpressions Are Not the Best Way to Catch a Liar. Frontiers in Psychology, [S. l.], p. 3, 20 set. 2018.

EKMAN, Paul. An Argument for Basic Emotions. Cognition and emotion, São Francisco, EUA, p. 1-33, 7 jan. 2008

EKMAN, Paul. Basic Emotions. In: HANDBOOK of Cognition and Emotion. [S. l.]: John Wiley & Sons Ltd., 1999. cap. 3, p. 45-60.

EKMAN, Paul. Darwin, Deception and Facial Expression. New York Academy of Sciences, [S. l.], p. 205-221, 2003

EKMAN, Paul. Facial Expressions in Affective Disorders. In: WHAT The Face Reveals. New York: [s. n.], 1997. cap. 15, p. 331-342.

AutoriaEditar

Verbete criado por: Fernanda Livia Benassi, Giovanna Provedel e Rafaela Assis Silva como exigência parcial para a disciplina de História da Psicologia da UFF de Rio das Ostras. Criado em 2023.2, publicado em 2023.2