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O Instituto de Psicologia da UFRJ começou como laboratório de Psicologia em 1923, no Engenho de Dentro, se | O Instituto de Psicologia da UFRJ começou como laboratório de Psicologia em 1923, no Engenho de Dentro, tornando-se, de fato, Instituto de Psicologia em 1932. Inicialmente o Laboratório foi criado com a intenção de realizar a profilaxia de doenças mentais da colônia de Alienadas do Engenho de Dentro e teve como primeiro dirigente o Waclaw Radecki, considerado um dos pioneiros da Psicologia no Brasil. | ||
A história do Instituto se mostra através de uma diversidade de acontecimentos durante sua constituição, críticas e mudanças de localidade, começando no Engenho de Dentro, indo para o Centro e, por fim, chegando ao atual endereço, na Praia Vermelha. | |||
==História== | ==História== | ||
===A Colônia de Alienadas de Engenho de Dentro=== | ===A Colônia de Alienadas de Engenho de Dentro=== | ||
A criação do Instituto de Psicologia (IP) remonta ao século 20, tendo ao longo de sua história diferentes focos de trabalho e atuação na sociedade. Passou de laboratório | A criação do Instituto de Psicologia (IP) remonta ao século 20, tendo ao longo de sua história diferentes focos de trabalho e atuação na sociedade. Passou de laboratório a instituto, atendendo a um projeto de psiquiatria ligada ao higienismo e eugenismo, com forte influência médica e pouca psicologia de fato para no futuro se tornar um lugar de fomento à pesquisa e ensino. Para entender o surgimento do IP, é preciso entender o contexto de saúde e da psicologia da época. A psicologia no Brasil era moldada com base na psiquiatria e muito associada a espaços similares (diferentemente da Europa ou Estados Unidos, cujos laboratórios se vincularam desde o início a universidades), Muitos dos laboratórios de psicologia tinham foco no exame e diagnóstico. | ||
Seguindo a direção de promoção de saúde e de facilitação do contato psiquiatria-sociedade, a medicina social se mostrou como pilar estruturante da criação de espaços similares que recebiam pacientes necessitados de tratamento médico. No contexto do Rio de Janeiro é importante observar a Colônia de Engenho de Dentro. Tal Colônia surge a partir de uma demanda dos próprios psiquiatras que trabalhavam nos serviços de assistências. Seguindo, então, diretrizes de separação por gênero, os profissionais pediam que fossem criadas colônias nos mesmo moldes das da | Seguindo a direção de promoção de saúde e de facilitação do contato psiquiatria-sociedade, a medicina social se mostrou como pilar estruturante da criação de espaços similares que recebiam pacientes necessitados de tratamento médico. No contexto do Rio de Janeiro é importante observar a Colônia de Engenho de Dentro. Tal Colônia surge a partir de uma demanda dos próprios psiquiatras que trabalhavam nos serviços de assistências. Seguindo, então, diretrizes de separação por gênero, os profissionais pediam que fossem criadas colônias nos mesmo moldes das da Ilha do Governador (exclusivas para homens), mas para as mulheres. Em 1911 inaugura-se a Colônia de Alienadas do Engenho de Dentro. | ||
===O laboratório de psicologia experimental=== | ===O laboratório de psicologia experimental=== | ||
Mais tarde em 1918, Gustavo Köhler | Mais tarde, em 1918, o médico Gustavo Köhler Riedel assume a direção da colônia e dá andamento a planos de expandir suas extensões, incluindo a criação de um laboratório de psicologia experimental. | ||
Após a criação da “policlínica dos subúrbios”, seriam ainda instaladas em terreno da Colônia, como serviços anexos a ela, nesta ordem: a Escola Profissional de Enfermeiras Alfredo Pinto, a Assistência hetero-familiar, o dispensário para profilaxia das doenças venéreas – construído pela Fundação Gaffrée-Guinle (conhecido, posteriormente, como Ambulatório nº 2 da referida fundação), o serviço aberto de internação de psicopatas agudos e, por fim, o Laboratório de Psicologia Experimental. | Após a criação da “policlínica dos subúrbios”, seriam ainda instaladas em terreno da Colônia, como serviços anexos a ela, nesta ordem: a Escola Profissional de Enfermeiras Alfredo Pinto, a Assistência hetero-familiar, o dispensário para profilaxia das doenças venéreas – construído pela Fundação Gaffrée-Guinle (conhecido, posteriormente, como Ambulatório nº 2 da referida fundação), o serviço aberto de internação de psicopatas agudos e, por fim, o Laboratório de Psicologia Experimental. | ||
Em 1923, o então diretor Riedel funda um laboratório de Psicologia para realizar a profilaxia das doenças mentais com ocorrência na colônia. O novo Laboratório de Psicologia Experimental foi concebido com quatro fins específicos: instituição auxiliar médica (gerenciando exames de doentes), auxiliar das necessidades sociais e práticas das comunidades (exames de aptidão, exames em escolas, investigações forenses), núcleo científico (contribuições a psicologia em amplo aspecto) e centro didático a fim de ser formar técnicos brasileiro. O psicólogo polonês Waclaw Radecki foi contratado para gerenciar o novo espaço no início de 1924. | Em 1923, o então diretor Riedel funda um laboratório de Psicologia para realizar a profilaxia das doenças mentais com ocorrência na colônia. O novo Laboratório de Psicologia Experimental foi concebido com quatro fins específicos: instituição auxiliar médica (gerenciando exames de doentes), auxiliar das necessidades sociais e práticas das comunidades (exames de aptidão, exames em escolas, investigações forenses), núcleo científico (contribuições a psicologia em amplo aspecto) e centro didático a fim de ser formar técnicos brasileiro. O psicólogo polonês Waclaw Radecki foi contratado para gerenciar o novo espaço no início de 1924. | ||
===Conversão do Laboratório para Instituto de Psicologia=== | ===Conversão do Laboratório para Instituto de Psicologia=== | ||
Em 1931, houve a Reforma Francisco Campos, responsável por organizar o sistema de ensino no Brasil. Com ela, o laboratório do Engenho de Dentro foi convertido em Instituto de Psicologia, ligado à Universidade do Rio de Janeiro. Essa reforma teve um intuito estratégico: centralizar, através de seus cursos, a formação de profissionais do magistério secundário. O decreto que criou o Instituto de Psicologia foi publicado em 19 de março de 1932, Decreto nº 21.173 “Converte o atual Laboratório de Psicologia da Colônia de Psicopatas, no Engenho de Dentro, em Instituto de Psicologia”. | Em 1931, houve a Reforma Francisco Campos, responsável por organizar o sistema de ensino universitário no Brasil. Com ela, o laboratório do Engenho de Dentro foi convertido em Instituto de Psicologia, ligado à Universidade do Rio de Janeiro. Essa reforma teve um intuito estratégico: centralizar, através de seus cursos, a formação de profissionais do magistério secundário. O decreto que criou o Instituto de Psicologia foi publicado em 19 de março de 1932, Decreto nº 21.173 “Converte o atual Laboratório de Psicologia da Colônia de Psicopatas, no Engenho de Dentro, em Instituto de Psicologia”. A inauguração do IP se deu no dia 11 de maio de 1932 e teve como seu primeiro diretor, Waclaw Radecki. Em seguida, por um curtíssimo tempo, o Decreto nº 21.999 de 24 de outubro de 1932, extingue o IP. Não se sabe ao certo por quais motivos isso ocorreu, existindo apenas suposições de alguns autores. | ||
O IP fora extinto, mas absorvido pela Assistência a Psicopatas do Distrito Federal. Assim se tornou o Instituto de Psicologia da Assistência a Psicopatas, ainda tendo relação com a universidade, sendo considerado uma extensão da mesma. Ficou nessa posição até 1937, quando foi absorvido pela Universidade do Brasil. | O IP fora extinto, mas absorvido pela Assistência a Psicopatas do Distrito Federal. Assim se tornou o Instituto de Psicologia da Assistência a Psicopatas, ainda tendo relação com a universidade, sendo considerado uma extensão da mesma. Ficou nessa posição até 1937, quando foi absorvido pela Universidade do Brasil. | ||
No seu primeiro momento, o IP fora bem movimentado com cursos, conferências, mas quando se tornou o IP da Assistência a Psicopatas, não teve grandes atuações. Seu conteúdo sempre fora voltado para uma psicologia ligada à medicina. | No seu primeiro momento, o IP fora bem movimentado com cursos, conferências, mas quando se tornou o IP da Assistência a Psicopatas, não teve grandes atuações. Seu conteúdo sempre fora voltado para uma psicologia ligada à medicina. | ||
===Criação da Universidade do Brasil e Edifício Nilomex=== | ===Criação da Universidade do Brasil e Edifício Nilomex=== | ||
Em 1937, com a | Em 1937, com a transformação da Universidade do Rio de Janeiro em Universidade do Brasil, o IP da Assistência a Psicopatas se torna o Instituto de Psicologia dessa instituição. Assim saiu da localidade de Engenho de Dentro para o Centro do Rio de Janeiro, sendo localizado no Edifício Nilomex. A partir desse ponto veremos cada vez menos a influência da psiquiatria na sua história. A nova sede permitiu às atividades do Instituto unirem tanto suas aulas teóricas como suas práticas de laboratório num mesmo lugar. | ||
Dentre as atividades do IP nesse período, dando continuidade no seu caráter da psicologia como técnica, foram oferecidos cursos, conferências, colaboração em estágio e visitação de alunos de cursos diversos. Esse conjunto dava a função do IP de ensinar a psicotécnica e de difundir a cultura psicológica, através de ensino, pesquisa e aplicação da mesma. | Dentre as atividades do IP nesse período, dando continuidade no seu caráter da psicologia como técnica, foram oferecidos cursos, conferências, colaboração em estágio e visitação de alunos de cursos diversos. Esse conjunto dava a função do IP de ensinar a psicotécnica e de difundir a cultura psicológica, através de ensino, pesquisa e aplicação da mesma. | ||
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Após algumas mudanças de nomes e localidades, em 1948 finalmente se deu, de fato, a finalização do processo de anexação do IP à Faculdade Nacional de Filosofia (FNF), por pressão dos alunos da mesma com o Ministro da Educação da época. | Após algumas mudanças de nomes e localidades, em 1948 finalmente se deu, de fato, a finalização do processo de anexação do IP à Faculdade Nacional de Filosofia (FNF), por pressão dos alunos da mesma com o Ministro da Educação da época. | ||
Em março de 1948, Nilton Campos toma posse como diretor, sua gestão foca em temas teóricos e filosóficos e relega as funções técnicas da psicologia, ele centraliza o ensino no desenvolvimento histórico da disciplina. Com a anexação à cátedra, o instituto deixa de ter um papel apenas de colaborador, tornando- se | Em março de 1948, Nilton Campos toma posse como diretor, sua gestão foca em temas teóricos e filosóficos e relega as funções técnicas da psicologia, ele centraliza o ensino no desenvolvimento histórico da disciplina. Com a anexação à cátedra, o instituto deixa de ter um papel apenas de colaborador, tornando-se parte da estrutura universitária. | ||
Em 27 de Agosto de 1962, a lei nº 4.119, que regulamenta a profissão de psicologia no país, é aprovada. Surge assim o curso de psicologia, o qual será dado na Faculdade de Filosofia. | Em 27 de Agosto de 1962, a lei nº 4.119, que regulamenta a profissão de psicologia no país, é aprovada. Surge assim o curso de psicologia, o qual será dado na Faculdade de Filosofia. | ||
===Praia Vermelha=== | ===Praia Vermelha=== | ||
No ano de 1965 o IP é transferido do edifício Nilomex para o antigo Hospício Nacional de Alienados na Praia Vermelha e, com o fim da FNF e a criação da UFRJ, a Psicologia sai da Filosofia e fica junto às Ciências Humanas. | No ano de 1965 o IP é transferido do edifício Nilomex para o antigo Hospício Nacional de Alienados na Praia Vermelha e, com o fim da FNF e a criação da UFRJ, a Psicologia sai da Filosofia e fica junto às Ciências Humanas. | ||
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Apenas em 1981, o IP terá pela primeira vez um psicólogo formado como diretor da instituição com a gestão da diretora Marion Merlone dos Santos Penna, um marco para a instituição. | Apenas em 1981, o IP terá pela primeira vez um psicólogo formado como diretor da instituição com a gestão da diretora Marion Merlone dos Santos Penna, um marco para a instituição. | ||
==Reuniões e congressos== | ==Reuniões e congressos== | ||
1932 - Ciclo de oito conferências a serem realizadas de 23 de maio a 11 de julho, contendo 45 aulas a serem ministradas no salão nobre da Escola Nacional de Belas Artes. As conferências (e seus conferencistas) seriam os seguintes: “Psicologia Geral” (Radecki), “História da Psicologia” (Edgard Sanchez), “Fator Psíquico em Biologia” (Ubirajara da Rocha), “Metodologia de Trabalho Experimental em Psicologia” (Lucília Tavares), “Correntes Atuais da Psicologia” (Jayme Grabois), “A Psicologia em Face dos Dados da Teoria do Conhecimento” (Euríalo Cannabrava), “Problemas Fundamentais de Psicopedagogia” (Halina Radecka) e “Problemas de Psicotécnica” (Arauld Bretas) | 1932 - Ciclo de oito conferências a serem realizadas de 23 de maio a 11 de julho, contendo 45 aulas a serem ministradas no salão nobre da Escola Nacional de Belas Artes. As conferências (e seus conferencistas) seriam os seguintes: “Psicologia Geral” (Radecki), “História da Psicologia” (Edgard Sanchez), “Fator Psíquico em Biologia” (Ubirajara da Rocha), “Metodologia de Trabalho Experimental em Psicologia” (Lucília Tavares), “Correntes Atuais da Psicologia” (Jayme Grabois), “A Psicologia em Face dos Dados da Teoria do Conhecimento” (Euríalo Cannabrava), “Problemas Fundamentais de Psicopedagogia” (Halina Radecka) e “Problemas de Psicotécnica” (Arauld Bretas). | ||
Junho de 1944 - ciclo de quatro conferências: "Tendências e fundamentos metodológicos da psicologia atual”; “Métodos de exploração da personalidade”; “Os fundamentos científicos da psicologia da aprendizagem”; e “As tarefas da psicologia na guerra” | Junho de 1944 - ciclo de quatro conferências: "Tendências e fundamentos metodológicos da psicologia atual”; “Métodos de exploração da personalidade”; “Os fundamentos científicos da psicologia da aprendizagem”; e “As tarefas da psicologia na guerra”. | ||
Julho 1968 - Congresso do Diretório Central dos Estudantes da UFRJ (DCE-UFRJ); Congresso Regional da União Nacional dos Estudantes(UNE). | Julho 1968 - Congresso do Diretório Central dos Estudantes da UFRJ (DCE-UFRJ); Congresso Regional da União Nacional dos Estudantes(UNE). | ||
==Lista de dirigentes== | ==Lista de dirigentes== | ||
Lucia Rabello de Castro (2016-2017) | *[[Waclaw Radecki]] (1923-1932) | ||
*[[José Carneiro Ayrosa]] (1933-1934) | |||
*[[Nilton Campos]] (1935-1936; 1948-1963) | |||
*[[Jayme Grabois]] (1937-1948) | |||
*[[Eliezer Schneider]] (interino:1963-1965) | |||
*[[Carlos Sanchez de Queiroz]] (1965-1969) | |||
*[[Elso Arruda]] (1969-1974) | |||
*[[Roberto Bittencourt]] (1974-1978) | |||
*[[Antônio Gomes Penna]] (1978-1981) | |||
*[[Marion Merlone dos Santos Penna]] (1981-1985) | |||
*[[Marcos Jardim Freire]] (1986-1990) | |||
*[[Cílio Ziviani]] (1990-1992) | |||
*[[Nei Calvano]] (1992-1994) | |||
*[[Phrygia Arruda]] (1994-1995) | |||
*[[Maria Inácia D’Ávila Neto]] (1995-2003) | |||
*[[Lucia Rabello de Castro]] (2016-2017) | |||
*[[Arthur Arruda Leal Ferreira]] (2017 - atualmente) | |||
==Subseções== | ==Subseções== | ||
Quando o IP foi criado através do decreto nº 21.173, no terceiro artigo mencionava sua divisão em cinco seções: | Quando o IP foi criado através do decreto nº 21.173, no terceiro artigo mencionava sua divisão em cinco seções: | ||
Psicologia Geral; | Psicologia Geral; Psicologia Diferencial e Orientação Profissional; Psicologia Aplicada à Educação; Psicologia Aplicada à Medicina; Psicologia Aplicada ao Direito. | ||
Psicologia Diferencial e Orientação Profissional; | |||
Psicologia Aplicada à Educação; | |||
Psicologia Aplicada à Medicina; | |||
Psicologia Aplicada ao Direito. | |||
Na forma prevista pelo Regimento de 1972, são cinco departamentos: Psicologia Geral e Experimental, Psicologia da Personalidade, Psicologia do Ajustamento, Psicologia Social e do Trabalho e Psicometria. Sabe-se que até 1983 esta organização permaneceu a mesma, pois aparece no Catálogo de Cursos de Graduação distribuído aos alunos ingressantes naquele ano. | Na forma prevista pelo Regimento de 1972, são cinco departamentos: Psicologia Geral e Experimental, Psicologia da Personalidade, Psicologia do Ajustamento, Psicologia Social e do Trabalho e Psicometria. Sabe-se que até 1983 esta organização permaneceu a mesma, pois aparece no Catálogo de Cursos de Graduação distribuído aos alunos ingressantes naquele ano. | ||
==Membros importantes== | ==Membros importantes== | ||
*[[Waclaw Radecki]] | |||
*[[José Carneiro Ayrosa|Dr. José Carneiro Ayrosa]] | |||
*[[Nilton Campos]] | |||
*[[Jayme Grabois]] | |||
*[[Euryalo Cannabrava]] | |||
*[[Edgard Sanchez]] | |||
*[[Eliezer Schneider]] | |||
*[[Plínio Olinto]] | |||
==Ver também== | |||
*[[Waclaw Radecki]] | |||
*[[Colônia de Alienados]] | |||
*[[Laboratório de Psicologia da Colônia de Psicopatas de Engenho de Dentro]] | |||
==Referências== | ==Referências== | ||
FONSECA, Luiz Eduardo Prado. | #BRASIL. Congresso Nacional. Dispõe sobre os cursos de formação em psicologia e regulamenta a profissão de psicólogo. Brasília, DF, 1962. | ||
#FONSECA, Luiz Eduardo Prado. Os (Des)caminhos da Psicologia no século XX: Um estudo sobre a história do Instituto de Psicologia da UFRJ. '''Tese de Doutorado (História das Ciências, das Técnicas e Epistemologia) – Programa de Pós-Graduação em História das Ciências, das Técnicas e Epistemologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro'''. Rio de Janeiro, 2020. | |||
#Casa de Oswaldo Cruz. [http://basearch.coc.fiocruz.br/index.php/gustavo-kohler-riedel Gustavo Kohler Riedel]. '''Base Arch.''' | |||
#JACÓ-VILELA, Ana Maria. [http://newpsi.bvs-psi.org.br/ebooks2010/pt/Acervo_files/DicionarioHistorico.pdf Dicionário Histórico de Instituições de Psicologia no Brasil]. '''Imago''', Rio de Janeiro, 2011, 549 p. | |||
#SILVA, C. N. A. Colônia de Alienados de Engenho de Dentro (1911-1932). '''SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA''', 19., 2017, Brasília. | |||
==Links externos== | |||
*[https://www.psicologia.ufrj.br/index.php Instituto de Psicologia da UFRJ] | |||
==Autoria== | ==Autoria== | ||
Verbete criado inicialmente por: Bárbara Motta de Oliveira, Giovani Florencio e Mariana Noventa, como exigência parcial para a disciplina de Estudos Avançados Em História da Psicologia da UFF de Rio das Ostras. Criado em 2020.2, publicado em 2021.1 | Verbete criado inicialmente por: Bárbara Motta de Oliveira, Giovani Florencio e Mariana Noventa, como exigência parcial para a disciplina de Estudos Avançados Em História da Psicologia da UFF de Rio das Ostras. Criado em 2020.2, publicado em 2021.1 | ||
Alterações realizadas por Ana Carolina Miotti, arquivista da Universidade Federal do Rio de Janeiro e mestranda do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências, das Técnicas e Epistemologia - PPGHCTE/UFRJ. Edição em 2021.2. | |||
[[Categoria:Instituições e Coletivos]] | [[Categoria:Instituições e Coletivos]] |
Edição atual tal como às 14h37min de 23 de dezembro de 2022
O Instituto de Psicologia da UFRJ começou como laboratório de Psicologia em 1923, no Engenho de Dentro, tornando-se, de fato, Instituto de Psicologia em 1932. Inicialmente o Laboratório foi criado com a intenção de realizar a profilaxia de doenças mentais da colônia de Alienadas do Engenho de Dentro e teve como primeiro dirigente o Waclaw Radecki, considerado um dos pioneiros da Psicologia no Brasil.
A história do Instituto se mostra através de uma diversidade de acontecimentos durante sua constituição, críticas e mudanças de localidade, começando no Engenho de Dentro, indo para o Centro e, por fim, chegando ao atual endereço, na Praia Vermelha.
HistóriaEditar
A Colônia de Alienadas de Engenho de DentroEditar
A criação do Instituto de Psicologia (IP) remonta ao século 20, tendo ao longo de sua história diferentes focos de trabalho e atuação na sociedade. Passou de laboratório a instituto, atendendo a um projeto de psiquiatria ligada ao higienismo e eugenismo, com forte influência médica e pouca psicologia de fato para no futuro se tornar um lugar de fomento à pesquisa e ensino. Para entender o surgimento do IP, é preciso entender o contexto de saúde e da psicologia da época. A psicologia no Brasil era moldada com base na psiquiatria e muito associada a espaços similares (diferentemente da Europa ou Estados Unidos, cujos laboratórios se vincularam desde o início a universidades), Muitos dos laboratórios de psicologia tinham foco no exame e diagnóstico.
Seguindo a direção de promoção de saúde e de facilitação do contato psiquiatria-sociedade, a medicina social se mostrou como pilar estruturante da criação de espaços similares que recebiam pacientes necessitados de tratamento médico. No contexto do Rio de Janeiro é importante observar a Colônia de Engenho de Dentro. Tal Colônia surge a partir de uma demanda dos próprios psiquiatras que trabalhavam nos serviços de assistências. Seguindo, então, diretrizes de separação por gênero, os profissionais pediam que fossem criadas colônias nos mesmo moldes das da Ilha do Governador (exclusivas para homens), mas para as mulheres. Em 1911 inaugura-se a Colônia de Alienadas do Engenho de Dentro.
O laboratório de psicologia experimentalEditar
Mais tarde, em 1918, o médico Gustavo Köhler Riedel assume a direção da colônia e dá andamento a planos de expandir suas extensões, incluindo a criação de um laboratório de psicologia experimental.
Após a criação da “policlínica dos subúrbios”, seriam ainda instaladas em terreno da Colônia, como serviços anexos a ela, nesta ordem: a Escola Profissional de Enfermeiras Alfredo Pinto, a Assistência hetero-familiar, o dispensário para profilaxia das doenças venéreas – construído pela Fundação Gaffrée-Guinle (conhecido, posteriormente, como Ambulatório nº 2 da referida fundação), o serviço aberto de internação de psicopatas agudos e, por fim, o Laboratório de Psicologia Experimental.
Em 1923, o então diretor Riedel funda um laboratório de Psicologia para realizar a profilaxia das doenças mentais com ocorrência na colônia. O novo Laboratório de Psicologia Experimental foi concebido com quatro fins específicos: instituição auxiliar médica (gerenciando exames de doentes), auxiliar das necessidades sociais e práticas das comunidades (exames de aptidão, exames em escolas, investigações forenses), núcleo científico (contribuições a psicologia em amplo aspecto) e centro didático a fim de ser formar técnicos brasileiro. O psicólogo polonês Waclaw Radecki foi contratado para gerenciar o novo espaço no início de 1924.
Conversão do Laboratório para Instituto de PsicologiaEditar
Em 1931, houve a Reforma Francisco Campos, responsável por organizar o sistema de ensino universitário no Brasil. Com ela, o laboratório do Engenho de Dentro foi convertido em Instituto de Psicologia, ligado à Universidade do Rio de Janeiro. Essa reforma teve um intuito estratégico: centralizar, através de seus cursos, a formação de profissionais do magistério secundário. O decreto que criou o Instituto de Psicologia foi publicado em 19 de março de 1932, Decreto nº 21.173 “Converte o atual Laboratório de Psicologia da Colônia de Psicopatas, no Engenho de Dentro, em Instituto de Psicologia”. A inauguração do IP se deu no dia 11 de maio de 1932 e teve como seu primeiro diretor, Waclaw Radecki. Em seguida, por um curtíssimo tempo, o Decreto nº 21.999 de 24 de outubro de 1932, extingue o IP. Não se sabe ao certo por quais motivos isso ocorreu, existindo apenas suposições de alguns autores.
O IP fora extinto, mas absorvido pela Assistência a Psicopatas do Distrito Federal. Assim se tornou o Instituto de Psicologia da Assistência a Psicopatas, ainda tendo relação com a universidade, sendo considerado uma extensão da mesma. Ficou nessa posição até 1937, quando foi absorvido pela Universidade do Brasil.
No seu primeiro momento, o IP fora bem movimentado com cursos, conferências, mas quando se tornou o IP da Assistência a Psicopatas, não teve grandes atuações. Seu conteúdo sempre fora voltado para uma psicologia ligada à medicina.
Criação da Universidade do Brasil e Edifício NilomexEditar
Em 1937, com a transformação da Universidade do Rio de Janeiro em Universidade do Brasil, o IP da Assistência a Psicopatas se torna o Instituto de Psicologia dessa instituição. Assim saiu da localidade de Engenho de Dentro para o Centro do Rio de Janeiro, sendo localizado no Edifício Nilomex. A partir desse ponto veremos cada vez menos a influência da psiquiatria na sua história. A nova sede permitiu às atividades do Instituto unirem tanto suas aulas teóricas como suas práticas de laboratório num mesmo lugar.
Dentre as atividades do IP nesse período, dando continuidade no seu caráter da psicologia como técnica, foram oferecidos cursos, conferências, colaboração em estágio e visitação de alunos de cursos diversos. Esse conjunto dava a função do IP de ensinar a psicotécnica e de difundir a cultura psicológica, através de ensino, pesquisa e aplicação da mesma.
Após algumas mudanças de nomes e localidades, em 1948 finalmente se deu, de fato, a finalização do processo de anexação do IP à Faculdade Nacional de Filosofia (FNF), por pressão dos alunos da mesma com o Ministro da Educação da época.
Em março de 1948, Nilton Campos toma posse como diretor, sua gestão foca em temas teóricos e filosóficos e relega as funções técnicas da psicologia, ele centraliza o ensino no desenvolvimento histórico da disciplina. Com a anexação à cátedra, o instituto deixa de ter um papel apenas de colaborador, tornando-se parte da estrutura universitária.
Em 27 de Agosto de 1962, a lei nº 4.119, que regulamenta a profissão de psicologia no país, é aprovada. Surge assim o curso de psicologia, o qual será dado na Faculdade de Filosofia.
Praia VermelhaEditar
No ano de 1965 o IP é transferido do edifício Nilomex para o antigo Hospício Nacional de Alienados na Praia Vermelha e, com o fim da FNF e a criação da UFRJ, a Psicologia sai da Filosofia e fica junto às Ciências Humanas.
Durante a Ditadura Militar, ocorreram muitas movimentações e protestos por parte dos estudantes do IP. Uma agressão por parte do reitor Raymundo Moniz de Aragão a dois estudantes da Universidade leva à expulsão dos alunos envolvidos, se tornando o estopim para que houvessem muitos protestos e a tentativa de deposição do diretor Carlos Sanchez de Queiroz por parte dos alunos. No dia 08 de julho 1968 acontece o Congresso do Diretório Central dos Estudantes da UFRJ (DCE-UFRJ) e no dia 15 de julho o Congresso Regional da União Nacional dos Estudantes (UNE), havendo assim muitas reuniões do movimento estudantil. Isso fez com que o reitor respondesse de forma cada vez mais acalorada e por fim o diretor decretou o fechamento temporário do IP em pleno período de provas. A congregação do IP decidiu pelo afastamento do diretor, porém essa decisão nunca chegou a ser efetivada. No final de 1968 e nos anos posteriores pouco foi relatado sobre a continuação da tentativa de deposição do diretor, consequência essa do Ato Institucional N° 5.
Apenas em 1981, o IP terá pela primeira vez um psicólogo formado como diretor da instituição com a gestão da diretora Marion Merlone dos Santos Penna, um marco para a instituição.
Reuniões e congressosEditar
1932 - Ciclo de oito conferências a serem realizadas de 23 de maio a 11 de julho, contendo 45 aulas a serem ministradas no salão nobre da Escola Nacional de Belas Artes. As conferências (e seus conferencistas) seriam os seguintes: “Psicologia Geral” (Radecki), “História da Psicologia” (Edgard Sanchez), “Fator Psíquico em Biologia” (Ubirajara da Rocha), “Metodologia de Trabalho Experimental em Psicologia” (Lucília Tavares), “Correntes Atuais da Psicologia” (Jayme Grabois), “A Psicologia em Face dos Dados da Teoria do Conhecimento” (Euríalo Cannabrava), “Problemas Fundamentais de Psicopedagogia” (Halina Radecka) e “Problemas de Psicotécnica” (Arauld Bretas).
Junho de 1944 - ciclo de quatro conferências: "Tendências e fundamentos metodológicos da psicologia atual”; “Métodos de exploração da personalidade”; “Os fundamentos científicos da psicologia da aprendizagem”; e “As tarefas da psicologia na guerra”.
Julho 1968 - Congresso do Diretório Central dos Estudantes da UFRJ (DCE-UFRJ); Congresso Regional da União Nacional dos Estudantes(UNE).
Lista de dirigentesEditar
- Waclaw Radecki (1923-1932)
- José Carneiro Ayrosa (1933-1934)
- Nilton Campos (1935-1936; 1948-1963)
- Jayme Grabois (1937-1948)
- Eliezer Schneider (interino:1963-1965)
- Carlos Sanchez de Queiroz (1965-1969)
- Elso Arruda (1969-1974)
- Roberto Bittencourt (1974-1978)
- Antônio Gomes Penna (1978-1981)
- Marion Merlone dos Santos Penna (1981-1985)
- Marcos Jardim Freire (1986-1990)
- Cílio Ziviani (1990-1992)
- Nei Calvano (1992-1994)
- Phrygia Arruda (1994-1995)
- Maria Inácia D’Ávila Neto (1995-2003)
- Lucia Rabello de Castro (2016-2017)
- Arthur Arruda Leal Ferreira (2017 - atualmente)
SubseçõesEditar
Quando o IP foi criado através do decreto nº 21.173, no terceiro artigo mencionava sua divisão em cinco seções:
Psicologia Geral; Psicologia Diferencial e Orientação Profissional; Psicologia Aplicada à Educação; Psicologia Aplicada à Medicina; Psicologia Aplicada ao Direito.
Na forma prevista pelo Regimento de 1972, são cinco departamentos: Psicologia Geral e Experimental, Psicologia da Personalidade, Psicologia do Ajustamento, Psicologia Social e do Trabalho e Psicometria. Sabe-se que até 1983 esta organização permaneceu a mesma, pois aparece no Catálogo de Cursos de Graduação distribuído aos alunos ingressantes naquele ano.
Membros importantesEditar
- Waclaw Radecki
- Dr. José Carneiro Ayrosa
- Nilton Campos
- Jayme Grabois
- Euryalo Cannabrava
- Edgard Sanchez
- Eliezer Schneider
- Plínio Olinto
Ver tambémEditar
- Waclaw Radecki
- Colônia de Alienados
- Laboratório de Psicologia da Colônia de Psicopatas de Engenho de Dentro
ReferênciasEditar
- BRASIL. Congresso Nacional. Dispõe sobre os cursos de formação em psicologia e regulamenta a profissão de psicólogo. Brasília, DF, 1962.
- FONSECA, Luiz Eduardo Prado. Os (Des)caminhos da Psicologia no século XX: Um estudo sobre a história do Instituto de Psicologia da UFRJ. Tese de Doutorado (História das Ciências, das Técnicas e Epistemologia) – Programa de Pós-Graduação em História das Ciências, das Técnicas e Epistemologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2020.
- Casa de Oswaldo Cruz. Gustavo Kohler Riedel. Base Arch.
- JACÓ-VILELA, Ana Maria. Dicionário Histórico de Instituições de Psicologia no Brasil. Imago, Rio de Janeiro, 2011, 549 p.
- SILVA, C. N. A. Colônia de Alienados de Engenho de Dentro (1911-1932). SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 19., 2017, Brasília.
Links externosEditar
AutoriaEditar
Verbete criado inicialmente por: Bárbara Motta de Oliveira, Giovani Florencio e Mariana Noventa, como exigência parcial para a disciplina de Estudos Avançados Em História da Psicologia da UFF de Rio das Ostras. Criado em 2020.2, publicado em 2021.1
Alterações realizadas por Ana Carolina Miotti, arquivista da Universidade Federal do Rio de Janeiro e mestranda do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências, das Técnicas e Epistemologia - PPGHCTE/UFRJ. Edição em 2021.2.