Philippe Pinel (França, 20 de abril de 1745 一 Paris, França, 25 de outubro de 1826) foi um médico considerado o pai da psiquiatria moderna. O primeiro de sete filhos, Pinel tornou-se amplamente conhecido por seus ideais revolucionários no campo médico e ser o fundador do alienismo francês.

BiografiaEditar

Primeiros Anos e Início de CarreiraEditar

Nascido na França em 1745, Philippe Pinel provém de uma família de médicos cirurgiões que o educaram para se tornar padre. Seus primeiros anos de educação foram em College de Lavaur e College de l’ Esquille, nas quais seu foco era direcionado a literatura e filosofia. Ingressou na Universidade de Toulouse no curso de teologia, porém descobriu interesse em fisiologia, matemática e medicina, a qual acabou perseguindo, recebendo seu diploma em 1773. Logo depois, em 1774, entrou na renomada Faculdade de Medicina de Montpellier, da qual recebeu seu doutorado. Fixou-se em Paris em 1778, onde atuava como tradutor de artigos científicos, ensinando matemática, cursos de anatomia e escrevia teses para alguns alunos. Duas de suas traduções foram: “Instituições de Medicina” do William Cullen e “Opera Omnia” de Baglivi, as quais renderam um retorno financeiro o suficiente para que Pinel vivesse tranquilamente. Ele criticava a área médica parisiense, pois acreditava ser baseada apenas na rotina e tradição e os médicos não se preocupavam com o bem-estar e as necessidades dos pacientes, mas sim para seu auto reconhecimento, dinheiro e glória.

CarreiraEditar

Em 1784, tornou-se médico do sanatório privado parisiense Maison Belhomme de Santé, local que abrigava, como eram denominados na época, alienados mentais. Nele, Pinel foi capaz de observar diretamente a alienação e ,posteriormente, criou suas próprias teorias acerca dela. Com a ascensão da Revolução Francesa, em 1789, Philippe Pinel associou-se com ideais liberais e, assim como cientistas antecessores, criticou as condições desumanas dos pacientes nas instituições psiquiátricas. Isso o levou a procurar meios diferentes e mais humanitários de tratamento para aqueles que sofriam de perturbações psicológicas.

O seu envolvimento revolucionário proporcionou o florescimento da amizade com o médico e filósofo Pierre Jean Georges Cabanis (1757-1808) e uma boa relação com membros da Sociedade Real de Medicina. Cabanis, que tinha proeminência na esfera médica de Paris, fazia parte de uma comissão desenvolvida para nomear administradores dos hospitais da cidade. Assim, em 1792, Pinel foi apontado médico chefe do hospital de Bicêtre, que possuía apenas pacientes homens, um acontecimento fortemente ligado à sua relação com Cabanis, além de sua experiência em Belhomme. Em Bicêtre, Pinel encontrou uma situação precária, onde pacientes eram acorrentados a paredes e dispostos a público pagante.

Em 1795, foi nomeado chefe do Salpêtrière, um hospital psiquiátrico feminino. Em ambas instituições, Pinel realizou diversas reformas, que envolviam seu interesse em dar mais liberdade e respeito, como por exemplo a remoção das correntes e eliminação do confinamento solitário. Possuía o hábito de registrar em suas anotações, todo o curso de um doente ao ser acamado, uma observação sistemática.

Era extremamente tímido e possuía uma oratória fraca. Se tornou um dos nomes mais importantes da psiquiatria moderna por ter publicado o “Nosografia Filosófica, ou o Método de Análise Aplicado à Medicina” em 1798 e o “Tratado Médico-Filosófico sobre a alienação e a mania” em 1801, que deram origem a uma nova especialidade na área da medicina que só depois iria se chamar psiquiatria.

Em 1803, foi admitido na instituição acadêmica Institut de France e foi um dos primeiros a receber a condecoração honorífica da Ordem Nacional da Legião de Honra de Napoleão. Pinel era médico de Napoleão e lhe foi oferecida a proposta de ser um funcionário da corte, porém negou o convite para continuar se dedicando seu tempo na clínica e como docente, além de ter sido convocado para a execução de Luís XVI.

Fim da VidaEditar

Permaneceu na cadeira de diretor do Salpêtrière até seus anos finais de vida. Philippe Pinel faleceu em 25 de outubro de 1826 vítima de pneumonia em Paris. Deixou sua esposa e dois filhos: Charles e Scipion Pinel - este último também médico psiquiatra que resgatou o prestígio e influência do pai.

ContribuiçõesEditar

O tratado expôs ao mundo o ideal revolucionário de Philipe Pinel que propunha “liberdade”, “igualdade” e “fraternidade” nos hospícios e àqueles internados além de ter aberto um tópico para o debate sobre alienação e outro sobre como superá-lo e combatê-lo de forma qualitativa. Um exemplo de liberdade discutido por Pinel foi visível quando ele solicitou à Assembleia Geral, quando dirigiu o hospital de Bicêtre em 1793, que fosse feita a substituição das correntes dos pacientes - um tratamento aplicado aos doentes mentais - pelas camisas de força, para que esses pacientes pudessem transitar durante o dia, significando uma nova reorganização dos ambientes hospitalares. Foi um dos primeiros no tratamento digno e respeitoso de doentes mentais. Em suas próprias palavras: "tenho a convicção de que estes alienados só são intratáveis porque os privamos de ar e liberdade". (Serpa Jr, 1997, p. 17-18) .

Sua posição foi fortemente contestada na época, porém hoje em dia o mérito é atribuído ao francês: “Libertando a loucura dos grilhões”. Além disso, o médico baniu outros tratamentos antigos, como a sangria, purgações, vômitos induzidos e ventosas, colocando em seu lugar tratamentos adequados como a terapia.

TeoriaEditar

Philippe Pinel foi integrante da corrente que estudava a psiquiatria por meio da análise e observação dos fenômenos, passando pela influência da hereditariedade na causa e no desenvolvimento dos distúrbios mentais. O médico acreditava que a alienação mental era uma doença como outra qualquer por tratá-la como um distúrbio das funções intelectuais sem constatar inflamação ou lesão. Em sua explicação sobre a loucura, identifica-se três causas: As físicas (ou fisiológicas), as hereditárias e, por fim, as morais.

Pinel dividia a Alienação de acordo com suas descrições empíricas e sintomas. Existiam então quatro tipos que foram hegemônicos após a classificação da alienação: a mania, a demência, a melancolia e o idiotismo.

Cronologia BiográficaEditar

1745: Philipe Pinel nasce em Jonquières, França.

1767: Philipe se muda para Toulouse.

1778: Mudou-se para Paris.

1792: Casou-se com Jeanne Vincent.

1793: Foi nomeado médico sênior do Hospital Bicêtre.

1794: Se tornou professor adjunto de física médica em Paris.

1795: Assumiu o hospital de Salpetrière.

1811: Tornou-se viúvo.

1815: Casou-se novamente com Marie-Madeleine Jacquelin-Lavallée.

1826: Faleceu em Paris.

Quem influenciouEditar

Philippe Pinel deixou como discípulo Jean-Etienne Dominique Esquirol. Além deste, cabe mencionar Charles Schwilgué, Augustin Landré-Beauvais e Francois Leuret.

ObrasEditar

Principais obrasEditar

  • Memoir on Madness (1794)
  • Classificação filosófica das doenças ou método aplicado à medicina (1798)
  • Tratado médico-filosófico sobre a alienação mental ou mania - 1º Edição (1801)
  • A Medicina Clínica (1802)
  • Tratado médico-filosófico sobre a alienação mental ou mania - 2ª Edição (1809)

PrêmiosEditar

Pinel concorreu a alguns prêmios, porém nunca ganhou nenhum.

Concorreu algumas vezes aos prêmios da Real Sociedade de Medicina da França, mas nunca foi considerado apto ou conhecedor o suficiente do assunto que discutia para ganhar.

Concorreu também algumas vezes ao Prêmio Diert, mas assim como os prêmios da Real Sociedade de Medicina da França, nunca ganhou.

Em 1792 recebeu uma menção honrosa pelo manuscrito “Indique a melhor maneira de tratar pacientes cujas mentes se desequilibram antes da senilidade”.

Em 1793 concorreu ao Prêmio Sociedade de Medicina.

Relação com outros personagens ou teorias

Pinel entendia, assim como Hipócrates - que o influenciou com o método descritivo, que as doenças são fenômenos naturais que advém do meio ambiente, trabalho e histórico familiar. Pinel também se inspirava em William Cullen, Sir Francis Bacon e  D’Alembert.

Ver tambémEditar

ReferênciasEditar

  1. BERNSTEIN, Elinor; MACKLER, Bernard.  Contributions to the history of psychology: II. Philippe Pinel: the man and his time. Psychological Reports, v.19, p. 703-720, 1966.
  2. CHARLAND, L. C. Science and morals in the affective psychopathology of Philippe Pinel.
  3. ‌FACCHINETTI, C. Philippe Pinel e os primórdios da Medicina Mental. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, v. 11, n. 3, p. 502–505, set. 2008.
  4. GRANGE, Kathleen M. PINEL OR CHIARUGI? Medical History, v. 7, n. 4, p. 371–380, 1963.
  5. ‌OLAVO, Manoel ; TEIXEIRA, Loureiro. Pinel e o nascimento do alienismo Pinel and the birth of alienism Pinel y el nacimiento del alienismo. [s.l.: s.n., s.d.].
  6. PALOMBA, GUIDO A. Philippe Pinel, vida e obra. Temas. São Paulo, p. 67–72, 2021.
  7. Philippe Pinel - Biography, Facts and Pictures. Famousscientists.org.
  8. Philippe Pinel | French physician | Britannica. In: Encyclopædia Britannica. [s.l.: s.n.], 2021.
  9. Philippe Pinel. Whonamedit.com.
  10. Quem Foi Philippe Pinel. Secretaria da Saúde - Governo do Estado de São Paulo. Sp.gov.br.

AutoriaEditar

Verbete criado inicialmente por Alessandra Carneiro, Guilherme Braga, Igor Simpson e Isabella Gonzaga, como exigência parcial para a disciplina de História da Psicologia. Criado em 2021.2, publicado em 2021.2.