A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é uma junção da Terapia Cognitiva e da Terapia Comportamental (Behaviorismo), que resultou numa psicoterapia de natureza empírica. Foi inicialmente pensada pelo Dr. Aaron Beck, na Universidade da Pensilvânia de Medicina, e tem sido desenvolvida desde a década de 1960. A premissa da Terapia Cognitivo-Comportamental é a de que não são os acontecimentos que nos afetam emocionalmente, mas sim as interpretações que temos deles. No Brasil, devido ao difícil acesso à literatura internacional, só ocorreu sua popularização no final da década de 80. A prática da TCC no país tem como maior área de atuação as clínicas, em comparação com hospitais.

HistóriaEditar

ContextoEditar

O fim dos anos 1960 foi marcado pela potencialização do movimento de insatisfação aos modelos estritamente comportamentais, que não reconheciam os processos cognitivos como mediadores do comportamento, e rejeição a psicanálise, que se mostrava sem indícios científicos de sua eficácia. Com isso, inicia-se uma busca por uma psicoterapia que contemplasse o que as abordagens anteriores estavam em falta. Desse modo, surge a Terapia Cognitivo-Comportamental, fundada por Aaron Beck, com objetivo de focar nas cognições para desenvolver mudanças emocionais e comportamentais.

PrecedentesEditar

Antes de existir uma Terapia Cognitivo-Comportamental, existia uma Terapia Comportamental, inicialmente controversa e subestimada que preparou o solo para tratamentos empiricamente baseados para transtornos mentais. Ainda que as aplicações clínicas de estratégias comportamentais não começaram antes dos anos 60, o trabalho inicial de direcionamento de comportamentos observáveis ajudou a formar intervenções importantes para a TCC.

Enquanto a Terapia Comportamental evitou a consideração de estados mentais não-observáveis, clínicos de tendência comportamental buscaram meios de trabalhar com a cognição e emoção já que seria difícil interagir com um paciente negligenciando partes importantes de sua experiência. Esse interesse clínico foi imprescindível para a formação da Terapia Cognitiva.

DesenvolvimentoEditar

Aaron Beck, fundador da TCC, após seus estudos em psicanálise nos anos 60, demonstrou interesse em testar a visão freudiana de que a depressão seria causada por uma “raiva interior” que, pensado por Beck, seria expressada nos sonhos de pessoas deprimidas. No entanto, seu teste se mostrou contrário ao resultado previsto, em que, ao invés de sonhos retaliativos e raivosos, apareceram temas como perda, vazio e fracasso, tal como o paciente expressava conscientemente quando em consulta. Foi aqui, em 1963, que Beck dá início às suas formulações acerca do modelo cognitivo para depressão. Assim, Beck decidiu examinar as verbalizações conscientes e espontâneas sobre os temas de perda e fracasso e percebeu que a depressão parecia ser caracterizada como um viés negativo da percepção da realidade. Desse modo, ele concluiu que os pacientes em depressão acreditavam e, portanto, verbalizavam visões distorcidas da realidade. Para essa distorção, foi dado o nome de “pensamentos automáticos”, que se caracterizam como espontâneos, plausíveis e verdadeiros para o paciente e, assim, são a base do pensamento depressivo que, para Beck, seriam o foco da investigação terapêutica para promover mudanças e testá-los contra a realidade. Assim, entre os anos de 1967 a 1979, Beck desenvolveu a Terapia Cognitiva para depressão, em 1985 para transtornos de ansiedade e 2004 para transtornos de personalidade.

No ano de 1976 é publicado o livro “Cognitive Therapy and the Emotional Disorders”, sua primeira publicação sobre o recente desenvolvimento. Além disso, Beck desenvolveu e validou formas de mensurar os transtornos, com as Escalas Beck, que são compostas pelo pioneiro Inventário de Depressão (BDI) desenvolvido em 1961, e, posteriormente o Inventário de Ansiedade (BAI), Escala de Desesperança (BHS) e Escala de Ideação Suicida (BSI). Por fim, houve a transferência do foco de tratamento com ênfase no inconsciente para um modelo de racional. Em 1982, Steven Hayes desenvolve a ACT (Terapia de Aceitação e Compromisso), que promoveu uma união das abordagens cognitivo e comportamental com práticas de atenção plena. Na década de 2000, ocorreram mais desenvolvimentos teóricos e clínicos acerca da TCC, com foco em mindfulness, o que se caracterizaria como a “terceira onda da TCC”.

Chegada no BrasilEditar

Assim como no restante do mundo, devido a insatisfações acerca do modelo estritamente comportamental, ocorrendo, na década de 1980, a popularização das Terapias Cognitivas no Brasil. O atraso de 20 anos em relação a adesão internacional se deu pela barreira tecnológica que dificultou o acesso ao material estrangeiro. Suas áreas de maior predominância são o Rio de Janeiro e São Paulo, ainda que seja praticada por todo o país atualmente.  

Foi nos anos 70, em São Paulo, que a junção entre o modelo cognitivo e comportamental foram mais evidentes. Raquel Rodrigues Kerbauy e Luiz Otávio de Seixas Queiroz, no decorrer de seus cursos, enfatizaram a cognição como mediadora do comportamento. Em um de seus cursos, inclusive, foi possível contar com Michael Mahoney, um dos precursores do movimento cognitivista, para ministrar um curso sobre “modificação cognitiva do comportamento”, em 1973. Mas foi somente possível evidenciar a constituição do modelo cognitivo-comportamental no fim dos anos 80.

A publicação em versão traduzida do livro de Beck “Terapia Cognitiva da Depressão” foi o marco inicial do interesse no Rio de Janeiro pelo modelo cognitivo. Até esse momento, já era visível a aderência do modelo comportamental por alguns profissionais desde os anos 1960. No entanto, foi nos anos 1990 que a difusão das terapias cognitivas começou a ocorrer nos cursos de graduação por conta do recente acesso de profissionais cariocas na área acadêmica. Além disso, em 1994 foi implantado pela Mônica Duchesne, na época coordenadora da psicologia do Grupo de Obesidade e Transtornos Alimentares (GOTA) em convênio com a UFRJ, programas de treinamento voltados a pacientes com transtornos alimentares, o que propiciou a formação de profissionais para tais transtornos pelo viés cognitivo-comportamental.

Com interesse no aprofundamento nos estudos de transtorno de ansiedade, foi criado, em 1985, o AMBAN (Ambulatório de Ansiedade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP), que atraiu um grupo de profissionais voltados ao comportamentalismo que, liderados pelos psiquiatra Francisco Lotufo-Neto, iniciaram um trabalho com transtornos de ansiedade se baseando em princípios cognitivo-comportamentais.

Um marco na história das terapias cognitivas no Brasil foi, em 1997 a 1999, a criação do programa de formação em terapia cognitiva que contou com a participação de profissionais do Instituto Beck e foi responsável por despertar o interesse por esse modelo de psicoterapia em muitos profissionais brasileiros. Foi, inclusive, nesse mesmo período que foi organizado por Ricardo Wainer e Renato Caminha o primeiro curso de especialização em terapia cognitiva no Brasil na Unisinos. Por fim, a expansão das terapias cognitivas no Brasil é evidente pelo grande número de artigos e livros publicados por autores brasileiros até os dias atuais.

AtualmenteEditar

Ainda que a TCC tenha nascido voltada para a depressão, ela se mostrou um sucesso com outros transtornos, contando, hoje em dia, com protocolos para os mais variados transtornos psicológicos com evidências científicas que comprovam sua excelência.

Instituições, associações e organizaçõesEditar

  • Instituto Beck
  • O Instituto Americano de Cognitivo-Comportamental
  • Association for Behaviour Modification in Austria (AVM) (Áustria)
  • Austrian Association for Cognitive and Behaviour Therapy (Áustria)
  • Association for the Study, Modification and Therapy of Behaviour in Belgium (Bélgica)
  • Flemish Association of Behaviour Therapy (Flamengo)
  • Bulgarian Association for Cognitive Behaviour Psychotherapy (Búlgaria)
  • Czech Society for Cognitive Behaviour Therapy (Tcheca)
  • Croation Association for Behavioral and Cognitive Therapies (Croácia)
  • Danish Association of Behavioural and Cognitive Therapy (Dinamarca)
  • Estonian Association for Cognitive Behaviour Therapy (Estônia)
  • Finnish Association for Cognitive and Behaviour Therapy (Finlândia)
  • Finnish Association for Behaviour Analysis and Cognitive Behaviour Therapy (Finlândia)
  • Association Francophone de Formation et de Recher en Therapie Comportementale et Cognitive Afforthecc (França/Suíça)
  • French Association of Behaviour and Cognitive Therapy (França)
  • Arbeitsgemeinschaft für Verhaltensmodifikation e.v. (Alemanha)
  • German Association for Behavior Therapy Modification (Alemanha)
  • German Professional Association for Behaviour Therapy (Alemanha)
  • Greek Association for Cognitive and Behavioural Psychotherapies (Grécia)
  • Greek Association for Behavioural Modification and Research (Grécia)
  • Hungarian Association for Behavioural and Cognitive Therapies (Hungria)
  • Icelandic Association for Cognitive and Behavioural Therapies (Islândia)
  • Irish Association  of Behavioural and Cognitive Psychotherapy (Irlanda)
  • Israeli Association for Behavioural-Cognitive Therapy (Israel)
  • Italian Association for Behavioural Analysis, Modification and Behavioural and Cognitive Therapies (itália)
  • Italian Association for Behavioural and Cognitive Therapy (Itália)
  • Lithuanian Cognitive Behaviour Therapy Association (Lituânia)
  • Association for Cognitive Behavioural Psychotherapy in R. of Macedonia/FYROM (ACBPRM) (Macedônia)
  • Dutch Association of Behavioural Therapy and Cognitive Therapy (Holanda)
  • The Norwegian Association for Cognitive Therapy (Noruega)
  • Polish Association for Cognitive and Behavioural Therapy (Polônia)
  • Portuguese Association of Behaviour Therapy (Portugal)
  • Romanian Association for Behavioural and Cognitive Therapy (Romênia)
  • Romanian Association of Cognitive and Behavioral Psychotherapies (Romênia)
  • Association for Cognitive and Behavioural Therapies (ACBT) (Sérvia)
  • Serbian Association for Behavioural and Cognitive Therapies (Sérvia)
  • Slovenian Association of Behaviour and Cognitive Therapies (Eslovênia
  • Catalan Society of Behaviour Research and Therapy (Espanha)
  • Swedish Association of Behaviour Therapy (Suécia)
  • Swedish Association for Cognitive and Behavioural Therapies (Suécia)
  • Swiss Association for Cognitive Psychotherapy (Suíça)
  • Arbeitsgemeinschaft für Verhaltnesmodifikation-Schweiz (Suíça)
  • Société Suisse de ThérapieComportementale et Cognitive (Suíça)
  • Turkish Association for Cognitive and Behavioural Psychotherapies (Turquia)
  • British Association for Behavioural and Cognitive Psychotherapy (Reino Unido)
  • Lebanese Society for Cognitive and Behaviour Therapy (Líbano)
  • Academia de Terapia Cognitiva (Academy of Cognitive Therapy
  • Associação de Terapias Cognitivo-Comportamentais (Association for Behavioral and Cognitive Therapies)
  • Associação Australiana de Terapia Cognitivo-Comportamental (The Australian Association for Cognitive and Behaviour Therapy)
  • Associação Britânica de Psicoterapia Cognitiva e Comportamental (British Association of Behavioural and Cognitive Psychotherapy)
  • Associação Chinesa de Terapia Cognitivo-Comportamental (Chinese Association of Cognitive Behaviour Therapy)
  • Associação Europeia de Terapia Cognitivo-Comportamental (European Association of Behavioral and Cognitive Therapy)
  • Organizações Europeias de Terapia Cognitivo-Comportamental (European Cognitive-Behavioral Therapy Organizations)
  • Associação Internacional de Psicoterapia Cognitiva (International Association for Cognitive Psycotherapy)
  • Associação Israelense de CBT (Israeli Association of CBT)
  • Associação da Cidade de Nova Iorque de Terapia Cognitivo-Comportamental (New York City Cognitive Behavioral Therapy Association (NYC- CBT))

Ver TambémEditar

Links externosEditar

ReferênciasEditar

  1. BECK, Aaron T.. Cognitive therapy: a 30-year retrospective. American Psychologist, [S.L.], v. 46, n. 4, p. 368-375, abr. 1991. American Psychological Association (APA).
  2. BENJAMIN, Courtney L.; PULEO, Connor M.; SETTIPANI, Cara A.; BRODMAN, Douglas M.; EDMUNDS, Julie M.; CUMMINGS, Colleen M.; KENDALL, Philip C.. History of Cognitive-Behavioral Therapy in Youth. Child And Adolescent Psychiatric Clinics Of North America, [S.L.], v. 20, n. 2, p. 179-189, abr. 2011. Elsevier BV.
  3. KNAPP, Paulo; BECK, Aaron T. Fundamentos, modelos conceituais, aplicações e pesquisa da terapia cognitiva. Revista Brasileira de Psiquiatria, [S.L.], v. 30, n. 2, p. 54-64, out. 2008.
  4. NEUFELD, Carmem Beatriz; AFFONSO, Gabriela. FTBC: uma jornada de 15 anos em prol das terapias cognitivas no Brasil. Rev. bras.ter. cogn., Rio de Janeiro, v. 9, n. 2, p. 136-139, dez.  2013.
  5. RANGÉ, Bernard Pimentel; FALCONE, Eliane Mary de Oliveira; SARDINHA, Aline. History and current panorama of cognitive therapies in Brazil. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, [S.L.], v. 3, n. 2, 2007. GN1 Genesis Network.
  6. RUGGIERO, Giovanni M.; SPADA, Marcantonio M.; CASELLI, Gabriele; SASSAROLI, Sandra. A Historical and Theoretical Review of Cognitive Behavioral Therapies: from structural self-knowledge to functional processes. Journal Of Rational-Emotive & Cognitive-Behavior Therapy, [S.L.], v. 36, n. 4, p. 378-403, 13 abr. 2018. Springer Science and Business Media LLC.
  7. SUDAK, Donna M.; III, R. Trent Codd; LUDGATE, John W.; SOKOL, Leslie; FOX, Marci G.; REISER, Robert P.; MILNE, Derek L.. Teaching and Supervising Cognitive Behavioral Therapy. New Jersey: John Wiley & Sons, 2015. 304 p.
  8. THOMA, Nathan; PILECKI, Brian; MCKAY, Dean. Contemporary Cognitive Behavior Therapy: a review of theory, history, and evidence. Psychodynamic Psychiatry, [S.L.], v. 43, n. 3, p. 423-461, set. 2015. Guilford Publications.

AutoriaEditar

Verbete criado inicialmente por: Isabela Ventura Rodrigues, como exigência parcial para a disciplina de História da Psicologia da UFF de Rio das Ostras. Criado em 2020.2, publicado em 2021.1