Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP): mudanças entre as edições

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Edição das 14h07min de 9 de julho de 2022

O Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP) foi criado em agosto de 1947 na cidade do Rio de Janeiro, tendo funcionado até 1990. Foi uma instituição de suma importância no cenário da psicologia brasileira. Com o intuito de difundir o ensino da psicologia aplicada nos campos do trabalho; educação e clínica, o ISOP promoveu seminários, publicações, palestras, pesquisas e intervenções na área da Seleção e Orientação Profissional, tendo um papel de destaque na psicometria e na produção da psicologia científica brasileira.

História

Os governantes e elites brasileiras engajaram-se no processo de modernização do país, com a importação de ideias científicas que pudessem modernizar o Brasil. É neste contexto que surge o Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP), na cidade do Rio de Janeiro, como um órgão vinculado à Fundação Getúlio Vargas (FGV). Assim como outras profissões, a psicologia também seguiu esse caminho de normalização e higienização da sociedade inculcado pela classe hegemônica, partindo de uma investigação positiva e mensurável, como no caso dos testes psicológicos, onde tentou-se adequar os indivíduos ao padrão qualitativo que exigia a nascente sociedade industrial brasileira.

Apesar de ter tido sua formação oficial em 1947, entende-se que as bases necessárias para se pensar a criação do Instituto de Seleção e Orientação Profissional surgiram em 1938, quando o Ministro interino do trabalho, da Indústria e do Comércio, Dr. João Carlos Vital, redigiu um projeto de decreto que resultaria na criação do INSOP (Instituto Nacional de Seleção e Orientação Profissional). Tal projeto foi entendido na época como forma de demonstrar a possibilidade de abertura para o desenvolvimento de um interesse maior no cuidado acerca do fator humano no exercício do trabalho, o que significou admitir que, antes de se pensar nas práticas e na execução do trabalho, torna-se de suma importância uma racionalização intrínseca do trabalho, em termos do próprio trabalhador.

O médico psiquiatra e psicólogo cubano Emílio Mira y López teve seu primeiro contato com o Brasil em 1945, quando, a convite da USP, do IDORT, do SENAI e da Estrada de Ferro Sorocabana, ministrou um curso de Psicologia Aplicada ao Trabalho, mas foi em outubro do mesmo ano que Mira y López foi convocado a retornar ao país pelo curso do Departamento Administrativo do Serviço Público - DASP, concluído em outubro de 1946, cuja realização foi responsável pela preparação da primeira equipe em que se estruturou o ISOP, tendo destaque as três alunas Esther França e Silva, Leonilda d'Anniballe Braga e Eurídice Freitas, creditadas como fundadoras do instituto.

A coordenação de inúmeras conferências, cursos e pesquisas, dirigida a atividades práticas nos domínios da Psicologia e da Psiquiatria realizada por Mira y López nessa época foi fundamental para o avanço da psicologia aplicada no Brasil, o que culminou no convite do Dr. João Carlos Vital, da Fundação Getúlio Vargas, para que Mira y López participasse da criação e direção de um órgão voltado para a seleção e a adaptação do trabalhador brasileiro: o ISOP, com sede no Rio de Janeiro, cujo principal objetivo se sustenta na difusão da psicologia aplicada em seus campos de atuação, ou seja, a psicologia do trabalho, a psicologia educacional e a psicologia clínica. Tornava-se, assim, realidade o ISOP, graças ao apoio do presidente da Fundação Getúlio Vargas, Dr. Luiz Simões Lopes, e da contribuição importantíssima de seu primeiro diretor, Dr. Emílio Mira y López. A criação de um Instituto de orientação profissional, com a participação decisiva da direção realizada por Mira y López, foi fundamental para o avanço da psicologia no Brasil, a qual, antes do ISOP, contava com pouquíssimos recursos e um número mínimo de pesquisas e de profissionais em campo.

Durante seus primeiros anos, o ISOP implantou de forma sistemática técnicas essenciais da psicologia aplicada (orientação e seleção profissional), suas produções foram voltadas em torno de modificar a realidade brasileira neste panorama, facilitando a formação das primeiras levas de especialistas. A orientação profissional realizada pelo ISOP sob a direção de Emílio Mira y López foi e continua sendo um modelo de alta relevância, “projetos institucionais com o intuito de popularizar o conhecimento psicológico tornaram-se instrumentos privilegiados da proliferação de uma cultura psicológica” (Vieira Martins, 2014). Dentro desse viés, Mira y López desenvolve em 1949, em parceria com Lourenço Filho, a primeira revista brasileira voltada totalmente para temas da psicologia, a revista Arquivos Brasileiros de Psicotécnica foi responsável por uma grande circulação de assuntos de interesse tanto do empresariado quanto da sociedade, em especial a classe média urbana, servindo ainda como órgão de divulgação dos eventos que ocorriam no Brasil e no exterior de estudos sobre do tema. Nesse período, o contexto brasileiro era instável a respeito da separação entre o que se lecionava nas universidades e o que foi considerado o objetivo do ISOP e dos Arquivos Brasileiros de Psicotécnica: a aplicação prática das pesquisas desenvolvidas pelos universitários. Desse modo, o ISOP buscou, por meio de ações práticas, atingir a articulação perfeita entre o trabalho científico e sua aplicação a problemas cotidianos, fator que foi decisivo para o aumento da popularidade do Instituto no Brasil, e também suas repercussões para além do cenário nacional.

A partir da década de 1940 começa a se pensar no dever das instituições sensibilizarem-se em relação à formação e às potencialidades do trabalhador brasileiro, esse era o entendimento que Mira y López defendeu ao destacar que o processo de formação do trabalhador deveria ser global e sob o espectro de busca de mão de obra qualificada e técnica, fator que agregaria na qualificação do trabalhador industrial, e também na formação de profissionais capacitados para a seleção desses trabalhadores. Antes desse período de expansão das práticas de capacitação de profissionais, não era de interesse nem do poder estatal nem da esfera privada aprimorar a avaliação técnica do trabalhador, um aspecto que passou, nos anos seguintes, a exigir do profissional um aumento da qualificação, sendo possível constatar que se formava no país o mito de que a culpa do desemprego recai somente ao trabalhador, devido à sua baixa qualificação, pensamento que se encontra presente até os dias atuais.

Apesar do importante papel do ISOP na formação de profissionais psicólogos ao longo de suas primeiras décadas de existência, a partir de 1967, via-se a necessidade da ampliação do ensino das práticas do instituto para além dos limites da universidade. Em 1972, o ISOP já estava com uma turma concluinte e outra iniciando o período de estudos em seu curso de mestrado em psicologia aplicada e chegou a criar instrumentos para garantir a qualificação profissional a cerca de 800 mil jovens por ano, destinados principalmente a analfabetos, e no ano anterior, chegou a realizar tratamentos psicológicos para mais de 19 mil pessoas. Portanto, o ISOP foi de extrema relevância para a comunidade psi e para o coletivo, visto que foi responsável pela formação e especialização de inúmeros jovens e sua história levou à regulamentação da profissão de psicólogo e a criação de cursos universitários de psicologia muito tempo depois. Em 1981 sua denominação mudou para Instituto Superior de Estudos e Pesquisas Psicossociais, mantendo a sigla ISOP. Sua extinção ocorreu em 29 de maio de 1990.

Membros importantes

João Carlos Vital

Emilio Mira y López

Franco lo Presti Seminerio

Esther França e Silva

Leonilda d'Anniballe Braga

Eurídice Freitas

Antonio Gomes Penna

Athayde Ribeiro da Silva

Elso Arruda

Isabel Adrados

Maria Helena Novaes

Monique Augras

Ruth Scheefer

M. B. Lourenço Filho

Crítica

O ISOP surge num momento em que a psicologia não era ainda regulamentada como profissão:

quando não existiam cursos de formação de psicólogos, quando nem se podia cogitar de regulamentar tal profissão, quando todo o material psicológico era necessariamente importado, quando apenas algumas poucas e grandes entidades como, por exemplo, o SENAI e a EFCB, tinham alguns serviços de psicologia para uso próprio, quando, enfim, não havia qualquer tipo de serviço destinado ao público para ministrar as técnicas essenciais da psicologia aplicada ao trabalho (SEMINÉRIO, FRANCO; 1969; p.1120

Porém alguns dos fundadores do Instituto eram psicotécnicos já atuantes e necessitavam criar tanto normas para eles, que estavam no mercado de trabalho, quanto para os futuros profissionais que seriam treinados/instruídos no ISOP. Dessa forma, o ISOP já nasce reivindicando pela regulamentação da psicologia enquanto profissão.

Nesse sentido, houve na época diferentes posições políticas acerca da regulamentação, uma dicotomia entre acadêmicos - membros catedráticos - e práticos - profissionais do ISOP. Isto deu origem:

a condução dos debates sobre a regulamentação estabeleceu um embate político que girou em torno dos limites das atribuições do psicólogo, cuja polarização pôs de um lado Nilton Campos e Lourenço Filho (entre outros), ambos catedráticos e teóricos da psicologia, e do outro Mira y López (e membros do ISOP), “formador” e “treinador” de psicotécnicos voltados para a aplicação do saber psicológico (MARTINS, 2014, p.14).

Além disso, na segunda década de existência do ISOP ele se dedicou à intensa divulgação de métodos e técnicas utilizados pelos profissionais, e os acadêmicos temiam a popularização do conhecimento psicológico de maneira superficial. Na década seguinte atuou forte na profissionalização de demais profissionais o que gerou questionamentos se “a formação desse profissional devia ficar a cargo de instituições universitárias ou podia ser realizada também por instituições não universitárias (como era o caso do ISOP)? (MARTINS, 2014, p.14)

Extinção

Sob o comando de Franco lo presti seminerio, o último diretor a assumir em 1970, o Instituto funcionou até 29 de maio de 1990, quando é extinto pela Fundação Getulio Vargas (FGV)

Referências

ARQUIVOS Brasileiros de Psicologia; Arquivos Brasileiros de Psicologia; Language: Portuguese, Base de dados: Repositório FGV Periódicos

ABADE, Flávia Lemos. Orientação profissional no Brasil: uma revisão histórica da produção científica. Rev. bras. orientac. prof,  São Paulo ,  v. 6, n. 1, p. 15-24, jun.  2005 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-33902005000100003&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  02  fev.  2022.

SANTO, Adriana Amaral do Espírito. O ISOP e a psicologia do esporte no Rio de Janeiro: ampliando a história de uma prática. 2017. 195 f. Tese (Doutorado em Psicologia) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.

MARTINS, Hildeberto Vieira. Uma história da psicologia em revista: retomando Mira y López. Arq. bras. psicol.,  Rio de Janeiro ,  v. 66, n. 3, p. 5-19,   2014 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-52672014000300002&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  02  fev.  2022.

Franco lo presti seminerio: dados biográficos. Paidéia (Ribeirão Preto) [online]. 2002, v. 12, n. 23 [Acessado 2 Fevereiro 2022] , pp. 179-181. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0103-863X2002000200014>. Epub 29 Jul 2009. ISSN 1982-4327.

SEMINÉRIO, Franco Lo Presti. O ISOP aos 25 anos. Arquivos Brasileiros de Psicologia Aplicada, v. 25, n. 1, p. 109-123, 1973.

Autoria

Verbete criado inicialmente por Caio Fabio Pereira Pinto Junqueira , Marcelle Félix Domingues, Marina Celestrin de Toledo, Romulo Carvalho como exigência parcial para a disciplina de Psicologia e História Social do Trabalho da UFF de Rio das Ostras. Criado em 2021.2, publicado em 2022.2.