René Ribeiro nasceu em Recife, em 03 de janeiro de 1914 e faleceu na cidade de Recife, no dia 25 de dezembro de 1990, acompanhado de sua esposa Beatriz Cavalcanti Ribeiro. Ribeiro foi um médico psiquiatra e antropólogo, aluno de Ulysses Pernambucano, envolvido em projetos com Rodolfo Aureliano, Gilberto Freyre e, posteriormente, Melville Herskovits. Foi membro de várias associações nacionais e internacionais da área de Psiquiatria e Antropologia, contribuindo significativamente nos estudos Afro-Brasileiros.

BiografiaEditar

Nascido no dia 03 de janeiro de 1914, em Recife, René Ribeiro era filho único do casal Jefferson Firmino Ribeiro e Celina Osias Ribeiro. Quando nasceu, seu pai era um médico de muito prestígio, sanitarista no campo de Higiene Pública, na Inspetoria de Higiene do Estado, onde também iniciou sua carreira como Comissário de Higiene, desde 1910. O fato do pai de Ribeiro ter tido grande importância e conexões em sua área, ajudaria, no futuro, a montar a carreira de seu filho, possibilitando oportunidades únicas para René. Em 1918, Jefferson atua no Agreste de Pernambuco, onde se destaca no combate à gripe espanhola. Junto com Ulysses Pernambucano, atuou também na Inspetoria de Higiene e no Hospital Tamarineira e mais tarde atuaram juntos na propaganda de remédios. Aos 40 anos, Jefferson morreu no dia 14 de agosto de 1923 por causa de uma embolia cerebral. Ulysses chegou a discursar em seu funeral. Aprovado no Colégio Marista, aos 12 anos, em 1926, René contemplou seus estudos com afinco. E nos caminhos abertos pelo seu pai, em 1931, ingressou na Faculdade de Medicina do Recife. Portanto, quando René ingressou na Faculdade de Medicina ele não era um total estranho para Ulysses, que no contexto já era um cientista social de grande liderança na Faculdade. René herdou todo o capital social de seu pai, o que facilitou seu ingresso na medicina. E, ao se tornar aluno de Ulysses em 1932, na disciplina Neuro Psiquiatria Infantil, Pernambucano o convida para frequentar a biblioteca de Assistência aos Psicopatas de Pernambuco, e nesse instante começa a relação companheira e acadêmica de ambos. Em sua trajetória de possibilidades oferecidas por Ulysses, Ribeiro resolve atuar na área de Serviço de Higiene Mental que tinha como foco a “prevenção” da loucura (álcool, sífilis, baixo- espiritismo, etc). O elemento fundamental na carreira de René Ribeiro foi o Serviço Social de Higiene, permitindo que o mesmo tivesse uma circulação interdisciplinar ampla. Já em 1934, ele se torna sócio na Liga Brasileira de Higiene Mental (LBHM), que por sua vez era uma extensão do Serviço de Higiene Mental (SHM). O SHM marca o início da vida adulta de René Ribeiro, antes de se formar médico, onde conquistou seu primeiro emprego, em 1935, no cargo de auxiliar técnico, por concurso, tendo como chefe direto o psiquiatra José Lucena, o diretor deste Serviço e neste momento se inicia a sua produção intelectual. Um dos grandes objetivos da SHM era “educar a população sobre as doenças mentais”. Foi nesse primeiro emprego que René conheceu sua futura esposa Beatriz Cavalcante Uchoa, que na época atuava como assistente social no departamento. Em 1935, Ribeiro esteve envolvido em causas de menores órfãos e desamparados junto com seu chefe José Lucena e o trabalho de Psiquiatria Social iniciado por ele no SHM teve continuidade no Juizado de Menores do Recife, onde atuou em parceria com o Juiz Rodolfo Aureliano já no cargo de presidência LBHM. Contudo, em 1937, René tem seu primeiro contato com os estudos sobre culturas negras no Novo Mundo por meio das publicações de “Casa Grande e Senzala” de Gilberto Freyre, “The Mind of Primitive Man” de Franz Boas e “O Negro Brasileiro” de Arthur Ramos e, também vai ao seu 1° Congresso Afro-Brasileiro. E com o trabalho “As Esquizofrenias: Estudo Estatístico e sua Aplicação à Higiene Mental” foi aprovado no concurso Livre-Docente de Psiquiatria na Faculdade a qual ainda cursava medicina. Ribeiro atuou como médico-assistente no hospital psiquiátrico particular criado por Ulysses Pernambucano, assim, inaugurando em conjunto a primeira chefia de unidade hospitalar de tratamento biológico e terapias de choque para pacientes neuropsiquiátricos. René publica muitos artigos com a sua formação antropológica pela Northwestern University, aliados quase sempre ao seu interesse na área psíquica como “O Teste de Rorschach no Estudo da Aculturação e da Possessão Fetichista dos Negros no Brasil. Em 1940, junto com Rodolfo Aureliano e alguns professores fundou a Escola de Serviço Social, vinculada ao Instituto Social do Rio de Janeiro, posteriormente, incorporada à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Já em 1950, volta ao Brasil, após o término de seu mestrado em antropologia nos Estados Unidos, onde Ribeiro foi orientado por Melville Herskovits, colaborou com Gilberto Freyre na implantação do Instituto Joaquim Nabuco, atual Fundação Joaquim Nabuco, onde foi diretor do Departamento de Antropologia. Ribeiro ocupou o cargo de professor titular de Etnografia no Brasil e de Antropologia. Em 1957, na Faculdade de Filosofia da UFPE participou da organização do Mestrado de Antropologia. René Ribeiro esteve à frente na institucionalização do Serviço Social no estado de Pernambuco e esteve também na antropologia - tanto por meio do Instituto Joaquim, quanto na organização do Mestrado neste campo na UFPE -. René se manteve casado por 51 anos com Beatriz, até a morte de ambos em um acidente de carro, no natal. Eles tinham um casal de filhos.

ContribuiçõesEditar

Diversidade de obrasEditar

Ribeiro apresentou uma extensa lista de obras referente a diversos assuntos entre eles: As cerimónias dos Ibêji, relação entre cultos afro-brasileiros e a homossexualidade masculina e a sua interpretação de alguns aspectos cerimoniais do xangô à luz dos conceitos de liminaridade e comunitas e os movimentos messiânicos no Nordeste brasileiro.

XangôEditar

O Xangô já havia sido objeto de estudo da etnografia, porém, foi principalmente com Ribeiro que passou a ser considerado seriamente no repertório antropológico das religiões afro-brasileiras.

Sincretismo e sua expansãoEditar

Ribeiro escreve sobre a importância da religião, principalmente sobre o Catolicismo português para a formação das relações raciais no Nordeste, destacando o sincretismo afrocatólico e a equação entre divindades africanas e santos católicos, contribuindo dessa forma, para a miscigenação cultural.

Higiene mental e seu papel na psiquiatriaEditar

Com a implementação e prática de Higiene Mental, a psiquiatria começou a ganhar um caráter mais social, se tornando um instrumento de intervenção social e política e indo para além de espaços clínicos e institucionais, permitindo um desempenho mais ativo na sociedade e política brasileira.

Escola de Serviço Social de PernanbucoEditar

Ribeiro pertenceu a um grupo de pesquisadores sociais ligados à Ação Social Católica que iria fundar a primeira Escola de Serviço Social de Pernambuco.

Teorias, sincretismo e contribuições para a psicologiaEditar

ContextoEditar

René tinha um papel muito importante nos trabalhos de Ulysses (os quais ele deu continuidade), transitando entre ciências sociais e médicas, Ribeiro conseguiu transmitir sua visão de mundo para o público. Sem deixar a psiquiatria de lado, René foi para o ramo do Serviço Social e, em seguida, Antropologia na Northwest University, Estados Unidos. Ele foi o primeiro brasileiro a conseguir atuar na área antropologia e, quando retornou ao Brasil, esteve entre os pioneiros que ajudaram a criar a Antropologia como campo de estudo e trabalho no estado de Pernambuco. Após dezenas de trabalhos publicados entre os anos 1950 a 1988, René Ribeiro se torna uma importante referência nos estudos de religiões afro-brasileiras, onde seu primeiro contato com o assunto tivera sido no I Congresso Afro-Brasileiro, quando já atuava no projeto reformista SHM, com seu professor, Ulysses Pernambuco. A partir deste momento, René se interessa mais e mais sobre tal assunto, ele chega a ler "The Mind of Primitive Man", de Franz Boas e Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, trabalhos que marcaram sua perspectiva a respeito da herança africana no Brasil.

Pensamento social e científico de RibeiroEditar

A questão do ajustamento social - onde o indivíduo deve se portar e assumir as normas que a sociedade o impõe - teve grande importância para Ribeiro, pois ele gostava de propor soluções para os problemas sociais. René entendia a doença psíquica como resultados de situações sociais - visto que era um psiquiatra social -, ele nutria interesse em assuntos da patologia social e não só as patologias do corpo, ou seja, ele buscava compreender as causas da desorganização da sociedade, o que poderia ser responsável pela confusão mental do indivíduo. Alguns de seus temas abordados em relação a esse tópico sob um ponto de vista médico social foram: desestruturação familiar; abandono e delinquência de menores; criança problema e condições de vida da classe trabalhadora. Um detalhe a ser mencionado é que, embora nas obras de Rene Ribeiro ele cite a cor de pele das pessoas (assim como a idade e o sexo), é de forma meramente descritiva e estatística, pois a questão racial não era um fator que ele trazia em suas pesquisas, nem mesmo quando se tratava de doenças mentais. Quando se fala de René Ribeiro não estamos falando apenas de um psiquiatra, mas sim de um profissional com o pensamento profundamente social que pensava na saúde como um todo, a fim de proporcionar melhorias sociais.

Questão religiosa/I CongressoEditar

A ida ao I Congresso Afro-Brasileiro do grupo de Ulysses (professor de Ribeiro na época) tinha o objetivo de estudar uma religião que pudesse se conectar com a população negra, uma vez que a religiosidade negra poderia ser dada como fator do adoecimento mental em relação a diferença entre doentes brancos e negros. Esse foi o motivo principal pelo qual psiquiatras de Recife se aproximaram mais de terreiros. As religiões afro-brasileiras eram interpretadas como uma forma de desvio - ou desajuste - favorecedor da loucura; o estudo dessa prática era um ponto de partida no ponto de vista cultural, social e mental. Alguns testes psicotécnicos foram aplicados como forma de metodologia. Em 1934, o I Congresso Afro-Brasileiro foi reunido em recife, organizado por Gilberto Freyre e tendo Ulysses Pernambucano como presidente de honra, com a finalidade de juntar especialistas no assunto, incluindo arte, folclore, sociologia, psicologia, etnografia e outros temas relacionados aos negros no Brasil. Terreiros e seitas africanas também foram anunciadas no congresso, com músicas e danças afro-brasileiras, além dos objetos de arte religiosa, como as de xangô, macumbas, candomblés, etc.

René e as religiões afro-brasileirasEditar

O assunto “baixo espiritismo” acompanhou René desde os seus primeiros artigos. Após o I Congresso Afro-Brasileiro ele começa a publicar suas obras, o que demonstra o impacto que os seminários tiveram sobre ele, adquirindo não só o pensamento de seu professor, Ulysses Pernambucano, mas também de Gilberto Freyre, além de outros intelectuais que estavam no evento. René Ribeiro mencionou religião em seu primeiro trabalho, Inquérito sobre a situação dos egressos do Hospital de Alienados (1935), onde a questão do espiritismo entra na possibilidade de recaída das pessoas que não pertenciam à sociedade, ou seja, as pessoas que estariam expostas aos fatores que poderiam, possivelmente, levá-las a ter um novo surto psicótico. Nesse sentido, o espiritismo ficou enquadrado como favorecedor de um novo surto mórbido, como se fossem práticas nocivas à saúde mental, e física. Das 50 pessoas estudadas, 8 estariam expostas a tais fatores: álcool; conflitos familiares agudos; trabalho excessivo e frequentava sessões espíritas. Ao questionar quais dessas pessoas se mantinham em tratamento ou nao, René descobriu que duas tomavam remédios receitados nas sessões espíritas; além disso, dessas 50 pessoas, 5 haviam passado por delírios episódico (delírio espírita), foram internados por conta do seu contato com o espiritismo. No texto de René não é informado se essas cinco pessoas eram as mesmas envolvidas com espiritismo, mas se fossem, apenas mostraria resistência por parte do grupo marginalizado em relação às intervenções médicas em suas vidas. Em sua outra obra, Quatro anos de atividade do Serviço de Higiene Mental (1935), René revela que o que lhe motivou foi a descoberta de 200 centros espíritas na capital e no interior do estado, e um número parecido de seitas africanas. Nesta obra, Ribeiro submete médiuns a exames psicotécnicos e deixa claro seu ponto de vista em relação a essa religião “São essas religiões na maioria criadas para o exercício ilegal da medicina e dão-se a práticas mágico-fetichistas, determinando principalmente fenômenos de possessão de grande interesse para a psiquiatria” (1935, p.74). A preocupação do autor tinha como ponto de partida o charlatanismo médico e implicações psiquiátricas dos fenômenos que aconteciam nesses locais. Em seu texto Alguns resultados do estudo de 100 “Médiuns” (1937), talvez um dos mais importantes estudos na área como médico e que também se trata da temática religiosa. A elaboração estatística foi majoritária nesse artigo, visto que cem religiosos foram colocados para fazerem testes clínicos de saúde mental e psicotécnicos, Quociente de Inteligência (Q.I) e Perfil de Rossolimo para avaliar suas capacidades mentais. Os resultados foram relativos, dependendo da idade e capacitação educacional; a esse ponto Ribeiro critica o uso isolado dos testes de Q.I para medir as capacidades mentais de um indivíduo, mas não o descarta por completo, julgando ser válido desde que o use como forma complementar com os demais testes clínicos. A explicação científica apresentada para o fenômeno religioso da mediunidade passa a ser um conceito de “sugestão”, onde a ideia ficaria embutida no cérebro sendo capaz de influenciar as opiniões e comportamentos da pessoa, sentenciando que se tratava de uma forma de “sobrevivência no indivíduo das estruturas mentais primitivas”. Em relação ao teste de Rossolimo, o autor diz que os resultados do teste mostraram déficits de vontade, julgamento, poder de combinação, imaginação e espírito de observação, ou seja, os médiuns seriam dados como pessoas dotadas de juízo crítico inferior e entregues a credibilidade incondicional, além da maioria ser analfabeta e pouco inteligente. Segundo René, essas deficiências estariam na base dos fenômenos da desagregação que veem a apresentar; no final, o psiquiatra cumpre o papel de juiz para distinguir quais grupos são charlatões e quais são realmente religiosos. O espiritismo é apresentado como um “problema de saúde mental”, inerentemente ligado às populações pobres/populares. Essa religiosidade evidenciaria um problema social complexo porque esses centros se distribuiriam nos bairros mais marginalizados, cuja base de cultura seria baseada em folclores e crenças que demonstram sobrevivência de mentalidade primitiva. Dessa forma, para René, o problema religioso estaria ligado à pobreza, doenças e deficiências mentais, assim como a exploração da fé popular, tornando a temática muito mais complexa. Em mais um de seus textos, Exibição pública de menor - Práticas de Mágicas (1940), onde, interpretado pelo autor, seriam casos de abuso do trabalho infantil. A história fala sobre uma garota prodígio de 8 anos que se apresentava regularmente no Rio de Janeiro, onde era exposta pelo pai como atração na Exposição Nacional de Pernambuco, ela estaria como telepata e seu show tinha o objetivo de mostrar seus “dotes paranormais”, adivinhando os objetos que seu pai tinha em mãos. René interrogou o pai e a filha para fazer um levantamento do histórico da saúde física e mental, para compreender melhor a situação social da família. O exame da menina não apresentou nenhuma anormalidade além de poucos conhecimentos escolares, mas ela tinha uma idade mental avançada de 12 anos e 4 meses; seu Q.I era classificado como uma pessoa genial, a interpretação dos resultados foi que os dotes dela estariam sendo utilizados de forma prejudicial para seu desenvolvimento e equilíbrio mental. Ribeiro pediu que proibissem a participação dela em “sessões telepáticas” de qualquer gênero, pois segundo ele, o uso intensivo e precoce da mente - além da pressão imposta pelo pai - poderia desenvolver a personalidade da menina de forma desarmônica. De acordo com René Ribeiro, essa situação era um exemplo perfeito de “sobrevivência pré lógica da mentalidade primitiva das camadas inferiores da nossa sociedade”, favorecendo, consequentemente, os centros espíritas. Nessa fase, Ribeiro nutria uma visão pessimista em relação a religiosidade popular (como o xangô, o catimbó, e cultos espíritas no geral), entendendo tais práticas como sobrevivência primitiva das classes marginalizadas. Essa interpretação se manteve durante seis anos após o I Congresso Afro-brasileiro e três anos após o II Congresso Afro-brasileiro, mostrando que, mesmo mantendo contato com Gilberto Freyre, René não conseguiu romper com os modelos explicativos relacionados aos fenômenos “mediúnicos”, a explicação desses acontecimentos religiosos não faziam parte de sociologia ou antropologia para ele.

Guinada de 180 grausEditar

Sua mudança intelectual no aspecto religioso foi gradativamente mudando para uma mais positiva, o ponto de partida para essa alteração foi, pelo o que parece, dada pela chegada de Melville Herskovits em Recife, na primeira metade dos anos 1940. Segundo René, sua vida teve uma “guinada de cento e oitenta graus dos estudos até então procedidos”, guinada que ele atribuiu aos contatos estabelecidos com o antropólogo Melville e o grupo de Ulysses Pernambucano, quando a compreensão da mediunidade como fenômeno psicopatológico se tornou um fenômeno cultural. Essa foi a nova perspectiva adotada e defendida por Ribeiro em sua tese de mestrado The Afro Brazilian Cult Groups of Recife, a study in social adjustment (1949), posteriormente traduzida e transformada em livro pelo Instituto Joaquim Nabuco sob o título Cultos Afro Brasileiros do Recife: Um Estudo de Ajustamento Social (1952), sendo o primeiro trabalho do René Ribeiro, institucionalmente, como antropólogo. Neste trabalho as situações se invertem, se antes a religião era dada como causa e consequência da loucura, a partir de agora ela seria vista como algo benéfico, dando “satisfação emocional” e proporcionando a “libertação de tensões psicológicas”; se antes o terreiro era visto como lugar que potencializaria o desajustamento, agora seria um fator de ajustamento social. Isso porque os pobres, dentro da estrutura xangô, alcançaram posições de prestígio superior às que teriam em qualquer outra esfera social, podendo aproveitar de uma das experiências mais satisfatórias, encontrando naquele local um apoio psicológico para enfrentar os problemas e situações do dia a dia. A partir de 1950, as temáticas raciais e religiosas monopolizam as produções de Ribeiro como antropólogo. Partindo desse ponto, torna-se claro que, durante o I Congresso Afro-Brasileiro o grupo de Ulysses utilizou uma abordagem interdiciplinar sobre a temática do negro, de acordo com a proposta do evento, no entanto, para René, o contato estabelecido com o grupo e com Gilberto Freyre nao foram suficiente para alterar a chave psicopatologica com a qual ele interpretava o fenomeno afro-religioso, isso até ele conhecer Herskovits. Logo, pode-se definir René Ribeiro - das décadas de 1930-1940 - como um psiquiatra social, preocupado com a Higiene Mental e o ajustamento social da sociedade, ligado mais no âmbito dos menores e à pobreza. As questões raciais ganham relevância em sua fase posterior, quando o mesmo se inicia na área de Antropologia, ainda assim, a maneira pela qual ele tratou temáticas religiosas deixava claro a limitação da perspectiva social dentro da psiquiatria, resultando na resistência a novas possibilidades de estudos.

Teorias sobre a possessãoEditar

Para Ribeiro, as dissociações que as experiência religiosa apresentavam, tinham também, o objetivo de atuar como um mecanismo de escape durante uma situação de forte pressão externa, concluindo assim que a possessão é um fenômeno normal, que pode ser estudado através da identificação de padrões culturais dos participantes e dos condicionamentos que as normas grupais impõem. Além disso, ele destaca também os benefícios físicos e espirituais trazidos pela possessão (do Espírito Santo) para os membros das comunidades religiosas que sofrem de doenças e outros problemas, ou seja, René se fundamenta na ideia de que a religião pode está ligada diretamente no apoio psicológico de seus fiéis.

Principais obrasEditar

Lista de obrasEditar

Ribeiro possui uma extensa lista de trabalhos, sendo estes no campo da psiquiatria e da antropologia. Seu livro mais importante é Cultos afro-brasileiros do Recife: um estudo de ajustamento social, de 1952, supervisionado por Herskovits. Sua última publicação como médico psiquiatra foi na década de 1940 e a partir da década de 1950 passou a assinar seus trabalhos como antropólogo e cientista social.

1. Inquérito sobre a situação dos egressos do Hospital de Alienados. Arquivos da Assistência a Psicopatas 5 (1 e 2): 28-36. [Col. Eulina Lins], 1935. 2. Inquérito sobre as instalações e métodos educativos nos orfanatos do Recife. Arquivos da Assistência a Psicopatas 5 (1 e 2): 145-63. [Col. José Lucena], 1935. 3. "Adaptação Social dos Maníacos Depressivos e Esquizofrênicos". Trabalho apresentado na Sociedade de Internos dos Hospitais do Recife (15 de outubro), 1935 4. A influência metereológica na esquizofrenia. Jornal dos Internos 2 (1): 18-26, 1936 5. "Parkinsonismo pós-encefalítico e gravidez", Jornal dos Internos 2 (2): 3-21. [Col. Oldano Pontual], 1936. 6. As esquizofrenias: estudo estatístico e sua aplicação à higiene mental. Tese para Livre Docente da Clínica Psiquiátrica da Faculdade de Medicina da UFPE, 1936. 7. "Alguns resultados de estudo de 100 médiuns". Em Estudos Pernambucanos Dedicados a Ulysses Pernambucano. Pp. 73-84, 1937. 8. Estudo de um grupo de menores delinquentes. Neurobiologia 1 (1): 72-80, 1938. 9. Técnicas de aplicação de método de Sakel. Neurobiologia 1 (2): 229-236, 1938. 10. Choque petraido grave durante o tratamento de Sakel. Neurobiologia 2 (1): 47-68, 1939 11. Estudo estatístico sobre a idade dos doentes mentais. Neurobiologia 2 (4): 345-54, 1939. 12. "O problema da habitação do operário urbano no Recife". Arquivo da 3 a Semana de Ação Social. Recife: Imprensa Oficial. Pp. 3-29, 1939. 13. Resenha crítica da atividade do Juizado de Menores de Recife no período 37-39. Neurobiologia 3 (4): 460-73, 1940. 14. Exibição pública de menor — Práticas mágicas Arquivos Forense 2: 371-77, 1940. 15. Um plano para organização do Serviço Social. Revista de Educação 1 (2o semestre): 79-106, 1940. 16. Investigação sobre o nível intelectual de menores delinquentes e abandonados. Neurobiologia I: 19-40, 1940. 17. Técnica e resultados dos tratamentos das equizofrenias no Sanatorio Recife. Neurobiologia 3 (4): 508-32, 1940. 18. Os choques pretaídos na insulinoterapia. Neurobiologia 4 (2): 3-31, 1941. 19. Ensaio da associação Picrotoxina-Pentametilenotetrazol na convulsoterapia. Neurobiologia 4 (4): 314-26, 1941. 20. Problemas de Assistência a menores — emprego e colocação familiar. Revista de Educação 2 (2o semestre): 115-23, 1941. 21. Disturbios mentais na velhice simulando demência senil. Levantamento de interdição. Neurobiologia 5 (2): 72-83, 1941. 22. Prevenção farmacológica das fraturas na convulsoterapia. Neurobiologia 5 (1): 30- 40, 1942. 23. Problemas de higiene mental no presente momento. Neurobiologia 6 (4): 305-25, 1943. 24. "Técnica de Serviço Social de Casos Individuáis". Curso Intensivo de Serviço Social Recife: Legião Brasileira de Assistência. Pp. 45-66, 1943. 25. Técnica de Serviço Social de Casos Individuais. Neurobiologia 6 (2): 71-90, 1943. 26. Um esquema de serviço social centralizado. Sociologia 5 (4): 317-27. [Col. Rodolfo Aureliano], 1943. 27. Discurso por ocasião da Sessão Solene em Homenagem à memória do Prof. Ulysses Pernambucano, promovida pela Sociedade de Medicina de Pernambuco em 5 de março, 1944. 28. Colocação familiar inadequada. Tentativa de suicídio de menor. Neurobiologia 7 (1 e 2): 68-77, 1944. 29. On the amaúado relationship and other aspects of the family in Recife, (Brazil). American Sociological Review 10 (1): 44-51, 1945. 30. Grupos étnicos, áreas naturais e mobilidade das populações de Pernambuco. Neurobiologia 9 (1): 3-21, 1946. 31. Serviço social psiquiátrico. Arquivos de Neuropsiquiatria 4 (2): 156-67, 1946. 32. Resultado de um Censo Comerciário. Neurobiologia 10 (2): 95-121, 1947. 33. The Afrobrazilian Cult-groups o f Recife — A Study in Social Adjustment, These (Master of Arts) Northwestern University, Evanston, Illinois, 1949. 34. Shangô: dança dramática Afro-Brasileira. Revista do Clube Internacional do Recife 30, 1950. 35. O indivíduo e os cultos afro-brasileiros do Recife (I). Sociologia 13 (3): 195-208, 1951. 36. O indivíduo e os cultos afro-brasileiros do Recife (II). Sociologia 13 (4): 325-40, 1951. 37. O teste de Rorschach no estudo da aculturação e da possessão fetichista dos negros do Brasil. Boletim do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais 1: 44-50, 1952. 38. Cultos Afro-Brasileiros do Recife: Um Estudo de Ajustamento Social. Número especial do Boletim do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, 1952. 39. Situação étnica do nordeste. Sociologia 15 (3): 210-59, 1953. 40. Preconceito racial entre os universitários nordestinos. Neurobiologia 16 (4): 348-64, 1953. 41. Xangô. Boletim do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais 3: 65-79, 1954. 42. Projective mechanisms and structuralization of perception in Afrobrazilian Divination. Revue d ’Ethnopsychologie Normale et Pathologique 1 (2): 3-23, 1955. 43. "Novos aspectos do processo de reinterpretação nos cultos afro-brasileiros do Recife". Anais do XXXI Congresso Internacional de Americanistas. Vol. 1. São Paulo: Anhembi. Pp. 473-91., 1955. 44. Religião e relações raciais. Rio de Janeiro: Ministério da Educação, Serviço de Documentação, 1956. 45. Possessão Problema de Etnopsicologia. Boletim do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais. Recife. Pp. 5-44, 1956. 46. "Possessão— Problema de Etnologia". Anais da II Reunião Brasileira de Antropologia. Pp. 29-60, 1957. 47. Significado sócio-cultural das cerimônias de Ibegi. Revista de Antropologia 5 (2): 129-44, 1957. 48. As estruturas de apoio e as reações do negro ao cristianismo na América Portuguesa: bases instrumentais numa revisão de valores. Boletim do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais (6): 59-80, 1957. 49. Problemática pessoa e interpretação divinatória nos cultos afro-brasileiros de Recife. Revista do Museu Paulista (Nova Série) 10: 225-42, 1956/1958. 50. A antropologia e a integração das ciências do homem. Neurobiologia 21 (2): 71-84, 1958. 51. Significado sócio-cultural das cerimônias de Ibegi. Boletim do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais. Recife. Pp. 17-35, 1958. 52. Relations of the Negro with Christianity in Portuguesse America. The America a Quarterly Review o f Inter-American Cultural History l'4 (4): 454-84, 1958. 53. "Reações do Negro ao Cristianismo na América Portuguesa", Anais da I I I Reunião Brasileira de Antropologia (10 — 13 fev. 1958). Recife, 1959. 54. Vitalino: um ceramista popular do Nordeste. Centenário de Caruaru. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, 1959. 55. Análisis socio-psicologico de la pessessionen los cultos afro-brasileños. Acta Neuropsiquiátrica Argentina 5: 250-62, 1959. 56. Urbanização e familismo no nordeste do Brasil Boletim do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais 10: 63-80, 1961. 57. "Brazilian Messianic Movements". Comparative Studies in Society and History. Suplementll. The Hague: Mouton & Co. Pp. 55-69, 1962. 58. "Gilberto Freyre, cientista social: seu estudo das relações étnica e culturais no Brasil". Gilberto Freyre, sua Ciência, sua Filosofia, sua Arte. Rio de Janeiro: José Olímpio. Pp. 418-23, 1962. 59. Pesquisa Social na América Latina. Boletim do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais 11: 157-65, 1962. 60. Melville J. Herskovits: o estudo da cultura e o fator humano. Revista do Museu Paulista (Nova Série) 14: 377-422, 1963. 61. A Arte Popular do Nordeste — Xangô. Prefeitura Municipal do Recife, 1966. 62. Análise do trabalho The Shango Cult in Trinidad, de George E. Simpson (Institute of Caribbean Studies, University of Puerto Rico, 1965. Monograph Series, 2). Caribbean Studies 6 (1), 1966. 63. [Diretor e relator da pesquisa em Recife], Children’s Views o f Foreign Peoples — A Cross-National Study. Century Psychology Series, 1967 64. Movimentos Messiânicos no Brasil. América Latina 2 (3): 35-66. Rio de Janeiro: Centro Latino Americano de Pesquisas em Ciências Sociais, 1968. 65. Africanos: seus desenvolvimentos e catolicismo no Brasil. Cadernos Brasileiros 10 (47): 111-118, 1968. 66. Estudo comparativo dos problemas de vida em duas culturas afins: Angola-Brasil. Journal of Inter-american Studies 11 (1) : 2-15, 1969. 67. "Male Homosexualism and Afro-Brasilian Religions: a preliminary report". Em Environmental Influences on Genetic Expression. Bethesda, MD: Nat. Inst, of Health. Pp. 214-36, 1969. 68. Personality and the psychosocial adjustment of Afro-Brazilian cult membres n° dedicado a Les Ameriques Noires. Journal de la Societé des Americanistes 58 (tomo dedicado a Les Amériques Noires): 109-20, 1969. 69. Aplicação da Sociometría à Didática da Antropologa. Revista do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas 1 (1): 88-98, 1970. 70. Psicologia e pesquisa antropológica. Universitas (Revista de Cultura) 6/1 (Homenagem a Thales de Azevedo): 123-34. Universidade Federal da Bahia, 1970. 71. "Pesquisa em Psiquiatria e Psicologia Social" (relatório oficial). Anais do VI Congresso Latino Americano de Psiquiatria e I Congresso Brasileiro de Psiquiatria. São Paulo. Pp. 107-1, 1971. 72. "Contra o Preconceito Racial". Palestra pela TV Universitária, Canal 11, em 23/3, 1971.

73. Vitalino, um ceramista popular do nordeste. 2 a ed. Recife: UPNS/Ministério de Educação e Cultura, 1972.

74. "Significado sócio-cultural das cerimônias de Ibeji". Homem, Cultura e Sociedade no Brasil — Seleções da Revista de Antropologia (Egon Schaden, org.). Petrópolis: Vozes. Pp. 369-89, 1972. 75. Messianismo e Desenvolvimento. Revista de Ciências Sociais 3 (1): 5-18. Fortaleza, 1972. 76. "The Millenium that Never Came: The Story of a Brasilian Prophet". Protest & Resistence in Angola & Brazil (Comparative Studies). Berkely, Los Angeles: University of California Press. Pp. 157-82 (paper apresentado na Universidade da California no Project Portuguese/Africa em jan. 68), 1972. 77. Serviço Social Psiquiátrico. São Paulo: Secretaria de Saúdedo Estado, Coordenadoría de Saúde Mental. Reimpressão autorizada de Arquivos de Neuropsiquiatria (São Paulo, 1946), 1973. 78. "Contribuição das civilizações africanas à América Latina: as religiões do povo". Tema oficial do Colloque Negritude et Amerique Latine (Dakar 7-12 janvier). 79. 1975. "Xangô". Reedição. Folclore (pubf. do Dep. de Cultura da Secretaria da Educação de Pernambuco). Pp. 60-62, 1974. 80. A propósito de igrejas e cultos no Brasil. Boletim do Departamento de Ciências Sociais 2 (2): 1-16. UFPE, 1977. 81. Igrejas e cultos no Brasil. Revista de Antropologia 21 ( I a parte): 13-26. São Paulo, 1978. 82. Cultos Afro-Brasileiros do Recife: um Estudo de Ajustamento Social. 2 a ed. Recife: IJNPS (Série Estudos e Pesquisas, 7), 1978. 83. "Cogitação em tomo de uma psiquiatria transcultural". Comunicação à XI Reunião Brasileira de Antropologia, 7 a 9 de maio, Recife. Cadernos do Departamento de Ciências Sociais, Antropologia 1. UFPE, 1978. 84. O Negro na Atualidade Brasileira: Religiões Populares e Etnia. Ciência & Trópico 6 (2): 229-45, 1978. 85. Antropologia da Religião e Outros Estudos. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 1982. 86. "A cultura no Brasil: uma possibilidade de definição". Como comentarista no Seminário de Tropicologiana conferência do prof. Adolfo Crippa. Sessão 19/4/83 na Fundação Joaquim Nabuco, 1983. 87. Religiosidade Popular e Cultura. Leopoldianum (Revista de Estudos e Comunicações) 11 (30). Santos, 1984. 88. O Estilo da Ceramica de Vitalino. Fundarpe 2 (20). Secretaria de Turismo, Cultura e Esportes, 1984. 89. Tempo de Experiência. Revista de Ciências Sociais 14/15 (1/2): 83-100, 1983/1984. Fortaleza, 1984. 90. "O teste de Rorshach e as Concubinas Rituais". Os Afro-Brasileiros, Anais do III Congresso Afro-Brasileiro . Coordenado por Roberto Motta. Recife. P. 146, 1985. 91. "Casa grande & Senzala: livro de antropólogo". Em Novas Perspectivas em Casa Grande & Senzala. Recife: Massangana, Fundação Joaquim Nabuco. Pp. 120-28, 1985. 92. Sondagem para a criação de uma biblioteca popular. Reedição. Revista de Biblioteconomia 14 (1): 147-56, 1986. 93. Cultos Afro-brasileiros do Recife: Liminaridade e Comunitas. Revista de Antropologia 29: 149-54. São Paulo, 1986. 94. Gilberto Freyre (obtuário). Boletim da Associação Brasileira de Antropologia 2 (4): 59, 1987. 95. O Negro na Atualidade Brasileira. Lisboa: Instituto de Investigação Científica Tropical. Centro de Antropologia Cultural e Social (n° 15), 1988. 96. "Paradigmas históricos para o estudo da família no Nordeste: amasiamento e modernização". Simpósio sobre Família no Nordeste. Mestrado de Antropologia, Departamento de Ciências Sociais, UFPE, 1988. 97. Prefácio à 2 a edição fac-similar de O Negro Brasileiro por Arthur Ramos. Recife: - Massangana, 1988. 98. "O estilo de Vitalino”. Em Antologia Pernambucana de Folclore. Recife: Massangana, 1988. 99. O Negro em Pernambuco. Em Estudos sobre a Escravidão Negra (Leonardo Dantas da Silva, org.). Recife: Massangana e Fundação Joaquim Nabuco (Série Abolição — Ministério de Cultura, 100 Anos da Abolição, 1888-1988). Pp. 57-80, 1988. 100. Comentário oficial à conferência do Prof. Adolfo Crippa na Fundação Joaquim Nabuco (A Cultura no Brasil: uma possibilidade de definição). Anais do Seminário de Tropicologia 17: 56-62 (1983), 1989.


Relação com outros personagensEditar

A trajetória de René Ribeiro perpassa por algumas figuras com grande importância, dentre elas temos Ulysses Pernambucano, Gilberto Freyre e Melville Herskovits, as três figuras de mais influência em toda sua vida acadêmica e profissional, sendo Herskovits e Freyre quem marca a reorientação culturalista e sua reflexão sobre as religiões afro-brasileiras. Ulysses Pernambucano foi um psiquiatra brasileiro que liderou duas reformas psiquiátricas no estado de Pernambuco, onde atuou junto com o pai de Ribeiro, médico sanitarista, na Inspetoria de Higiene e no Hospital Tamarineira. Devido a isso, quando René ingressou na Faculdade de Medicina, na primeira metade do século XX, não era um desconhecido de seu professor Ulysses. Dentre todas as possibilidades acadêmicas fornecidas por Ulysses, René entrou no Serviço de Higiene Mental, o qual foi o elemento chave em sua formação. Ele foi o impulso inicial para sua carreira de médico e psiquiatra. Eles trabalharam juntos em algumas instituições e Ribeiro foi seu assistente desde 1936 em alguns estudos. No ano de 1934, Ribeiro assiste o 1º Congresso Afro-Brasileiro, no qual conhece Gilberto Freyre e lê The Mind of Primitive Man, de Franz Boas. Essa foi a influência intelectual mais forte sobre a evolução de René enquanto cientista social, e seu primeiro contato com a reflexão de Herskovits. Foi, também, a convivência com ele parte do impulso para seus estudos afro-brasileiros e aguçou seu interesse pela antropologia. E, além disso, na década de 1940, Ribeiro colaborou no Instituto Joaquim Nabuco, criado por Freyre. Por fim, em 1942, seu encontro com Herskovits aconteceu. Foi tal encontro que ocorreu, nas palavras de Ribeiro “uma guinada de cento e oitenta graus” (Ribeiro, 1983/1984, p. 89) em suas pesquisas, este foi um marco de inflexão profissional rumo à antropologia. Sua tese de mestrado foi escrita sob supervisão de Herskovits na Northwestern University, que é uma de suas obras mais importantes, tornou-se mestre em antropologia, em 1949, sendo o primeiro brasileiro a atuar com diploma específico na área. Em algumas de suas outras publicações, podemos ver uma presença forte de conceitos e reinterpretações de Herskovits. René Ribeiro se tornou, então, um dos dois discípulos brasileiros de Melville Herskovits.

Referências LEAL, João. Octávio Eduardo, René Ribeiro e Melville Herskovits. Religiões afro-brasileiras, aculturação e sincretismo. Horizontes Antropológicos, v. 28, p. 145-177, 2022.

MOTTA, Roberto M. C. René Ribeiro (1914-1990). Anuário Antropológico, v. 15, n. 1, p. 233-246, 1991.

VICENTINI, Renato Silva. Entre sanatórios e Terreiros: Ulysses Pernambucano, René Ribeiro e o projeto reformista da psiquiatria social de Recife (1919-1949). Dissertação (Pós graduação em História das Ciências e da Saúde) - Casa de Oswaldo Cruz-Fiocruz, Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2018.

RIBEIRO, René; LINS, Eulina. Quatro Anos de Atividade do Serviço de Higiene Mental. 1935.

AutoriaEditar

Verbete criado inicialmente por Cecilia Cristina Brasil, Juliana Tomaz Gomes, Lorrany Oliveira Nascimento e Maria Clara Ribeiro de Abreu e Silva como exigência parcial para a disciplina de História da Psicologia da UFF de Rio das Ostras. Criado em 2023.2, publicado em 2023.2