Gustav Theodor Fechner nasceu em Gross Särchen, em 19 de abril de 1801, e faleceu em Leipzig (Alemanha) no dia 18 de novembro de 1887. Foi um psicofísico, fisiologista e filósofo alemão que atuou nos princípios da psicologia experimental, tornando-se essencial na fundação da psicofísica. Ele também foi responsável pelo aperfeiçoamento da ideia de que era possível mensurar as sensações através de estudos e relações com os estímulos, que recebeu o nome de Lei Weber-Fechner.

BiografiaEditar

Vida familiarEditar

Fechner era irmão do pintor Eduard Clemens Fechner e de Clementine Wieck Fechner, que era a madrasta de Clara Wieck quando Clementine se tornou a segunda esposa de seu pai, Friedrich Wieck.

Formação inicialEditar

Fechner nasceu em Gross Särchen, um vilarejo na cidade de Lohsa, na Alemanha, onde seu pai era pastor Luterano. Mesmo sendo influenciado pela religião do pai, Fechner futuramente se tornaria ateu. Vale ressaltar que muitas de suas ideias relacionadas à visão humanista estão ligadas à educação cristã.

Apesar de ter a medicina como primeira formação, Fechner criticava a ciência e o mecanicismo predominantes na época. Para isso, criou um pseudônimo chamado “Dr. Mises”, a partir do qual escrevia críticas ao cientificismo do período.

Início de carreiraEditar

Fechner estudou medicina na Universidade de Leipzig em 1817, onde teve como professor de fisiologia Ernst Weber, a quem, posteriormente, teve seu nome atribuído em uma experiência, a chamada “Lei Weber-Fechner”. Após se formar em medicina, voltou a se dedicar aos estudos na área da Física e Matemática, traduzindo dezenas de livros de física e química do francês para o alemão. Devido a essas traduções e também ao seu empenho no estudo com fenômenos elétricos, Fechner foi nomeado professor de física na Universidade de Leipzig. Este fato ocorreu em 1834, quando ele tinha 33 anos, e já trazia em sua bagagem mais de quarenta artigos publicados. Em 1839, teve que se abdicar de seu cargo de professor por razões de doença. Fechner estava cansado e teve sua vista avariada devido a experimentos de cores subjetivas e pós-imagem, depois de olhar para o sol com vidros coloridos.

A doença de FechnerEditar

No ano de 1839, Fechner se interessou pela questão da “sensação” e, durante uma pesquisa com imagens persistentes, feriu gravemente os olhos ao olhar diretamente para o sol através de lentes coloridas.

Por esse motivo, durante os anos consecutivos, caiu em profunda depressão, sentia cansaço e dificuldade para dormir, além de uma digestão difícil e falta de apetite. Ademais, passava a maior parte de seus dias em um quarto escuro com as paredes pintadas de preto, por causa da extrema sensibilidade à luz.

Na tentativa de aliviar a melancolia de sua rotina, Fechner tentava fazer longas caminhadas durante a noite e apelou para várias terapias alternativas, entre as quais envolviam o uso de laxantes, choques elétricos, tratamentos com vapor e aplicação de substâncias escaldantes sobre a pele. Nenhuma dessas tentativas lhe trouxe a cura.

Acredita-se que a doença de Fechner pode ter sido de natureza neurótica.

Fim da vidaEditar

Não se sabe ao certo sobre os últimos anos de Fechner, nem sobre as circunstâncias, causa e maneira de sua morte.

Contribuições do autorEditar

Como principais contribuições de Fechner, pode-se citar a criação da Psicofísica e o incremento da Lei de Weber, de modo que passou a se chamar “Lei Weber-Fechner". Além disso, vale ressaltar a contribuição de Fechner na elaboração do conceito de “localidade psíquica”, de Sigmund Freud, visto que o psicanalista faz referência ao psicofísico no livro “A Interpretação dos Sonhos” (1900).

TeoriaEditar

Criação da psicofísicaEditar

Gustav T. Fechner foi o precursor da Psicofísica, vertente que procurava apresentar um estudo das relações entre mente e corpo, porém desenvolvendo um método científico para explicá-los. Para ele, o mundo físico e o mundo psicológico não eram partes desconexas, mas sim diferentes reflexos do mesmo todo. A parte física estava atrelada aos processos do corpo (cerebrais) e representavam os processos objetivos, e os atrelados à mente seriam os processos subjetivos.

Esse ponto forte fez com que muitos pesquisadores se interessasses pelo assunto, fazendo com que a psicofísica servisse de eixo central para onde a psicologia experimental e também a fisiologia sensorial. Os métodos psicofísicos foram utilizados por Hering, Mach, Helmholtz e Weber, estes considerados os pioneiros no estudo da fisiologia sensorial.

Vale salientar que Fechner iniciou um debate que a neurociência atual tem como um dos seus principais objetivos que é a correlação dos eventos neurais com os subjetivos, inerentes da mente.

Lei Weber-FechnerEditar

Gustav acreditava no pampsiquismo, ou, como ele designou, visão diurna. O termo "pampsiquismo" tem origem no termo grego pan ("tudo", "todo") e psique (“alma", "mente”) que seria como o centro unificador da vida mental de todos os seres vivos. Essa crença foi um dos principais quesitos para ele começar sua busca pelas relações mente-corpo e se tornar criador da Psicofísica e da Lei Weber-Fechner.

Na manhã de 22 de outubro de 1850, enquanto meditava sobre estes problemas filosóficos, Fechner pensou na possibilidade de encontrar uma equação que demonstrasse a relação entre os fenômenos mentais e os fenômenos físicos da realidade. Ele conseguiria refutar a ideia do dualismo corpo-mente em favor de uma identidade pampsiquista.

O pensamento de Fechner começa de um princípio simples. As sensações e a parte psíquica são inerentes de estímulos ou da parte física. Consegue-se mensurar a parte física, mas como se daria para mensurar a psíquica? A partir dessa questão, ele chegou à conclusão que seria possível mensurar que as magnitudes sensórias poderiam ser medidas através de sensibilidade.

A partir de 1851, depois de lançar o livro “Zend-Avesta, oder ueber die Dinge des Himmels und des Jenseits” (A revelação do verbo, ou sobre as coisas do céu e do além), Gustav dedicou os nove anos seguintes ao estudo e elaboração da Psicofísica. Em 1860, publicou a sua mais relevante obra, “Elemente der Psychophysik”, onde definiu a Psicofísica como “a ciência exata das relações funcionais ou relações de dependência entre corpo e espírito”.

Os alicerces bem sólidos da obra de Fechner com bases experimentais e matemáticas deram muita credibilidade a ele no meio científico. Helmholtz, considerado um dos maiores fisiologistas da época, propôs algumas modificações à formula primordial de Fechner. Wundt, que mais tarde fundaria o primeiro laboratório de Psicologia, chamou a atenção para as obras de Fechner e muitos trabalhos em seu laboratório utilizaram a base dos estudos dele. Mesmo que o “Elemente der Psychophysik” não tenha sido tão vendido, foi capaz de gerar interesse em pessoas que levariam o estudo da Psicofísica em frente.

O foco de Fechner em seu estudo na Psicofísica era de relacionar os estímulos, como unidades físicas mensuráveis tais quais os centímetros ou graus, e as sensações que temos através desses estímulos. Não podemos mensurar diretamente as sensações, apenas dizer se existe ou não e se é maior ou menor que outra sensação. Porém, os estímulos podem ser medidos, podendo analisar o quanto um estímulo tem que ser aumentado para que a mudança seja percebida. Quando se determina o limiar diferencial, utiliza-se duas sensações que são diferentes perceptivelmente. Justamente essa mudança perceptível que Fechner considerou como uma unidade de medida da sensibilidade. Começando com o limiar absoluto abaixo do qual o estímulo não é percebido, pode-se aumentar o estímulo até que o sujeito perceba a diferença entre a primeira percepção limiar do estímulo e a segunda percepção do estímulo aumentado.

Isto seria considerado a primeira D.A.P. (“Diferença Apenas Perceptível”). Depois o estímulos seria aumentado até que se percebesse que é seria diferente do primeiro, chegando na segunda D.A.P. Desta forma, qualquer sensação é a soma das D.A.P.s antecedentes.

Visão diurna e noturnaEditar

O conceito de mundo de Fechner era altamente animista. Ele sentiu a emoção da vida em todos os lugares: nas plantas, na terra, nas estrelas, em todo o universo. O homem fica a meio caminho entre as almas das plantas e as almas das estrelas, que são anjos. Deus, a alma do universo, deve ser concebido como tendo uma existência análoga aos homens. As leis naturais são apenas os modos do desdobramento da perfeição de Deus. Em sua última obra, Fechner contrasta essa alegre "visão diurna" do mundo com a morta e sombria "visão noturna" do materialismo.

Influência e seguidoresEditar

Juntamente com Wilhelm Wundt e Hermann von Helmholtz, Fechner ficou reconhecido como um dos fundadores da psicologia experimental moderna. Sua contribuição mais clara foi a demonstração de que, por ser a mente suscetível a medições e tratamento matemático, a psicologia tinha o potencial de se tornar uma ciência quantificada.

Apesar de ser influente na psicofísica, possuía poucos verdadeiros discípulos de sua filosofia geral. Dentre eles, está Ernst Mach, que foi inspirado por seu trabalho em psicofísica. William James, um grande admirador de seu trabalho, o qual, em 1904, escreveu uma introdução na tradução para o inglês da obra Büchlein vom Leben nach dem Tode (Pequeno Livro da Vida após a Morte) de Fechner. Sigmund Freud se refere a Fechner ao introduzir o conceito de localidade psíquica na obra The Interpretation of Dreams, que ele ilustra com a metáfora do microscópio.

O trabalho de Fechner em estética também é importante. Ele conduziu experimentos para mostrar que certas formas e proporções abstratas são naturalmente agradáveis ​​aos nossos sentidos e deu algumas novas ilustrações do funcionamento da associação estética. Charles Hartshorne o via como um predecessor de sua filosofia e de Alfred North Whitehead e lamentava que a obra filosófica de Fechner tivesse sido negligenciada por tanto tempo.

A posição de Fechner em relação aos seus predecessores e contemporâneos não é definida de maneira muito precisa. Ele era remotamente um discípulo de Schelling, aprendeu muito com Baruch Spinoza, GW Leibniz, Johann Friedrich Herbart, Arthur Schopenhauer e Christian Hermann Weisse, e rejeitou decididamente GWF Hegel e o monadismo de Rudolf Hermann Lotze.

O trabalho de Fechner continua a ter uma influência na ciência moderna, inspirando a exploração contínua das habilidades perceptivas humanas por pesquisadores como Jan Koenderink, Farley Norman, David Heeger e outros.

ObrasEditar

  • Proof that the Moon is Made of Iodine (Dr. Mises) - 1821
  • Da anatomia comparada dos anjos (Dr. Mises) - 1824
  • The Little Book of Life after Death (Dr. Mises) - 1835
  • Zend-Avesta: ou sobre as coisas do céu e do outro mundo - 1851

Ver tambémEditar

ReferênciasEditar

  1. SCHULTZ, Duane P.; SCHULTZ, Sydney Ellen. História da psicologia moderna. Cengage Learning, 2005.
  2. Fechner, Gazetteer da Nomenclatura Planetária, Grupo de Trabalho da União Astronômica Internacional (IAU) para a Nomenclatura do Sistema Planetário (WGPSN)
  3. GESCHEIDER, George A. Psychophysics: the fundamentals. Psychology Press, 2013.
  4. SCHIFFMAN, H. R. Psicofísica. In: H. R. Schiffman, Sensação e Percepção (pp. 17-33). Rio de Janeiro: LTC. 2005.
  5. COSTA, Marcelo Fernandes. A clínica da psicofísica. Psicol. USP vol.22 n.1 São Paulo, 2011.
  6. SILVA, José Aparecido da; ROZESTRATEN, Reinier Johannes Antonius. Manual Prático de Psicofísica.
  7. FERREIRA, Arthur Arruda Leal. O lugar da psicofísica de Gustav Fechner na história da psicologia. Memorandum: Memória e História em Psicologia, v 5, p.86-93, 2003.
  8. Marchall, M. E. "Gustav Fechner, Dr. Mises, and the comparative anatomy of angels". Journal of the History of the Behavioral Sciences, vol.5, n.1, p.39-58, 1969.
  9. POJMAN, Paul. Ernst Mach. The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Winter 2011 Edition), Edward N. Zalta (ed.)
  10. NICHOLLS, Angus; LIEBSHCHER, Martin. Pensando o Inconsciente: Pensamento Alemão do Século XIX. Cambridge University Press, p.272, 2010.
  11. FREUD, Sigmund. A Interpretação dos Sonhos . Traduzido por AA Brill . Mineola New York: Courier Dover Publications, p.35, 2015. ISBN 978-0-486-78942-2.
  12. SULLOWAY, Frank J. Freud: Biólogo da Mente. pp. 66-67, 1979. Livros básicos.
  13. HARTSHORNE, Charles E. Aquinas to Whitehead: seven centuries of metaphysics of religion. 1979.

AutoriaEditar

Verbete criado inicialmente por: Gabriel Mendes, Gabriela Argôlo e Laryssa Gonçalves, como exigência parcial para a disciplina de História da Psicologia da UFF de Rio das Ostras. Criado em 2020.2, publicado em 2021.1