Eliezer Schneider, nascido na cidade do Rio de Janeiro em 18 de outubro de 1916, filho de Scylla e Jacob Schneider, foi bacharel em Ciências Sociais e Jurídicas e mestre em Psicologia. Sua atuação profissional foi voltada principalmente à formação de psicólogos e pós-graduação, sendo um dos primeiros professores do curso de Psicologia na UFRJ e outras universidades. Faleceu em 26 de agosto de 1998, na cidade do Rio de Janeiro.

BiografiaEditar

Início da vidaEditar

Eliezer Schneider nasceu na cidade do Rio de Janeiro, então capital do país, em 18 de outubro de 1916. Filho único de Scylla e Jacob Schneider, cresceu e viveu na sua cidade natal até casar-se com a gaúcha Guiomar Schneider.

Pouco se sabe sobre a sua juventude. Ainda na adolescência, ingressou na Juventude Comunista e sua participação perdurou durante toda a sua graduação em Ciências Sociais e Jurídicas na Faculdade Nacional de Direito. Foi durante sua graduação, inclusive, que Eliezer teve sua participação mais significativa frente à repressão: atuou na criação da União Nacional dos Estudantes (UNE) (1936-37), ocupou o cargo de presidente do Comitê Estudantil de Esquerda contra a Guerra e o Fascismo (1935) e ainda foi preso por 2 vezes por conspiração e “atividades de caráter subversivo”, mas foi solto após uma noite na primeira vez e absolvido na segunda.

Sua militância teve grandes efeitos em sua trajetória profissional, impossibilitando-o de usufruir oportunidades tanto fora do país, quando foi impedido de ingressar no doutorado na Iowa University (década de 1950), quanto em solo brasileiro durante a ditadura militar, nas décadas de 1960 à 1980.

1930 - 1960Editar

Formou-se em Direito pela Universidade do Brasil (atual UFRJ), mas nunca chegou a exercer a profissão e logo começou a se interessar pela psicologia, sendo, portanto, um dos primeiros brasileiros a possuir formação acadêmica na área. Segundo Eliezer, seu interesse pela área psicológica surgiu com o estudo do Direito a partir do momento em que ele começou a se fazer perguntas tal qual “como entender o criminoso?”.

Graduou-se na época do direito positivo, ou seja, o mesmo era embasado no Iluminismo e no livre-arbítrio, de modo que o crime era caracterizado como uma escolha do indivíduo e cada ato possuía uma consequência. Com isso, no meio desse cenário, as questões de responsabilidade, punição e suas possíveis relações com a loucura começaram a atrair a atenção de Schneider, que decide partir para uma área que pudesse responder os seus questionamentos.

Em 1941, ingressou na Psicologia através de um concurso do DASP (Departamento de Administração do Serviço Público) para “Técnico de Assuntos Educacionais”, também na Universidade do Brasil. Nessa época, os cursos de psicologia ainda não eram regulamentados no Brasil, algo que só ocorre em 1962.

Após um período nos Estados Unidos, tornou-se mestre pela Iowa University, tendo defendido a tese sobre as teorias emergentistas da personalidade (1947). Voltando ao Brasil, ingressou como psicotécnico no ISOP (Instituto de Seleção e Orientação Profissional da Fundação Getúlio Vargas), em 1949.

Eliezer pensou em retornar aos EUA para realizar seu doutorado, mas, logo após a aprovação da Iowa University, recebeu um aviso do Departamento de Estado de que seu ingresso ao país estava vetado. Isso ocorre porque estava em vigor o Macartismo e seus envolvimentos com a Juventude Comunista o tornaram alguém sem muito prestígio.

Em 1951, casou-se com Guiomar e teve um filho, Jean Bayard. Se mudou para Porto Alegre (onde permaneceu entre 1953 e 1954), trabalhando como professor na PUC-RS e como psicotécnico no Departamento de Estradas de Rodagem. Ainda nesse ano, Schneider criou, junto a Antônio Gomes Penna, o Boletim do Instituto de Psicologia.

Retornou ao Rio de Janeiro, local onde trabalhou em diversas fontes diferentes, tornando-se Diretor do Colégio Hebreu Brasileiro e psicólogo do Manicômio Judiciário.

Na metade dos anos 50, as discussões sobre a regulamentação da profissão do psicólogo estavam em pleno fervor. Nessa época, surgem discordâncias entre diversos personagens, as quais giravam em torno de fazer da psicologia uma ciência “prática” ou “teórica”. Com isso, Schneider é chamado para atuar como mediador da discussão, mas a função não obtém sucesso. Mesmo assim, cria-se uma comissão para a proposição de um anteprojeto sobre o tema, a qual Eliezer é chamado a compor. Da mesma, surge a Lei 4.119, que regulamenta a profissão e os cursos, além do Parecer 43/62, que estabelece o currículo mínimo do curso de psicologia.

A regulamentação da profissão ocorreu em 1962 e, após isso, diversos cursos foram criados. Eliezer torna-se um dos primeiros professores em alguns deles: na UFRJ, local onde já trabalhava, UERJ, FAHUPE (Faculdade de Humanidades Pedro II) e Universidade Gama Filho. Em todas elas, permaneceu com um esforço: integrar a disciplina de Psicologia Jurídica nos currículos. Trabalhou também com a pós-graduação no ISOP, IEASE (Instituto De Ensino Superior Albert Einstein), UFRJ e UGF.

Schneider casou-se novamente em 1968 com Fanny, com quem teve mais um filho, Marco André.

1970-1998Editar

Na década de 70, ele publica seu único livro "Psicologia Social - histórica, cultural, política" (1978) e encerra o Boletim do Instituto de Psicologia, em 1974, após 23 anos de duração.

Schneider permaneceu na UFRJ, UERJ e FAHUPE (Faculdade de Humanidades Pedro II) entre os anos setenta e oitenta. Já na Gama Filho, ele trabalhou até 1998. Segundo ele, lecionar era sua vocação e onde ele se sentia melhor.

Ele faleceu na véspera do dia do Psicólogo, em 26 de agosto de 1998, e aqueles que conviveram com ele - docentes e discentes em sua maioria - disseram ter perdido um grande mestre e amigo, devido ao seu modo gentil e amigável de se expressar, falar, ensinar e conviver com as pessoas.

ContribuiçõesEditar

Sua principal contribuição à Psicologia foi a formação de uma geração de professores de Psicologia Social que rompem com o paradigma individualista tão característico da nova ciência. Paradigma este que exclui completamente o contexto social do sujeito e, munido do ideal de livre arbítrio, iguala juridicamente todos os indivíduos. Schneider imputa a seus graduandos a relevância dos fatores econômicos, socioculturais, políticos e históricos na análise do comportamento, principalmente do comportamento infrator. Sua influência enquanto docente é reafirmada quando leva-se em consideração que o professor orienta cerca de 40 dissertações e teses e, pelo menos, cento e cinquenta comissões examinadoras. E, embora seja também pesquisador, destaca-se pela docência, o que exerce até o fim de sua vida.

Schneider inclusive é convidado a compor a comissão de anteprojeto, a partir do qual, após posteriores contribuições, surge a Lei 4.119, que regulamenta a profissão de psicólogo e seus cursos. Aqui explicitando seu esforço para incluir a disciplina de Psicologia Jurídica no currículo dos cursos. Com isso, contribui não só para a criação da profissão de psicólogo, mas principalmente para um novo fazer e saber psicológico, muito caracterizado pela transversalidade com sociologia. Eis então o berço da Psicologia Social.

Cronologia BiográficaEditar

1916: Nascimento em 18 de outubro, na cidade do Rio de Janeiro.

1939: Graduação de Ciências Sociais e Jurídicas pela Faculdade de Direito da Universidade do Brasil.

1941: Assistente de Ensino no Instituto de Psicologia da Universidade do Brasil.

1947: Mestre em Psicologia pela Graduate College da State University of Iowa, em Iowa, EUA.

1950: Chefe da Divisão de Pesquisas Experimentais do Instituto de Psicologia da Universidade do Brasil (Rio de Janeiro, RJ).

1953: Professor de Psicologia de Personalidade na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Porto Alegre, RS).

1954: Psicologista e “Técnico de Assuntos Educacionais”, no Manicômio Judiciário Heitor Carrilho.

1965: Professor Titular do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho, do Instituto de Psicologia da UFRJ.

1967: Professor Titular de Psicologia Geral e Experimental de cursos de graduação de Psicologia, da Universidade de Gama Filho.

1970: Chefe de Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia da UEG e Chefe de Departamento de Psicologia Social e do Trabalho no Instituto de Psicologia da UFRJ.

1973: Membro do Conselho Universitário da UERJ.

1975: Membro do Conselho Penitenciário do Estado do Rio de Janeiro, como psicólogo.

1978: Publica seu único livro: Psicologia Social – histórica, cultural e política.

1978: Diretor Adjunto de Pós-graduação no Instituto de Psicologia da UFRJ.

1986: Aposentadoria como professor do Instituto de Psicologia da UFRJ

1988: Título de Professor Emérito da UFRJ.

1998: Falecimento em 26 de agosto, no Rio de Janeiro.

Relação com outros personagensEditar

Quando se trata da relação de Eliezer Schneider com outros personagens, é imprescindível citar Antonio Gomes Penna — importante precursor da psicologia brasileira — que foi o seu grande amigo por cerca de cinquenta anos e que se juntou editorialmente para escrever, em 1951, o Boletim do Instituto de Psicologia e artigos em muitas outras revistas.

Entre outras amizades, estão Edu Viana Guerra, técnico em educação que se juntou a Eliezer na criação de uma revista de psicologia em que publicaram artigos regularmente, e Franco Lo Presti Seminério, que em conjunto com Eliezer Schneider e outros psicólogos atuaram na institucionalização da psicologia.

No ano 1965, o professor Hans Ludwig Lippmann, convidou Eliezer Schneider para lecionar psicologia social na Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Em relação a Psicologia Social, Eliezer toma como inspiração Otto Klineberg, psicólogo canadense e professor. Ele fora também orientado por Emilio Mira y López em um trabalho de seleção importante no Instituto Rio Branco e também por Jayme Grabois nas atividades de psicologia.

Ver tambémEditar

ReferênciasEditar

  1. ELIEZER Schneider. Psicologia: Ciência e Profissão. 2004, v. 24, n. 2, pp. 137.
  2. JACÓ-VILELA, A. Eliezer Schneider. Estudos de Psicologia. 1997, v. 2, n. 1, pp. 109-134.
  3. JACÓ-VILELA, A. Eliezer Schneider: um esboço biográfico. Estudos de Psicologia. 1999, v. 4, n. 2, pp. 331-350.
  4. LIMA, Renato Sampaio. História da psicologia social no Rio de Janeiro: dois importantes personagens. Fractal: Revista de Psicologia, 2009, v. 21, n. 2, pp. 409-423.
  5. VASCONCELLOS, Maira Allucham Goulart Naves Trevisan. Algumas repercussões do posicionamento político-ideológico na carreira profissional de Eliezer Schneider. Revista Psicologia Política, São Paulo, v. 19, n. 44, p. 88-96, abr. 2019.

AutoriaEditar

Verbete criado inicialmente por Francine Ribeiro, Melissa Iara, Micaelly Guimarães, Vitória Maria, Roselaine Lima, como exigência parcial para disciplina de História da Psicologia da UFF de Rio das Ostras. Criado em 2021.2, publicado em 2021.2.