O psicodiagnóstico miocinético ou PMK é um tipo de teste psicotécnico que avalia a partir de traços e desenhos as tendências de personalidade de um indivíduo. Ele foi criado por Emilio Mira y López e apresentado oficialmente em Londres, no ano de 1939.

A natureza do PMK tem por base principalmente a teoria Motriz da Consciência. Essa teoria estuda as modificações no tônus postural que são causadas pela ação ou reação psíquica de um indivíduo. Dessa maneira, compreende-se que na análise de traços desenhados é possível captar mudanças do tônus postural e interpretá-las.

O teste PMK é atualmente utilizado no Brasil em entrevistas de emprego, avaliação para porte de armas, seleção de pessoas para trabalhos em ambientes confinados e também em algumas modalidades da CNH.

HistóriaEditar

Emilio Mira y Lopez teve longo caminho até a publicação da forma definitiva do teste PMK, e assim como sua vida foi marcada pelas agitações do momento social, político e histórico, este teste também sofreu tais influências. O teste foi desenvolvido gradativamente segundo as interferências externas da vida do criador, e, assim como ele, que fora uma figura polêmica e que contribuiu significativamente em diversas áreas, o Psicodiagnóstico miocinético teve grande repercussão, em especial no Brasil, e até hoje é alvo de debates.

Mira y Lopez pensava em descobrir um meio não verbal de estudo da personalidade. Ele, junto de José Germain, estudavam sobre a atenção usando de um aparelho chamado "quimógrafo de Boulitte", que registra variações de movimentos e oscilações, quando ocorrera a Mira que as reações psicomotoras poderiam além do estudo sobre atenção possibilitar a indicação de traços emocionais de conduta.

Em 1931 Mira trabalhou com o método da expressão motriz, de Luria, objetivando controlar a sinceridade do testemunho de pessoas, e chegou a desenvolver um novo aparelho para lhe auxiliar, que denominou "monotonômetro", uma espécie de detector de mentiras. Em 1935 retomou suas investigações com este aparelho, buscando um instrumento que lhe permitisse explorar a personalidade mediante a análise das tensões musculares involuntárias. Nos experimentos com este instrumento, o chamou atenção que a extensão dos movimentos tendia a diminuir nos sujeitos acanhados e a aumentar nos excitados, não importa quais fossem as perguntas e respostas. Assim, convenceu-se de que o estudo minucioso das posturas e gestos dos sujeitos poderia levar à compreensão de suas emoções íntimas.

Em 1937 Mira y Lopez recebeu a função de selecionar aviadores para as forças militares da República Espanhola. Com intenção de avaliar a capacidade dos candidatos para manejo ‘’cego’’ de instrumentos de voo ele construiu um outro aparelho, o "axistereômetro", designado a medir a precisão da percepção cinestésica no espaço. Por curiosidade científica calculou a correlação entre os resultados com este aparelho e os do exame labiríntico e percebeu que cada indivíduo demonstrava possuir um perfil de movimentação peculiar, o que, para ele, apontava para as variáveis de personalidade. Também comparou os resultados registrados no axiostereômetro com anotados no psicodiagnóstico de Rorschach e nas provas de Bernreuter e Jung-Rosanoff, e concluiu que traços fundamentais da personalidade, que tendiam a tipos de reações padrões, também influenciavam nos movimentos de indivíduos, facilitando sua ação para satisfazer necessidades implícitas e dificultando a realização de movimentos opostos.

Considerou também os trabalhos que Werner Wolff desenvolvia no Instituto Psicotécnico de Barcelona (antigo Instituto de Orientação Profissional), que na época era dirigido por Mira y López. Wolff constatara que, exceto nos canhotos, a metade esquerda do corpo expressava melhor a vida inconsciente, enquanto a direita exprimia melhor a consciente.

Por conta da guerra civil espanhola, Mira y Lopez foi para Londres, onde tinha uma oportunidade de bolsa de estudos, com a condição de desenvolver um programa de pesquisa no Maudsley Hospital. Lá pôde aperfeiçoar o axiostereômetro, ajudando-o nas pesquisas e a consolidar suas ideias teóricas.

Porém, por problemas em comprovar hipóteses com o aparelho e pelas influências do ‘’clima intelectual’’ da época , Mira y Lopez se voltou a uma proposta quase de substituição do axiostereômetro por um teste de personalidade, o que levaria à criação do Psicodiagnóstico Miocinético (PMK). A comunidade científica explorava a importância dos movimentos expressivos como indicadores das peculiaridades individuais, na psicologia havia discussão quanto aos aspectos fisiológicos das emoções, a expressão das emoções, a "fisiologia mental", os "traços" de personalidade, a psicologia dinâmica e problemas correlatos. Este foi o caminho que Mira y López percorreu para chegar ao conceito de miocinese (ou psicomiocinese), que fundamentaria o Psicodiagnóstico Miocinético.

Segundo a  miocinese todos os movimentos, voluntários ou involuntários, tem significados peculiares de acordo com a forma que são executados. Assim, se for pedido a um sujeito que realize pequenos movimentos oscilatórios nos planos fundamentais do espaço, sem controle visual, os deslocamentos observados são indicadores do predomínio relativo de suas tensões musculares e, portanto, darão idéia de suas atitudes predominantes de reação.

BrasilEditar

Mira y Lopez, a convite de várias entidades públicas brasileiras, veio para o Brasil em 1945 e se entregou a uma estadia definitiva dois anos após, quando recebeu o convite para trabalhar na Fundação Getúlio Vargas e participar da criação do Instituto de Seleção e Orientação Profissional  (ISOP).

Na época havia grande discussão sobre a necessidade de seleção para os condutores de veículos, devido principalmente pelo aumento de acidentes e mortes de trânsito ocasionados pela má condução dos motoristas. Muitos contestavam a  falta de critérios de seleção para a obtenção da permissão de dirigir e defendiam uma seleção rigorosa da capacidade psicotécnica dos motoristas. Mira y López inclusive era um grande nome de apoio a esta ideia. Foi neste contexto que o Psicodiagnóstico Miocinético ganhou destaque no Brasil, houve entendimento entre a Fundação Getúlio Vargas e o Serviço de Trânsito do Distrito Federal para inserir o PMK na seleção de motoristas mais capacitados. Conforme o tempo seu uso se difundiu por todo o país e mesmo com contradições ainda hoje é apreciado.

Constructo avaliadoEditar

O teste PMK é baseado na Teoria Motriz da Consciência[³], essa teoria discorre sobre a influência das intenções motoras sobre o “tônus postural”. O tônus postural indicaria o nível de controle das tensões e relaxamentos necessários na realização de um movimento.

Modo de avaliaçãoEditar

O teste é realizado numa mesa que contém um anteparo ajustável. A função do anteparo é não possibilitar a visão daquilo que o avaliado irá executar. Além disso, a mesa é ajustável no sentido vertical, ou seja, os traços são feitos em 6 folhas dispostas em 90°. O examinador irá determinar quais traços ou figuras geométricas que deverão ser executadas e também com qual mão poderão ser desenhadas.

Edições e versõesEditar

A forma experimental do teste foi elaborada no final da década de 1930 e era composto por lineogramas, cadeias (planos sagital e vertical), ziguezague (plano sagital), escadas e "top of the castel test" (plano vertical). O "top of the castel test" foi abandonado rapidamente. O teste foi aplicado a 187 pessoas, 38 das quais eram consideradas saudáveis do ponto de vista mental e 149 apresentavam perturbações diversas como: epilépticos, depressivos, esquizofrênicos e assim por diante. Os resultados foram analisados estatistica e qualitativamente, e apresentados pela primeira vez no dia 10 de outubro de 1939 à Royal Society of Medicine, de Londres, sob o título de A New Technique of Exploring the Conative Trends of Personality"

Mira y López, entre 1940 e 1942, elimina a interrupção de cada traço nos lineogramas, prevista na forma original, passando a adotar movimentos de ida e volta sem retirar o lápis do papel. É acrescentado também o desenho de círculos, paralelas e "Us". A forma definitiva do teste foi publicada pela primeira vez em Buenos Aires, na revista Index de Neurologia y Psiquiatria, em 1942 sob o título de "Estado actual dei Psicodiagnóstico Miocinético."Sua padronização foi completada no Rio de Janeiro em 1949. A primeira edição do Manual seria publicada em Paris, em 1951. A tradução para castelhano, inglês e alemão foram divulgados, respectivamente, em 1957, 1958 e 1964.

Utilização hojeEditar

Atualmente o teste PMK é utilizado para a obtenção da CNH e como método avaliativo[4] e psicodiagnóstico para trabalhos controlados ou considerados de risco (como policiais civis e trabalhos em locais confinados, como elevadores).

CríticasEditar

De acordo com A Nota de Esclarecimento do CFP Sobre o Teste Psicológico PMK de 15/02/2012; em 2009, o teste PMK foi considerado desfavorável. A partir de estudos foi julgado que a fundamentação teórica dos movimentos psicomotores era insuficiente para indicar a personalidade ou tendências comportamentais do indivíduo.

Ver tambémEditar

ReferênciasEditar

  1. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Nota de Esclarecimento do CFP sobre o teste psicológico PMK. 2012.
  2. MARTINS, Hildeberto Vieira. Uma história da psicologia em revista: retomando Mira y López. Arq. Bras. Psicol., Rio de Janeiro, v. 3, n. 66, p. 5-19, 2014.
  3. ROSAS, Paulo da Silveira. Considerações em torno de uma história: a construção do psicodiagnóstico miocinético, de Mira. Revista de Psicologia, Fortaleza, v. 2, n.2, p. 29-35, 1984.
  4. PESSOTTO, Fernando. A importância dos estudos psicométricos traduzidos e adaptados para o Brasil: O caso PMK. Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica, 2012.
  5. VASCONCELOS, Alina Gomide; SAMPAIO, Jáder dos Reis; NASCIMENTO, Elizabeth. PMK: medidas válidas para a predição do desempenho no trabalho? Psicologia: Reflexão e Crítica, [S.L.], v. 26, n. 2, p. 251-260, 2013.

Links ExternosEditar

AutoriaEditar

Verbete criado inicialmente por: Melissa Tosani Silva e Sávio Nogueira da Silva, como exigência parcial para a disciplina de Psicologia e História Social do Trabalho da UFF de Rio das Ostras. Criado em 2021.1, publicado em 2021.1